Jair de Souza: Censura dos EUA a veículos
russos, liberdade de expressão e a luta de classes
Os Estados Unidos
acabaram de tomar drásticas medidas com vistas a impedir que os meios de
comunicação russos possam continuar levando suas mensagens ao público
estadunidense, assim como aos dos países suscetíveis à influência geopolítica
dos Estados Unidos.
Dentre esses meios,
foram alvos de censura os veículos Rossiya Sevodniya (A Semana Russa),
TV-Novosti, Ruptly, Sputnik e o canal televisivo RT.
No caso específico de
RT (muito seguido no Brasil através de sua versão em língua espanhola
www.actualidad.rt.com), a alegação esgrimida para justificar este flagrante ato
de censura é que a atividade jornalística por eles desenvolvida está a serviço
da política da Federação Russa, uma vez que tem conseguido impedir que a visão
geopolítica cultivada pelo establishment estadunidense se faça valer da maneira
como seus promotores gostariam que ocorresse.
Como alguém que
costuma acompanhar regularmente as transmissões de RT, devo dizer que é
impossível não reconhecer que os ideólogos dos Estados Unidos estão totalmente
corretos sobre a capacidade de influenciar em seus espectadores.
Basta fazer um pequeno
teste prático dedicando-se a sintonizar as emissões de RT por um determinado
período de tempo e confrontar o conteúdo e as formas de difusão observados com
aquilo que os meios identificados com o “American way of thinking” transmitiram
no mesmo intervalo de tempo.
De fato, quase que tão
somente aqueles que já estavam plenamente ideologicamente ganhos pela visão
política das classes dominantes afinadas com o capitalismo made in the USA
serão capazes de se manterem incólumes em seus posicionamentos após terem sido
expostos a essa outra maneira de ver os acontecimentos do mundo.
Mais especificamente,
as autoridades estadunidenses se queixam de que sua visão sobre o conflito na
Ucrânia tem sofrido enormes entraves para se impor, mormente em função da
narrativa contraposta oferecida através de RT.
Sendo assim, está mais
do que comprovado que os que defendem a continuidade da hegemonia dos Estados
Unidos no mundo estão cobertos de razão para estarem preocupados.
Porém, o que é mais
curioso em toda esta história é que os Estados Unidos pretendem ser tidos como
os paladinos da defesa da liberdade de expressão no mundo.
Por isso, sempre que
algum governo de alguma nação toma alguma medida que interfira com as práticas
de seus grandes oligopólios midiáticos, eles se levantam de imediato para
tachar a quem assim agiu de ser um censurador infame e inimigo da liberdade de
expressão.
Em consequência,
buscam validar sua condenação internacional através de fortes campanhas de
desprestígio.
Para ilustrar o que
mencionamos no parágrafo anterior, podemos trazer à tona o recente caso em que
o Judiciário brasileiro ordenou o bloqueio em nosso país das transmissões da
plataforma X (ex-Twitter), de propriedade do multibilionário de nacionalidade estadunidense
Elon Musk, por sua recusa em cumprir com as determinações da legislação
brasileira.
Em tal oportunidade,
os defensores da “liberdade de expressão” à la Estados Unidos não vacilaram em
botar a boca no trombone para acusar o responsável por tomar essa decisão de
censurador e violador dos direitos de expressão, ou seja um ditador.
De todos esses
acontecimentos, deveríamos extrair uma lição muito valiosa. A de que, em um
mundo composto por classes com interesses confrontantes, a liberdade de
expressão, assim como a liberdade de modo geral, depende essencialmente dos
embates travados no processo de luta de classes.
É que cada classe
social apenas aceita, valoriza, respeita e defende voluntariamente aqueles
aspectos da liberdade de expressão que não firam suas aspirações e seus
interesses maiores, ou seja, que não ponham em risco aquilo que a classe em
questão considere como justo e desejável para si.
Quando assim não
ocorrer, a difusão de mensagens e ideias que ameacem suas estruturas só será
tolerada se a correlação de forças na sociedade em questão não lhe possibilitar
seu bloqueio.
Não devemos nutrir
nenhuma ilusão com respeito ao que será ou não permitido ao campo popular no
tocante à liberdade de expressão. Nada do que existe em termos de comunicação
em favor das classes trabalhadoras em nosso país e em todos os demais países
capitalistas advém de concessões voluntárias dos grupos dominantes.
Só por meio de sua
permanente e incansável luta ao longo do tempo, os trabalhadores do Brasil e do
resto do mundo foram ganhando condições para fazer com que algumas de suas
reivindicações viessem a ser respeitadas. É o que se dá, evidentemente, na
questão da liberdade de expressão em sociedades de classes antagônicas.
Não nos resta a mínima
dúvida de que a liberdade de expressão plena é o ambiente mais favorável para
que as forças populares possam travar suas lutas dentro do capitalismo.
Mas, de nenhuma
maneira deveríamos entender isso como nos obrigando a sair em defesa da
liberdade de expressão dos grandes conglomerados dos oligopólios midiáticos.
Cabe aos trabalhadores
lutar e zelar pelos direitos de livre expressão para os próprios trabalhadores,
e nunca para seus grandes opressores.
Portanto, considero
equivocada a ideia de que deveríamos ter condenado, por exemplo, a limitação
imposta à máquina mundial do fascismo representada por X de Elon Musk, para
evitar criar condições para que medidas similares sejam aplicadas contra nós no
futuro.
Estou mais do que
convencido de que o grande capital e seus agentes nunca vão precisar de nenhum
precedente para justificar que se aplique contra as organizações populares
algum golpe de força.
Tudo o que eles vão
precisar para tal é que a correlação de forças no citado momento lhes viabilize
a movimentação em tal sentido. As justificativas e explicações para que
normalizem e tornem aceitável a situação serão encontradas e usadas em
conformidade com as circunstâncias da ocasião.
Em meu entender, a
maior e única garantia para que não sejamos alvos de limitações em termos de
liberdade de expressão será conquistada através da intensificação do nível de
organização e de conscientização de nosso povo, aprofundando nossa inserção
junto ao mesmo, para que sejam as massas populares o grande fator que nos venha
a prestar solidariedade ativa em nossa defesa no caso de que sejamos ameaçados.
¨ Sanções dos EUA contra mídia russa mostram hipocrisia do
governo, diz chanceler cubano
As novas sanções de
Washington contra meios de comunicação russos demonstram a hipocrisia da Casa
Branca, que se declara a principal defensora da liberdade de expressão, afirmou
o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla.
"A imposição de
novas medidas unilaterais dos Estados Unidos a meios de comunicação russos
evidencia a hipocrisia de um governo que se posiciona como o maior defensor e
promotor da liberdade de imprensa. Não se pode censurar a verdade",
escreveu o ministro nas redes sociais nesta segunda-feira (16).
O Departamento do
Tesouro dos EUA anunciou em 4 de setembro sanções contra Margarita Simonyan,
editora-chefe do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte,
além dos vice-presidentes Anton Anisimov e Yelizaveta Brodskaya. Também foram incluídos
na lista o chefe da RT, Andrei Kiyashko, o responsável pelo departamento de
projetos de mídia digital Konstantin Kalashnikov e vários outros funcionários
do canal.
A pasta
norte-americana endureceu as condições de operação do grupo de mídia e de suas
subsidiárias, classificando-os como "missões estrangeiras".
As autoridades
norte-americanas também anunciaram uma nova política que restringe a emissão de
vistos para pessoas que alegadamente atuam em nome de meios de comunicação
"apoiados pelo Kremlin". No entanto, o Departamento de Estado se
recusou a revelar quem exatamente seria afetado pelas restrições.
As sanções não são
direcionadas a jornalistas russos individuais, mas sim a funcionários das
organizações sujeitas às restrições que estariam "envolvidos em atividades
ilegais".
Além disso, as
autoridades dos EUA apresentaram acusações contra Kalashnikov e a funcionária
da RT Elena Afanasyeva por conluio com o objetivo de lavagem de dinheiro e
violação da lei sobre o registro de agentes estrangeiros.
¨ Ataque 'orwelliano' à mídia russa é desespero dos EUA para
salvar ordem mundial unipolar, diz analista
Autoridades dos EUA
fizeram novas acusações contra a mídia Russia Today (RT) na sexta-feira (13),
alegando que a emissora tem laços com a inteligência russa e está executando
uma operação de influência global. Mas o verdadeiro motivo do ataque à mídia russa
é mais sinistro, disse um observador à Sputnik.
A repressão de
Washington em relação à RT está "conectada ao desejo de preservar a ordem
mundial unipolar já praticamente inexistente de domínio ocidental, o que,
claro, também significa domínio no espaço da informação, da mídia, a fim de
preservar um único ponto de vista e suprimir e destruir todos os outros",
disse o analista político Aleksandr Asafov à Sputnik.
"O aumento dos
esforços nessa área está vinculado ao fato de o cidadão ocidental médio,
eleitor e contribuinte que paga por tudo, não entender mais por que ele deveria
financiar o desejo de suas elites políticas de ajudar um regime ditatorial
distante como o da Ucrânia, e está começando a fazer perguntas e a encontrar
respostas com bastante facilidade. É para evitar que façam isso que são tomadas
medidas como essas, constituindo de fato censura total", explicou Asafov.
A guerra dos EUA
contra o jornalismo, não apenas com a repressão da RT, mas o bloqueio das
mídias sociais, o assédio a jornalistas independentes, etc., constitui a
implementação prática das "histórias de horror que o escritor britânico
George Orwell usou para aterrorizar o mundo inteiro. Em essência, a perseguição
de jornalistas é uma tentativa de os punir por 'crime de pensamento', por uma
pessoa pensar diferente e estar disposta a dizer a verdade", afirma o
observador.
Quanto às novas
restrições e acusações contra a RT, essas são apenas mais uma tentativa de
silenciar a Rússia e roubar seu direito de apresentar uma perspectiva
alternativa sobre os eventos mundiais, disse Asafov, observando que os EUA
continuarão aumentando as apostas em sua tentativa de atingir essa meta
"impossível".
As ações dos EUA são
"baseadas em um pretexto", não em fatos, "e certamente não há
bases legais para tais ações", enfatizou o analista político, apontando
que o comportamento de Washington não é apenas uma violação do direito internacional
e das ideias elevadas sobre liberdade de expressão e mídia, mas da própria
legislação dos Estados Unidos. Na verdade, elas constituem a "aplicação
prática da chamada 'ordem baseada em regras'", que em sua essência
"pode ser comparada a um código pirata" que os EUA estão tentando
impor a todos.
¨ Chancelaria da Rússia chama novas sanções dos EUA contra mídia
russa de campanha por encomenda
Ao lançar uma campanha
contra a mídia russa, os Estados Unidos declararam guerra à liberdade de
expressão em todo o mundo, mas Moscou vai responder a essas ações, disse a
representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria
Zakharova.
Segundo ela, os
Estados Unidos tentam justificar as restrições sem precedentes à mídia russa de
maneira muito cínica, chamando-as de luta contra a intervenção nos assuntos
internos dos EUA.
"Na verdade, essa
é apenas mais uma campanha por encomenda, uma 'caça às bruxas', quando uma
atmosfera, especialmente cultivada, de medo geral e obsessão por espionagem
permite que os círculos dominantes nos EUA manipulem a opinião pública e
impeçam a população de aceder a qualquer informação inconveniente para
eles", disse ela no comentário oficial da chancelaria.
A diplomata observou
que Washington tenta assumir o papel de guardião da estabilidade social e da
integridade dos processos democráticos, enquanto usa métodos de censura
totalitários.
Zakharova destacou as
buscas realizadas por forças de segurança norte-americanas em casas de
jornalistas russos e investigações penais contra associados com a mídia russa.
"Tendo pisoteado
definitivamente seus compromissos internacionais no que respeita a garantir o
pluralismo de opinião e até mesmo as disposições de sua própria Constituição,
os EUA realmente declararam guerra à liberdade de expressão em todo o mundo,
passando a fazer ameaças abertas e chantagem contra outros Estados, em uma
tentativa de colocá-los contra a mídia doméstica e estabelecer o controle
exclusivo sobre o espaço de informação global", enfatizou.
De acordo com ela,
Washington não pode aceitar a crescente popularidade da mídia russa contra o
pano de fundo da imagem unilateral e falsa do que está acontecendo no planeta
criada pela mídia ocidental.
Ao mesmo tempo, a
Rússia não tem ilusões de como a censura desenfreada nos Estados Unidos vai ser
avaliada pelas estruturas internacionais relevantes.
Moscou considera seu
silêncio como aprovação de tais práticas e cumplicidade real na arbitrariedade
cometida contra a mídia russa, acrescentou a representante oficial do
ministério.
"As ações do
governo dos EUA não vão ficar sem resposta", concluiu.
<><> Sanções
contra a mídia russa
Recentemente, o
Departamento de Estado dos EUA tornou mais rigorosas as condições sob as quais
o grupo de mídia Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, opera nos
Estados Unidos, definindo seu status como "missão estrangeira".
Conforme prescrito
pela lei, tais missões são obrigadas a notificar o departamento sobre o pessoal
e a propriedade que possuem nos Estados Unidos.
As autoridades
norte-americanas também anunciaram uma nova política que limita a emissão de
vistos para pessoas que supostamente atuam em nome de mídias "apoiadas
pelo Kremlin".
Ao comentar as novas
sanções, um porta-voz do Departamento de Estado disse que não são direcionadas
contra jornalistas russos individuais, mas contra funcionários das organizações
sancionadas que "se envolveram em atividades ilegais".
Fonte:
Viomundo/Sputnik Brasil
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