ORCRIM:
Indiciamento de Juscelino Filho pela PF foi baseado em reportagens do ‘Estadão’
A
Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira, 12, o ministro das
Comunicações Juscelino Filho. A corporação finalizou as investigações sobre um
possível desvio de verbas federais na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do
São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e imputou ao ministro os crimes de
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A investigação teve
início após uma reportagem publicada pelo Estadão em 30 de janeiro de 2023.
O
ministro de Lula, em nota, nega a imputação e relembra que “indiciamento não
implica em culpa”. “É uma ação política e previsível, que parte de uma apuração
que distorceu premissas”, disse Juscelino sobre o relatório da PF.
O
indiciamento ocorre após a Operação Benesse, deflagrada em setembro de 2023. Na
ocasião, um dos alvos da PF foi Luanna Rezende, irmã de Juscelino e prefeita de
Vitorino Freire (MA). Em janeiro 2023, o Estadão revelou que o ministro, quando
deputado, destinara recursos do orçamento para asfaltar uma estrada na cidade
que passava pela fazenda da sua família.
Outra
reportagem revelou que um gerente da Codevasf, mesmo afastado do cargo sob
acusações de receber propina, continuava a receber salário da estatal, de mais
de R$ 20 mil, em valores brutos.
O
servidor afastado era Julimar Alves da Silva Filho, titular da Gerência
Regional de Empreendimentos da Codevasf no Maranhão. Uma das atribuições de
Julimar no serviço público era a emissão de pareceres para a execução de obras.
Ele estava sendo acusado de receber R$ 250 mil de Eduardo Costa, conhecido de
longa data de Juscelino Filho, para emitir um parecer fraudulento.
A
acusação era calcada em um relatório assinado por Julimar em 18 de agosto de
2021. O documento autorizou a empreiteira Construservice a tocar uma obra que
beneficiou diretamente o ministro das Comunicações, com a pavimentação de uma
via pública em Vitorino Freire que entrecortava uma das propriedades de
Juscelino, onde o ministro de Lula havia construído um heliponto e uma pista de
pouso particular.
A
obra foi financiada com recursos do orçamento secreto, que Juscelino pôde
direcionar enquanto deputado federal. O Estadão também mostrou que ao menos
quatro empresas de amigos e pessoas próximas ao ministro prestaram serviços à
prefeitura de Vitorino Freire, comandada pela irmã de Juscelino. As obras foram
indicadas por meio do orçamento secreto e o montante dos contratos chega a R$
36 milhões.
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Relembre outros feitos de Juscelino Filho apurados pelo ‘Estadão’
Além
dos possíveis desvios com verbas públicas para a Codevasf, a prefeitura de
Vitorino Freire, comandada pela irmã do ministro, foi beneficiada pelo governo
federal com doações de computadores, por meio de um programa da pasta de
Juscelino. A cidade de São Mateus, comandada por um primo do ministro, também
foi beneficiada com a iniciativa.
Além
disso, o ministro de Lula utilizou uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB)
para ir e voltar de São Paulo, onde participou de leilões de cavalos de raça. O
Ministério da Defesa calculou em R$ 130.392,87 a despesa com este voo. O caso
deflagrou uma crise interna no governo e Juscelino esteve ameaçado de demissão,
mas conseguiu se manter no cargo com o apoio do Centrão.
O
Estadão também revelou que Juscelino Filho omitiu da Justiça Eleitoral um
patrimônio de ao menos R$ 2,2 milhões em cavalos da raça, além de apresentar às
autoridades eleitorais informações falsas sobre voos de helicópteros.
Enquanto
deputado federal, o Juscelino empregou em seu gabinete o “faz-tudo” de fazendas
da sua família. O motorista Waldenôr Alves Catarino passou quase uma década
realizando diversos serviços braçais na roça. “Eu era lotado aí na Câmara
Federal e trabalhava aqui para o tio dele na fazenda”, afirmou, em entrevista
exclusiva ao Estadão.
O
ministro também fez uso do cargo para renovar as concessões de radiodifusão de
seu núcleo político. Foram concedidas 31 licenças de TV para o grupo TV
Difusora, que pertence ao advogado Willer Tomaz de Souza, compadre do senador
Weverton Rocha (PDT-MA), aliado de primeira hora de Juscelino. Os pedidos foram
aprovados a jato, num período entre cinco e oito meses.
Juscelino
também utilizou estrutura do cargo para promoção pessoal de si mesmo, da irmã e
de um primo. O fotógrafo oficial da pasta acompanhou e registrou compromissos
sem relação com as atividades da pasta de Comunicações, inclusive em eventos
fora de Brasília. Além da produção fotográfica, as agendas foram divulgadas em
um canal oficial do Ministério.
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Piada do ano! Ministro Juscelino Filho pede que Supremo engavete inquérito
O
ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), pediu ao STF
(Supremo Tribunal Federal) o trancamento do inquérito em que foi indiciado pela
Polícia Federal sob suspeita dos crimes de corrupção passiva, organização
criminosa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e fraude em licitação.
Em
pedido protocolado nesta sexta-feira (14), os advogados de Juscelino afirmam
que a investigação “padece de inconstitucionalidades e ilegalidades
insanáveis”.
SEM
PROVAS?
“Os
apontamentos feitos pela autoridade policial nada mais são do que um emaranhado
de ilações sem qualquer respaldo probatório e que acabaram misturando fatos
alheios à investigação para tentar incriminar o peticionário [Juscelino]”, diz
a defesa.
O
relatório final do caso, com o indiciamento do ministro, foi enviado para o
ministro Flávio Dino, relator do caso no STF e ex-colega dele na Esplanada no
governo Lula.
“O
indiciamento da forma como proposto pela autoridade policial revela, em
verdade, que a presente investigação nada mais é do que um procedimento
especulativo, indiscriminado, sem objetivo certo ou declarado, o que, como
consequência, não pode ser aceito sob pena de malferimento das balizas de um
processo penal democrático”, afirma trecho do documento.
A
PF concluiu que o ministro integra uma organização criminosa e cometeu o crime
de corrupção passiva relacionado a desvios de recursos de obras de pavimentação
custeadas com dinheiro público da estatal federal Codevasf.
Os
advogados afirmam que a representação policial, que levou ao pedido de bloqueio
de bens do ministro, se baseou em uma informação falsa sobre a diferença entre
o valor adiantado pela Codevasf à construtora responsável pela obra e o serviço
executado.
Na
quinta-feira (13), o presidente Lula disse que o fato de o ministro ser
indiciado “não significa que o cara cometeu um erro” e que iria conversar com o
auxiliar, ainda que não tivesse “pressa” para isso. “Se você cometer um erro,
reconheça que cometeu. Se você não cometeu, brigue. Brigue pela sua inocência”,
disse o mandatário.
PARTIDO
DEFENDE
A
União Brasil saiu em defesa do ministro, na quarta-feira (12). Disse, em nota
assinada pelo presidente, Antonio de Rueda, que não aceita “condenações
antecipadas” e que Juscelino não teve o “amplo direito de defesa” respeitado.
“Ao
longo do último ano, temos testemunhado vazamentos seletivos e
descontextualizados relacionados à investigação, com objetivo de criar uma
instabilidade política que não interessa a ninguém”, declarou a sigla.
O
partido de Juscelino é o terceiro maior da Câmara dos Deputados com 58
deputados federais. Na atual gestão federal, indicou também os ministros do
Turismo e da Integração Nacional. Também tem um dos mais fortes candidatos à
presidência da Casa, Elmar Nascimento (BA) —a eleição será em 2025.
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NOTA
–
São duas Piadas do Ano. A primeira é esse recurso ao Supremo, uma espécie de
habeas corpus preventivo, alegando falta de provas, quando ocorre justamente o
contrário. E a segunda piada é o Planalto alegar que “esta etapa da
investigação criminal ainda não seria suficiente para um afastamento e que Lula
não quer se indispor com a União Brasil”. Assim, a corrupção fica mantida como
principal característica do PT.
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Ensaios de uma nova e
maior crise política
Indiciado
pela PF por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Juscelino
Filho, ministro das Comunicações de Luiz Inácio, clama por presunção de
inocência. O processo legal, certamente, deve concedê-la: mas é pedir demais
que o simples trabalhador brasileiro a conceda, pois a experiência permanente é
de que político da burguesia acusado de corrupção só pode ser bandido mesmo,
mesmo se provar o contrário. Ninguém pode culpar as massas por enxergar assim.
E mais: os crimes teriam ocorrido com verbas federais destinadas à Codevasf,
que tem sido o paraíso do “centrão” bolsonarista, agraciado pelo governo de
turno.
Neste
sentido, independente dos desdobramentos da acusação, a bomba cai sobre o
governo, já fragilizado pelo inalterado estado de encarecimento geral no custo
de vida para as massas de trabalhadores e pequenos proprietários e pela atitude
covarde ante a greve dos professores e técnico-administrativos da Educação
pública superior federal. Não podemos esquecer nunca que o bolsonarismo cresce
na medida em que a falsa esquerda se desmoraliza: assim, novamente, o
bolsonarismo agradece.
Enquanto
os ratos fazem a festa com as verbas federais desde dentro do governo, Luiz
Inácio esteve na Conferência da Organização Internacional do Trabalho pregar
sobre a importância de dar valor aos trabalhadores – menos aos grevistas da
Educação federal, pois estes, presume-se, não merece valor algum para o
governo. Ele discursou, acenando à esquerda, e criticou a governança global, a
desigualdade entre “países ricos e pobres” e tudo o mais. Foi aplaudido, é
claro, inclusive pelos representantes das potências que criticou, como se
apreciassem o show de malabarismo. No Brasil, a coisa é
diferente.
O
governo anda ainda pressionado, por um lado, pela oligarquia financeira
internacional, que exige o cumprimento do novo “teto de gastos” (arcabouço
fiscal) e, por outro, por setores das classes dominantes que vivem de isenções
fiscais ou baixos impostos. O governo tentou aumentar arrecadação taxando
alguns setores monopolistas locais, e produziu uma gritaria enorme. Recuou.
Como não pode frustrar nenhum dos dois, o governo cai para cima das áreas
sociais. Esse é o pano de fundo do desprezo do governo diante da greve da
Educação federal. E o regime de austeridade fiscal só está começando: “[A
agenda de corte de gastos…] está ganhando tração ao longo do tempo, cada vez
maior”, disse Fernando Haddad (ou seria Paulo Guedes?). Até agora, essa tal
agenda só tem sido contra as áreas sociais.
Essa
elevação da temperatura política, agora, não é casual. A direita tradicional,
que em 2022 entrou no barco do PT para se livrar de mais um governo da
extrema-direita, o fez por cálculo circunstancial e conveniente: em 2026,
pretende se livrar de Luiz Inácio, e com a inelegibilidade de Bolsonaro e a
construção de um bolsonarismo “moderado”, cria-se o cenário ideal para afastar
o oportunismo petista do governo e, ao mesmo tempo, neutralizar o extremismo de
direita canalizando-o para o Tarcísio de Freitas. Com a política
social-democrata oportunista, ainda mais sem reformas, tendo sido prometido o
inverso, o governo atual apenas pavimenta e prepara a volta do bolsonarismo,
ainda que encabeçado por um “moderado”. O movimento popular, reivindicativo,
deve erguer alto o protesto popular, e aproveitar o momento de agitação
política que se desenha para “puxar a corda” em seu favor, desmascarar a
social-democracia oportunista como política burguesa para ludibriar aos
trabalhadores e acumular forças para construir a via revolucionária.
• Ronnie Lessa aponta em delação
grilagem no cartório de maior receita no país
O
ex-policial militar Ronnie Lessa indicou em sua delação premiada com a Polícia
Federal que a grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro ocorre por
meio de fraudes dentro do cartório mais rentável do país. A prática é um dos
motivos alegados para a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).
O
delator indicou três pessoas que seriam as responsáveis por "fazer
miséria" em documentos do 9º RGI (Registro Geral de Imóveis), responsável
pelo controle de propriedade em bairros das zona oeste e sul do Rio de Janeiro.
De acordo com dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ele teve R$ 75,9
milhões de faturamento no segundo semestre do ano passado, o maior do país.
Em
nota conjunta, a Associação de Registradores de Imóveis do Rio de Janeiro
(Airj) e o 9º RGI afirmaram "que não há qualquer relação do cartório e de
seus funcionários com o despachante citado durante a delação".
"A
Arirj e o 9º Ofício se colocam inteira e ativamente à disposição das
autoridades para investigação de quaisquer práticas criminosas", diz a
nota.
A
PGR (Procuradoria-Geral da República) acusou os irmãos Domingos e Chiquinho
Brazão como mandantes da morte de Marielle. Um dos motivos, segundo a
investigação da Polícia Federal, seria impedir que ela prejudicasse os
interesses da família em práticas de grilagem de terras e para dissuadir outros
integrantes do PSOL a adotar a mesma postura. Os dois negam envolvimento no
caso.
O
conflito seria, segundo a PF, o ápice de desavenças entre os Brazão e
integrantes do PSOL desde 2008, quando o conselheiro teve o nome citado no
relatório da CPI das Milícias.
Em
depoimento aos investigadores, Lessa descreveu a ação de três pessoas,
identificadas como Jorge Panaro, seu filho e um homem chamado de Geleia, dentro
do 9º RGI para regularização de documentos de terrenos invadidos por
milicianos.
"O
Geleia é uma espécie de despachante. [...] Ele tem os acessos, levanta tudo o
que o senhor imaginar. Ele vai levantar no 9° RGI. Vai levantar os documentos,
vai conseguir carimbo, vai conseguir registrar com datas retroativas, eles
fazem miséria no 9° RGI. O Geleia, Jorge Panaro, o filho do Panaro, esses caras
têm um acesso muito grande ao 9º RGI", disse o ex-PM.
Jorge
José Panaro é o nome de um ex-presidente da associação de moradores de Rio das
Pedras. Lessa afirmou aos investigadores que ele já havia morrido. A reportagem
não conseguiu identificar seu filho ou o homem chamado de Geleia.
Lessa
descreveu o "modus operandi" para a grilagem de terras na zona oeste
da cidade.
"Se
eu cismar de entrar numa terra hoje e não houver resistência, em 15 dias eu já
mando fazer um documento. Primeira coisa, limpa o terreno. Quando limpar o
terreno, se existe um dono e ele não mandou limpar, esse dono vai mandar alguém
ver: 'Quem é que tá mexendo no meu terreno?' Isso é óbvio. Limpou o terreno,
[e] ninguém mexeu, ninguém botou a cara? Tu continua. Aí tu começa a botar
cerca de arame farpado. Ninguém se manifestou? Tu já pode chamar o Geleia ou o
Panaro."
O
ex-PM afirmou aos investigadores que a recompensa pela morte de Marielle seria
justamente a autorização dos irmãos Brazão para gerir um loteamento irregular
na zona oeste da cidade. Ele também disse que tinha planos de invadir uma área
na avenida Ayrton Senna, em ponto próximo à favela Gardênia Azul.
O
9º RGI já foi alvo de uma CPI na Assembleia Legislativa em 2011. O relatório
final, porém, não apontou responsáveis e não conseguiu comprovar as suspeitas
levantadas.
De
acordo com a PF, documentos encontrados na casa de Domingos Brazão descrevem
operações imobiliárias da família com indícios de grilagem de terras. O
relatório, porém, não descreve algum envolvimento do 9º RGI.
Um
dos terrenos em Jacarepaguá em nome da Superplan Administração de Bens Imóveis
e Participações, de Domingos e sua mulher, teve sua matrícula aberta em 2021,
após ação de usucapião de um casal formado por um eletricista e uma doméstica.
Em agosto de 2023, a empresa de Brazão comprou metade da área, de 10 mil m²,
por R$ 110 mil.
A
PF aponta suspeitas em relação à transação porque a prefeitura cobrou o ITBI
avaliando o imóvel em R$ 7 milhões. A divergência levanta suspeitas de lavagem
de dinheiro.
Outra
transação chamou ainda mais a atenção dos investigadores. Trata-se de um
terreno de 2.000 m² adquirido de um eletricista e sua mulher em 14 de maio de
2018, mas que só foi registrado em agosto de 2020.
A
transação foi realizada dois meses depois da morte de Marielle e no mesmo dia
em que foi publicada a lei apontada como ápice da divergência entre os Brazão e
a vereadora.
"Os
efeitos produzidos pela lei complemente 188/2018 poderiam acarretar
incalculável valorização da extensão de terra adquirida pela Superplan, se não
fosse a superveniente declaração de inconstitucionalidade do diploma legal
meses depois", afirma a PF.
A
PF afirmou no relatório final do caso enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal)
que as divergências de Marielle na Câmara Municipal ao projeto de lei
complementar 174/2016, de autoria do então vereador Chiquinho Brazão,
"encontram-se no cerne da motivação do crime".
Fonte:
IstoÉ/A Nova Democracia/FolhaPress
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