terça-feira, 25 de março de 2025

Crime organizado e internet impulsionam agrotóxicos ilegais

Nos últimos anos, a preocupação com o uso de agrotóxicos no Brasil ganhou maior destaque, acompanhada de um avanço na aplicação destes produtos de forma irregular no país. Com a facilidade das vendas online, os agrotóxicos ilegais, muitas vezes contrabandeado de países vizinhos, encontraram terreno fértil para ampliar sua presença no campo.

As estimativas do setor são de que 25% dos agrotóxicos que circulam no Brasil sejam irregulares. Em 2023, a Polícia Federal apreendeu 575 toneladas destes produtos, quase 180% mais que em 2022. Em 2023, o Ministério da Agricultura apreendeu 422,9 toneladas e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) 195,7 toneladas.

Na maioria das vezes, os insumos são apreendidos em rodovias ou em fiscalizações em propriedades rurais. O mercado ilegal é composto por uma cadeia dividida em contrabando, roubo de cargas, falsificação de produtos e desvio de finalidade na utilização de princípios ativos importados.

A atração para os compradores está especialmente nos preços, pois esses insumos de origem ilegal tendem a ser mais baratos que as opções regulamentadas. Observadores apontam que a alta do dólar nos últimos anos, ao tornar os produtos legalizados mais caros, impulsionou a demanda no mercado paralelo.

Além disso, há substâncias que são permitidas em países vizinhos, mas não no território brasileiro, como no caso do paraquat, proibido no país desde 2020 devido aos riscos para a saúde, que vão desde câncer à doença de Alzheimer. Na União Europeia, a substância é banida desde 2007. O Paraguai é uma das portas de entrada do insumo proibido no Brasil. Importante de países como China e Índia, o paraquat é vendido legalmente no Paraguai. Depois, a substância ingressa por via terrestre no Brasil, com destaque para o Paraná.

·        Crime organizado

O grande mercado chamou a atenção do crime organizado. Recentemente, a Operação Mafiusi da Polícia Federal destacou os agrotóxicos entre os produtos comercializados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), assim como drogas e cigarros, além de outras atividades mais tradicionais para o crime.

"Não importa tanto o produto, são quadrilhas especializadas em logística", afirma Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). Em sua visão, a possibilidade de transportar diferentes mercadorias, muitas vezes no mesmo veículo, propicia a ascensão do crime organizado, que vai se apropriando das rotas no país.

Barros lembra que, além do uso de produtos inadequados para a produção nacional, há riscos no descarte das substâncias tóxicas ilegais. No caso de produtos regulamentados, a ampla maioria das embalagens segue rigorosos padrões sanitários. No caso irregular, segundo ele, diante da falta de fiscalização e impossibilidade de usar os descartes legais, os recipientes são enterrados ou queimados, o que causa ainda maiores danos ambientais e potencialmente à saúde da população local.

·        Legislação só no papel

Para muitos produtores, as práticas no campo são bem distantes das regulamentações e permissões dos organismos de controle. Eric Gustavo Cardin, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), conversou com uma série de agricultores na região nos últimos anos, e afirma que há um perfil que chega a "dar risadas" das mudanças de legislações referentes à questão.

De acordo com Cardin, aqueles com maior capacidade de investimento costumam ter mais cuidados com eventuais transgressões, no entanto, há outros que veem no uso de substâncias ilegais uma forma de aumentar a rentabilidade de seus negócios. "Agrotóxicos são caros, se alguém pode ter uma diminuição do custo com relação a esta mercadoria, muitas vezes opta por essa alternativa."

Nestes casos, muitos pedem os insumos ilegais pela internet. "Muitos conhecem os vendedores no Paraguai, sendo comum o envio cruzando a fronteira", aponta. "Especialmente na região de fronteira no oeste do Paraná, é algo muito comum."

·        Facilidade online

Em outras regiões do Brasil, a facilidade que marketplaces oferecem para o envio de agrotóxicos irregulares cumpre papel "significativo" na expansão do mercado, avalia Barros. Em sites especializados do setor, produtos como o paraquat são oferecidos para entrega em todo o país, algo que também ocorre em comunidades do Facebook que contam com dezenas de milhares de seguidores.

·        Agrotóxicos: banidos na Europa, mas livres no Brasil

Questionada sobre o tema, a Meta, empresa que controla a rede social, enviou um link para a política de produtos e serviços restritos da plataforma. Após a companhia ser notificada sobre os anúncios, alguns não estavam mais disponíveis. Nestes casos, deveria haver maior atuação das plataformas, aponta Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCPI). "Existem condições para isso, como o controle com algoritmos. Sabemos que há ferramentas disponíveis", avalia.

Segundo ele, nos últimos anos, houve movimentos distintos entre as empresas do setor, com alguns marketplaces aderindo mais ao controle de conteúdo do que outros. Para Vismona, o Brasil é tratado como um "mercado marginal" por certas companhias que não são originárias do país, o que favorece a oferta de produtos proibidos no território nacional.

Frequentemente, plataformas alegam não poder exercer censura prévia, e pedem que violações sejam denunciadas pelos próprios usuários para a retirada de conteúdos. Para Vismona, este movimento "delega para as vítimas o controle, sendo que são as empresas que detém o poder". Além disso, ele argumenta que a questão se trata do Código de Defesa do Consumidor, não de liberdade de expressão.

·        Legislação comum e acordo com UE

Uma proposta frequente de envolvidos no tema é a de que o Mercosul adote uma legislação comum sobre substâncias permitidas no bloco, similar a que está em vigor na União Europeia (UE). Desta forma, as disparidades que permitem a circulação legal de produtos como o paraquat no Paraguai seria eliminada, o que, em tese, facilitaria o controle.

Barros vê a possibilidade com ceticismo, apontando que uma paridade nas legislações teve pouco avanço em instâncias como o Parlasul, o parlamento do Mercosul. Cardin lembra ainda que a capacidade de execução interna no bloco é reduzida, com aprovações de temas por consenso sendo difíceis, especialmente em momentos de divergências políticas entre os países.

No entanto, ele observa que o fechamento de um acordo com a UE poderia ser um "fator novo" para exercer pressão sobre o tema. Segundo Cardin, o Paraguai se encontra em uma posição "confortável", mas uma maior cobrança internacional para que o país adotasse legislações mais restritivas em conformidade com regras em vigor no exterior poderia ser um caminho para mudanças.

¨      Em decisão unânime, STF derruba presunção de boa-fé no garimpo de ouro

A presunção de boa-fé no comércio de ouro no Brasil, criada por um “jabuti” [matéria estranha ao tema principal] na lei 12.844/13, foi uma “porteira aberta” para a expansão do garimpo ilegal no país. Mas, na 6ª feira (21/3), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade extinguir o mecanismo, pelo qual a palavra do vendedor era suficiente para atestar a procedência do metal na comercialização. A decisão se deu a partir de ações ajuizadas na corte por PSB, PV e Rede Sustentabilidade.

Com o fim da presunção de boa-fé, quem compra ouro passa a ter que comprovar a origem legal do minério. Uma medida que dificulta a comercialização do metal extraído de áreas ilegais, como reservas ambientais e Terras Indígenas, explica o Valor.

Uma liminar de abril de 2023 do ministro Gilmar Mendes, do STF, relator do processo, já havia suspendido a presunção, provocando uma forte queda no volume de ouro extraído. Dados do Instituto Escolhas apontam uma redução de 31 toneladas para 17 toneladas de 2022 para 2023, relata o Capital Reset. E no 1º semestre de 2024, mostra o Escolhas, a produção foi 84% inferior a igual período do ano anterior, informa a Amazonia Press.

A liminar não foi a única medida que estancou a comercialização de ouro proveniente de garimpo ilegal no país. Em março de 2023, a Receita Federal estabeleceu a exigência de emissão de nota fiscal eletrônica na compra e venda do metal.

Em seu voto, Gilmar destacou que a autodeclaração de boa-fé exclusivamente pelos vendedores do metal constitui em estímulo ao garimpo ilegal, destaca a CNN. Além do fim do mecanismo, o ministro determinou que a União estabeleça um novo marco normativo para a fiscalização do comércio do ouro, especialmente quanto à verificação da origem do ouro adquirido por Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMS), bem como o estabelecimento de medidas para impedir a aquisição de ouro extraído de Áreas de Proteção Ambiental e de TIs.

¨      Técnicos acusam Silveira de constrangimento institucional contra IBAMA

As últimas falas do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre o IBAMA e seu presidente, Rodrigo Agostinho, indignaram ainda mais a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (ASCEMA Nacional) e organizações da sociedade civil. Árduo defensor da exploração de petróleo e gás na foz do Amazonas a qualquer custo, inclusive ambiental e climático, Silveira subiu o tom nas últimas semanas e disse que Agostinho “está receoso e não tem coragem” de decidir sobre a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco 59, na foz.

A ASCEMA acusa Silveira de provocar constrangimento institucional contra o IBAMA, relatam Folha e Metrópoles. “As reiteradas manifestações públicas do ministro, sugerindo falta de coragem por parte de Agostinho, configuram uma tentativa de constrangimento institucional e demonstram total desrespeito às normas do licenciamento ambiental no Brasil, o que não é compatível com o cargo que ocupa e deveria honrar”, frisou a associação, em nota.

A associação pontua que o IBAMA atua de forma técnica e que o parecer sobre a liberação [ou não] da licença para a Petrobras perfurar um poço na foz do Amazonas seguirá “rigorosamente a legislação”. “Não cabe a agentes externos tentar interferir sobre decisões técnicas, especialmente quando essas declarações partem de membros do próprio governo”, reforçou a ASCEMA.

A escalada da pressão também preocupa especialistas, destaca O Globo. Atropelar o posicionamento institucional não apenas gera mal estar, como fragiliza as instituições e os processos técnicos do poder público, sobretudo numa função tão importante e cara ao Brasil, como é a proteção ambiental, frisou Rarisson Sampaio, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Diretor-executivo do Centro Clima no Brasil, Guilherme Syrkis teme que se repita o que se viu na liberação da licença para a hidrelétrica de Belo Monte, uma tragédia ambiental instalada no rio Xingu mesmo diante das recomendações negativas do IBAMA. “Caíram três presidentes do IBAMA até que um foi contra a equipe técnica e autorizou a instalação de Belo Monte. O resultado a gente conhece”, lembrou Syrkis.

A expectativa de Sampaio e Syrkis é que Agostinho negue a licença, seguindo o parecer dos técnicos do órgão ambiental. “Espera-se que o presidente do IBAMA decida pelo indeferimento do pedido e determine seu arquivamento. A decisão precisa ser terminativa. Já temos um parecer e ele foi negativo. O que acontece é um prolongamento indevido de um processo que há muito deveria ter sido arquivado. À Petrobras ainda cabe o direito de voltar à estaca zero e iniciar um novo processo, o qual passará por uma nova análise do IBAMA, refazendo toda a avaliação de impacto”, explicou Sampaio.

  • Em tempo 1:

Em relação à cobrança de Alexandre Silveira por uma reunião presencial com Agostinho, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o encontro ocorrerá após a viagem do presidente Lula ao Japão, e com sua participação, informam Folha e agência eixos. Marina irá acompanhar Lula, e a comitiva presidencial deverá estar de volta ao país no fim desta semana. A ministra voltou a explicar algo que Silveira já deveria saber de cor: a decisão sobre a licença para exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas cabe ao IBAMA e segue critérios técnicos. E não há visita de ministro ao órgão ambiental que possa mudar isso, já disse Marina.

  • Em tempo 2:

A pressão de Lula sobre o IBAMA – o presidente acusou o órgão de “lenga lenga” e de agir “contra o governo” na licença para a Petrobras perfurar um poço na foz do Amazonas – põe em xeque a credibilidade do Brasil como potência da diplomacia climática. Mas o problema é muito maior que esse embate inadequado, avaliam Juliano Bueno de Araújo e Nicole Figueiredo, do Instituto Arayara, e Maurício Terena, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e envolve o que o Brasil planeja para sua transição energética. “Resistir ou sucumbir à indústria do petróleo é uma decisão com altos impactos ambientais, econômicos e políticos de longo prazo. O país anfitrião da COP30 se apresenta como defensor da transição energética ao mesmo tempo em que as decisões oficiais priorizam os combustíveis fósseis, que aquecem o planeta. Não é possível acender as mesmas velas a Deus e ao Diabo”, apontam em artigo no Jota.

  • Em tempo 3:

O vazamento de petróleo no Equador aumentou a preocupação com a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Para Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA e coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, o número recorde de acidentes em instalações de exploração e produção de petróleo e gás em alto mar registrado no Brasil em 2024 é um mau sinal, disse na “Conversa Bem Viver”, do Brasil de Fato. “Acho que os acidentes vão aumentar na medida que aumenta a produção. O Brasil hoje é o oitavo maior produtor de petróleo do mundo, tem um plano de se tornar o quarto maior produtor. A ambição é grande nesse sentido, infelizmente, porque em plena crise climática, isso não guarda coerência com a ambição do governo de se tornar um líder climático”, argumentou.

 

¨      ‘Temos que saber das consequências de uma grande expansão de petróleo em plena crise climática’, diz ex-presidenta do Ibama

O caso de vazamento de petróleo no Equador, que começou no fim da semana passada, despertou novamente o alerta para os riscos que a pesquisa na Margem Equatorial brasileira pode trazer.

O vazamento, iniciado em Esmeraldas, na fronteira com a Colômbia, atingiu os rios da cidade equatoriana de Quinindé no último domingo (15) e já afetou cerca de 500 mil pessoas. A situação fez o governo do Equador decretar emergência ambiental.

No Brasil, se discute a possibilidade de pesquisa na Margem Equatorial para descobrir se há petróleo ou não para explorar na região. Mas a atividade depende de autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e gera polêmica entre os órgãos ambientalistas e o governo Lula, que pressiona pela licença.

Para Suely Araújo, ex-presidenta do Ibama e coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, uma situação como a que está passando o Equador é muito difícil de ser resolvida. A especialista comentou o caso na Conversa Bem Viver desta sexta-feira (21).

“Esse tipo de acidente realmente pode pegar dimensões enormes em termos dos seus efeitos. Os acidentes em relação ao petróleo, de uma forma geral, seja na exploração, seja no transporte do óleo nos dutos, ocorrem com alguma frequência e, na maior parte dos casos, não em grandes dimensões. Mas ocasionalmente, sim, você pode gerar verdadeiras tragédias”, explica Araújo.

“Então, você demora anos, na verdade, para recuperar de uma situação como a que está ocorrendo no Equador. Não é nada simples. Você afeta toda a biota, fauna, flora, todo o equilíbrio ecológico da região afetada. E os efeitos perduram por muito tempo.”

Ela lembrou o vazamento de óleo em praias do nordeste brasileiro a partir do fim de agosto de 2019 e que acabou atingindo também a região sudeste, nos litorais de Espírito Santo e Rio de Janeiro.

“Provavelmente foi óleo [vazado] de um navio específico. As autoridades nunca souberam a origem e o óleo se espalhou por toda a nossa Costa, com efeitos graves que até hoje não sabemos exatamente o tamanho disso tudo. Tivemos manguezais afetados, tivemos uma área grande realmente alcançada em grande parte do nosso litoral. A atividade de exploração, produção e uso do petróleo realmente não está isenta de ocorrência desse tipo de problema, por mais rigor que as empresas tenham em todo esse processo”, alerta.

<><> Contradição

Um relatório da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) revelou que, em 2024, foram registrados 731 acidentes envolvendo exploração de petróleo no Brasil, número maior do que o registrado em 2023. 183 pessoas ficaram feridas, sendo 78 com gravidade, e uma morreu. A tendência é o número de acidentes aumentar, segundo a especialista do Observatório do Clima.

Suely destaca ainda a contradição do governo brasileiro em relação ao assunto. “Eu acho que os acidentes vão aumentar na medida que aumenta a produção. E o Brasil tem aumentado a produção. O Brasil hoje é o oitavo maior produtor de petróleo do mundo, com 3,4 milhões de barris por dia. Tem um plano de se tornar o quarto maior produtor, e competir lá com a com a Arábia Saudita. A ambição é grande nesse sentido, infelizmente, porque em plena crise climática, isso não guarda coerência com a ambição do governo de se tornar um líder climático”, argumenta.

“Há uma contradição entre querer ser um líder climático e ter planos de intensificar – e muito – a produção. Quando nós aumentamos a produção, nós aumentamos a possibilidade de acidentes.”

A ex-presidenta do Ibama também comentou o problema do desmatamento e das queimadas no Brasil, que viveu uma “tragédia”, nas palavras dela, porque os governos – federal, estaduais e municipais – tiveram atuação aquém do necessário. E apontou como prevenir a situação em 2025.

Confira abaixo outros trechos da entrevista:

·        A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falou nesta semana sobre esses debates que estão acontecendo em torno do licenciamento ou não da exploração de petróleo Foz do Amazonas. E ela declarou que “os técnicos estão apresentando o seu parecer e a decisão será uma decisão técnica, seja para sim ou para não, porque os processos do empreendimento têm a ver com tudo isso”. Mesmo com muita influência e pressão, a gente pode acreditar nessas palavras da ministra, que será uma decisão técnica?

Em tese, sim, porque o titular dessa decisão, a pessoa que tem o poder máximo sobre esse tipo de decisão no país, é o presidente do Ibama. E não cabe recurso, nem à ministra do Meio Ambiente, nem ao próprio presidente Lula. Então, pela legislação, a palavra final é do presidente do Ibama.

Agora, internamente, o Ibama passa por pareceres técnicos da equipe. Houve notícia, mas ninguém obteve o parecer de que a equipe teria sugerido novamente a rejeição da perfuração no bloco 59, mas nós não tivemos acesso. Saiu em alguns jornais 15 dias atrás e a partir daí o processo vai para os computadores dos coordenadores de área, depois para diretora de licenciamento do Ibama, a Cláudia [Jeanne Barros]. E a Cláudia manda uma sugestão de posicionamento para o presidente. É assim que funciona internamente.

Tem casos em que a equipe nega ou aprova e o presidente pode mudar isso? Pode. A decisão final é do presidente, mas ele tem que fundamentar tecnicamente se ele for contrariar a equipe. É isso que nós temos que esperar. Eu realmente torço para que não haja influência política na decisão final do órgão.

De licenças iguais a essa, desde 2007, o Ibama já deu mais de 2 mil licenças, está negando uma e o mundo tá caindo. Na verdade, o não deveria ser assumido como uma coisa natural, porque o Ibama dá muito mais sim no licenciamento, mas muito mais do que rejeita. Por que veio a primeira rejeição em 2023? Porque aquela região é uma região muito sensível, pouco estudada, com correntes fortíssimas e tudo isso potencializa acidentes mesmo na perfuração, mesmo antes da época de produção. E se ocorrer um acidente, em poucas horas esse óleo estaria em águas da Guiana Francesa.

Então tem condições bem específicas lá do bloco 59. Quando eu estava na presidência do Ibama, eu neguei a perfuração de cinco blocos para a empresa Total do lado do bloco 59, pelas mesmas razões. A Total vendeu o controle para Petrobras e hoje esses cinco blocos que eu neguei estão sendo relicenciados no Ibama. É uma região com características muito particulares e, na verdade, esse não, na minha opinião pessoal, deveria ser aceito. E por que essa pressão toda em cima do bloco 59? Eles não sabem se tem petróleo lá. Eles podem perfurar e não dar nada. Isso ocorre com muita frequência em petróleo. Porque eles têm uma aposta de que a bacia sedimentar da Foz do Amazonas tem muito óleo.

 

Fonte: DW Brasil/ClimaInfo/Brasil de Fato

 

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