terça-feira, 25 de março de 2025

Clamídia, gonorreia e outras ISTs podem causar infertilidade; entenda relação

As ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) são quadros perigosos para a saúde, e que podem prejudicar inclusive a fertilidade de homens e mulheres. No caso delas, é comum que estas infecções causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos afetem a tuba uterina, que faz árte do trajeto do espermatozoide até o óvulo. Já nos homens, regiões como a uretra, próstata ou epidídimo podem ser prejudicados, o que compromete a qualidade e passagem do sêmen.

“Um dos maiores problemas das ISTs é que são frequentemente doenças silenciosas. Ao não apresentarem sintomas, as pessoas não procuram tratamento médico, o que agrava o quadro, podendo causar a infertilidade”, explica o ginecologista Roberto de Azevedo Antunes, especialista em reprodução assistida e diretor da clínica Fertipraxis.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que esses quadros sejam responsáveis 25% dos casos de infertilidade. Entenda melhor como cada um deles afeta a capacidade reprodutiva de quem os contrai.

<><> Clamídia e gonorreia

Essas ISTs costumam estar relacionadas ao surgimento de um quadro chamado de doença inflamatória pélvica nas mulheres. “Essa infecção pode gerar, em muitas ocasiões, lesões irreversíveis em trompas. Sua maior dificuldade se dá no diagnóstico em tempo hábil para evitar essas lesões”, explica o ginecologosta e obstetra Roberto de Azevedo Antunes, diretor da clínica Fertipraxis.

“Em homens, muitas vezes elas podem levar a quadros de uretrite e prostatite, que pode diminuir a qualidade seminal”, explica o especialista. Isso faz com que a concepção seja mais difícil, já que um sêmen com menos qualidade possui gametas menos capazes de chegar aos ovários para fecundar os óvulos.

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<><> HPV

HPV é a IST de maior incidência no mundo e alguns subtipos desse vírus podem causar verrugas genitais ou lesões pré-malignas. Essas lesões não costumam causar diretamente a infertilidade, mas a forma como são cuidadas pode. “Dependendo do tipo de tratamento implicado na ressecção de lesões pré-malignas do colo uterino, podem ocorrer estenoses cervicais que dificultem a gravidez, ou, eventualmente, incompetência do colo uterino após uma gravidez, que evolua para quadros de abortamentos tardios e partos prematuros”, considera o especialista.

<><> Tricomoníase e sífilis

Esses dois quadros não costumam causar problemas de fertilidade diretamente, mas são indicaditovs de que é preciso ter cuidado. “A tricomoníase predispõe a paciente a outras ISTs, como a clamídia, que causa infertilidade. A infecção pode causar também a doença inflamatória pélvica (DIP), que caso não tratada adequadamente pode gerar infertilidade”, explica Antunes.

Já sífilis é uma doença em “franca ascensão”, como reforça o ginecologista. “Ela usualmente serve como um marcador importante de exposição a outras bactérias transmissíveis sexualmente que podem gerar lesões tubárias em mulheres e quadros de prostatite nos homens”, conclui o especialista.

<><> E o HIV, atrapalha a fertilidade?

Por fim, é importante reforçar que o vírus HIV não impede a fertilidade, mas tê-lo pede cuidados e monitoramento durante a gravidez: de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, “em gestações planejadas, com intervenções realizadas adequadamente durante o pré-natal, o parto e a amamentação, o risco de transmissão vertical do HIV é reduzido a menos de 2%. No entanto, sem o adequado planejamento e seguimento, está bem estabelecido que esse risco é de 15% a 45%”.

O documento enfatiza que o tratamento à risca de pessoas vivendo com HIV com antiretroviral, de modo que estejam com a carga viral indetectável há pelo menos seis meses, inviabiliza a transmissão do vírus por via sexual, mas que o parceiro que não tenha o vírus pode fazer uso de PrEP como forma de prevenção, caso deseje.

De modo geral, caso o membro soropositivo do casal esteja usando o medicamento antiretroviral e esteja com carga viral indetectável há seis meses, a relação sexual sem preservativo é considerada a primeira opção para concepção, de acordo com o protocolo. Antunes reforça, ainda, que a reprodução assistida pode ajudar a reduzir mais ainda os riscos de transmissão do HIV.

<><> Prevenção é fundamental!

Por fim, é importante lembrar como prevenir-se das ISTs é fundamental para a manutenção da saúde não apenas reprodutiva, mas como um todo. O uso de camisinha é capaz de evitar a contaminação por todas essas infecções, mas geralmente é lembrado apenas como método contraceptivo.

No entanto, caso você ou sua parceria tenham sido acometidos por uma dessas doenças, é importante investigar como está sua saúde reprodutiva. Nesses casos é preicso entender se os quadros já foram ou precisam ser tratados. Caso as infecções estejam contidas ou controladas, tércnicas de reprodução assistida pode ser uma alternativa para driblar problemas na qualidade seminal ou lesões nas trompas.

¨      Fumar prejudica a fertilidade tanto de homens como de mulheres

Que o cigarro provoca uma enorme lista de malefícios ao organismo não é novidade para ninguém. O que muita gente não imagina é que as mais de 4 mil substâncias tóxicas podem prejudicar também os planos de ter um filho biológico. Alguns estudos mostram que os danos para a fertilidade podem atingir tanto homens como mulheres.

Um dos mais recentes foi publicado em agosto no periódico Journal of Clinical Medicine. Conduzido por pesquisadores da Itália, o trabalho mostrou que metais pesados, como o cádmio e o chumbo, encontrados no cigarro convencional, se acumulam nos testículos e prejudicam o funcionamento dessas glândulas, podendo levar à infertilidade.

Já uma revisão divulgada em setembro no jornal científico Journal of Applied Toxicology demonstrou que a nicotina pode comprometer as funções ovarianas, prejudicando a capacidade reprodutiva feminina.

Mas os efeitos danosos do fumo vão muito além desses. “Pesquisas já revelaram que ao menos 100 substâncias presentes no cigarro possuem ação direta e conhecida sobre a saúde reprodutiva e podem comprometer a fertilidade masculina e feminina”, relata o ginecologista e especialista em reprodução assistida João Antonio Dias Junior, do Grupo de Pesquisa em Saúde da Mulher do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo o médico, os efeitos vão desde a diminuição da quantidade e qualidade dos gametas até interferências hormonais que regulam todos os processos reprodutivos. Em homens e mulheres fumantes, o risco de não conseguir engravidar é duas vezes maior do que entre aqueles que não fumam, conforme aponta a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.

<><> Substâncias que prejudicam a fertilidade

Alguns elementos presentes no cigarro são especialmente nocivos. A nicotina, por exemplo, tem efeito vasoconstritor, diminuindo o fluxo sanguíneo para os órgãos reprodutivos. “Nas mulheres isso pode dificultar a ovulação e causar a perda precoce dos óvulos, diminuindo a reserva ovariana, o que leva à antecipação da menopausa. Também pode atrapalhar a receptividade do endométrio, reduzindo as chances da implantação do embrião”, afirma Dias Junior.

A nicotina contribui ainda para piorar o funcionamento das tubas uterinas, o que compromete o encontro entre óvulos e espermatozoides, além de prejudicar a migração do embrião para dentro do útero. Isso ainda eleva o risco de uma gravidez ectópica, que é quando o embrião se implanta fora do útero.

Nos homens, a substância afeta a produção e a mobilidade dos espermatozoides, reduzindo a quantidade de gametas saudáveis. Ela ainda está associada ao aumento do estresse oxidativo nos testículos, o que pode resultar em danos ao DNA dos gametas masculinos.

Já o alcatrão, que é um resíduo do fumo do cigarro e que tem várias substâncias químicas, pode danificar o DNA dos óvulos e dos espermatozoides, comprometendo a qualidade dos embriões formados, o que diminui as chances de gravidez e aumenta o risco de aborto espontâneo.

Além disso, a exposição prolongada tende a elevar a produção de radicais livres, levando a um ambiente inflamatório — nos homens, pode piorar a morfologia dos espermatozoides e, nas mulheres, o ambiente do endométrio, o que dificulta o processo de implantação do embrião.

O monóxido de carbono, por sua vez, reduz a capacidade de o sangue transportar oxigênio. Isso pode prejudicar a oxigenação dos tecidos ovarianos e endometriais, além de diminuir a reserva ovariana e impactar na receptividade do endométrio à implantação do embrião. Nos homens, a substância pode afetar a produção de espermatozoides.

O formaldeído, conhecido também como formol, pode contribuir para um ambiente inflamatório nos órgãos reprodutivos, o que potencialmente afeta a função do endométrio e pode ainda causar danos ao DNA, incluindo os óvulos e os espermatozoides.

“Por todas essas razões, fica claro porque quem fuma tem tanto risco de ficar infértil”, observa o ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa, membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH). “Estudos já apontaram que as mulheres que fumam 10 cigarros por dia têm a fertilidade reduzida em 25% e, no caso daquelas que fumam uma quantidade ainda maior, esse índice aumenta para 43%.”

<><> Fumar atrapalha até FIV

Os efeitos do tabagismo impactam negativamente, inclusive, quem se submete a uma fertilização in vitro (FIV). “Em mulheres, observamos um menor número de óvulos e pior qualidade dos gametas, além da diminuição do embrião transferido para o interior do útero para acontecer a implantação”, conta Dias Júnior. Além disso, o hábito de fumar pode exigir doses mais altas de medicamentos para estimulação ovariana. Todos esses fatores comprometem o sucesso do tratamento e aumentam seus custos.

“Trabalhos científicos já demonstraram que mulheres fumantes necessitam de duas vezes mais tentativas de fertilização in vitro do que as não fumantes”, conta Rosa. As tabagistas têm taxas de gravidez 30% menores em comparação com as mulheres que passam pelo mesmo procedimento e não têm esse hábito, de acordo com a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.

A única forma de evitar que o cigarro prejudique a fertilidade é parar totalmente de fumar, o mais rápido possível. Os especialistas ouvidos pela Agência Einstein afirmam que, em cerca de três meses, os danos começam a ser revertidos. “Por isso, o ideal é que o indivíduo do casal que fuma abandone o cigarro pelo menos 90 dias antes de iniciar as tentativas”, orienta Rosa.

Alguns danos, porém, podem levar mais tempo para retroceder ou mesmo durar para sempre. “Os prejuízos à qualidade dos gametas podem demorar seis meses e os efeitos sobre a reserva ovariana são irreversíveis”, afirma o médico do Einstein.

 

Fonte: CNN Brasil

 

 

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