sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Ricardo Mezavila: ‘Marçal, Datena e Mário Gomes’

As campanhas políticas são um suco heterogêneo com ingredientes que cada um traz na bagagem. Nunca, em tempo algum, as campanhas foram majoritariamente baseadas em propostas objetivas que a sociedade quer e precisa ouvir.

O que vimos no domingo durante o debate para a prefeitura de São Paulo, na TV Cultura, foi uma amostragem do que cada um tem a oferecer em estratégia para convencer o eleitor de sua capacidade ‘administrativa’ para ocupar o cargo.

O candidato do PRTB, Pablo Marçal, trouxe para a campanha sua experiência de manipulação, conquistada de maneira criminosa, nas redes sociais, que lhe rendeu um processo por estelionato.

Marçal foi preso preventivamente e condenado por golpes bancários. De acordo com as investigações, o influenciador fazia parte de uma organização criminosa, capturando e-mails que eram utilizados pelos golpistas para enviar programas maliciosos que roubavam dados das contas bancárias das vítimas.

O candidato do PSDB, José Luís Datena, antigo apresentador de programas sensacionalistas, conhecido por ‘combater’ criminosos, tem como estratégia apontar eventuais desvios de conduta dos outros candidatos de maneira teatral, como se estivesse na mira das câmeras no ‘indefectível’ Brasil Urgente.

Durante o debate, Datena e Marçal protagonizaram a cena mais bizarra já vista em debates para a prefeitura de São Paulo. Provocado exaustivamente por Marçal, o apresentador e candidato, destemperado emocionalmente, agrediu Marçal com uma cadeira, após o ex-coach lembrar de uma acusação de assédio sexual, arquivada, movida contra Datena.

O tempo fechou no estúdio e o mediador do debate, o jornalista Leão Serva, recorreu ao lendário apresentador de televisão das décadas de 1960 e 1970, Flávio Cavalcanti, e pediu constrangido: “nossos comerciais, por favor!”

Saindo de São Paulo e vindo para o Rio de Janeiro, o ator Mário Gomes, candidato a vereador pelo Republicanos, que marcou a dramaturgia televisiva com personagens estilo galã-carente, que recebia a empatia do público mesmo quando estava errado, que foi vítima de uma campanha difamatória no auge da carreira, utiliza de seu talento cênico para pedir um voto subliminar fazendo drama por conta do despejo de sua mansão na Joatinga.

O imóvel foi leiloado pela justiça para pagar dívidas trabalhistas e IPTU atrasados. O candidato vem apelando para Bolsonaro, de quem é seguidor, com objetivo de chegar até eleitores bolsonaristas compadecidos de sua situação.

De bravata em bravata, os três citados aqui têm em comum o fato de nenhum deles apresentarem propostas para os problemas que afetam diretamente a população.

 

•        Fortuna de Marçal pode ter origem em R$ 80 milhões roubados por quadrilha de golpes em bancos

A fortuna de mais de R$ 200 milhões de Pablo Marçal (PRTB), que se aventurou na política e que atualmente tumultua a disputa à prefeitura de São Paulo, pode ter origem nos cerca de R$ 80 milhões roubados pela organização criminosa implodida em 2005 pela Polícia Federal (PF) e que tinha o ex-coach como um dos principais integrantes.

Nascido em uma família de classe média baixa de Goiânia, Marçal declarou um patrimônio de R$ 193.503.058,17 ao registrar sua candidatura neste ano. No entanto, dias depois, com a divulgação da omissão de bens e patrimônio, ele se retificou e afirmou que seu patrimônio ultrapassa os R$ 200 milhões.

O valor é mais que o dobro dos R$ 96.942.541,15 declarados por Marçal dois anos atrás, quando chegou a se lançar à Presidência, mas acabou disputando uma cadeira na Câmara. A candidatura, no entanto, foi indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No entanto, no livro Pablo Marçal: a trajetória de um criminoso, lançado pelo jornalista Cristiano Silva, do site Goiás 24 horas, uma fonte próxima de Marçal revela que a meritocracia e as ferramentas de coach não são, necessariamente, o motivo de ter transformado o menino goiano em um empresário milionário.

•        Operação Pegasus

A fonte próxima a Marçal, ouvida pelo jornalista, foi quem primeiro revelou ao próprio Cristiano Silva que Marçal foi um dos investigados na megaoperação Pegasus, desencadeada pela PF em agosto de 2005 para desmantelar a maior quadrilha de hackers do Brasil, especializada em invasão de contas bancárias pela internet.

Na operação, desencadeada em 27 de agosto de 2005, os agentes da PF cumpriram 126 mandados de prisão expedidos pela Justiça de Goiás.

A quadrilha agia desde 2001 e havia desviado, até então, pelo menos R$ 80 milhões dando golpes em correntistas de todos os bancos do país, segundo a investigação.

No livro, a fonte levanta uma questão inédita, que foi confirmada por Cristiano Silva nos autos do processo: onde estão os R$ 80 milhões desviados pela quadrilha que estariam em um cofre?

"Apenas três pessoas sabiam do local exato e da senha. O dono do negócio, pastor Danilo, Pablo e uma terceira pessoa. Quando a casa caiu para todo mundo, um desses três voltou para casa e continuou a vida sem cumprir a pena. Ele limpou o cofre e ficou milionário da noite para o dia", conta a fonte no livro.

Marçal foi o único membro da quadrilha que não chegou a ser preso - e se gaba até hoje por isso.

"Todo rico tem um passado para contar sobre sua fortuna, até quem recebe herança tem o que contar. Já observou que Pablo Marçal é um milionário sem passado? De repente, rico, conselheiro do mundo, pai da sabedoria... Quem deu a ele o pote de ouro ou a mala cheia de grana? Deus ou o capeta? Estranho, não? Como explicar a fortuna dele e a desgraça dos outros?", indaga JP, como é identificada a fonte pelo jornalista no livro.

Ao mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo, em 2022, Marçal já era conhecido no mundo dos coachs. Mas, muito mais pelas gafes, do que pelo seu poder de persuasão e financeiro.

Em janeiro daquele ano, o coach ocupou os noticiários ao colocar em risco de vida 32 pessoas que levou para uma expedição sem guia no Pico dos Marins, na cidade de Piquete.

Meses depois, ele registrou na Justiça Eleitoral o patrimônio de R$ 96.942.541,15 - R$ 16 milhões a mais do que teria sido roubado pela quadrilha nos golpes em clientes de bancos.

Dois anos depois e já famoso pelas provocações e polêmicas nas redes, Marçal declara mais que o dobro do patrimônio e se lança candidato por um partido, o PRTB, cujo presidente, Leonardo Avalanche, e assessores estão envolvidos com figuras do PCC e com o tráfico de drogas.

O livro de Cristiano Silva lança luz sobre a "meritocracia" do ex-coach e dúvidas sobre a origem de sua fortuna milionária. A obra sinaliza que muito além da política, Marçal segue sendo um caso de polícia.

•        Datena entra com notícia-crime contra Marçal após ser chamado de “Jack”

O apresentador e candidato à prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), entrou nesta terça-feira (17), na Justiça Eleitoral do Estado de São Paulo com uma notícia-crime contra o ex-coach e adversário Pablo Marçal (PRTB) por calúnia e difamação. A ofensa, segundo a peça assinada pelos advogados de Datena, se refere às acusações de assédio sexual contra o apresentador que foram arquivadas.

Durante o debate promovido pela TV Cultura no último domingo (15), Marçal chamou Datena de “Jack”, uma gíria usada em presídios para designar presos por estupro. O ex-coach se referia à acusação de assedio sexual contra o apresentador relatada em 2018, pela repórter Bruna Drews.

O caso, de acordo com Datena, "não foi investigada porque não havia provas" e acabou arquivado pelo Ministério Público. A ofensa acabou provocando o destempero do apresentador, que deu uma cadeirada em Marçal.

<><> "Ilegal, ardilosa, politiqueira e mesquinha"

A notícia-crime assinada pelo criminalista Roberto Podval e mais seis advogados de José Luiz Datena, diz que "a conduta de Pablo Marçal é manifestamente ilegal, ardilosa, politiqueira e mesquinha, e deve ser banida pela Justiça Eleitoral, tendo em vista se tratar de atitude que visa confundir o eleitor e manchar a honra e a imagem de adversário".

A peça afirma também que "os fatos aqui descritos configuram os crimes eleitorais de calúnia, difamação e injúria, previstos nos artigos 324, 325 e 326 do Código Eleitoral". O documento foi protocolado à 00:36 desta terça-feira (17).

•        Datena sobre cadeirada em Marçal: "Espero ter lavado a alma de milhões de pessoas"

O apresentador José Luiz Datena, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, divulgou na noite de segunda-feira (16) uma nota em que diz não se arrepender da agressão física que praticou contra Pablo Marçal (PRTB), seu adversário na eleição municipal, durante debate promovido pela TV Cultura no último domingo (15).

Datena deu uma cadeirada em Marçal após ser provocado pelo coach, que havia mencionado uma denúncia de assédio contra o apresentador – arquivada por falta de provas – que teria levado sua sogra à morte. Após o ocorrido, Marçal passou foi internado e passou a "fazer cena" nas redes, fingindo que seu estado de saúde seria pior do que realmente era e até mesmo sugerindo que foi alvo de uma tentativa de homicídio.

Em sua nota oficial sobre o assunto, Datena afirma que errou ao agredir Marçal, mas que repetiria o gesto diante da "ameaça" que o coach de extrema direita representa.

"Não defendo o uso da violência para resolver um conflito. Essa é a regra e sempre a respeitei nos meus 67 anos de vida. Até o dia de ontem. Porque torna-se difícil obedecê-la quando os limites de civilidade são rompidos e corrompidos por um oponente. Infelizmente, foi o que aconteceu na noite deste domingo durante debate promovido pela TV Cultura. Pablo Marçal demonstrou, em todas as situações a que teve oportunidade, sua falta de caráter. Demonstrou, ainda, que é uma ameaça à cidade de São Paulo. Será detido no voto. Mas, a despeito disso, precisava também ser contido com atos. Foi o que eu fiz", escreveu o candidato do PSDB.

Segundo Datena, Marçal fez acusações graves e "absolutamente falsas" contra ele, "usando linguagem de marginais" e ferindo sua honra e a de sua família. O apresentador diz que errou, mas que não se arrepende "de forma alguma" do gesto.

"Espero ter lavado a alma de milhões de pessoas que não aguentavam mais ver a cidade tratada com tanto desprezo e desamor por alguém que se propõe a governá-la, mas que quer mesmo é saqueá-la, de braços dados com o crime organizado", emendou.

Por fim, José Luiz Datena anunciou que não desistirá de sua candidatura à prefeitura de São Paulo "para defender a nossa democracia ameaçada por figuras como Pablo Marçal que querem o obscurantismo e não o bem da cidade e de sua população".

•        Internet reagiu com felicidade à agressão, diz levantamento

De maneira inusitada e inesperada, um levantamento feito pela agência Latam Intersect apontou que as redes sociais reagiram, em sua maioria, com “felicidade” à cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB).

O fato ocorrido na noite do último domingo (15), durante o debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo promovido pela TV Cultura, mobilizou tanto as manchetes quantos as redes sociais.

Segundo a Latam Intersect, internautas expressaram “felicidade” com a cadeirada em 74% dos posts do Instagram, 34% do Facebook e 30% do TikTok. A emoção seguinte mais presente foi a de “tristeza”: 19% no Facebook, 18% no TikTok e 6% no Instagram.

<><> Exagero no personagem

Para Edgard Piccino, analista de dados da Fórum, "as reações nas redes sociais demonstram que o Marçal talvez tenha exagerado muito no personagem, o que atraiu diversos fãs, mas atraiu muita repulsa pela sua pessoa”.

De acordo com Piccino, “estes dados nos mostram que grande parte do seu engajamento real é negativo, de pessoas que se revoltam contra sua postura. Estas pessoas que enxergam Marçal como uma figura abjeta, sentiram satisfação no ato lamentável da cadeirada desferida pelo Datena. De maneira triste, o ato extremo foi visto por muitos como um ato humano".

 

Fonte: Jornal GGN/Fórum

 

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