segunda-feira, 17 de junho de 2024

Vacinação baixa entre gestantes eleva risco de doenças graves em bebês

Os vírus da coqueluche, influenza e Covid-19 já levaram quase 500 bebês à internação em 2024 e mataram mais de 20 gestantes ou puérperas em 2023. A situação pode ser explicada pela taxa de vacinação do país em patamar aquém do desejado pelas autoridades de saúde, já que existem vacinas gratuitas e com eficácia comprovada contra as formas graves dessas doenças.

A cobertura da Dtpa, ou tríplice bacteriana acelular, por exemplo, foi de apenas 75% em 2023. Essa é uma vacina aplicada quase exclusivamente em grávidas e deve ser tomada em todas as gestações, justamente para proteger os recém-nascidos da coqueluche. Mas ela também protege a gestante e o bebê contra o tétano e a difteria.

Essas vacinas são recomendadas para grávidas, para protegê-las nessa fase mais vulnerável e garantir que os bebês já nasçam com anticorpos.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, explica que a chamada hesitação vacinal é causada por muitos fatores. O mais consolidado deles é a falta de percepção de risco. Ele também chama a atenção para o desafio da comunicação, em tempos de “infodemia”, a “pandemia de desinformação”.

A última vez que o Brasil teve um surto de coqueluche foi em 2014, mas o Ministério da Saúde alertou na semana passada, que vários países do mundo têm tido aumento de casos, e essa onda pode chegar aqui. Até o começo de abril, foram 31 infecções comprovadas, e mais de 80% delas em bebês de até seis meses.

O SUS (Sistema Único de Saúde) também vacina os bebês contra a coqueluche, mas apenas a partir dos 2 meses de idade, completando o esquema aos 6 meses. Ou seja, as maiores vítimas da coqueluche dependem totalmente da vacinação na gravidez para não adoecerem.

A ginecologista Nilma Neves diz que os profissionais que acompanham o pré-natal devem não somente prescrever as vacinas, mas também conferir se elas foram tomadas e questionar as grávidas sobre suas dúvidas e medos, já que muitas têm medo de tomar qualquer substância ou remédio e acabar afetando o bebê.

No caso da vacina contra a gripe, nem os chamados Dias D, com aplicação aos sábados, conseguiram fazer com que a meta de cobertura fosse alcançada. Atualmente, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, estão em campanha. Mais de 1,7 milhão de grávidas faz parte do público alvo e nem um quarto delas se vacinou.

O imunizante protege contra três cepas do vírus Influenza, um dos principais causadores da Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode levar à morte, especialmente de pessoas vulneráveis, como bebês pequenos e grávidas.

Outro grande causador da síndrome é a Covid-19, que também pode provocar inflamação em diversas partes do corpo. Há evidências de relação entre a Covid-19 e efeitos como aborto espontâneo, restrição de crescimento no útero e parto prematuro.

A Fiocruz já identificou que a quantidade de mortes entre grávidas ou pessoas que acabaram de dar à luz nos dois primeiros anos da pandemia foi quase 70% a mais do que o habitual. Ainda assim, a vacina contra a Covid-19 encontra grande resistência.

Gestantes e puérperas devem tomar a nova vacina monovalente xbb da Moderna, que está sendo aplicada pelo SUS.

De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da vacinação contra a doença em 2021, quase 2,2 milhões de mulheres se vacinaram. Mas essa quantidade é inferior à previsão de gestantes e puérperas que devem se vacinar somente este ano, cerca de 2,24 milhões.

O calendário básico de vacinação do SUS também recomenda que a gestantes recebam a vacina contra a hepatite B, caso não tenham sido vacinadas anteriormente, ou completem o esquema de três doses se ele estiver incompleto. Também é preciso iniciar ou completar a imunização com a DT, que protege contra tétano e difteria em três doses, com reforço a cada dez anos.

Nilma Neves reforça que o ideal é que, antes mesmo de engravidar, as famílias confiram o cartão de vacinas da gestante para que ela receba a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e não pode ser tomada durante a gestação.

 

¨      Cesarianas antecipam partos no Brasil, com riscos para os bebês, diz estudo

As evidências mostram que, no Brasil, muitas cesáreas previstas para ocorrer em meio ao feriado de carnaval são antecipadas ou postergadas. Pesquisadores do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa investigaram os efeitos dessa manipulação da data do parto na saúde dos bebês. Os resultados foram divulgados este mês no periódico Health Economics.

A postergação de partos, mostra o artigo, gera aumento na idade gestacional e uma redução na mortalidade neonatal. Já a antecipação reduz a idade gestacional e o peso ao nascer dos bebês – sobretudo daqueles de gestações de alto risco e da parte inferior da distribuição de peso ao nascer. Em termos líquidos, as festividades de carnaval, na média, aumentam o tempo gestacional em 0,06 dia e reduzem as taxas de mortalidade neonatal e de mortalidade neonatal precoce em 0,30 e 0,26 por 1 mil nascidos vivos, respectivamente.

O estudo foi realizado por Carolina Melo e Naercio Menezes Filho, ambos economistas e professores do Insper.

“Nossa pesquisa mostrou que existe, sim, uma extensa manipulação das datas dos partos em função do feriado de carnaval. Isso acontece por meio do deslocamento de cesarianas programadas e envolve, principalmente, mulheres menos vulneráveis, de maior nível educacional”, diz Melo.

A pesquisadora aponta que a tendência entre mães de nível educacional mais alto é a antecipação dos partos, para que estes não venham a ocorrer durante o feriado. Mas esse tipo de providência, que privilegia o conforto da parturiente e do médico, encurta artificialmente o período de gestação, podendo colocar os bebês em risco.

“Quando, por vários motivos, os nascimentos não podem ser antecipados por meio de cesarianas, as gestantes acabam esperando um pouco mais e muitas entram em trabalho de parto naturalmente e acabam tendo partos vaginais. As análises mostram que isso pode levar a resultados melhores em termos de maturidade gestacional e sobrevivência neonatal”, afirma Melo.

A professora acrescenta que um aumento líquido de 3,5 dias no tempo gestacional dos partos cujas datas foram manipuladas pode levar a um ganho de peso de 60 gramas. Na verdade, como partos antecipados e postergados entram nessa conta, Melo diz que é provável que os efeitos positivos em tempo gestacional e peso ao nascer para os partos postergados sejam até maiores.

A pesquisadora alerta que, se a postergação de partos devido a um feriado é capaz de mexer em um indicador tão extremo como mortalidade neonatal, é provável que o comum seja os nascimentos ocorrerem muito cedo no país – fato associado à antecipação de partos por meio de cesáreas eletivas –, e os bebês nascerem com condições de saúde piores do que eles poderiam nascer caso as gestações fossem prolongadas.

Como destaca a pesquisadora, nos hospitais totalmente privados do Brasil (que não atendem SUS), 86% dos partos são cesarianas. O índice é muito mais elevado do que a média nacional, de 55%, que já é altíssima. Vale lembrar que a proporção de partos cesarianos recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de até 15%. E que, com seus 55%, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial, depois da República Dominicana (58,1%).

Embora a pesquisa em pauta tenha fechado seu foco no período do carnaval, a pesquisadora acredita que a tendência de antecipar artificialmente as datas dos partos é mais geral, e não se restringe aos feriados. “Enquanto a OMS recomenda um período gestacional mínimo de 39 semanas, a média brasileira é de 38,5 semanas. Isso significa que muitos bebês estão nascendo antes do tempo seguro”, diz.

O estudo enfatiza a necessidade de políticas públicas que restrinjam a antecipação de partos sem justificativas médicas, para minimizar os riscos associados a nascimentos prematuros e baixo peso ao nascer.

A pesquisa recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio de Bolsa de Pós-Doutorado concedida a Carolina Melo e do Centro Brasileiro para o Desenvolvimento na Primeira Infância (CPAPI), um Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) coordenado por Menezes Filho e constituído em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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