sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Veneno de aranha brasileira tem potencial para combater células de câncer, mostra pesquisa

Perigosa e temida por seu veneno, uma espécie de aranha-caranguejeira (chamada Vitalius wacketi) virou o foco de uma importante pesquisa sobre o combate ao câncer no Brasil. Nativa do país e facilmente encontrada no litoral do estado de São Paulo, o aracnídeo pertence à família das Theraphosidae (a das tarântulas), como explica a Animal Diversity Web (ADW), enciclopédia online do Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Essa espécie de aranha vem sendo investigada por dois grandes órgãos de pesquisas científicas do Brasil – o Instituto Butantan (instituição governamental de São Paulo que realiza pesquisas desde 1901) e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (mantenedora do Hospital Albert Einstein e que também promove pesquisas científicas) – os quais se uniram em um estudo que identificou uma molécula com potencial para tratar o câncer extraída do veneno da aranha-caranguejeira Vitalius wacketi através um processo inovador.

National Geographic detalha como foi realizado esse processo e o que os pesquisadores descobriram até então sobre essa substância presente no veneno da aranha e que pode ajudar a combater e tratar alguns tipos de câncer.

•        Como foi feito o estudo com o veneno da aranha-caranguejeira?

O biólogo e pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior (cientista do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan) e sua equipe –  que pesquisa a síntese de moléculas extraídas da natureza para testar seu potencial terapêutico – já vinham investigando a atividade biológica do veneno da aranha-caranguejeira. 

Nos últimos anos, o laboratório do Butantan firmou uma parceria com o grupo Einstein liderado pelo bioquímico e professor Thomaz Rocha e Silva para analisar mais profundamente diversas toxinas extraídas de outras espécies do gênero Vitalius, e aquela extraída da aranha Vitalius wacketi mostrou um resultado mais promissor em relação ao combate ao câncer.

A equipe do Butantan sintetizou a substância do veneno em seu laboratório para obter a molécula de poliamina – um tipo de toxina abundante no veneno da Vitalius wacketi.

Em seguida, ela foi purificada no laboratório do grupo Einstein para remover possíveis contaminações e potencializar seus efeitos. A purificação da molécula foi possível graças a uma nova técnica de cromatografia desenvolvida por Thomaz em 2010 e que é específica para poliaminas.

Como a molécula do veneno da aranha-caranguejeira age contra as células de câncer?

Após o processo de síntese e purificação, a equipe testou a capacidade da molécula de combater e matar células cancerígenas e ela foi capaz de eliminar células de leucemia em testes in vitro.

Conforme foi afirmado no site oficial do Butantan, um dos grandes diferenciais do composto é que ele conseguiu matar as células tumorais por apoptose (morte programada), e não por necrose. Isso significa que a célula se autodestrói de forma controlada, sem causar uma reação inflamatória, diferente do mecanismo de grande parte dos medicamentos quimioterápicos hoje disponíveis.

“A morte por necrose não é programada e a célula colapsa, levando a um estado inflamatório importante. Já na apoptose, a célula tumoral sinaliza ao sistema imune que está morrendo para que ele remova posteriormente os fragmentos celulares”, explicou o pesquisador Thomaz Rocha e Silva, responsável pelos testes de ação contra o câncer da molécula.

Thomaz Rocha ainda ressalta que como a nova molécula é pequena e o processo de síntese é muito mais simples e mais barato que de outras substâncias existentes, isso pode facilitar o acesso a esse produto no futuro a preços mais baratos no mercado medicamentoso.

Conforme relatado pelos pesquisadores, o composto da nova molécula conseguiu eliminar, inclusive, células leucêmicas resistentes a quimioterápicos.  O próximo passo é fazer testes em células de câncer de pulmão e de ossos. Além disso, a tecnologia será estudada em células humanas saudáveis para confirmar se não há toxicidade, isto é, se ela é seletiva e danifica somente as células cancerosas.

A equipe patenteou o processo de obtenção e produção da nova molécula e busca licenciar a tecnologia descoberta, para seguir com estudos e testes de maior escala em animais e, futuramente, em humanos.

 

•        Conheça mitos e verdades sobre aranhas, segundo especialistas

Com centenas de anos de mitos sem fundamento científico para nos abastecer de informações erradas, não é de se admirar que cerca de 6% das pessoas tenham fobia de aracnídeos. O boato de que um creme corporal supostamente contém feromônios que atraem aranhas-lobo é apenas o mais recente nas redes sociais.

As aranhas são criaturas incrivelmente diversas e engenhosas, com muitas características que merecem ser admiradas. Nenhuma dessas características, no entanto, envolve a capacidade de rastejar para dentro da sua boca enquanto você dorme, colocar ovos dentro de alimentos ou entrar em sua casa pelos ralos. Esses são só alguns exemplos de mitos criados sobre as aranhas – e que, infelizmente, muita gente acredita.

De acordo com Rod Crawford, especialista em aranhas e curador de aracnologia do The Burke Museum, em Seattle, nos Estados Unidos, muito do que é comumente divulgado sobre esses invertebrados de oito patas é um equívoco. "Tudo o que você achava que sabia sobre aranhas está errado", diz Crawford.

Primeiro, elas não são insetos. As aranhas pertencem a uma classe completamente diferente chamada "Arachnida". Os aracnídeos e os insetos diferem tanto quanto os pássaros e os peixes, explica Crawford.

Apesar de sua má reputação (perpetuada principalmente por mitos), as aranhas são “engenheiras” fenomenais de ecossistemas e são responsáveis por manter centenas de milhares de insetos e pragas agrícolas sob controle. Estudos mostram que, em alguns ecossistemas, mais de 40% de toda a biomassa de insetos passa pelas aranhas, o que as torna as principais controladoras das populações de insetos.

"Suponha que algum mágico aracnofóbico pudesse agitar uma varinha mágica e fazer com que todas as aranhas desaparecessem", diz Crawford. "Essa seria a maior catástrofe ecológica que já aconteceu." Dar a elas o devido agradecimento começa com a correção dos rumores pouco lisonjeiros que as cercam.

<><> Mito: as aranhas querem nos picar

A maioria das pessoas nunca será picada por uma aranha em toda sua vida. Isso ocorre porque as aranhas não estão interessadas em interagir com os seres humanos. Das mais de 50 mil espécies que circulam pelo planeta, pouquíssimas entram em contato conosco. Elas não são sugadoras de sangue – como os mosquitos, carrapatos ou percevejos – e, portanto, não nos procuram.

Embora seja comum acordar com pequenos inchaços e feridas na pele e culpar uma aranha, quase sempre não há motivo para acreditar que uma aranha seja responsável pela picada, diz Dimitar Stefanov Dimitrov, especialista em evolução de aranhas do Museu Universitário de Bergen, na Noruega. As duas pequenas presas da maioria das aranhas usadas para morder mal deixariam uma marca grande o suficiente para ser identificada. "A maioria das picadas que as pessoas acham que são picadas de aranha provavelmente não são", diz Dimitrov.

<><> Mito: sempre engolimos algumas aranhas enquanto dormimos

Ao longo dos anos, vários fóruns, redes sociais e publicações online em geral afirmaram erroneamente que engolimos até oito aranhas durante o sono todos os anos. Não há nenhum estudo comprovado, foto, espécime coletado, registro médico ou observação comprovada de uma aranha rastejando ou tentando rastejar para dentro da boca de uma pessoa, de acordo com Crawford.

As aranhas não querem ter nada com nossas bocas malcheirosas, fumegantes e ofegantes, abertas para respirar pesadamente e roncar enquanto dormimos. "Uma aranha não se sentirá atraída por isso de forma alguma", afirma Crawford. "A corrente de ar vai perturbar os pequenos pelos sensoriais que estão por todo o seu corpo."

<><> Mito: as aranhas põem ovos nas bananas e em outras frutas

As aranhas podem, ocasionalmente, ser encontradas em armazéns de processamento de bananas e em carregamentos de bananas, rastejando para fora das caixas em que a fruta viajou. Isso se deve ao fato de que um pacote de bananas, uvas ou outras frutas agrupadas pode ser um bom lugar para esconder seus ovos minúsculos, aninhados entre as frutas e protegidos de intempéries e predadores.

Na verdade, eles estariam visíveis e fora da fruta, não dentro dela. Nenhuma aranha está fazendo um buraco dentro da fruta e colocando seus ovos lá, diz Dimitrov. Também é improvável que as aranhas façam um buraco em um cacto e coloquem ovos dentro dele – como sugere outra lenda urbana –, muito menos que o façam inchar, tremer e explodir com milhares de aranhas quando os ovos eclodirem.

Embora existam aranhas escavadoras – que escavam casas dentro da terra, por exemplo – elas não conseguem perfurar algo tão resistente como frutas ou plantas.

<><> Mito: as aranhas podem botar ovos sob a pele e em outras fendas do corpo

A história é a seguinte: uma mulher volta de férias em um local quente e exótico e encontra um inchaço na bochecha que está pulsando e crescendo. Preocupada, ela vai ao médico e, quando o especialista abre o vergão, centenas de pequenas aranhas saem de lá.

Isso nunca aconteceu. Essa é uma das lendas urbanas mais comuns, de acordo com Crawford, e provavelmente foi criada a partir de um conto alemão da década de 1840, em que um furúnculo na bochecha de uma mulher se abre com aranhas... porque ela fez um pacto com o Diabo.

A maioria das aranhas não teria os meios ou o interesse de se enterrar na carne humana grossa e colocar seus ovos lá, diz Crawford, e no caso raro de uma aranha morder um ser humano, ela injetaria veneno com suas presas minúsculas, não colocaria ovos.

<><> Mito: no frio, as aranhas entram nas casas pelos ralos e esgotos

Algumas aranhas evoluíram para viver fora e outras para viver dentro de casa. Na maioria dos casos, essas espécies diferentes nunca se encontrarão. Embora possam entrar acidentalmente, as aranhas de ambientes externos que já vivem em climas frios não têm interesse em encontrar refúgio em nossas casas aconchegantes.

"Cerca de 95% das aranhas que você vê dentro de casa sempre estiveram dentro de casa, foi lá que nasceram, foi lá que cresceram", explica Crawford. "Elas pertencem a um pequeno número de espécies que vivem em torno de edifícios construídos pelo homem desde que começaram a ter construções humanas." É por isso que encontrar uma aranha em sua residência e tentar libertá-la na natureza é contraproducente.

Esse também é o motivo pelo qual as aranhas não estão subindo por canos e ralos para se mudarem conosco. Se você encontrar uma aranha na banheira ou perto da pia, provavelmente é uma aranha doméstica tentando beber água, diz Crawford, já que as fontes de água dentro de casa são poucas e distantes entre si. A aranha já estava vivendo em sua casa e estava rastejando em direção ao ralo. Além disso, a maioria dos encanamentos tem uma seção de retenção de sedimentos constantemente repleta de água que a maioria das aranhas não seria capaz de percorrer.

Da próxima vez que você vir uma aranha em sua casa, lembre-se de que ela está mais próxima de um colega de quarto do que de um intruso. Além disso, elas provavelmente são uma presença útil no ecossistema de sua casa.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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