terça-feira, 17 de setembro de 2024

'Consenso': Kamala e Trump não divergem e abraçam militarismo na política externa, dizem analistas

Debate presidencial entre Harris e Trump demonstra consenso bipartidário sobre assuntos de política externa nos EUA. Por trás de desavenças pontuais, ambos os candidatos são financiados por elite interessada na hegemonia global, disse analista norte-americano à Sputnik Brasil.

Nesta terça-feira (10), o primeiro debate entre os candidatos à presidência dos EUA, Donald Trump e Kamala Harris, demonstrou a relevância que temas de política externa terão para decidir o resultado das eleições de novembro.

Na ocasião, os candidatos utilizaram temas como o conflito na Ucrânia, a saída dos EUA do Afeganistão e a ascensão da China para delinear a diferença entre suas abordagens. Para analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a tentativa não foi bem-sucedida, e os candidatos demonstraram mais uma vez o amplo consenso que os principais assuntos de política externa gozam entre a elite política norte-americana.

Considerando o amplo espectro de problemas sociais que os EUA enfrentam hoje, desde acesso à moradia, saúde e transporte até epidemia de uso de opioides entre diversos grupos etários da população, o papel da política externa poderia ser relegado ao segundo plano.

No entanto, o esforço de guerra israelense em Gaza catapultou a agenda internacional para o centro das eleições presidenciais norte-americanas, acredita o jornalista e apresentador do Break Through News, Eugene Puryear.

"Acredito que essa campanha talvez seja a mais centrada em política externa dos últimos tempos. O genocídio em Gaza é o responsável por isso, principalmente porque coloca em xeque a possibilidade de Kamala Harris vencer o pleito", disse Puryear à Sputnik Brasil. "Ela não conseguirá obter votos de números significativos de representantes da comunidade árabe e muçulmana dos EUA, além de jovens e outros grupos indignados com o que está acontecendo na questão palestina."

Durante o debate presidencial, a candidata democrata Kamala Harris reafirmou a posição da administração Biden, dizendo que "Israel tem o direito de se defender", ainda que reconhecendo que "muitos palestinos inocentes faleceram". O ex-presidente Donald Trump notou a ausência de Harris na recepção ao líder israelense Benjamin Netanyahu pelo Congresso dos EUA, o que seria um sinal de que ela "odeia Israel" e também "a população árabe".

Polícia retira manifestantes pró-Palestina durante o debate presidencial entre a

Outros temas de política externa que poderão ter impacto na escolha do eleitor são o conflito na Ucrânia e a abordagem em relação à China. De acordo com Puryear, o aceno de Trump com possíveis mudanças em relação ao apoio norte-americano à Ucrânia tenta explorar o sentimento antiguerra entre diversos grupos sociais.

"Sabemos que, quando Trump esteve no poder, sua política em relação à Ucrânia era bastante belicosa. Mas recentemente vemos pessoas no Partido Republicano e na direita [norte-americana] criticando o conflito na Ucrânia", considerou Puryear. "Pesquisas mostram que eleitores democratas também estão mudando sua posição em relação à Ucrânia, mas isso não se reflete na política do partido, que é 100% comprometida com essa guerra por procuração."

Durante o debate desta terça (10), Trump defendeu que o fim do conflito na Ucrânia interessa aos EUA, dizendo ser capaz de negociar a paz "ainda antes de assumir a presidência". Já Kamala Harris se comprometeu a liderar o apoio ocidental a Kiev, acusando seu opositor de estar sendo manipulado.

<><> Consenso bipartidário

Para a pesquisadora de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (UNIT-SE) Lívia Peres Milani, "a grande permanência em política externa é a busca de manutenção da hegemonia". Para atingir esse objetivo, no entanto, Trump e Kamala Harris adotam estratégias diferentes.

"Kamala adere à visão mais convencional nos EUA, de que a continuidade da hegemonia depende da manutenção da ordem liberal", disse Milani à Sputnik Brasil. "Nestes termos, busca-se legitimar o domínio estadunidense com base em um discurso pautado no liberalismo político – especialmente a defesa da democracia e dos direitos humanos como temas universais."

Por outro lado, o candidato republicano Donald Trump promoveria "uma retórica unilateral e busca a manutenção do domínio com base na construção dos meios de força e no nacionalismo econômico". O jornalista norte-americano Eugene Puryear também enxerga muitos traços de consenso bipartidário na agenda de política externa dos EUA.

"O apoio bipartidário ao genocídio em Gaza é claro como o dia nos EUA. E tem sido assim há décadas no que diz respeito à questão israelo-palestina", declarou Puryear. "Na China, em particular, não há realmente nenhuma diferença entre os dois [partidos]. Ambos estão promovendo uma nova Guerra Fria contra a China e o discurso de que ela é uma grande ameaça que precisa ser enfrentada militarmente."

O consenso bipartidário em relação a potências como China e Rússia está expresso sobretudo nas estratégias de defesa nacional de Trump e Biden. Ambos os documentos enfatizam a necessidade de conter e cercar a China, limitando sua influência global e crescimento econômico, disse o norte-americano. Apesar dos consensos, a pós-doutoranda Milani nota que os candidatos legitimam a sua postura ofensiva em relação à China de formas distintas.

"Para o Partido Democrata importa a caracterização da China como uma ameaça em razão de seu regime político, por isso a sua definição como país autoritário é central à narrativa", disse Milani. "Já Trump busca construir a ideia da China como ameaça econômica, como fonte da desindustrialização nos Estados Unidos – e faz uso de uma retórica mais abertamente xenófoba."

Durante o debate, Donald Trump argumentou que sua administração impôs tarifas pesadas contra produtos chineses, que foram mantidas pela administração Biden-Harris. Em resposta, a candidata democrata acusou seu adversário de manter o acesso chinês a tecnologia de microprocessadores, garantindo o desenvolvimento militar do país.

<><> Consenso financeiro

O amplo entendimento sobre assuntos de política externa entre os partidos norte-americanos é, em grande medida, fundamentado no poder da elite econômica do país, que financia ambos os lados. Nesse sentido, o descontentamento popular com o rumo da diplomacia nacional pode ter impacto limitado no processo eleitoral.

"Os EUA é residência de pessoas extremamente ricas, que estão entrincheiradas em suas posições de poder e não querem que isso mude. Essas são as pessoas que pagam as contas das campanhas eleitorais, que custam bilhões de dólares", notou Puryear. "Quem ganha as eleições é quem tem os maiores doadores. Todo mundo sabe que é assim que funciona."

Neste sentido, o consenso bipartidário sobre assuntos internacionais "não é aleatório, mas advém do fato de que o governo dos EUA é um projeto de 1% da classe bilionária do país, que quer garantir sua dominação global".

"As políticas militaristas dos EUA tampouco são aleatórias, mas sim resultado do imperialismo do governo dos EUA", disse Puryear. "Basta olharmos para o contexto da ‘ordem internacional baseada em regras’, que contam com apoio de ambos os partidos. A ideia é basicamente de que os EUA fazem as regras, e o restante deve seguir. E, caso não sigam, serão sancionados, punidos ou invadidos. O que acaba sempre acontecendo no final."

·        Papel da América Latina

O destaque para assuntos de política externa na campanha eleitoral norte-americana de 2024 não aborda diretamente o papel dos EUA na América Latina, ativo principalmente em questões de embargo a Cuba, segurança no Haiti e no imbróglio entre Venezuela e Guiana.

"Interessante notar que não há propostas, ou uma agenda positiva, para a América Latina. A região apenas entra em pauta em uma visão negativa, quando os temas são crime organizado e migrações. Isto ocorre apesar da crescente importância do eleitorado de ascendência latina, inclusive em estados-chave – a exemplo da Flórida", declarou Milani.

Segundo ela, a região não figura entre os temas prioritários dos partidos norte-americanos, "mas existe uma burocracia especializada na região – no Departamento de Estado, de Defesa, na USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] e uma gama de atores privados que atuam e têm interesses nela".

O contexto de transição geopolítica e a ascensão da multipolaridade, no entanto, poderão levar os EUA a recrudescer seu controle sobre a América Latina, garantindo acesso a recursos e posições estratégicas no continente, acredita Puryear.

"Na minha opinião, isso significa que os imperialistas terão que se concentrar mais na América Latina, que se torna cada vez mais importante para sua compreensão geoestratégica da necessidade de controlar o território, seus recursos e mercados, se eles realmente querem ser capazes de travar uma grande luta contra a China", concluiu o especialista norte-americano.

O debate entre os presidenciáveis norte-americanos foi sediado pela emissora local ABC News na cidade de Filadélfia, com mediação dos jornalistas David Muir e Linsey Davis. A possibilidade de um segundo encontro entre os candidatos está ameaçada, em função de diferenças entre as equipes de campanha sobre o formato de um eventual segundo debate.

<><> Plantando as sementes da guerra: elite da Marinha dos EUA treina para o conflito de Taiwan

A elite da Marinha dos Estados Unidos, a SEAL Team 6, está treinando para missões para "ajudar" Taiwan se as tensões entre a ilha e a República Popular da China esquentarem.

Em meio ao conflito em andamento no Oriente Médio e à guerra por procuração alimentada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia na Ucrânia, os militares dos EUA estão supostamente de olho em uma nova frente em meio às tentativas de Washington de salvar a ordem mundial unipolar.

Fontes disseram ao Financial Times (FT) que o planejamento e o treinamento para uma escalada na província chinesa de Taiwan estão em andamento "há mais de um ano" no QG da Seal Team 6 em Dam Neck, Virginia Beach.

O treinamento, que coincide com implantações cada vez mais sistematizadas de forças especiais dos EUA em Taiwan, ocorre em meio ao foco mais amplo da comunidade militar e de inteligência dos EUA na China.

Tais implantações, e até mesmo as vendas de armas dos EUA para Taiwan, são tecnicamente ilegais sob acordos que sustentam as relações China-EUA, que exigem que Washington cumpra o princípio de Uma Só China, reconhecendo a República Popular como o único governo, sem autonomia política a Taipé. Esse princípio levou os EUA a encerrar sua presença militar em Taiwan após 1979 e a assinar um comunicado com Pequim em 1982 exigindo que Washington reduzisse gradualmente a extensão de suas entregas de armas para a ilha.

Os EUA renegaram ambos os compromissos, com dados internos do Pentágono divulgados em 2021 revelando que um pequeno número de tropas dos EUA foi estacionado em Taiwan desde pelo menos 2008. Em março de 2024, Taipé confirmou a presença permanente de tropas dos EUA em ilhas no estreito de Taiwan para "fins de treinamento", incluindo Boinas Verdes implantadas a apenas 10 km do continente.

"Os EUA estão manipulando a questão de Taiwan de várias formas, o que é uma aposta muito perigosa", disse o Ministério da Defesa da China sobre as ações dos EUA no final de 2023, depois que o Congresso autorizou um "programa abrangente de treinamento, aconselhamento e capacitação institucionalizada" para Taiwan. "Instamos os EUA a perceberem completamente o dano severo do conteúdo relacionado à China na Lei de Autorização de Defesa Nacional [NDAA, na sigla em inglês], pararem de armar Taiwan sob quaisquer desculpas e por quaisquer meios, pararem com suas provocações usando Taiwan para 'conter a China' e tomarem ações concretas para manter a paz e a estabilidade regionais", instou Pequim.

O presidente chinês, Xi Jinping, que delineou formalmente uma política visando uma eventual reunificação pacífica com Taiwan sob o princípio Uma China, Dois Sistemas, supostamente acusou Washington de tentar "incitar Pequim a atacar Taiwan" durante as negociações com a chefe da União Europeia (UE), Ursula von der Leyen, em 2023.

 

¨      Na Espanha, países europeus e muçulmanos se reúnem e exigem retirada das tropas israelenses de Gaza

Nesta sexta-feira (13), Madri sediou uma reunião com vários países muçulmanos e europeus a fim de encontrar maneiras de acabar com a guerra em Gaza. As autoridades presentes pediram um cronograma claro para a comunidade internacional implementar uma solução de dois Estados.

Em uma declaração conjunta, os participantes na reunião exigiram a retirada completa das tropas israelenses da Faixa de Gaza, incluindo o corredor de Filadélfia.

"Exigimos a recuperação do controle total da administração palestina sobre a passagem fronteiriça de Rafah […] e a retirada total das tropas israelenses da Faixa de Gaza, incluindo o corredor de Filadélfia", diz o texto, publicado pelo Ministério das Relações Exteriores do Egito.

Estiveram presentes no encontro colegas da Noruega e da Eslovênia, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro palestino, Mohammad Mustafa, e membros do Grupo de Contato Árabe-Islâmico para Gaza, que inclui Egito, Arábia Saudita, Catar, Jordânia, Indonésia, Nigéria e Turquia.

"Nós nos reunimos para fazer outro esforço pelo fim da guerra em Gaza, por uma saída para a espiral interminável de violência entre os palestinos, os israelenses […] — esse caminho está claro. A implementação da solução de dois Estados é o único caminho", disse o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, a repórteres.

Albares acrescentou que havia "uma clara vontade" entre os participantes, que notavelmente não incluem Israel, "de passar das palavras às ações e de avançar em direção a um cronograma claro para a implementação efetiva" de uma solução de dois Estados, começando com a adesão da Palestina às Nações Unidas.

Tel Aviv não recebeu convite porque não faz parte do grupo de contato, disse o ministro espanhol, afirmando, porém, que "ficaremos felizes em ver Israel em qualquer mesa onde a paz e a solução de dois Estados sejam discutidas".

Em 28 de maio, Espanha, Noruega e Irlanda reconheceram formalmente um Estado palestino unificado governado pela Autoridade Palestina, compreendendo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como sua capital. Com eles, 146 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas agora reconhecem a condição da Palestina como um Estado.

<><> Rússia acusa EUA de exercerem 'pressão aberta' na Turquia após Erdogan comentar sobre Crimeia

Os Estados Unidos exercem uma pressão aberta sobre Ancara, em particular, na questão da península da Crimeia, denunciou nesta sexta-feira (13) o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan destacou em 11 de setembro a necessidade de devolver a Crimeia à Ucrânia, observando que é isso que o direito internacional exige.

"Na verdade, os EUA exercem pressão indisfarçável sobre a República da Turquia, sem desconsiderar a intimidação com consequências para a economia turca", disse Peskov, respondendo à questão de saber se a recente declaração de Erdogan se deve ao desejo de Ancara de "jogar junto com os EUA para reduzir a pressão das sanções sobre a sua economia".

No entanto, continuou ele, a Turquia, na opinião da Rússia, continua a ser guiada pelos seus próprios interesses, em particular, desenvolvendo o comércio econômico e outras cooperações com Moscou.

A propriedade da Crimeia é uma questão que suscita divergências entre a Rússia e a Turquia, acrescentou Peskov.

"Não desistimos das nossas tentativas, determinados a continuar a explicar aos nossos amigos e colegas turcos o nosso ponto de vista, a nossa posição. Esperamos que com o tempo isso permita que Ancara nos compreenda melhor e concorde com os nossos argumentos", disse ele.

O porta-voz também afirmou que a declaração do presidente da Rússia, Vladimir Putin, feita na quinta-feira (12) sobre as consequências dos ataques com armas ocidentais contra o território russo chegou aos seus destinatários.

"A declaração que Putin fez ontem é muito importante. É extremamente clara, inequívoca e não permite dupla leitura. E não temos dúvidas de que esta declaração chegou aos seus destinatários", disse Peskov a repórteres.

Putin alertou a OTAN que os ataques ucranianos com armas da aliança contra o interior do território russo significarão que os países-membros da organização militar estão em guerra com a Rússia.

A participação direta da OTAN, enfatizou o presidente, muda a própria essência do conflito.

Vários especialistas alertaram que um confronto direto entre a Rússia e a OTAN, ambas com arsenais nucleares, teria consequências imprevisíveis para o mundo.

<><> Na ONU, Venezuela denuncia que os EUA usam seus 'subordinados' para atacar a nação

O governo venezuelano denunciou, nesta quinta-feira (12), no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) que os Estados Unidos utilizam países subordinados para atacar esta nação caribenha.

Movimento acontece depois que a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, expôs sua preocupação com a suposta violação dos direitos humanos em Caracas.

"Exercitamos o nosso direito de responder a uma declaração lida pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina em nome de um grupo de países, obviamente sabemos que esta nova agressão contra a Venezuela vem dos Estados Unidos, que mais uma vez utiliza seus subordinados para seus propósitos indizíveis", disse o representante permanente da Venezuela, Alexander Yánez, em seu discurso no Conselho de Direitos Humanos.

Na quarta-feira (11), Mondino falou no 57º Conselho de Direitos Humanos da ONU em nome do Grupo Central, um grupo de países formado por Argentina, Canadá, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai, EUA e Uruguai na área de as Américas e 34 outras nações da Europa e Ásia.

No seu discurso, a chanceler argentina destacou que a "grave crise estrutural de direitos humanos que atravessa a Venezuela" se acentuou este ano no âmbito do recente processo eleitoral .

A este respeito, Yánez rejeitou que os EUA utilizem o Conselho de Direitos Humanos para exercer pressão contra a Venezuela.

"Os EUA e os seus satélites insistem em usar o Conselho de Direitos Humanos para aplicar a chamada doutrina de mudança de regime e pressão máxima contra a Venezuela; estes governos, especialmente os EUA, não se preocupam com o direito internacional ou com os direitos humanos", comentou.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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