Por que tanta gente está desistindo dos
preenchimentos faciais?
Recentemente, Scheila
Carvalho, ex-integrante da banda É o Tchan, contou aos seus seguidores que
removeu o preenchimento facial. "Tive o desejo de voltar à beleza natural.
Agora é só estimular colágeno, nada de preencher", disse ela.
No Brasil, alguns famosos, modelos, cantores e influencers já
optaram pela reversão de preenchimentos, o que é feito através do uso de uma
substância chamada hialuronidase. “A hialuronidase é uma enzima injetável, uma
cópia de uma proteína encontrada no corpo, usada para dissolver preenchimentos
de ácido hialurônico. Além de moderar um efeito indesejado (como bochechas
muito generosas) ou corrigir um erro (preenchimento migrado, irregular ou
ruim), a enzima é essencial para gerenciar a rara emergência de preenchimento
que é uma oclusão vascular”, explica Cláudia Merlo, médica especialista em
Cosmetologia pelo Instituto BWS.
Apesar da popularidade
persistente dos injetáveis, as reversões do preenchimento estão aumentando, uma
espécie de reação à era de extravagância no uso de injetáveis. Há, agora, um
medo pairando no ar: os pacientes querem fugir das distorções estéticas e do
efeito envelhecedor a longo prazo.
“Usamos a
hialuronidase para dissolver rostos supercheios, pastosos e distorcidos. O
excesso de preenchimento não apenas cria uma estética estranha, mas também pode
levar à obstrução do canal linfático e acúmulo de fluido, função muscular
limitada (que pode causar expressões tensas) e estiramento permanente dos
tecidos moles ao longo do tempo. Mas também dissolvemos para corrigir pequenas
imperfeições, como canais lacrimais deixados inchados por um gel mal colocado”,
diz a Dra. Cláudia Merlo. “As pessoas precisam realizar os procedimentos com
responsabilidade, pois não podem achar que é só fazer e desfazer”, alerta
Cláudia. "Mas ainda assim, o ácido hialurônico tem sua utilidade e em
muitos casos ele é indicado."
Uma das consequências
do uso irresponsável de preenchedores é o que vem sendo chamado de ‘Filler
Fatigue’, ou fadiga de preenchedor.
“Esse uso frequente,
repetido e de forma inadequada dessas substâncias, ao longo do tempo, distende
mais e mais os tecidos, assim criando a necessidade de cada vez mais
preenchedor e, logo, piorando os sinais de envelhecimento”, explica a cirurgiã
plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Segundo a médica, um
rosto envelhecido pode ser comparado a um balão vazio: ao encher de ar, fica
todo esticado e brilhante. “Mas ao esvaziar fica mais enrugado do que antes,
sendo necessária então uma quantidade ainda maior de ar para manter o balão ‘desenrugado’”,
diz a cirurgiã plástica.
Ela adianta que não é
contra o uso desse preenchedor – que ela considera uma ferramenta valiosa
quando bem indicada. “Conseguimos restaurar estruturas profundas como a parte
óssea, repor compartimentos de gordura perdidos, melhorar a proporção das
estruturas da face e até melhorar a qualidade da pele. O problema está no
diagnóstico e indicação de quando, como e se há necessidade de preencher”,
explica Beatriz.
A culpa das distorções
é da "falta de julgamento estético" entre alguns injetores, médicos e
não médicos, mas também um impulso dismórfico de alguns pacientes de sentir uma
gratificação instantânea que vem de parecer e sentir-se fantástico após a
injeção. Se esse sentimento não for controlado pelo médico, ele pode ir
rapidamente na direção errada.
“O paciente procura um
consultório a partir do que ele vê no espelho. Por exemplo, o famoso bigode
chinês, que é o sulco nasogeniano. A causa desse sulco mais profundo pode ser a
diminuição do compartimento de gordura da maçã do rosto pela idade ou emagrecimento.
Simplesmente preencher esse sulco pode dar a impressão de um rosto mais pesado,
mas repor essa gordura de forma adequada estende os ligamentos e reposiciona
todas as estruturas, produzindo realmente um efeito ‘lifting’. Ou então, se os
compartimentos de gordura estiverem adequados, a causa pode ser flacidez dos
ligamentos. Nesse caso, seria errado preencher qualquer coisa. O tratamento
mais adequado pode ser através do uso de tecnologia, como o ultrassom
microfocado, ou mesmo cirurgia de face”, explica a cirurgiã plástica.
O preenchimento,
segundo ela, deve ser usado para restaurar o volume perdido, não para fazer
levantamento de peso e nem para camuflar sinais de envelhecimento
gravitacional. A tentativa de "levantar" os tecidos flácidos com
ácido hialurônico não pode ser feita sem inflar o rosto para um efeito de
desenho animado. Outra manobra que pode dar errado é "tentar remodelar o
rosto", acrescenta, impondo contornos não naturais.
“Quantas vezes atendi
pacientes querendo operar as bolsas sob os olhos e melhorar as olheiras e
tratei com preenchedor na região das maçãs do rosto, sem necessidade de
cirurgia. Ou ainda pacientes que vieram para colocar preenchedor nas olheiras e
indiquei a cirurgia das pálpebras, retirando as bolsas. Com frequência recebo
pacientes lindas que há anos fazem preenchimentos e tratamentos estéticos com
colegas dermatologistas, que, enxergando que não é mais possível tratar a
flacidez, conscientemente indicam uma cirurgia de face. De forma inversa,
muitos pacientes me procuram para realizar cirurgia de face e indico
tratamentos estéticos, retardando em alguns anos os procedimentos mais
invasivos. Ou ainda, durante a cirurgia de face, utilizo preenchedores de ácido
hialurônico ou gordura como complemento”, diz a médica.
Mas o problema está no
fato de que os pacientes não apenas estão potencialmente recebendo mais
preenchedores do que precisam em cada consulta, mas também reagendam
prematuramente, com base em "uma crença incorreta de que o preenchedor
desaparece em seis meses e deve ser reinjetado naquele momento".
O mito amplamente
divulgado de que o ácido hialurônico desaparece em um cronograma previsível
brota de ensaios clínicos, cujos pontos finais fixos (de 6, 12 ou 24 meses)
foram mal interpretados como expectativa de vida de preenchimento concreto.
Muitos médicos reafirmam hoje que esses testes estavam apenas demonstrando que
o efeito clínico do preenchimento em um usuário iniciante não era tão
perceptível nas fotos após alguns meses.
Embora a longevidade
do preenchimento varie de acordo com o produto e o paciente, estudos recentes
de ressonância magnética mostraram que ele dura muito mais do que o anunciado.
“O ácido hialurônico realmente é reabsorvido pelo organismo, pois trata-se de
uma substância que produzimos naturalmente. Mas, quando falamos da necessidade
de manutenção do procedimento após um ou dois anos, estamos nos referindo à
duração do resultado estético e não à presença da substância no organismo. O
ácido hialurônico realmente pode demorar bem mais do que dois anos para ser
completamente absorvido pelo corpo”, explica a dermatologista Paola
Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
E quanto tempo
exatamente o ácido hialurônico demora para ser absorvido? Segundo a
dermatologista, não se sabe ao certo. “Cada vez mais estudos têm sido
realizados para determinar a permanência dos preenchedores de ácido hialurônico
na pele. Mas é difícil dar uma resposta definitiva, pois nem todo preenchedor
de ácido hialurônico é igual”, diz a médica.
“Para ser usado como
preenchedor, o ácido hialurônico passa por um processo de reticulação, também
conhecido como cross-link, que forma ligações entre as moléculas de ácido
hialurônico para torná-lo mais resistente à degradação e, ao mesmo tempo, mais
firme e denso. Com isso, o produto é capaz de conferir volume e tem sua
absorção dificultada pelo organismo. Ácidos hialurônicos de diferentes
fabricantes têm graus de reticulação distintos e, consequentemente, são
absorvidos pelo organismo em velocidades diferentes”, explica Paola.
• O início de uma reação
Embora as preocupações
com a fadiga do preenchimento não pareçam reduzir a demanda geral por esses
produtos em uma escala ampla e que altere as estatísticas, os médicos dizem que
estão começando a ver os pacientes recuarem de várias maneiras. Cláudia Merlo
costuma explicar ao paciente que as condutas são sempre individuais. Portanto,
quando a questão é de uma flacidez dérmica, a médica indica o uso de Radiesse,
um bioestimulador injetável, indicado para melhorar a qualidade da pele
reduzindo a flacidez de pele.
“A substância é
aplicada para promover uma inflamação controlada, a fim de estimular as células
formadoras de colágeno (fibroblastos) a produzirem colágeno, por volta de 18
meses”, conta a médica.
Com o estímulo de
colágeno, a pele fica mais elástica e firme. “A técnica pode ser combinada com
o ultrassom microfocado, que ajuda a promover o skin tightening, que é aquele
‘aperto’ da pele com o músculo, quando ela fica firme”, acrescenta Cláudia.
Por isso, o melhor
conselho é escolher bem o profissional, verificando questões como:
certificação, conhecimento anatômico, experiência, obsessão por segurança e
disposição para dizer "não". Em seguida, adote uma mentalidade de
menos é mais. “Duvide de fotos no Instagram – existem muitos filtros! –,
tratamentos mágicos e novidades milagrosas: o barato pode sair caro”, finaliza
Beatriz.
Fonte: Homework
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