quarta-feira, 26 de março de 2025

Sara Goes: 25 de março, liberdade, Dragão do Mar e Bolsonaro

Poucas palavras sofreram tanto quanto "liberdade" nos últimos anos. Arrancada das mãos de quem a construiu com luta, ela foi apropriada por quem sempre a combateu. Foi gritada em atos golpistas, impressa em camisetas que pediam ditadura, usada como pretexto para sabotar vacinas, zombar dos mortos, atacar a democracia.

E é por isso que o 25 de março de 2025 carrega um simbolismo que precisa ser explicado aqui:Neste dia, o Ceará celebra sua Data Magna, quando, em 1884, se tornou o primeiro estado brasileiro a abolir oficialmente a escravidão — quatro anos antes da Lei Áurea. E será também neste dia que Jair Bolsonaro, o homem que sequestrou a palavra liberdade para justificar o autoritarismo, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.

É a História cobrando coerência.

A Data Magna não é um feriado protocolar. Ela carrega o gesto de um povo. De um movimento abolicionista popular e urbano. E de um trabalhador que o Brasil inteiro deveria conhecer: Chico da Matilde, o Dragão do Mar.

Jangadeiro de profissão, livre por nascimento, tornou-se símbolo de coragem ao recusar-se a transportar pessoas escravizadas do porto de Fortaleza até os navios negreiros. Seu gesto interrompeu o tráfico humano e acelerou o processo abolicionista no Ceará. Ele não esperou leis, não implorou favores da Corte. Ele desobedeceu — por consciência.

Enquanto o Dragão do Mar travava o comércio de escravizados com um remo nas mãos, Bolsonaro tentou travar a democracia com uma minuta na gaveta e um golpe no horizonte. Enquanto um atuava em nome da vida, o outro agia contra ela.

A coincidência da data não é apenas histórica. É política. O julgamento de Bolsonaro no dia da liberdade cearense é também a oportunidade de devolver a palavra “liberdade” ao seu verdadeiro campo: o da luta coletiva, da dignidade, da recusa à tirania.

A liberdade de Bolsonaro era a liberdade para os seus — os mesmos que se dizem "cidadãos de bem" enquanto pedem tanques nas ruas. A liberdade de Chico da Matilde era para todos — especialmente para os que nunca a tiveram.

Que o Brasil reconheça essa diferença. E que o 25 de março marque, mais uma vez, a escolha pelo lado certo da História.

A liberdade não é silêncio. É coragem. Não é concessão. É conquista. E jamais será sinônimo de impunidade.

¨      "Defesas não negaram a tentativa de golpe", destaca Pedro Serrano

O jurista Pedro Serrano usou as redes sociais para afirmar que as defesas de Jair Bolsonaro (PL) e dos demais acusados por tramar um golpe de Estado atuaram de forma "muito competentes tecnicamente" ao negarem a participação de seus clientes nos crimes dos quais são acusados pela Procuradoria-Geral da República, mas ressaltou que nenhum dos advogados negou o fato de que existiu uma tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder após ele ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.

"As defesas, diligentes e muito competentes tecnicamente, levantam questões formais de validade do processo, negam autoria de seus clientes e outros oportunos argumentos. Nenhuma negou o fato de uma tentativa de golpe no Brasil, a materialidade do delito é de impossível refutação. Parabéns à Polícia Federal por sua investigação histórica!", postou o jurista.

A postagem foi feita pouco após o intervalo da sessão desta terça-feira (25), que analisa a denúncia que poderá tornar o ex-mandatário réu no processo relacionado à intentona golpista. Além de Bolsonaro, são denunciados no caso a ser julgado pelo STF, entre outros, o general da reserva Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e o general da reserva Walter Braga Netto, que além de ministro da Casa Civil e da Defesa de Bolsonaro foi seu vice na chapa na eleição de 2022.

Apresentada em fevereiro, a denúncia contra Jair Bolsonaro e os demais integrantes do núcleo central da tentativa de golpe de Estado, que culminou nos atos golpistas de 8/1/2023, está sendo analisada pela Primeira Turma do STF, composta pelos ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Flávio Dino, Alexandre de Moraes — relator do caso — e Cristiano Zanin, que preside o colegiado.

¨      Quem alcançará o copo d’água para o chefe do golpe? Por Moisés Mendes

O chefe do golpe apareceu e está sentado na primeira fila no STF. Ninguém, nem o mais perspicaz dos adivinhadores, previu essa cena. A partir de agora, o próximo gesto também é imprevisível.

Pelo roteiro das últimas atuações, os ministros devem estar preparados para choro, desmaio ou algum outro chilique para o vídeo que irá circular nas redes.

Quem irá alcançar o copo d'água para o chefe do golpe? Um miliciano, um grileiro, um garimpeiro da Faria Lima? Algum emissário de Musk e das big techs? Um militar que, por descuido, ficou de fora do golpe?

Um mané, desses abandonados por eles no 8 de janeiro? Um tio do zap que planeja o próximo golpe com um grande financiador ainda impune das milícias digitais? 

Sergio Moro, Deltan Dallagnol? Moro daria o copo, pediria o copo de volta e beberia o resto? Braga Netto, se estivesse solto, alcançaria um copo d’água benta, com muita fé, para o chefe do golpe? 

Quem irá abanar um lenço sujo na cara do chefe do golpe e gritar: façam alguma coisa. Valdemar Costa Neto, que conseguiu escapar e não sabe direito o que fazer para não ser lembrado de novo? 

Valdemar ainda abanaria o lenço do centrão na cara do chefe do golpe? Tarcísio de Freitas alcançaria meio copo d’água com açúcar? A alma de Olavo de Carvalho? Malafaia? 

Alguém enviado pela Globo, que alcançaria o copo d’água e pediria para falar? Um colunista do Estadão? A Folha mandaria o copo d’água e um furgão manchado de sangue para ajudar no socorro? 

Carla Zambelli está fora, porque já não sabe mais nem onde achar a água. Arthur Lira e Davi Alcolumbre estão bebendo saquê no Japão. Neymar e Augusto Heleno estão com desconforto muscular.

Mas vamos nos preparar porque algo vai acontecer e alguém terá de socorrer o chefe do golpe. Uma afronta e depois um desmaio? Quem alcançará o copo d'água?

<><> Bolsonaro tenta reverter "fragilidade" e "intimidar" ministros ao comparecer a julgamento

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliaram que a presença de Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da denúncia contra ele, nesta terça-feira (25), teve como objetivo principal enviar sinais políticos aos seus apoiadores e também à própria Corte. 

De acordo com os magistrados ouvidos sob reserva pelo colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, a decisão de Bolsonaro de acompanhar presencialmente a sessão da Primeira Turma foi uma tentativa de demonstrar que “não é covarde” e que, mesmo diante da possibilidade de condenação, “não pretende fugir”.

Para os ministros, a atitude do ex-mandatário busca reverter a imagem de “fragilidade” que ele teria transmitido anteriormente ao se posicionar de maneira hesitante diante do inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado. A presença no Supremo seria uma estratégia de reconstrução dessa narrativa, mirando principalmente o eleitorado bolsonarista.

Além disso, integrantes da Corte interpretaram o gesto como uma tentativa deliberada de Bolsonaro de criar um “ambiente de intimidação” contra os ministros. No entanto, na avaliação dos magistrados, a ação não surtiu efeito. “Ele tentou pressionar, mas não conseguiu”, disse um dos ministros à coluna, em condição de anonimato.

¨      Janones: Bolsonaro pode tomar atitude drástica e 'clima é tenso' entre bolsonaristas

Começou nesta terça-feira (25) o julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 33 indiciados réus por tentativa de golpe de Estado, organização violenta e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Nesta terça, a Primeira Turma do STF deu início ao julgamento do Núcleo 1, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais7 pessoas: 

* Jair Bolsonaro, ex-presidente;
* Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
* Almir Garnier Santos; ex-comandante da Marinha do Brasil;
* Anderson Torres; ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
* General Augusto Heleno; ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência;
* Mauro Cid; ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência;
* Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
* Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.

De acordo com o deputado federal André Janones (Avante-MG), o “clima é tenso” entre os bolsonaristas, e há a possibilidade de Bolsonaro partir pro tudo ou nada e ir pra cima do ministro Alexandre de Moraes.

No entanto, Jair Bolsonaro foi alertado pelo seu advogado que, caso opte por agredir Alexandre de Moraes, pode ser preso de imediato.

"Acabei de sair do plenário aqui da Câmara, e o clima é muito tenso. Segundo os deputados da oposição, informação que Bolsonaro irá desacatar Alexandre de Moraes pessoalmente durante a leitura do seu relatório final. Segundo alguns deputados do PL, há até mesmo a expectativa de que ele parta pra cima do ministro ao final do julgamento", iniciou Janones.

Em seguida, Janones explica a estratégia de Bolsonaro: "O objetivo seria gerar conteúdos que, segundo a análise desses deputados, vão ‘rodar o mundo’ pela internet e reforçar a narrativa de perseguido político que eles tentam emplacar."

Janones conclui: "Bolsonaro foi alertado por seu advogado que, caso leve o plano adiante, poderá ser preso preventivamente, ali mesmo, e aguardar o julgamento já na cadeia. Será que ele manterá o plano de pé? É aguardar pra ver!"

¨      "Não é possível que o Brasil repita uma anistia equivocada e perversa", diz Hildegard Angel

O primeiro dia do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (25), foi marcado pela presença simbólica de personagens que carregam, na pele e na memória, as cicatrizes do autoritarismo. Filhos de Vladimir Herzog e Zuzu Angel, dois dos mais emblemáticos nomes entre as vítimas da ditadura militar brasileira, ocuparão a plateia do plenário, ao lado de ex-presos políticos, juristas e militantes dos direitos humanos, informa Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Para eles, trata-se de um momento inédito e histórico: pela primeira vez, agentes do Estado são julgados por atentar contra a democracia.

Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, viajou de São Paulo a Brasília acompanhado de seu filho Lucas, de 27 anos, neto do jornalista assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi. “Decidi ir ao julgamento porque é um momento histórico. Pela primeira vez no Brasil, agentes do Estado serão processados por atentarem contra a democracia”, afirmou Ivo. Ele também destacou a carga simbólica da data: 2025 marca os 50 anos do assassinato de Vlado.

A jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel, também estará presente. Sua participação vai além do gesto pessoal — é um ato de resistência e memória coletiva. “Tenho uma obrigação histórica, humana e pessoal de estar no julgamento. Pelos mortos, desaparecidos e os que têm vida a viver. Não é possível que o Brasil repita uma anistia equivocada e perversa”, declarou a jornalista do Brasil 247. A fala faz referência à Lei da Anistia, de 1979, que impediu a responsabilização de torturadores e assassinos da ditadura.

Outro nome que reforça a dimensão política do momento é o de Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos no governo Lula e ex-preso político. Ele teve um primo assassinado sob tortura. “É importante que lá estejam pessoas preocupadas com a democracia”, afirmou. “Na votação do impeachment de Dilma, Bolsonaro homenageou sonoramente o maior chefe da tortura, Brilhante Ustra”, relembrou, referindo-se à infame declaração feita pelo então deputado federal em 2016.

A presença desses familiares e sobreviventes é vista como um gesto poderoso de afirmação democrática. “Será de um simbolismo extraordinário”, avaliou Vannuchi. Também é aguardada a presença de juristas que não atuam diretamente no processo, como o advogado Belisário dos Santos Jr., reconhecido por sua trajetória em defesa dos direitos humanos. Para ele, assim como para os demais presentes, o julgamento de Bolsonaro representa um divisor de águas na história recente do país.

O STF inicia nesta terça o julgamento de Jair Bolsonaro e outros acusados por suposta tentativa de golpe de Estado, no contexto dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e das declarações golpistas feitas nos meses seguintes à sua derrota nas eleições de 2022. O processo é apontado por setores da sociedade civil como essencial para a consolidação da democracia brasileira e para o rompimento definitivo com a lógica da impunidade dos poderosos.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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