"Trajetória de um criminoso":
jornalista goiano revela como Pablo Marçal se tornou milionário
O jornalista e
escritor Cristiano Silva está lançando um livro intitulado "Pablo Marçal:
a trajetória de um criminoso", onde detalha investigações e episódios da
vida do coach e político Pablo Marçal. A pesquisa de Silva, iniciada em 2022,
inclui eventos e figuras políticas associadas a Marçal, expondo uma série de
atividades ilícitas que remontam a sua participação em uma grande quadrilha de
crimes cibernéticos em 2005. Estas informações foram divulgadas inicialmente no
site Goiás 24 Horas, do qual Silva é editor.
Em entrevista à TV 24,
Silva relatou como obteve acesso a documentos e testemunhos que conectam Marçal
a diversos escândalos, incluindo manipulações durante campanhas políticas e
ligações com figuras controversas, como o Tenente Coronel Edson Melo. Este último
é descrito como envolvido em atividades questionáveis, incluindo segurança
pessoal de Marçal e envolvimento em ações violentas atribuídas à polícia de
Goiás.
O livro traz à luz as
operações criminosas de Marçal, como fraudes bancárias via internet, destacando
um esquema conhecido como "golpe do Tinder" que Marçal teria operado.
Silva aponta que, apesar de um julgamento e uma sentença em 2010, Marçal evitou
pena significativa devido a brechas legais e nunca cumpriu tempo em regime
fechado. O autor também discute a relação de Marçal com o crime organizado,
especificamente o PCC, e alega assassinatos cometidos sob a influência ou ordem
direta de Marçal e seus associados.
Cristiano Silva
expressa no livro sua preocupação com a imagem pública de Marçal, que
atualmente se apresenta como uma figura de moral e ética na política. O livro,
que já está disponível em formato ebook, promete revelar detalhes
comprometedores sobre a vida pregressa e as atividades criminais de Pablo
Marçal, oferecendo um olhar aprofundado sobre a verdade por trás de sua figura
pública.
• Tadeu Alencar Arrais: ‘Pablo Marçal
entre Goiânia e São Paulo’
“Se me matarem, não
encontrarão facilmente outro que, por ordem do deus, esteja tão ligado à cidade
como (ainda que a comparação possa parecer ridícula) uma mosca a um cavalo
grande, de boa raça, que precisa ser despertado pelas moscas, pois a gordura o deixa
lerdo” (Platão. Apologia de Sócrates).
Ensina o historiador
Gustave Glotz (1980), a partir de uma referência ao orador grego Demóstenes,
que o idiota era aquele que se mantinha calado nas assembleias atenienses.
Sabemos que os assuntos públicos, na polis, tinham proeminência sobre os
assuntos privados. Os idiotas, nessa ótica, eram aqueles que se afastavam dos
assuntos públicos. Quando pensamos na democracia e na participação popular nos
assuntos de interesse coletivo, pelo menos na perspectiva Ocidental, a imagem
da polis é muito frequente.
Difícil encontrar
algum paralelo entre as cidades de São Paulo e Goiânia e aquela Atenas que
julgou e condenou, a partir de uma assembleia na Ágora, o filósofo Sócrates.
Nossas cidades, demograficamente, territorialmente, socialmente e
administrativamente, são, em tudo, distintas daquelas cidades cujos sítios
urbanos eram protegidos pela topografia continental e pelo Mar Egeu.
A distante semelhança,
se é que podemos assim dizer, só pode situar-se na ambição democrática. A
democracia, tanto lá quanto aqui, assumindo todos os anacronismos possíveis,
também comparece nos discursos daqueles que pretendem administrar as cidades
brasileiras. A referência não é gratuita. A gestão democrática, no próprio
Estatuto das Cidades, Lei 10.257 de 2001 (Brasil, 200), é compreendida no
contexto das políticas urbanas. Como consta no Art.2:
II – gestão
democrática por meio da participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.
Algo, para além da
apatia, tem dificultado a participação das pessoas nos assuntos públicos.
Trata-se de um fenômeno próprio da produção do espaço urbano contemporâneo. Um
traço comum na história urbana reside no fato de que os incrementos
demográficos foram sucedidos, em graus diferenciados, pela expansão espacial
dos sítios urbanos. É claro que não se trata de uma regra mecânica, uma vez
também devemos considerar a evolução dos sistemas técnicos, especialmente as
redes de transporte, energia e comunicação.
A história dos
subúrbios seria suficiente para comprovar essa linha de raciocínio. Mas ainda
faltaria algo muito importante, especialmente quando relacionamos esses
incrementos demográficos às determinações do capitalismo industrial. A leitura
de A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de Friedrich Engels, é
suficiente para comprovar a hipótese que o incremento demográfico daquela
“infantaria ligeira do capital” (2015, p. 778) egressa do campo, para lembrar
Marx (2015), mudaria definitivamente a forma de organização das cidades.
As respostas da
burguesia aos recorrentes problemas urbanos, diante de cidades e dos operários
ingovernáveis, oscilaram entre duas lógicas: afastar os pobres ou afastar-se
dos pobres. A primeira motivou o conjunto de reformas dos centros urbanos,
naquilo que Engels (1979, p.48) adjetivou de “método Haussmann”. A segunda
motivou a construção dos subúrbios jardins, perspectiva romântica cujo projeto
mais elaborado foi descrito, em detalhes, por Ebenezer Howard (2002), em seu
conhecido livro Cidades-Jardins de amanhã.
O ponto que nos
interessa, nas duas saídas, é nunca esquecer que a nova divisão social do
trabalho demandou uma nova divisão espacial da cidade. A história urbana, desde
então, é bem conhecida. É menos explorada, no entanto, a hipótese que essa
forma de organização espacial, fragmentada espacial e funcionalmente, apresenta
alguns desafios particulares, dentre os quais assinalamos:
(i) O desafio de
compreender a produção da cidade a partir do fragmento. Vivemos a cidade a
partir do nosso bairro e de uma dinâmica que envolve, grosso modo,
deslocamentos cotidianos para trabalho e estudo que consomem uma fração
considerável do dia. Isso dificulta o conhecimento da globalidade dos problemas
urbanos. Uma fração significativa da população urbana desconhece a dinâmica dos
sistemas de drenagem ou mesmo os locais de destinação dos resíduos urbanos.
(ii) O desafio de
compreender, devido a complexidade social e econômica, as características que
envolvem a administração pública das cidades. Uma parte considerável da
população desconhece a existência de políticas de ordenamento do solo urbano,
assim como a sistemática dos orçamentos municipais. Também desconhecem as
atribuições, do ponto de vista dos serviços públicos, das gestões municipais,
incluindo as formas de financiamento.
Os dois desafios são,
em diferentes escalas, vivenciados pelas pessoas nos 5.570 municípios
brasileiros. Aproximadamente 46 km separam os extremos Leste-Oeste do município
de São Paulo e 30 km os extremos Leste-Oeste do município de Goiânia. O perfil
social, econômico e ambiental que encontramos ao percorrer essa linha revela a
complexidade das formas históricas de ocupação do espaço urbano.
Nesse mesmo perfil,
encontramos bairros com renda domiciliar assustadoramente assimétricas. A
assimetria na renda revela os padrões de moradia e conforto domiciliar. A
análise da mesma linha demonstra a seletividade das ações dos governos
municipais na oferta de serviços públicos de educação e saúde. Verificamos,
seguindo a linha mais atentamente, as curvas da tributação, especialmente do
recolhimento de impostos como IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) e ISSQN
(Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza).
Não tenho dúvidas que
os finados Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo e Iris Rezende, ex-prefeito de
Goiânia, saberiam, a partir desse traço Leste-Oeste, descrever o conjunto de
prioridades e comunica-las aos eleitores paulistanos e goianienses. Não há aqui
nenhum tipo de nostalgia ao populismo. É apenas uma constatação de que, ao que
tudo indica, o conhecimento da geografia dessas cidades parece cada vez mais
irrelevantes nos debates sucessórios municipais.
O jovem goiano, Pablo
Marçal, de 37 anos de idade, almeja administrar uma das cidades mais
importantes do Planeta. Orgulha-se por desconhecer a história e a geografia da
cidade de São Paulo. Talvez isso o aproxime, infelizmente, de uma fração
considerável daqueles que vivem na cidade de São Paulo. Pablo Marçal acredita,
e faz com que milhares de outros acreditem, que os complexos problemas da
capital paulista serão resolvidos com estratégias motivacionais. Duas das
poucas propostas presentes no Plano de Governo (Marçal, 2024), de 100 páginas,
adjetivado de São Paulo 2028, são suficientes para comprovar a hipótese da
substituição da política pelo espetáculo:
“39. Teleféricos
Instalar sistemas de teleféricos em áreas de difícil acesso e regiões com alta
densidade populacional, conectando essas áreas a pontos estratégicos da cidade
e facilitando o deslocamento diário. Garantir que os teleféricos utilizem energia
limpa e sustentável”.
“50. São Paulo como
Capital Referência São Paulo é uma potência nacional, com o maior PIB do
Brasil, e se destaca como um grande polo de negócios. Para fortalecer ainda
mais sua posição como uma metrópole de destaque mundial, propomos, nos próximos
quatro anos, posicionar São Paulo como um centro global de negócios e cultura.
Para consolidar essa imagem, em parceria com o setor privado, planejamos a
construção do maior prédio do mundo, com 1 km de altura. Este edifício será um
marco arquitetônico e um símbolo de inovação e progresso. São Paulo será um
modelo em termos de mentalidade, governança e inovação, servindo de exemplo
para o restante do Brasil”.
Pablo Marçal aposta no
espetáculo como método de substituição da política. Pouco interessa discutir os
problemas objetivos que influenciam a reprodução da vida de milhões de
paulistanos. Pablo Marçal deseja “Uma São Paulo das pessoas que sonham, que são
autogovernantes” (Marçal, 2024). Marçal inaugura o anarcourbanismo. Há algo de
novo em tudo isso. Não é mais ou, no mínimo, não apenas, o consenso do
planejamento estratégico decifrado por Otília Arantes, Carlos Vainer e Ermínia
Maricato, em A cidade do pensamento único.
Não é apenas o modelo
hegemônico da empresa fracionando e vendendo os pedaços da cidade. As cidades,
de algum modo, falharam. Concentraram, e São Paulo é um exemplo sintomático, os
excedentes socialmente produzidos nas mãos de herdeiros e rentistas. Restará,
para a legião de pobres, o encarceramento ou a internação compulsória. Essa é,
sem dúvida, a nova fronteira urbana neoliberal. Não é mais o lumpen ou qualquer
outra categoria que regulava, como outrora, a oferta de mão de obra e,
portanto, os salários. O neoliberalismo, ao contrário do que acredita o lúcido
Luiz Carlos Bresser Pereira, não fracassou.
Enfim, a cidade
neoliberal depende da produção ininterrupta de idiotas. Gente que não perde
tempo com os assuntos públicos e que tem, portanto, pouco apreço pela
democracia. Quanto menos tempo gastarem pensando nos problemas da cidade mais
tempo terão para competir na cidade. A interrogação de filósofos como Platão e
Aristóteles sobre quem estaria mais preparado para administrar a polis não faz,
na atual quadra da história, nenhum sentido.
É Marçal, e não
Boulos, Tabata, Nunes ou Datena, que vocaliza o legítimo desejo de prosperidade
dos mais miseráveis. É um equívoco imaginar que o sucesso de Marçal se
localize, apenas, no domínio das dinâmicas das redes sociais. Daqui, de
Goiânia, entre a fuligem das queimadas, só tenho a agradecer aos paulistanos
por acolher tão bem o goiano Pablo Marçal. Antes lá do que cá.
• Eleitores começam a abandonar Marçal e
seguem comprometidos com Boulos
A recente pesquisa
Datafolha, realizada entre os dias 10 e 12 de setembro e divulgada na
quinta-feira, mostra uma diminuição na afinidade dos eleitores com o
influenciador Pablo Marçal (PRTB), enquanto Guilherme Boulos (PSOL) mantém o
alto nível de comprometimento entre seus apoiadores. Os dados foram coletados
em São Paulo e a pesquisa foi registrada no TSE com o número SP-07978/2024, sob
encomenda da Folha de S.Paulo.
Pablo Marçal viu a
porcentagem de eleitores comprometidos cair de 29% para 22%, enquanto a
proporção de eleitores inclinados subiu de 54% para 61%. O grupo de eleitores
distantes manteve-se em 17%, com uma margem de erro de 7 pontos. Por outro
lado, Guilherme Boulos apresentou uma pequena alta no grupo de eleitores
comprometidos, passando de 39% para 40%. Seus eleitores inclinados representam
49% e os distantes 12%, com uma margem de erro de 6 pontos.
Ricardo Nunes (MDB)
teve um aumento leve entre os eleitores comprometidos, de 13% para 14%,
enquanto 59% são inclinados e 27% distantes, também com margem de erro de 6
pontos. José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) mostram baixos níveis de
comprometimento entre seus eleitores, com 1% e 14%, respectivamente, enquanto a
maioria dos seus apoiadores se posiciona como inclinados.
No geral, a proporção
de eleitores comprometidos na cidade é de 19%, similar à pesquisa anterior.
Esses são eleitores que declaram espontaneamente sua escolha, confirmam-na
quando uma lista é apresentada, consideram seu candidato como ideal e estão
altamente motivados para votar. Em contraste, os eleitores distantes são
aqueles que não mencionam seu candidato espontaneamente, escolhem por falta de
uma melhor opção e mostram baixa motivação para votar.
Além disso, a pesquisa
aponta que Nunes lidera com 27% das preferências, seguido por Boulos com 25% e
Marçal com 19%. A vontade de votar dos entrevistados foi avaliada em uma escala
de 0 a 10, resultando em uma média geral de 6. A pesquisa entrevistou 1.204
moradores da cidade, com uma margem de erro geral de três pontos percentuais.
Fonte: A Terra é
Redonda/Brasil 247
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