terça-feira, 17 de setembro de 2024

Estresse térmico: como temperaturas extremas afetam o corpo?

Um estudo divulgado no ano passado pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ) mostrou que mais de 38 milhões brasileiros são expostos ao estresse térmico. A condição é caracterizada por condições climáticas que fazem com que a temperatura corporal aumente e não consiga se manter nos 36,5 °C ideais para o bom funcionamento do organismo.

Diante da onda de calor e da baixa umidade que atinge estados brasileiros nesta semana, o risco de estresse térmico aumenta. “O excesso de calor provoca sudorese intensa, dilatação dos vasos periféricos, queda da pressão arterial e suas consequências”, afirma Pedro Chocair, clínico geral e nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo, à CNN.

Segundo o especialista, o risco é mais grave para os idosos e para pessoas com doenças renais, já que o calor pode aumentar a chance de desidratação, que provoca redução da função renal.

<><> Quais são os sintomas do estresse térmico?

O estresse térmico pode se manifestar por sintomas como fadiga, dor de cabeça, dor muscular e manifestações neurológicas, como confusão mental, tonturas e alterações no sono.

“O estresse térmico tem relação direta com problemas de saúde. Pode variar desde uma dor de cabeça ou cansaço até situações mais graves. A quem já é acometido de condições médicas pré-existentes, principalmente cardiovasculares, tem que ficar atento porque, em níveis extremos, pode até levar a óbito”, afirma a professora Renata Libonati, que coordenou o trabalho do Lasa/UFRJ.

<><> Como prevenir o estresse térmico?

A principal forma de prevenir o estresse térmico, segundo Chocair, é a hidratação, principalmente entre os grupos mais vulneráveis, como os idosos e crianças, que, geralmente, podem se desidratar com mais facilidade.

Além disso, os cuidados com a alimentação são essenciais para fortalecer o corpo e impedir desconfortos gástricos que podem piorar o quadro de saúde. “Manter uma alimentação leve, composta de carboidratos e baixo teor de gorduras, também pode contribuir para uma boa digestão e evitar sintomas de desconforto como azia e enjoos”, acrescenta Victor Sato, clínico geral e nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Outras dicas incluem:

•        Utilizar protetor solar, principalmente ao frequentar ambientes externos;

•        Usar roupas leves e acessórios para enfrentar o calor, como chapéus, óculos de sol e sombrinhas;

•        Manter-se hidratado. O ideal é não esperar ter sede para beber água.

•        Ingerir pequenas quantidades de sais, como sódio, potássio e magnésio, presentes nos isotônicos e na água de coco, por exemplo;

•        Evitar exercícios físicos entre às 10 horas e às 16 horas, período em que o calor é predominante e pode prejudicar a saúde física e respiratória;

•        Lavar nariz e olhos com soro fisiológico: a lavagem pode evitar sangramento das narinas e a secura, além de prevenir a irritação dos olhos;

•        Manter a casa limpa, higienizada e arejada, pois a poeira e a sujeira podem auxiliar a manifestação de bactérias, prejudicando a saúde respiratória.

<><> Sangramento nasal e cansaço: veja como tempo seco afeta corpo humano

Para além das questões climáticas, o tempo seco e as altas temperaturas decorrentes das ondas de calor podem desencadear problemas respiratórios, de acordo com o médico otorrinolaringologista Bruno Borges de Carvalho Barros, especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.

“Isso acontece porque o tempo fica ainda mais seco com a fumaça liberada pelas queimadas recentes, que ainda são compostas por uma mistura de gases tóxicos e partículas finas que, quando inaladas, podem penetrar profundamente nas vias respiratórias”, explica o médico.

¬¬¬¬ O que o tempo seco causa no organismo?

O tempo seco pode ressecar as mucosas do nariz, garganta e pulmões, causando sintomas como dificuldade para respirar e tosse, além de aumentar crises de asma e bronquite, de acordo com Tatiana Buainain, clínica geral do Hospital Santa Paula. Além disso, a rinite alérgica costuma ganhar força diante da baixa umidade do ar, causando coceira frequente no nariz e/ou nos olhos, espirros frequentes, coriza e obstrução nasal.

Sangramentos nasais espontâneos também podem ocorrer em alguns casos. Isso acontece porque o tempo seco torna as paredes internas do nariz mais frágeis, deixando-as mais suscetíveis a fissuras e sangramentos, segundo Barros.

Além dos sintomas respiratórios, a baixa umidade do ar pode deixar os lábios e pele ressecada, olhos irritados e causar dor de cabeça. “A desidratação também é comum se não houver ingestão adequada de líquidos”, alerta Buainain.

¬¬¬¬ Cansaço e baixa produtividade também podem ser comuns no tempo seco

O calor em excesso faz o corpo trabalhar mais para manter a temperatura interna equilibrada, conforme explica Buainain. Consequentemente, o corpo gasta mais energia, causando maior sensação de cansaço e reduzindo a capacidade de concentração e produtividade.

Calor extremo também pode causar a queda da pressão arterial. “Isso acontece devido a um fenômeno de vasodilatação, que faz a nossa pressão abaixar e leva à sensação de fadiga. Então, é muito importante em casos de calor extremo ficar em ambientes refrigerados, de preferência, com ar-condicionado, e caprichar na hidratação, além de utilizar umidificadores”, acrescenta Sara Mohrbacher, clínica médica e nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Além disso, o ar seco e o calor podem atrapalhar o sono, o que leva ao maior cansaço durante o dia, já que não houve descanso o suficiente à noite. “O ar seco e o calor podem deixar o ambiente desconfortável, dificultando a respiração e provocando noites mal dormidas, afetando, assim, a qualidade do sono”, afirma a especialista.

 

•        Tempo seco exige cuidados especiais com a pele; veja quais

A baixa umidade do ar somada à onda de calor e à fumaça de queimadas e de poluição que atinge diversas cidades brasileiras nos últimos dias pode afetar não só a saúde dos pulmões, mas também a da pele. É comum que, durante condições climáticas extremas, ela fique mais ressecada e sensível.

“Com o ar mais rico em partículas sólidas de poeira, a umidade relativa do ar diminui e menos moléculas de água ficam disponíveis no ambiente. Essa menor concentração de água no ar aumenta a perda de água transepidermal por osmose, ou seja, a saída de moléculas de água de um ambiente mais concentrado — nossa pele — para um ambiente menos concentrado — o ar”, explica Cynthia Nara, mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo (USP), fundadora e CEO da Pele Rara, startup de produtos para pele sensível, à CNN.

Quando o tempo está seco, a diferença de umidade entre a pele e o ar aumenta, o que leva a uma saída mais rápida de moléculas de água na pele, tornando-a ressecada. Isso aumenta o risco de inflamação e reduz a barreira protetora da derme.

“Isso é um agravante quando levamos em conta o ar rico em partículas, como ocorre quando acontecem as queimadas”, alerta Nara. “Essas partículas funcionam como um corpo estranho quando entra em contato com a pele, sendo capazes de ativar nosso sistema imune. Quando células de defesa são ativadas, elas liberam radicais livres e citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para a fragilidade e envelhecimento da pele e para sintomas de inflamação, como vermelhidão, coceira, ardor e calor”, explica.

<><> Sintomas na pele relacionados ao tempo seco

Entre os sintomas de ressecamento e inflamação da pele causados pelo tempo seco estão:

•        Sensação de perda de elasticidade da pele, com a sensação de pele “repuxando”;

•        Coceira e descamação da pele;

•        Vermelhidão;

•        Rachaduras;

•        Sangramento;

•        Dor;

•        Calor local;

•        Coceira e placas descamativas no couro cabeludo.

Em pessoas que já possuem condições autoimunes de pele, como psoríase e eczemas, pode haver uma maior possibilidade de aparecimento de placas, segundo Nara. No caso da dermatite, pode ocorrer uma crise alérgica exacerbada. “Vale destacar que a junção de poluição e tempo seco é extremamente prejudicial para este público”, ressalta.

Os lábios também podem sofrer impactos com o tempo seco. “De maneira simplificada, podemos dizer que a diferença entre pele e mucosa está na presença do estrato córneo, que funciona como um muro de proteção das camadas inferiores da pele. A pele possui estrato córneo, ao passo que a mucosa não possui essa camada protetora”, explica a especialista.

<><> Cuidados para prevenir e tratar os impactos do tempo seco na pele

Para evitar o ressecamento da pele, a principal orientação é manter a hidratação, aumentando a ingestão de água e de alimentos com bastante quantidade de água. É o caso de frutas como melão, melancia, morango, laranja e abacaxi. Chás e sucos de frutas também podem ajudar, evitando o consumo excessivo de açúcar.

Já para o tratamento, vale apostar nas formulações com ácidos graxos de cadeia média, ceramidas, óleos vegetais e fosfolipídeos. “Esses componentes são importantes para a manutenção da função barreira da pele. Se esses hidratantes ainda possuírem ativos de atividade anti-inflamatória e antioxidante, o efeito protetor é ainda melhor”, afirma Nara.

Para proteger a pele da poluição e agentes externos, a especialista sugere utilizar sabonetes com ativos específicos que não comprometam a camada lipídica da pele essencial para sua proteção. Ou seja, que não deixem a pele ainda mais seca.

“Depois de uma limpeza eficiente e suave, com a pele já limpa e seca, é recomendado a utilização de cremes e loções com alta capacidade hidratante, anti-inflamatória e antioxidante”, orienta Nara. “Produtos que contenham óleos naturais, como o de rosa-mosqueta, girassol, manteiga de cacau, manteigas em geral, óleo de amêndoas e óleo de uva, também são ótimas opções para ajudar na proteção da pele e lábios”, completa.

Por fim, finalize a rotina de cuidados com o uso de protetor solar.

<><> Bebês e idosos precisam de cuidados especiais

Por terem peles mais frágeis, bebês e idosos precisam de atenção redobrada com os cuidados com a pele diante do tempo seco. “Para essas peles sensíveis, produtos sem corantes e essências devem ser preferidos”, afirma a especialista.

Nara explica que bebês têm o estrato córneo da pele muito imaturo, enquanto os idosos o possuem em um estágio já deficiente. “Isso torna a função barreira da pele mais comprometida”, esclarece.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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