Teóloga francesa Marie-Jo Thiel: “Adiar
diaconado das mulheres é dizer que elas continuam subalternas”
“Adiar a questão do
diaconado das mulheres para as calendas gregas é afirmar que as mulheres
permanecem subalternas” e comprometer o alcance da necessária reflexão sobre os
ministérios, nomeadamente o dos padres, na segunda sessão do Sínodo sobre a
Sinodalidade, que vai acontecer em outubro, no Vaticano.
Quem dá voz a estas
denúncias, exprimindo o sentir de outras católicas e católicos, é a teóloga
francesa Marie-Jo Thiel, num artigo publicado na última segunda-feira, 16, pelo
diário Le Monde.
A tomada de posição
desta professora emérita da Universidade de Estrasburgo, com mais um livro
prestes a sair, sobre o celibato dos padres (La grâce et la pesanteur, Desclée
De Brouwer, 2024), decorre do facto de o Papa Francisco ter retirado o tema da
ordenação ministerial de mulheres da agenda sinodal.
Marie-Jo Thiel começa
por lamentar que o Papa tenha utilizado uma entrevista televisiva, para se
manifestar contra a possibilidade de as mulheres acederem ao diaconado
ordenado, sugerida com mais ou menos força nas diferentes partes do mundo,
aquando da auscultação das comunidades católicas nos planos diocesano, nacional
e continental. As sessões sinodais, que reúnem membros do clero e leigos e
leigas, embora estas em clara minoria, seria, do seu ponto de vista, a
instância adequada para o diálogo e o discernimento sobre a matéria.
Porquê retirar o tema
da agenda da segunda sessão, remetendo-o para uma comissão que, recorda ela, é
já a terceira, sem que se tenham sequer tornado públicos os resultados das
anteriores?
Refletindo sobre este
aspeto, a teóloga convoca um assunto diferente, mas próximo, que deu grande
polémica aquando do Concílio Vaticano II: o processo que conduziu à encíclica
Humanae Vitae.
Nessa altura –
estava-se na terceira sessão, em 1964 – os padres conciliares iniciaram o
debate aberto do assunto do controlo da natalidade, quando, a dada altura do
processo, o Papa Paulo VI decide avocar o assunto, entregando-o, depois, a uma
comissão internacional e multidisciplinar. Esta, apesar de não ser
especialmente aberta, acabou por manifestar-se favorável aos métodos
anticoncetivos (o documento da comissão também não foi divulgado, mas as
conclusões acabaram por vir a lume). Sabe-se o que viria a ser preconizado pela
encíclica papal e a crise que a Humanae Vitae desencadeou.
• “Um passo significativo e simbólico”
Observando o que se
tem passado com as comissões nomeadas por Francisco sobre o lugar das mulheres
na Igreja e o diaconado feminino, a teóloga francesa pergunta-se “porque é que
o magistério não aprende com a sua experiência”, interrogando-se se criar comissões
não será, como ocorre muitas vezes no campo político, uma forma de empatar,
quando não de “enterrar as questões”.
Este tipo de
procedimentos constitui um fator acrescido, segundo Thiel, para a desfiliação
de muitas mulheres da Igreja Católica, especialmente entre as gerações mais
jovens, por se aperceberem que, apesar dos discursos dos responsáveis
eclesiásticos, elas continuam de facto “subordinadas” e que a sua liderança “é
vista pela hierarquia como uma ameaça ao catolicismo”.
Contudo, a teóloga
francesa entende que o tema do diaconado feminino não pode ser pensado ou
decidido por si só, mas no quadro da reflexão sobre os ministérios, existentes
e a criar. É urgente repensá-los e, em primeiro lugar, o do presbítero,
sustenta. Isso implica romper com o clericalismo; considerar as propostas
paulinas sobre os carismas; e mudar a disciplina do celibato opcional. Neste
quadro, lança a interrogação talvez mais relevante: uma vez que todos os
aspetos dos ministérios estão interligados, “ao retirar total ou parcialmente a
questão dos ministérios femininos dos debates sinodais, não estaremos a privar
a Igreja no seu conjunto de uma reflexão global sobre a sua conformidade com o
Evangelho?”
“A igualdade de
tratamento entre homens e mulheres não levará ao fim definitivo do
clericalismo, nem aumentará o número de vocações ao sacerdócio e à vida
religiosa”, admite Thiel. “Mas seria um passo significativo e simbólico em
direção a uma Igreja mais inclusiva e participativa, implementando a
sinodalidade”.
Fonte: 7Margens
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