segunda-feira, 17 de junho de 2024

Resistencia à ivermectina pode ser chave de surto de sarna em Santa Catarina

Duas creches tiveram as aulas suspensas na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, por conta da grande quantidade de casos registrados de escabiose, também conhecida como sarna humana.

E um dos fatores que pode ter levado a esse surto foi o uso desenfreado de ivermectina, medicação que compunha o chamado “kit covid” e tinha seu uso incentivado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia, mesmo que tal medicação não tenha sua eficácia comprovada contra a doença.

Segundo o site NSC Total, tal hipótese foi inclusive admitida pelo médico infectologista Fábio Gaudenzi de Faria, superintendente de vigilância em saúde de Santa Catarina, mas não totalmente confirmada por não ter sido feita uma análise da resistência do parasita responsável pela escabiose.

O caso confirma estudos realizados por universidades federais durante a pandemia de covid-19, onde destacavam que o uso desenfreado de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina poderiam tornar esses remédios ineficazes contra os casos para os quais eles foram originalmente desenvolvidos.

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Vale lembrar que, em 2021, o sistema de saúde de Santa Catarina colapsou por conta do grande número de casos de covid-19, e pacientes diagnosticados com o vírus da covid-19 eram orientados a fazer o uso de medicamentos como ivermectina e cloroquina.

·        Pesquisa alerta para resistência ao medicamento

Em 2021, o Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) desenvolveu um trabalho onde cogitou que um surto de escabiose registrado em Pernambuco estava relacionado ao uso em excesso de ivermectina, que acabou por gerar cepas responsáveis pela escabiose que eram resistentes ao medicamento.

“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina Neves, pesquisadora do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF) e uma das autoras do artigo.

“Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a escabiose levantada pelo artigo”, ressaltou.

A ivermectina era um dos medicamentos que faziam parte do chamado “kit covid”, que muitas pessoas recorreram para lidar com os efeitos da covid-19 inclusive com o incentivo do poder público no auge da pandemia, como por parte do então presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a UFAL, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil graças a automedicação e a prescrição desenfreada – profissionais de saúde e pessoas continuaram usando o medicamento contra a covid-19 mesmo com evidências científicas e pareceres contrários do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica.

“O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública, porém, no caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional/incorreta medicamentos, como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, reforça a professora Sabrina.

 

¨      Trabalho alertou sobre surto de sarna associado ao uso de ivermectina

Um trabalho publicado pelo Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Ufal pode servir de base para ajudar na investigação de um surto de escabiose, a sarna humana, que está acontecendo em Santa Catarina. A hipótese levantada é que os casos estejam associados ao uso indiscriminado de ivermectina, medicamento que se popularizou no Brasil com o chamado “kit covid”.

O artigo publicado em agosto de 2021 foi elaborado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e pelos estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves, a partir da observação de casos de resistência à ivermectina já relatados, surtos isolados e os dados de aumento de consumo do medicamento por causa da pandemia de Covid-19.

“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina, mas ressalta: “Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a escabiose levantada pelo artigo”.

A pesquisadora explica que ainda são necessários alguns testes e o descarte de outras hipóteses para então confirmar as questões levantadas no artigo.

Surto em Pernambuco e possível problema de saúde pública

Pelo menos 264 moradores de seis cidades da região metropolitana de Recife já apresentam lesões cutâneas, que ainda estão sendo investigadas pelas secretarias de saúde municipais.

Os pacientes se queixam de uma coceira forte, intensificada no período da noite, e que evolui para feridas, mesmo com o uso de antialérgicos. 

Segundo Neves, para mapear os possíveis casos em outras regiões do Brasil, a vigilância epidemiológica emitiu um alerta com os sintomas para os serviços de saúde, assim todos devem notificar o atendimento a pacientes com os sintomas da doença.

A docente também está acompanhando de perto e, caso confirmado, prevê futuras complicações de saúde pública: “A hipótese do artigo é que é possível que o Sarcoptes scabiei, ácaro causador da escabiose pode ter desenvolvido resistência à ivermectina. Se essa hipótese se confirma, temos um problema enorme, pois a doença poderia atingir qualquer população, e o que é pior, com dificuldade de tratamento”.

Resistência a medicamento

O trabalho, assinado por Alfredo Oliveira-Filho, Lucas Bezerra, Natália Alves e Sabrina Neves, aponta que, após o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, “a ivermectina foi identificada como um fármaco com potencial antiviral para tratamento de pacientes - a princípio hospitalizados e depois ambulatoriais - com Covid-19”.

Por causa disso, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil. Mesmo com pareceres do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica, somados a evidências científicas,  a prescrição e automedicação baseada neste medicamento continuaram a acontecer.

“O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública, porém, no caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional/incorreta medicamentos, como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, reforça a professora Sabrina.

E, assim como antecipou o risco de aumento da resistência do Sarcoptes scabiei à ivermectina, ela deixa mais uma reflexão: “Esse é um problema mundial, principalmente no que diz respeito à resistência bacteriana, que é um problema sério, uma vez que já temos vária cepas de bactérias resistentes a antibióticos no mundo todo. Ou seja, nesse caso, o uso irracional do medicamento leva a um problema geral, pois gera cepas resistentes a tratamento, que podem infectar qualquer pessoa”.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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