Hugo
Dionísio: ‘A armadilha de Volodymyr Zelensky’
A
Ucrânia de Stepan Bandera, que tem privatizado, de forma absolutamente furiosa,
as propriedades estatais que ainda lhe restam e lhe foram deixadas pela Rússia
e URSS, já tem grande parte das suas valiosas terras negras nas mãos da
Blackrock, Monsanto e de outros interesses norte americanos. A estas se juntam
interesses energéticos, mineiros, agro-industriais e imobiliários.
Agora,
para financiar o esforço de guerra, o ilegítimo Volodymyr Zelensky, que
atualmente usurpa o lugar de presidente (já percebo aquele beijo de Von der
Leyen, os usurpadores reconhecem-se mutuamente), prepara-se para vender o que
ainda lhe resta. As receitas do FMI, e dos acordos financeiros com a União
Europeia, assim o exigem e os negócios em causa constituem, em alguns casos,
importantes monopólios naturais.
Sabemos
quem mais vai lucrar com a compra destes bens estatais. Os EUA ficam com a
melhor fatia, mas o Reino Unido, Alemanha, França, por esta ordem, também
ficarão com a sua parte. Se o Hotel Ucrânia é o mais famoso bem de todos os
anunciados neste novo pacote, segue-se uma lista, que o próprio regime de Kiev
diz ser uma “large privatization”. Empresas energéticas, Porto de
Odessa, sector mineiro, destilarias, fábrica de maquinaria pesada como
locomotivas…
O
mais grave disto tudo, o mais trágico para todos nós, é que a venda do país aos
interesses dos EUA e do ocidente não é inocente e está muito para além de um
simples ato de corrupção ou entrega do país aos interesses estrangeiros.
Consciente ou inconscientemente, a aquisição de grandes e lucrativas
propriedades, pelas grandes corporações ocidentais, constitui um passo
importantíssimo para o agravamento do conflito e que julgo passar ao lado de
muito boa gente, normalmente concentrada na vertente especificamente militar.
Nestes
casos, a vertente militar não mais é do que o pico do iceberg, que esconde toda
a complexidade de relações econômicas que, na base, constituem a razão de ser
de tudo o que se passa. O recurso ao militar acontece quando as relações na
base se tornam inconciliáveis.
Volodymyr
Zelensky, certamente ciente de que a guerra só se ganha com a entrada direta
dos EUA, nem que tenhamos todos nós de perdê-la (nas guerras todos perdem) para
ele a ganhar, à medida que entrega o seu país às oligarquias que sustentam o
aparelho político norte-americano, saberá da importância que tem o domínio das
propriedades ucranianas, por aqueles poderosos interesses. Que melhor forma de
proteger o acesso ao mar negro, se não entregando o Porto de Odessa aos
interesses ocidentais?
A
história diz-nos que os interesses corporativos ocidentais, em especial os
norte-americano, protegem os seus bens, nem que, para tal, tenham de invadir
países e ocupá-los. Neste sentido, Volodymyr Zelensky, sabe que, quanto maior o
domínio das corporações americanas na Ucrânia, maior é a probabilidade de
agravamento do conflito e de entrada direta dos EUA.
Intencional
ou coincidentemente, está em causa um desenvolvimento que, potencialmente, pode
atrair os próprios EUA para uma espécie de “armadilha”, conduzidos pela cobiça
por dinheiro fácil, do estado e do povo, que caracteriza as corporações
imperialistas. Diria mesmo que esta é a história norte-americana no que toca às
suas intervenções militares. O seu povo é conduzido, pelos interesses
econômicos, para “armadilhas” montadas por, e em prol desses mesmos interesses,
que envolvem e tornam o estado dependente de guerras reais e potenciais. As
famosas guerras eternas.
Já
as antigas Companhias das Índias, dos Países Baixos, Portugal ou Inglaterra,
detinham, inclusive, exércitos privados para defenderem os seus ativos nas
colônias. Nos EUA, como noutras potências capitalistas, a defesa desses
interesses está acometida aos respectivos complexos militar-industriais, bem
como às empresas privadas de recrutamento militar (as PMC).
As
potências imperialistas, ao longo da história, intervêm militarmente nos locais
onde estão ameaçados os seus interesses monopolistas. O que considero descabido
é que esta apropriação da propriedade ucraniana, pelo ocidente, não seja
reconhecida como um dos mais importantes fatores que influenciam a escalada
militar. Todos olham para a parada e resposta das armas, mas poucos olham para
as relações materiais subjacentes, as quais, deixam sem saída política, os
líderes de ambos os países, que não seja a defesa dos interesses que, em cada
momento, se manifestam, mais ou menos sub-repticiamente.
Contudo,
no meio disto tudo, existem forças mais poderosas que se movem no sentido
contrário aos interesses de Volodymyr Zelensky e do seu gangue da Galícia. Esta
guerra nasceu como proxy (por procuração) e, para os EUA, em
princípio assim terá de morrer. A batalha decisiva, pela manutenção da
hegemonia do sistema imperialista norte americano, joga-se no pacífico. O
desafio chinês obriga a concentração exclusiva e isto leva o próprio partido
democrata a exigir do seu representante no Médio-Oriente, Israel, uma atitude
diferente e mais conciliadora, de forma a que o conflito não se estenda para lá
do desejável. Que o consiga, tenho dúvidas, mas, pelo menos, tenta-o.
Os
EUA, estando plenamente conscientes da “armadilha” montada por Volodymyr
Zelensky, não deixam de aproveitar o ganho, mas, é aos países europeus que foi
reservada a defesa dos seus interesses corporativos e militares na Ucrânia.
Enquadrando tais interesses no que Antony Blinken refere como “área de
segurança transatlântica”, tal classificação, do meu ponto de vista, não
arrasta os EUA para o conflito. Arrasta, isso sim, a própria OTAN e, em
especial, a Europa. Como já foi sublinhado inúmeras vezes, é a Europa quem tem
de arcar com a maior fatia de esforço.
Este
esforço será pago com mais armas, dinheiro, vindo este dos 300 mil milhões de
euros congelados que Joe Biden na cúpula do G7 não deixará de entregar à
Ucrânia. Estando tais reservas, sobretudo, em bancos europeus, adivinhem que
moeda e que sector financeiro entrará em colapso, após este confisco? Para já a
Arábia Saudita deixou caducar, no dia 9 de Junho, o acordo que mantinha com os
EUA, para a venda exclusiva de petróleo em Dólares (o acordo Petrodólar).
Mas,
durante muito tempo ainda, os EUA usufruirão do estatuto de moeda de reserva.
Já o Euro e a Libra Esterlina não se podem gabar do mesmo e quando os países do
sul global acelerarem a retirada, já em marcha, das reservas depositadas em
bancos europeus, é que veremos.
Destes
fatores resulta outro movimento que se afirma em contradição com os interesses
do regime de Kiev. Esta tensão entre “interesses dos povos europeus” e
“interesses corporativos” dos EUA, ameaça destruir a democracia restante de
muitos países europeus e partir nações inteiras. As últimas eleições para o
Parlamento Europeu são já um resultado disso mesmo. França, Alemanha, Bélgica,
Países Baixos, Dinamarca, assistiram a resultados importantes, que representam,
sobretudo, a ansiedade popular pela normalização das suas vidas. Trabalhadores,
agricultores, pequenos empresários, estão fartos de instabilidade, austeridade
e pessimismo. Aos povos europeus foi-lhes subtraída a esperança de uma vida
melhor.
Os
mesmos que subtraíram e negam, todos os dias, tal esperança, são quem acusa de
movimentos “populistas”, “extremistas”, “radicais”, todos os partidos que se
opõem ao belicismo do designado “centro político”. A cada um que atira com a
palavra “paz”, eles respondem com a acusação de “putinista”; a cada um que
atira com a máxima de que “nem mais uma bala para alimentar o conflito
ucraniano”, respondem com um contundente “agente do Kremlin”. Estereotipar,
dividir, tribalizar, tornou-se a palavra de ordem de um suposto “centro
político”, que se auto-elegia como capaz de unir o espaço entre as margens.
Desistindo
deste papel de “moderação”, o próprio “centro moderado” é também atirado para
uma margem. Atirado para a margem que defende a continuação da guerra, da
confrontação, figuras como Macron, Sholz, Sunak ou a burocrata Von Der Leyen,
acabam a conduzir as populações para as forças que, neste quadro niilista, mais
organizadas e financeiramente poderosas surgem: as forças reacionárias. Estas
forças, pressentindo e vivendo do descontentamento, atraem quem se sente
desagradado pela situação econômica, pelo medo de uma guerra em larga escala e
a falta de perspectivas de crescimento, recuperação e desenvolvimento.
Neste
quadro, a única resposta dos dirigentes mais belicistas é a de contrapor ao
medo da guerra, o medo da extrema direita. E este é o drama que se vive na
Europa, nos EUA, no Ocidente coletivo. A sensação – aparente apenas – de que
não existe uma alternativa válida, faz com que sejam acenadas apenas duas
alternativas que, à superfície, mutuamente se excluem: ou existe a opção do
“centro moderado”, pelo confronto, pelo belicismo, pelo sacrifício econômico e
social, em nome de “valores europeus” que ninguém sabe bem o que são; ou a
opção “autocrática”, “autoritária”, “ditatorial”, da extrema direita, mas na
qual o “centro moderado”, através de um contraditório processo de reescrita da
história e paradoxal confusão filosófica, integra as soluções à esquerda.
Bifurcados
entre duas alternativas terríveis, acaba-se a escolher entre Emmanuel Macron e
Marine Le Pen, porque se considera uma de “extrema direita” e o outro um
“centrista liberal e moderado”. Contudo, dizer que Le Pen é mais de direita que
Macron, é cometer um erro crasso. Emmanuel Macron é mais dissimulado e polido,
mas não é menos destrutivo. Macron tornou-se, hoje, um dos principais
incendiários da guerra nuclear. Sem utilizar o termo, todos sabemos qual a
consequência do envio de tropas da OTAN para a Ucrânia. Também sabemos qual
será o resultado da instalação de bases de F16 nos países bálticos. Sabemos
onde vai acabar a autorização de utilização de mísseis SCALP lançados por
aviões Mirage II, contra território russo reconhecido.
E o
que dizer de Olaf Sholz e do seu SPD? Hoje, é outra vez o SPD que volta a
atirar a Alemanha contra a Rússia, privando o seu país dos recursos que o
tornaram uma potência mundial. O que diria Karl Marx se soubesse que o museu,
em sua memória, situado em Trier, é gerido pela Fundação Friedrich Herbert (sim
a que financiou o Partido Socialista em Portugal), organização ligada ao SPD?
É
então a política “moderada” (o termo “moderado” vale como elogio por si só) que
ameaça conduzir-nos para uma guerra nuclear. Eu pergunto o que é que isto tem
de “moderado”! É que, por absurdo, mesmo que se reconhecesse toda a culpa à
Rússia e a Vladimir Putin, seria dos “moderados” quem se esperaria o maior
esforço de diálogo e paz. Ao invés, é dos “moderados” que esperamos o
contrário: a ultrapassagem constante de linhas vermelhas, as russas e a suas
próprias. Quantas linhas vermelhas esta gente já ultrapassou, na sua escalada?
Quer
Zelensky consiga o seu copo cheio – a entrada dos EUA na guerra – ou seu copo
meio cheio – a entrada da Europa na guerra –, qualquer das soluções é
devastadora para as nossas vidas e tal devastação é o que resulta de quando se
apoia, se é cúmplice e conivente com gente que faz do ódio, da xenofobia, o seu
modo de vida. O ódio que vejo nos Ucranianos da Galícia, contra a Rússia,
compara-se ao ódio dos sionistas, contra os árabes palestinos. Um ódio tribal,
selvagem, bárbaro e medieval. Na Ucrânia ou na Palestina, o ódio nunca venceu
barreiras, só as construiu.
Como
me disse um amigo, quando nos mandarem enfiar o capacete e pegar na
metralhadora talvez nos lembremos que a paz é o maior bem que a civilização nos
pode garantir. Talvez nesse dia acordem para a “armadilha” em que fomos
apanhados e consigam ver, no horizonte, quem, de fato, com palavras de veludo,
exaltações à “democracia” e acusações aos “extremismos” nos está a levar para a
extrema destruição!
¨
Chanceler da Turquia
sobre as propostas de paz de Putin: 'Raio de esperança'
As novas propostas de paz para a Ucrânia apresentadas
pelo presidente russo, Vladimir Putin, são um raio de esperança, declarou neste
sábado (15) o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan.
"A Rússia propôs recentemente novas condições.
Independentemente do seu conteúdo, para começar [...] são um passo importante e
um raio de esperança", disse Fidan na abertura da reunião sobre a Ucrânia
na Suíça.
O ministro especificou que esta conferência "seria
mais orientada para os resultados se representantes da Rússia estivessem
presentes aqui na sala".
Fidan acrescentou que a Turquia acredita na necessidade
de uma solução abrangente e inclusiva para o conflito através de meios
diplomáticos.
O ministro observou também que Ancara está sempre pronta
para acolher novas negociações entre Moscou e Kiev.
Na sexta-feira (14), o presidente russo, Vladimir Putin,
delineou um plano para um cessar-fogo imediato e o início de conversações de
paz com a Ucrânia, que consiste em quatro condições essenciais.
A proposta apresentada pelo presidente Putin prevê um
cessar-fogo imediato e o início de conversações de paz com a Ucrânia que
consistem em quatro condições indispensáveis: a retirada das tropas de Kiev dos
territórios recém-integrados à Rússia (as repúblicas de Donetsk e Lugansk e as
regiões de Kherson e Zaporozhie); a rejeição pela Ucrânia dos planos de aderir
à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); "um status neutro, não
alinhado e não nuclear da Ucrânia"; e o fim de todas as sanções ocidentais
contra a Rússia.
·
Brasil se recusa a assinar declaração final da
conferência sobre a Ucrânia na Suíça
O Brasil, junto com outros países, recusou assinar a
declaração final da conferência, por discordar das conclusões indicadas no
documento.
Os países do BRICS que participaram da conferência sobre
a Ucrânia na cidade suíça de Burgenstock, incluindo o Brasil, se recusaram a
assinar o comunicado conjunto sobre os resultados das negociações, se depreende
da lista de países que assinaram o comunicado.
No início de domingo (16) Dmitry Kuleba, ministro das
Relações Exteriores da Ucrânia, anunciou que o texto da declaração da cúpula
sobre a Ucrânia estava pronto e que todas as posições de princípio de Kiev
haviam sido levadas em consideração.
O documento foi assinado por 84 das mais de 100 nações e
organizações participantes do evento, mas a África do Sul, Arábia Saudita,
Armênia, Bahrein, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Líbia,
México, Santa Sé e a Tailândia não o assinaram.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, apresentou na
sexta-feira (14) novas propostas de paz para resolver o conflito na Ucrânia,
que preveem o reconhecimento do status da Crimeia, das repúblicas populares de
Donetsk e Lugansk, e das regiões de Kherson e Zaporozhie como russas, a
consolidação do status da Ucrânia como país não alinhado e livre de armas
nucleares, sua desmilitarização e desnazificação e ainda o cancelamento das
sanções impostas à Rússia. O lado ucraniano rejeitou a iniciativa.
A conferência sobre a Ucrânia foi realizada neste sábado
(15) e domingo (16), perto da cidade suíça de Lucerna, no resort de
Burgenstock. Noventa e dois países, 55 chefes de Estado confirmaram sua
participação, bem como oito organizações, incluindo a UE, o Conselho da Europa
e a ONU. Joe Biden, Xi Jinping e Lula da Silva, presidentes dos EUA, da China e
do Brasil, respetivamente, não compareceram à conferência.
A Suíça não convidou a Rússia para participar da cúpula,
enquanto Moscou afirmou que não teria participado de qualquer forma. O Kremlin
disse que era absolutamente inútil procurar opções para resolver a situação no
conflito ucraniano sem a participação da Rússia.
Fonte:
A Terra é Redonda/Sputnik Brasil
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