Lula enfrenta o bolsonarismo ambiental na
encruzilhada da catástrofe climática que incendeia o país
Com 60% do território
brasileiro neste momento sofrendo, direta ou indiretamente, as consequências de queimadas ou incêndios
florestais, o país vive, como definiu o ministro do Supremo Tribunal Federal
Flávio Dino, uma situação absurda e inaceitável. "Temos que reconhecer que
estamos vivenciando uma autêntica pandemia de incêndios florestais", disse
Dino.
A analogia com a
situação criada e as providências necessárias para combater o flagelo do
coronavírus dão ideia da vastidão da tarefa que significa combater os milhares
de focos de incêndio e adaptar o país a uma situação que se mostra permanente.
As condições
climáticas no planeta ultrapassaram um umbral além do qual devem se agravar
continuamente. Eventos extremos, como o das matas e campos que ardem, se
sucedem. Será necessário vigiar, evitar
e eventualmente combater focos múltiplos. Será necessário flagrar criminosos
incendiários, venham eles do bolsonarismo ou de práticas agrícolas retrógradas,
para caçá-los e puni-los na forma da lei.
Como na pandemia, o
bolsonarismo, agora climático, é assassino.
Ocorre que dessa vez
os incêndios excederam muitas vezes os meios de seu controle. O Brasil bateu a
marca de 180 mil focos de incêndio em 2024, segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), totalizando mais de 224 mil km 2 de área queimada até
o final de agosto – quase o tamanho do estado de São Paulo.
A capital do estado
registra já há vários dias a pior qualidade do ar do planeta, segundo o sítio
IQAir, que monitora 120 grandes cidades globais.
Não há como minimizar
o fenômeno cujos contornos sugerem a aproximação de uma era apocalíptica se a
humanidade não for capaz de reverter o aquecimento global com medidas à altura
do desafio.
As queimadas preocupam
mais se vistas na sucessão da catástrofe das chuvas torrenciais no Sul do país.
Preocupam também se observadas em sua simultaneidade com secas que se repetem,
cada vez mais duradouras, nos grandes rios da Amazônia, com a repercussão
ambiental gigantesca que desencadeiam.
Em meio a esse cenário
tão angustiante, há que se registrar que o Brasil tem em Lula um presidente que
não se refugia no negacionismo climático.
Lula pretende usar 70
mil recrutas do Exército no combate aos incêndios. Além disso, juntamente com a ministra Marina
Silva, do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, anunciou a criação da Autoridade
Climática e de um Comitê Técnico-Científico para apoiar e articular as ações do
governo federal de combate à mudança do clima.
O anúncio foi
realizado após o presidente percorrer áreas afetadas pela seca e pelos
incêndios no estado do Amazonas. Ali o Brasil vive a pior estiagem em 75 anos
O objetivo de Lula é
estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas a partir
do Plano Nacional de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos. O foco está
justamente na adaptação e preparação para o enfrentamento a esses fenômenos. O
objetivo da autoridade e do comitê, segundo Lula, é dar suporte e articular a
implementação das ações do governo federal.
O presidente vai
enviar Medida Provisória para estabelecer o estatuto jurídico da Emergência
Climática, o que irá acelerar a aplicação de medidas de combate a eventos
extremos. Para fazer valer essas medidas, será preciso enfrentar resistências
ideológicas encarniçadas, como a da famigerada bancada ruralista aliada ao
negacionismo no Congresso.
A dimensão das tarefas
na extensão do Brasil é ciclópica. Será preciso acelerar mudanças em todos as
esferas, alterando hábitos aferrados, substituindo prioridades e atendendo
inéditas urgências. Repensar o sentido, a qualidade e os termos do progresso econômico
não está fora de cogitação. A conivência criminosa de governadores e prefeitos
bolsonaristas terá que ser exposta, responsabilizada e punida. Agora mais do
que nunca, o clima é a prioridade. Não há outra opção.
• “Modelo agroexportador vai transformar o
Brasil em um deserto", alerta cientista
Durante sua
participação no programa Giro das Onze da TV 247, o cientista do clima e
professor da Universidade Estadual do Ceará, Alexandre Costa, fez duras
críticas ao modelo agroexportador brasileiro e às práticas do agronegócio,
especialmente no que tange às queimadas. Costa descreveu esse sistema como “um
modelo de morte”, apontando que a pecuária extensiva e a produção voltada para
exportação estão levando o Brasil ao limite ambiental.
“O modelo
agroexportador é absolutamente insustentável”, afirmou Costa. Segundo ele, a
combinação de pecuária e combustíveis fósseis está promovendo a destruição da
biodiversidade e colocando o futuro do Brasil em risco. “O binômio pecuária e
combustíveis fósseis vai tornar o Brasil – o território mais sócio-biodiverso
do planeta – em deserto”, alertou o cientista, destacando a crescente perda de
áreas nativas como o Cerrado.
Costa também apontou a
contradição entre o discurso de produção agrícola e a realidade dos destinos
dessa produção. “Ao invés de se produzir comida para as mesas das pessoas,
produz-se o insumo que vai virar ração de suínos na China ou de frangos na Europa.
Perdemos mais da metade do Cerrado para isso, por míseros dólares do
agronegócio”, criticou o professor.
O cientista ainda
ressaltou que as queimadas, prática comum para expansão de áreas agrícolas e
pastagens, estão diretamente relacionadas com o aumento da poluição do ar e a
escassez de chuvas, fatores que têm agravado a crise climática no Brasil. Nos
últimos dias, várias cidades brasileiras atingiram níveis alarmantes de
poluição, classificados como “perigosos” para a saúde humana.
Costa defende que é
fundamental a busca por alternativas sustentáveis que garantam a preservação
dos recursos naturais e a produção de alimentos voltada ao consumo interno, e
não apenas ao lucro das exportações.
• "Não há contradição entre proteger
o meio ambiente e desenvolver a economia", afirma Carlos Minc
Em entrevista ao
programa Boa Noite 247, o deputado estadual Carlos Minc, ex-ministro do Meio
Ambiente, falou sobre a atual situação ambiental no Brasil, destacando as
rápidas mudanças climáticas e a necessidade de ações preventivas coordenadas
entre diferentes setores do governo. Segundo ele, o país enfrenta uma
"combinação de causas naturais, efeitos climáticos produzidos por ações
humanas, omissão, cumplicidade, imprevidência e até crime".
Minc destacou que
"o clima está aquecendo muito mais rapidamente do que os próprios
cientistas previam". Ele citou a recente fala do cientista Carlos Nobre,
ressaltando que o fogo que atinge várias áreas no Brasil, "noventa e cinco
por cento é em terras privadas", e criticou a falta de prevenção: "há
30 anos, isso tinha um efeito; agora tem outro, que é uma catástrofe total.
Falta prevenção".
Ao abordar as
modalidades de incêndios, Minc separou o uso ancestral do fogo no preparo da
terra do que ele considera crime: "Hoje, botar fogo no meio da estiagem,
com vento, é crime. Mas não é o mesmo crime do fazendeiro que mete fogo para
suprimir uma área de proteção ambiental".
Ele também criticou a
impunidade para crimes ambientais, afirmando que "os governos estaduais
têm polícia, PM, bombeiros e defesa civil. Cadê os governos estaduais de Mato
Grosso, Tocantins, São Paulo?", questionou, reforçando que o Exército e o
Ibama também precisam estar mais presentes nas ações de controle.
Sobre os recursos
disponíveis para a preservação ambiental e a possibilidade de desenvolver
economicamente sem prejudicar o meio ambiente, Minc defendeu: "Nós não
temos que abrir mão do crescimento. Temos que nos desenvolver de uma forma
diferente". Ele destacou exemplos de pactos feitos com o setor de soja,
que reduziram o desmatamento, afirmando que "não há contradição entre
proteger e desenvolver". Minc finalizou enfatizando que "a questão
não é crescer ou proteger, é como desenvolver, como fazer uma agricultura
sustentável".
• Marina Silva diz que Brasil vive
'terrorismo climático' e defende punição mais severa para quem provocar
incêndio
A ministra do Meio
Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou neste sábado (14) que o
Brasil enfrenta o que chamou de "terrorismo climático". Em um evento
realizado em São Carlos, no interior de São Paulo, a ministra destacou a
intensificação de queimadas ilegais que, segundo ela, estariam sendo provocadas
de forma criminosa, agravando os efeitos das altas temperaturas e da baixa
umidade no país.
Durante seu discurso,
Marina Silva ressaltou que, embora o uso de fogo seja proibido em todo o
território nacional, grupos estariam utilizando essas condições climáticas para
incendiar florestas, causando danos à saúde da população e à biodiversidade. "Há
uma aliança do crime com a emergência climática", afirmou a ministra.
Atualmente, a
legislação prevê penas de um a quatro anos de prisão para crimes dessa
natureza. No entanto, Marina Silva defende o aumento das punições. Ela informou
que, até o momento, a Polícia Federal já abriu 50 inquéritos para investigar
esses crimes e que medidas mais rigorosas estão sendo estudadas.
"É preciso
intensificar as investigações e o trabalho de inteligência para identificar os
responsáveis e suas motivações. A ampliação das penas está sendo
analisada", afirmou a ministra.
• A emergência climática foi
nacionalizada. Por Tainá de Paula
As manchetes dos
jornais não deixam qualquer sombra de dúvidas: estamos vivendo um dos períodos
mais secos da história do Brasil. “Fumaça da Amazônia deixa SC em alerta de
risco alto para baixa umidade do ar e calor de até 40°C”, “Calor no Rio Grande
do Sul atingirá pico de intensidade com muita fumaça”, “Há 145 dias sem chuvas,
BH deve fechar setembro ainda com estiagem” e, ainda assim, encontramos setores
sociais que relutam em dizer que não existe essa “tal emergência climática”.
Lamentavelmente, essas
vozes são muitas e insistentes, travando uma guerra virtual de narrativas,
enquanto a fumaça de queimadas na Amazônia chegam ao Sul do país, levada por
meio de eventos climáticos extremos. Para se ter uma ideia da gravidade do problema,
basta atentar ao fato de que o estado de Santa Catarina tem uma temperatura
média anual de 19º. Com os efeitos da seca, o calor no estado sulista pode
chegar aos 40º.
No Rio Grande do Sul,
depois das enchentes registradas no mês de maio deste ano, as temperaturas já
chegaram aos 35,3º, na cidade de Santa Rosa, onde a temperatura média anual não
passa de 20º. A Região Metropolitana de Belo Horizonte está há 145 dias sem
chuva e enfrentando uma onda de focos de incêndio, em sua grande maioria,
criminosos, provocados pelo homem.
Além disso, no Rio de
Janeiro, registramos o mês de agosto mais quente da história da cidade desde o
período pré-industrial, segundo dados do Climatempo. Outro dado relevante é que
1º de maio foi o dia mais quente do ano até agora, com o registro de uma temperatura
de 37,6º e sensação térmica de 42º.
Todas essas
informações revelam um componente alarmante e reforçam que as mudanças
climáticas produzem danos perenes à saúde das populações mais atingidas. Nós
sabemos exatamente quem são os mais afetados quando o assunto é mudança
climática: pretos, pobres, moradores das periferias.
Para mudar esse
panorama, precisamos de políticas públicas que adentrem as casas das pessoas
que mais precisam de atenção, que não possuem um ar condicionado em casa,
piscinas em seus condomínios de luxo ou sequer um umidificador de ar. Essas
pessoas precisam de atenção e que os governantes olhem para elas não apenas em
período eleitoral.
O clima não percebe
mais onde é tropical ou semi-árido. A fumaça do Amazonas chegar a Santa
Catarina e a seca em BH já não são novidades. Precisamos estar atentos a essas
mudanças todos os dias.
Fonte: Brasil 247
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