sábado, 28 de setembro de 2024

Putin emite alerta nuclear ao Ocidente sobre Ucrânia

O presidente Vladimir Putin advertiu o Ocidente nesta quarta-feira que a Rússia poderia usar armas nucleares se fosse atingida por mísseis convencionais, e que Moscou consideraria qualquer ataque a ela apoiado por uma potência nuclear como um ataque conjunto.

A decisão de mudar a doutrina nuclear oficial da Rússia é a resposta do Kremlin às deliberações dos Estados Unidos e do Reino Unido sobre a permissão ou não para que a Ucrânia dispare mísseis convencionais ocidentais contra o território russo.

Putin, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, disse que as mudanças eram uma resposta a um cenário global em rápida mudança, que havia gerado novas ameaças e riscos para a Rússia.

O chefe do Kremlin, de 71 anos, principal tomador de decisões sobre o vasto arsenal nuclear russo, disse que queria enfatizar uma mudança importante em particular.

"Propõe-se que a agressão contra a Rússia por qualquer Estado não nuclear, mas com a participação ou apoio de um Estado nuclear, seja considerada como um ataque conjunto à Federação Russa", disse Putin.

"As condições para a transição da Rússia para o uso de armas nucleares também estão claramente fixadas", disse Putin, acrescentando que Moscou consideraria tal medida se detectasse o início de um lançamento maciço de mísseis, aeronaves ou drones contra ela.

A Rússia, disse Putin, também se reservou o direito de usar armas nucleares se ela ou Belarus fossem alvo de agressão, inclusive por armas convencionais.

Putin disse que os esclarecimentos foram cuidadosamente calibrados e condizentes com as ameaças militares modernas que a Rússia enfrenta -- confirmação de que a doutrina nuclear estava mudando.

A atual doutrina nuclear russa publicada, estabelecida em um decreto de Putin de 2020, diz que a Rússia pode usar armas nucleares no caso de um ataque nuclear por um inimigo ou um ataque convencional que ameace a existência do Estado.

As inovações delineadas por Putin incluem uma ampliação das ameaças sob as quais a Rússia consideraria um ataque nuclear, a inclusão da aliada Belarus sob o guarda-chuva nuclear e a ideia de que uma potência nuclear rival que apoie um ataque convencional contra a Rússia também seria considerada como um ataque a ela.

Em 2022, os Estados Unidos estavam tão preocupados com o possível uso de armas nucleares táticas pela Rússia que alertaram Putin sobre as consequências do uso dessas armas, de acordo com o diretor da Agência Central de Inteligência, Bill Burns.

Há meses, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, vem pedindo aos aliados de Kiev que deixem a Ucrânia disparar mísseis ocidentais, incluindo os de longo alcance norte-americanos e britânicos, no território russo para limitar a capacidade de Moscou de lançar ataques.

Com a Ucrânia perdendo cidades importantes para o avanço gradual das forças russas no leste do país, a guerra está entrando no que as autoridades russas dizem ser a fase mais perigosa até o momento.

Zelenskiy pediu ao Ocidente que cruzasse e desconsiderasse as chamadas "linhas vermelhas" da Rússia, e alguns aliados ocidentais pediram aos Estados Unidos que fizessem exatamente isso, embora a Rússia de Putin, que controla pouco menos de um quinto do território ucraniano, tenha alertado que o Ocidente e a Ucrânia estão arriscando uma guerra global.

"A Rússia não tem mais nenhum instrumento para intimidar o mundo além da chantagem nuclear", disse Andriy Yermak, chefe de gabinete de Zelenskiy, em resposta aos comentários de Putin. "Esses instrumentos não funcionarão."

Tanto Putin, que classifica o Ocidente como um agressor decadente, como o presidente dos EUA, Joe Biden, que classifica a Rússia como uma autocracia corrupta e Putin como um assassino, têm alertado que um confronto direto entre a Rússia e a Otan poderia se transformar na Terceira Guerra Mundial. O candidato republicano à Presidência, Donald Trump, também alertou sobre o risco de uma guerra nuclear.

A Rússia é a maior potência nuclear do mundo. Juntos, a Rússia e os EUA controlam 88% das ogivas nucleares do mundo.

Em seus comentários ao Conselho de Segurança da Rússia, um tipo de Politburo moderno das autoridades mais poderosas de Putin, incluindo falcões influentes, Putin disse que o trabalho sobre as emendas para mudar a doutrina estava em andamento no ano passado.

"A tríade nuclear continua sendo a garantia mais importante para assegurar a segurança de nosso Estado e de nossos cidadãos, um instrumento para manter a paridade estratégica e o equilíbrio de poder no mundo", disse Putin.

A Rússia, disse ele, consideraria o uso de armas nucleares "ao receber informações confiáveis sobre o lançamento maciço de veículos de ataque aeroespacial e sua travessia da fronteira de nosso Estado, ou seja, aeronaves estratégicas ou táticas, mísseis de cruzeiro, drones, aeronaves hipersônicas e outras".

¨      O que está por trás da iniciativa de Vladimir Putin de mudar a doutrina nuclear da Rússia?

Uma série de atualizações na política nuclear russa, que foram anunciadas pelo presidente Vladimir Putin, visa reduzir o limite nuclear e mudar o equilíbrio de risco para o Ocidente, disse à Sputnik o vice-diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia da Rússia, Dmitry Suslov.

O Ocidente atualmente intensifica e até conduz uma guerra híbrida contra a Rússia, também discutindo a transformação dela em uma guerra quente, observa Suslov, que também atua como vice-diretor de pesquisa no Conselho Russo de Política Externa e de Defesa.

A razão fundamental pela qual o Ocidente faz isso é porque está "convencido de que a Rússia nunca usará armas nucleares que o dano para o Ocidente da derrota da Ucrânia é muito maior do que o dano causado pela escalada", afirma o analista.

"Então agora a Rússia muda esse equilíbrio e tenta convencer o Ocidente de que o dano para si mesmo será apenas suicida e que é melhor não escalar mais porque a Rússia poderia usar armas nucleares em um número maior de opções e contra a Ucrânia, que atua em cooperação com países ocidentais nucleares", diz Suslov.

Referindo-se ao momento da declaração, o especialista afirmou estar ligado à discussão do governo Biden sobre a possibilidade de o Ocidente permitir que Kiev dispare mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente no interior do território russo.

"A decisão ainda não foi tomada. Então, a razão pela qual Putin mencionou essas mudanças antes mesmo da doutrina nuclear ser publicada é para alterar essa tomada de decisão e convencer o governo Biden a não dar esse passo", conclui Suslov.

¨      EUA anunciam pacote de ajuda de US$ 2,4 bilhões para Ucrânia, incluindo mais defesa aérea

O Departamento de Defesa dos EUA anunciou na quinta-feira (26) US$ 2,4 bilhões (R$ 13,69 bilhões) em assistência para a Ucrânia, incluindo lançadores do sistema de defesa antiaérea Patriot, conforme comunicado do presidente dos EUA, Joe Biden.

"O Departamento de Defesa anuncia US$ 2,4 bilhões em assistência por meio da Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia, que fornecerá à Ucrânia defesa aérea adicional, sistemas aéreos não tripulados e munições ar-terra, além de fortalecer a base industrial de defesa da Ucrânia e apoiar suas necessidades de manutenção e sustentação", disse Biden em um comunicado.

O novo pacote inclui mais lançadores do sistema de defesa antiaérea Patriot, bem como bombas planadoras guiadas AGM-154, disse o presidente.

"Para reforçar as capacidades de longa distância da Ucrânia, eu decidi fornecer à Ucrânia bombas planadoras guiadas [JSOW, na sigla em inglês] com amplo campo de ação", lê-se na declaração, publicada no site da Casa Branca.

"Orientei o Departamento de Defesa a alocar todos os fundos restantes de assistência à segurança, que foram destinados à Ucrânia até o final do meu mandato", acrescentou Biden.

A Rússia, por sua vez, disse repetidamente que o fornecimento de armas à Ucrânia impede o alcance de um acordo de paz e envolve diretamente os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nas hostilidades.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que os Estados Unidos e a OTAN estão diretamente envolvidos no conflito, não apenas fornecendo armas, mas também treinando pessoal militar ucraniano no território do Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países.

¨      Analista: Congresso dos EUA fica 'feliz em ser enganado' por Blinken se for do seu interesse

O Secretário de Estado Antony Blinken está enfrentando pedidos de renúncia após um relatório condenatório sugerir que ele enganou intencionalmente o Congresso para manter o fluxo de ajuda militar dos EUA para Israel. Mas, de acordo com analistas à Sputnik, os legisladores estavam "muito felizes em serem enganados".

A análise da organização sem fins lucrativos de reportagem investigativa ProPublica revelou que Blinken desafiou as descobertas de vários órgãos governamentais que concluíram que Israel estava deliberadamente bloqueando a ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

Blinken ignorou o conselho de vários funcionários do Departamento de Estado e da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), testemunhando perante os legisladores que Tel Aviv não estava interferindo no fluxo de ajuda.

A lei dos EUA proíbe o fornecimento de equipamento militar a qualquer país que obstrua a assistência humanitária norte-americana.

Os jornalistas Dan Lazare e Robert Fantina se juntaram à Sputnik na quarta-feira (25) para discutir o escândalo que levou o diretor do Conselho de Relações Americano-Islâmicas a pedir que Blinken renuncie.

"Isso é normal", disse Fantina. "Os Estados Unidos não respeitam o direito internacional e não respeitam suas próprias leis se essas leis de alguma forma atrapalham sua busca por poder e lucros. Então, o fato de Blinken ter mentido para o Congresso, ter mentido descaradamente — e isso não foi algo inconsequente, isso causou a fome, a fome contínua e o massacre de pessoas inocentes. [...] Então, o fato de Blinken estar mentindo não deveria surpreender ninguém. Outras organizações internacionais que não são afiliadas a nenhuma nação têm dito repetidamente por meses que Israel está bloqueando a ajuda humanitária. E ainda assim os Estados Unidos negam isso, ou pelo menos Blinken negou."

A organização de direitos humanos Anistia Internacional afirmou que Israel estava estancando o fluxo de assistência humanitária no início deste ano, caracterizando as ações de Tel Aviv como um "aperto" de seu "bloqueio sufocante de 16 anos" de Gaza. Israel tem controlado rigidamente a quantidade de alimentos e outras necessidades básicas permitidas para entrar no território palestino desde junho de 2007, quando decidiu desmantelar seus assentamentos na Faixa de Gaza.

No entanto, Israel exerce controle sobre a faixa de terra, a qual é considerada território palestino soberano sob o direito internacional, desde 1967, quando confiscou terras destinadas a formar a base de um Estado palestino na região. Os EUA têm servido como o maior apoiador do país nas décadas seguintes, com Israel se tornando o maior beneficiário cumulativo de ajuda estrangeira dos Estados Unidos.

Observadores alegam que os EUA apoiam o país como uma ponta de lança crucial em uma região geopoliticamente vital onde Israel serve como um representante dos interesses dos EUA contra o Irã e outros adversários.

"Israel está envolvido em uma guerra brutal, que agora está se espalhando drasticamente e continuará assim", disse Lazare, alegando que Israel está indiscutivelmente usando o fluxo de ajuda humanitária como um instrumento de guerra. "É tudo irrelevante. Quero dizer, a guerra é a cessação da lei e, portanto, pedir aos belicistas que obedeçam à lei me parece meio contraditório."

Neste sentido, afirmou Lazare, "o Congresso não se importa em ser enganado se acha que isso beneficia o império. Em geral, há mentiras que o Congresso gosta e mentiras que o Congresso não gosta. E, portanto, é o poder de decisão do Congresso, poder de decidir quais mentiras são aceitáveis e quais não são. Geralmente as aceitáveis são aquelas que promovem as ambições imperiais [dos Estados Unidos] da América", concluiu.

¨      População ucraniana está cansada do conflito e cada vez mais disposta a pôr fim a ele, diz mídia

O povo ucraniano está cansado das hostilidades, quando não se vê nenhuma possibilidade de vitória, e deseja cada vez mais acabar de qualquer modo com o conflito, segundo o jornal The Washington Post.

No contexto do cansaço da população, o jornal também sublinha o fato de que, quanto mais esgotada estão as pessoas no país, pior é a situação dos militares ucranianos na linha de frente, já que muitos deles dependem "de doações de civis para a compra dos equipamentos necessários".

"Após cerca de dois anos e meio de conflito, com poucas perspectivas de uma vitória completa no horizonte e uma série de reveses no campo de batalha nos últimos meses, as pessoas estão chegando ao seu limite", diz o artigo.

Embora as autoridades ucranianas declarem que o povo ucraniano não quer conversas com a Rússia, o jornal admite que "pesquisas de opinião indicam um aumento do número de pessoas dispostas a fazer compromissos difíceis" para pôr fim ao conflito armado.

Além disso, até 57% dos cidadãos ucranianos estão prontos para fazer concessões territoriais a Moscou, particularmente as regiões que já viraram parte da Rússia e a Crimeia.

Moscou lançou uma operação militar especial na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. O presidente russo Vladimir Putin disse que seu objetivo é "proteger as pessoas que foram submetidas a abuso e genocídio pelo regime de Kiev por oito anos".

De acordo com ele, a Rússia vem tentando há 30 anos chegar a um acordo com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre os princípios de segurança na Europa, mas, em resposta, tem enfrentado mentiras cínicas ou tentativas de pressão e chantagem, enquanto, nesse meio tempo, apesar dos protestos de Moscou, a aliança tem se expandido constantemente e se aproximado das fronteiras da Rússia.

¨      Sem alternativas ao gás russo, um dos maiores importadores europeus pede por sanções à UE, diz mídia

Uma das maiores importadoras europeias de gás natural liquefeito (GNL) da Rússia, a Bélgica pediu à União Europeia (UE) que proíba o combustível russo, alertando que as empresas não podem quebrar contratos de longo prazo a menos que o bloco como um todo imponha sanções.

De acordo com o Financial Times (FT), a ministra da Energia da Bélgica, Tinne Van der Straeten, afirmou que a UE deve "ir mais longe" para impedir que o GNL russo chegue ao bloco.

Segundo a ministra belga, as regras introduzidas por Bruxelas em dezembro de 2023 não são suficientes para reduzir os contratos de fornecimento de GNL, cuja duração padrão costuma ser de dez anos.

"Investigamos isso [...]. Temos gás russo chegando à Bélgica. Olhei embaixo de cada pedra e a [legislação] do gás não ajudará", disse Van der Straeten. "Precisamos de uma abordagem europeia", afirmou ela.

Ainda segundo a apuração, a ministra holandesa do Clima e Crescimento Verde disse ao parlamento do país que levantaria a questão em uma reunião de ministros de Energia da UE no mês que vem uma vez que o número de petroleiros transportando gás russo — com cerca de 70.000 a 80.000 toneladas de gás, cada — chegou a dois por mês durante o verão (Hemisfério Norte) ao principal terminal de Roterdã.

Bruxelas tem pressionado consistentemente os países da UE a reduzir sua dependência de combustíveis fósseis russos desde o início da operação militar especial russa na Ucrânia. Apesar disso, não chegou a introduzir sanções ao combustível, além de uma proibição de transbordo— a importação e reexportação de GNL russo para outros países — que foi acordada em junho, mas ainda não entrou em vigor.

Depois da Espanha, a Bélgica foi o segundo maior importador de GNL russo em 2023, de acordo com a empresa de análise Kpler. Mas ao que tudo indica, a França parece pronta para ultrapassar a Bélgica e a Espanha neste ano após um aumento nas importações para Dunquerque e Montoir.

Mesmo ante a pressão de países importadores como Bélgica e Países Baixos para introduzir sanções ao GNL russo, há pouca perspectiva de garantir o acordo unânime os Estados-membros do bloco europeu.

 

Fonte: Reuters/Sputnik Brasil

 

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