terça-feira, 17 de setembro de 2024

Quem é Laura Lomer, a influencer que espalha teorias da conspiração que viaja com Trump na campanha?

A teórica da conspiração de extrema direita Laura Loomer este presente ao lado de Donald Trump na campanha eleitoral americana nos últimos dias.

Isso levantou questões, inclusive entre alguns republicanos, sobre a influência que a controversa ex-candidata ao Congresso pode ter sobre ele.

Loomer é conhecida por sua retórica antimuçulmana e por espalhar teorias da conspiração, incluindo a de que os ataques de 11 de setembro foram um "trabalho interno" realizado pelo governo dos Estados Unidos.

Ela se juntou a Trump em um evento em memória dos ataques na quarta-feira (11/9), levantando dúvidas e provocando indignação em alguns meios de comunicação dos EUA.

Na terça-feira, a jovem de 31 anos viajou para a Filadélfia a bordo do avião de Trump para o debate presidencial na cidade.

Talvez o momento mais memorável do debate tenha ocorrido quando Trump repetiu uma alegação infundada de que imigrantes ilegais do Haiti estariam supostamente comendo animais domésticos em uma pequena cidade de Ohio.

"Eles estão comendo os animais de estimação das pessoas que vivem lá", disse ele.

Autoridades da cidade disseram depois à BBC Verify que não houve "nenhum relato confiável" de que isso realmente aconteceu.

Trump disse que estava repetindo alegações que ouviu na televisão, mas a teoria foi transmitida por Loomer apenas um dia antes do debate.

Na segunda-feira, a comentarista de direita radical e influenciadora digital repetiu as alegações para seus 1,2 milhão de seguidores no X (antigo Twitter).

Embora o nível de acesso que Loomer tem a Trump não esteja claro, e o candidato a vice-presidente republicano J.D. Vance também tenha espalhado a teoria infundada, a postagem de Loomer e sua presença na Filadélfia levaram alguns republicanos a culpá-la pelo ex-presidente fazer a alegação infundada no palco.

Uma fonte anônima próxima à campanha de Trump disse ao site de notícias americano Semafor que ela estava "100%" preocupada com a proximidade de Loomer com Trump.

"Independentemente de quaisquer barreiras que a campanha de Trump tenha imposto a ela, não acho que esteja funcionando", disse a fonte, segundo o site.

Outra fonte, no entanto, disse ao veículo que Loomer não interferiu nos preparativos do debate e que ela era uma "boa pessoa para se ter por perto".

Dennis Lennox, um consultor republicano, foi muito mais incisivo em suas críticas ao desempenho de Trump no debate e a Loomer.

"É o que acontece quando você improvisa, vive na bolha Fox News-X e confia em Matt Gaetz [congressista republicano da Flórida], ou ainda em Laura Loomer", disse ele ao Semafor.

Loomer não respondeu a vários pedidos de comentários da BBC.

Mas, no X, ela disse que opera "independentemente" para ajudar Trump, a quem ela se referiu como "verdadeiramente a última esperança da nossa nação".

"Para os muitos repórteres que estão me ligando e me pedindo obsessivamente para falar com eles hoje, a resposta é não", escreveu ela.

"Estou muito ocupada trabalhando em minhas histórias e investigações e não tenho tempo para entreter suas teorias da conspiração."

Nascida no Arizona em 1993, a autointitulada jornalista investigativa trabalhou como ativista e comentarista para organizações como o Project Veritas e o Infowars, do teórico da conspiração de direita radical americano Alex Jones.

Em 2020, ela concorreu – com o apoio de Trump – como candidata republicana ao Congresso dos EUA na Flórida, mas perdeu para a democrata Lois Frankel.

Ela tentou novamente dois anos depois, quando concorreu sem sucesso para destituir o representante Daniel Webster em uma primária republicana em um distrito diferente da Flórida.

Agora, ela é conhecida por seu apoio vocal a Trump e por promover uma longa série de teorias da conspiração, incluindo alegações de que Kamala Harris não é negra e que o filho do bilionário George Soros estaria enviando mensagens enigmáticas pedindo o assassinato de Trump.

Essas postagens a levaram a ser banida de várias plataformas, incluindo Facebook, Instagram e até mesmo, segundo ela, os aplicativos de transporte Uber e Lyft, por fazer comentários ofensivos sobre motoristas muçulmanos.

Certa vez, ela se descreveu como uma "islamofóbica orgulhosa".

Loomer frequentemente participa de eventos em apoio a Trump e já foi vista anteriormente na residência dele na Flórida, Mar-a-Lago.

No início deste ano, ela viajou no avião de Trump para Iowa, onde foi elogiada por ele no palco de um evento.

"É alguém para se ter ao seu lado", disse Trump. O ex-presidente também compartilhou vários dos vídeos dela na rede social Truth Social.

No ano passado, o jornal New York Times relatou que Trump havia expressado interesse em contratá-la para sua campanha, cedendo apenas depois que assessores importantes expressaram preocupação de que ela poderia prejudicar seus esforços eleitorais.

"Todos que trabalham para ele acham que ela é um problema", disse um assessor de Trump sobre Loomer em uma reportagem na NBC News em janeiro.

Outra apoiadora declarada de Trump, Marjorie Taylor Greene, discordou de Loomer esta semana sobre seus comentários questionando a raça de Harris e uma postagem na qual ela disse que a Casa Branca "vai cheirar a curry" se Harris – que tem ascendência indiana – for eleita.

Greene disse que os comentários de Loomer foram "terríveis e extremamente racistas" e "não representam quem somos como republicanos ou Maga" (sigla para Make America great again, "tornar a América grande de novo", slogan de Trump) – provocando uma enxurrada de mensagens furiosas contra ela mesma.

Essa disputa na órbita de Trump aconteceu apenas um dia depois que Loomer apareceu em eventos com o ex-presidente rememorando o aniversário do 11 de setembro em Nova York e Pensilvânia.

Questionada sobre sua presença lá pela agência de notícias Associated Press, ela disse que não trabalhava para a campanha e foi que "chamada como convidada".

¨      Criadora de fake news de Trump assusta até trumpistas radicais

Boa parte das barbaridades que Donald Trump profere em público tem origem na influenciadora de extrema direita Laura Loomer, que se descreve como “islamofóbica orgulhosa” e “pró-nacionalismo-branco” e assusta até mesmo os expoentes mais radicais do séquito de seguidores do ex-presidente.

Semeadora de teorias da conspiração, Loomer, de 31 anos, é associada ao boato infundado, e replicado por Trump no debate com Kamala Harris, de que imigrantes haitianos estão comendo gatos e cachorros em Springfield, em Ohio.

Os aliados do presidente responsabilizam a ativista, que tem 1,2 milhão de seguidores, pelo fraco desempenho do ex-presidente republicano no duelo com a vice-presidente democrata.

Embora ela não faça parte da campanha do republicano, a proximidade entre os dois é evidente. Loomer estava no avião de Trump, que o levou à Filadélfia para o debate, e integrava sua comitiva na cerimônia, no dia seguinte, para homenagear os mortos do 11 de Setembro.

A presença da ativista no memorial em Nova York estarreceu os aliados do ex-presidente. Afinal, partiu dela um post, no ano passado, de que os atentados foram produto de um trabalho interno e a acusação a Donald Rumsfeld, ex-secretário de Defesa de Bush, de ter orquestrado os ataques.

Loomer costuma se referir a todos os imigrantes, não somente os sem documento, como invasores. Por conta dessas sandices, ela se mostra intragável para os fiéis escudeiros radicais de Trump e de seu movimento MAGA (a sigla em inglês de Make América Great Again).

Uma das extremistas da bancada republicana na Câmara, a congressista Marjorie Taylor Greene, chamou Loomer de racista, por estereotipar a origem indiana da vice-presidente e não representar Trump.

“Se @KamalaHarris vencer, a Casa Branca cheirará a curry e os discursos serão facilitados por meio de um call center”, dizia o post da influenciadora.

O fato é que Trump adora Loomer, abraça suas ideias e pediu um cargo para ela na campanha. A proposta foi recusada por estrategistas.

No dia seguinte ao debate da ABC News, Loomer estava a postos de seu palanque incendiário, acusando Kamala de ter usado fones de ouvido, no lugar de brincos de pérola, para justificar a performance da candidata diante de Trump.

A postagem teve, durante o dia, 1,3 milhão de visualizações, num eloquente indício de que ela dissemina o lixo tóxico destinado a saciar a base eleitoreira de Trump.

Na Truth Social, Trump afirmou que Loomer não faz parte da campanha e que ele não concorda com as coisas que ela fala. Entretanto, o republicano afirmou que a influenciadora é uma em milhões que estão cansados dos ataques da "esquerda radical".

¨      A teoria da conspiração trumpista que acusa Kamala de ter usado um brinco disfarçado de escuta no debate

Uma teoria da conspiração envolvendo os brincos de pérola usados por Kamala Harris no debate de terça-feira (10) contra Donald Trump vem sendo levantada por apoiadores de Trump. Eles acusaram a vice-presidente e candidata democrata à Casa Branca de usar uma escuta em um dos brincos durante o enfrentamento.

Uma postagem sobre a teoria nas redes sociais, criada por um perfil pró-Trump e que teve mais de 5 mil compartilhamentos, compara o acessório usado por Kamala a um equipamento vendido por uma empresa chamada NOVA H1 Audio Earrings.

“Parece que Kamala Harris estava sendo treinada usando fones de ouvido embutidos em seus brincos durante o debate presidencial da ABC contra o presidente Trump”, diz a postagem.

O site "What Kamala Wore" ("O Que Kamala Vestia", em tradução livre), criado pela jornalista Susan E. Kelley para analisar as roupas e acessórios usadas pela vice-presidente, afirmou que trata-se, na verdade, de um modelo clássico da marca de jóias norte-americana Tiffany & Co. O brinco, feito de ouro 18K e com pérolas do Mar do Sul, já foi usado pela democrata em diversas outras ocasiões.

Apesar de os dois brincos terem pérolas grandes e de tamanho similiares, há diferenças visuais claras entre os modelos: o da NOVA H1 Audio têm dois arcos mais grossos, enquanto a estrutura dos usados por Harris é composta por hastes mais finas que se fecham e envolvem os lóbulos das orelhas e a pérola.

Serviços de checagem americanos classificaram a teoria como falsa (caso do Politifact) ou sem evidências (caso do Snopes). Procurada pela imprensa, a equipe de campanha de Kamala Harris se recusou a comentar as teorias.

 

¨      Trump promete 'deportações em massa' em Springfield, onde disse que migrantes comeram pets

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, prometeu nesta sexta-feira (13) fazer "a maior deportação em massa da História dos Estados Unidos" caso seja eleito em novembro.

Trump disse ainda que as deportações iniciariam por Springfield, em Ohio, cidade alvo de boato em que imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação.

"Teremos a maior deportação da história do nosso país, e começaremos com Springfield e Aurora", disse Trump em coletiva em Los Angeles nesta sexta.

Trump prometeu deportações em massa diversas outras vezes em comícios e tem o tema da imigração como elemento central de sua campanha. A retórica do ex-presidente é de que as cidades dos Estados Unidos estão "inundadas de imigrantes ilegais", vindos "em níveis nuncas antes vistos a partir de prisões, cadeias, instituições mentais e de asilos". Muitas das alegações não têm fundamentação e são desmentidas por autoridades competentes.

O candidato republicano acusou imigrantes de comer pets em Springfield pela primeira vez durante debate contra Kamala Harris na terça (10) --ele foi desmentido na hora pelo mediador da disputa. Autoridades municipais de Springfield afirmaram que não havia denúncias ou reclamações críveis a respeito do tema.

O boato viralizou nas redes sociais entre apoiadores e opositores nos Estados Unidos. O cantor John Legend, natural de Springfield, disse na quinta-feira (12) que "ninguém está comendo gatos e cachorros" na cidade.

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta sexta que os ataques aos imigrantes haitianos têm que parar.

Na coletiva desta sexta, Trump disse ainda que imigrantes e refugiados sem documentos estão cometendo estupros e “assumindo empregos hispânicos, empregos afro-americanos”.

O republicano também repetiu as acusações contra os venezuelanos, muitos deles no país legalmente: "Limparam suas cadeias na Venezuela - esvaziaram os ninhos, como são chamadas - de más pessoas. Todas estão agora nos EUA e estão tomando cidades. É como uma invasão".

Além de repetir a fake news já desmentida sobre Springfield e os imigrantes do Haiti, o ex-presidente também falou que gangues venezuelanas armadas com AR-15 estão tomando conta de Aurora, cidade do Colorado, embora o prefeito de lá, Mike Coffman, tenha dito à "CBS News" que, embora houvesse alguma atividade de gangues em dois complexos de apartamentos, a acusação de Trump é "grosseiramente exagerada".

 

¨      Maior organização socialista dos EUA cobra posição de Kamala Harris sobre imigração

A organização estadunidense Socialistas Democráticos da América (em inglês: Democratic Socialists of America, DSA) cobrou nesta quinta-feira (12) um posicionamento da candidata democrata à presidência, Kamala Harris, sobre sua política de imigração caso vença as eleições de novembro.

Enquanto a campanha de seu adversário republicano, o ex-presidente Donald Trump, é clara em um posicionamento anti-migrantes - a ponto de difundir no debate presidencial a fake news de que imigrantes haitianos estariam se alimentando de animais de estimação - o posicionamento democrata sobre a questão não está explícito.

"Uma das críticas à [Kamala] Harris é que será muito difícil saber quais serão as políticas nesse sentido. Teve muito tempo para apresentar uma plataforma, mas que não ficou muito clara", aponta Luisa Martínez, que integra o comitê político nacional do DSA.

"Em política é importante entender a diferença entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. Não está tão claro se teremos políticas mais amigáveis para os imigrantes no governo de Harris, porque não foi tão utilizada como um ponto de estratégia política, como fez Trump."

O DSA, que integra a Internacional Progressista, é a maior organização socialista nos Estados Unidos, com mais de 92 mil membros e presença em todo o país. Não se trata de um partido formal, mas sim de uma entidade política com teor ativista, que luta por reformas que empoderem os trabalhadores. 

Integrantes do DSA participaram nesta quinta (12) de uma conferência virtual organizada pela Fundação Perseu Abramo e o Foro de São Paulo para discutir as eleições presidenciais nos EUA.

Martínez aponta que a pauta da imigração tem sido explorada pela direita estadunidense devido aos postos de trabalho gerados pele Departamento de Segurança das Fronteiras, criado em 2003 por George W. Bush e a quantidade de recursos públicos investida nesse setor desde então, com destaque para a gestão democrata de Barack Obama.

"Bush começou com isso, mas Obama levou ao extremo, deportou 4 milhões de pessoas nos EUA, então há muito dinheiro ao redor dos imigrantes e também é uma ferramenta de propaganda para culpar os estrangeiros pelos problemas que os EUA enfrenta, como a falta de moradia."

A principal faceta dessa economia da segurança são os centros de detenção, prisões privadas para onde são levados os imigrantes considerados ilegais. Ashik Siddique, co-presidente nacional do DSA aponta que esses centros, que recebem grandes aportes de investimento do governo, são um dos maiores geradores de postos de trabalho em estados fronteiriços.

"Em muitas comunidades esses centros são onde há grande quantidade de postos de trabalho oferecidos pelo complexo militar, que cuida das fronteiras, e isso tem sido parte dessa mudança à direita com o tema da imigração, principalmente nos estados que fazem fronteiras, onde temos muitos latinos e muitas dessas pessoas são empregadas nesses centros de detenção e nenhum outro tipo de investimento nessas comunidades."

Siddique aposta na mobilização da esquerda e de sindicatos progressistas por investimentos nessas regiões, com foco na economia verdade e na diversidade de investimentos. "Os trabalhadores da indústria automobilística têm defendido uma transição para a economia verde, deixando esse complexo industrial militar. O problema não é que os imigrantes tomem o seu trabalho, mas que existam mais capitalistas explorando os trabalhadores."

 

Fonte: BBC News Mundo/g1/Brasil de Fato

 

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