Bolsonaro
réu vai apostar em 'apoio de Trump', diz New York Times; veja repercussão
internacional
O resultado do julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) da denúncia que acusa o ex-presidente
Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado nesta
quarta-feira (26/03) foi noticiada pela imprensa de diferentes países.
O
jornal espanhol El País destacou que o fato de um ex-mandatário brasileiro
enfrentar um processo criminal não é algo exatamente novo - "o que é
inédito é que se sente no banco dos réus por golpismo".
O
americano The New York Times caracterizou o processo que culminou na decisão
desta quarta como "um esforço significativo para responsabilizar Bolsonaro
pelas acusações de que tentou efetivamente desmantelar a democracia brasileira
ao orquestrar um amplo plano para levar a cabo um golpe".
E
pontuou que a investigação "revelou o quão perto o Brasil chegou de voltar
a uma ditadura militar quase quatro décadas depois de construir uma história
como democracia moderna".
O Times
também afirma que Bolsonaro parece "estar apostando suas fichas em um
apoio do [presidente americano] Donald Trump".
A
agência Reuters comparou a situação à do presidente americano, Donald Trump.
"Em
contraste com a variedade de processos criminais que envolveram Trump, os
tribunais e investigadores brasileiros se moveram rapidamente contra Bolsonaro,
ameaçando encerrar sua carreira política e fraturar o movimento de direita que
ele construiu na última década."
O
britânico The Guardian noticiou a decisão como um episódio que deixa Bolsonaro
"passível de encarar um esquecimento político e uma possível pena de mais
de 40 anos de prisão".
O texto
destaca falas do ministro Alexandre de Moraes que descreveram a invasão e
depredação dos prédios dos três poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023 como uma
"verdadeira guerra campal", uma "violência selvagem" e uma
"tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito".
A
decisão do Supremo também foi noticiada pelo argentino La Nación, pelo mexicano
El Universal e pelo colombiano El Tiempo.
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Bolsonaro diz que sofre perseguição para tirá-lo de 2026
e que só debateu 'alternativas políticas', não golpe
O
Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (26/03), por
unanimidade, aceitar a denúncia oferecida pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) e mais sete aliados.
Com a
decisão, realizada em três sessões ao longo de um dia e meio no Supremo,
Bolsonaro se torna réu.
Os
demais réus são: Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin; almirante Almir
Garnier Santos, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da
Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF; general Augusto Heleno,
ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; tenente-coronel Mauro Cid,
ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência; general Paulo Sérgio Nogueira,
ex-ministro da Defesa; e o general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da
Casa Civil e ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro.
Entre os crimes imputados aos oito réus estão
tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de
Estado, dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Bolsonaro também é acusado de liderar uma organização criminosa.
Embora
não negue a existência de uma tentativa de golpe, a defesa do ex-presidente
afirma que Bolsonaro não estava envolvido em nenhum ato criminoso.
"Quando
se fala de materialidade […] estamos falando do 8 de janeiro que é algo no que
o presidente não está envolvido, não esteve envolvido. [Isso] só aparece na
denúncia porque nem no relatório da Polícia Federal surgiu", disse o
advogado Celso Vilardi à BBC News Brasil.
No
Supremo, durante os 15 minutos que teve para fazer a defesa de seu cliente,
Vilardi afirmou algo parecido.
"Eu
entendi a gravidade de tudo que aconteceu no 8 de janeiro. Mas não é possível
imputar o presidente [Bolsonaro] como líder quando ele não participou, pelo
contrário, ele repudiou [os atos]", disse o advogado.
Assim
que o julgamento foi encerrado, Bolsonaro enviou para aliados uma mensagem com
16 pontos sobre seu processo e pedindo para que fosse divulgada.
Na
mensagem, o ex-presidente afirma que o processo é uma perseguição para
impedi-lo de participar das eleições presidenciais de 2026 e que ele é acusado
de um crime que não cometeu, por meio de um processo sem provas.
"Conversei
com auxiliares alternativas políticas para a Nação, mas nunca desejei ou
levantei a possibilidade da ruptura democrática", escreveu Bolsonaro na
mensagem.
Em
junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou Bolsonaro
inelegível até 2030, o que já impossibilita que ele dispute algum cargo eletivo
nas próximas eleições.
Na
mensagem enviada a aliados, Bolsonaro diz que teve sua vida pessoal, financeira
e política "devassada", algo que, segundo ele, é inédito na figura de
um ex-presidente. Ele afirma que nada foi encontrado que indicasse corrupção.
Patriarca
de uma família de políticos, Bolsonaro diz que sua família foi perseguida pela
imprensa, o que levou um de seus filhos, o deputado licenciado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), a morar nos Estados Unidos "tal o
nível de perseguição que ele sofre".
Na
mesma linha do que defendeu seu advogado, o ex-presidente afirmou que não
estava o Brasil em 8 de janeiro de 2023 e que repudiou, no mesmo dia, via redes
sociais, os "atos violentos cometidos por aqueles que exerceram o direito
legítimo de protestar, sem violência, como foi o caso da maioria dos
manifestantes".
Outros
argumentos usados por advogados e reafirmados por Bolsonaro agora são em
relação à suspeição do ministro Alexandre de Moraes e à competência da Primeira
Turma para julgar o caso.
As
chamadas questões preliminares foram levantadas por alguns advogados na
terça-feira e votadas pelos ministros na sequência. Todas foram rejeitadas.
A
delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-braço direito de Bolsonaro,
também foi uma questão preliminar levantada pelos advogados à qual o
ex-presidente voltou agora na mensagem enviada a aliados.
Eles
defendem que Cid foi forçado a falar e mudou o discurso ao longo dos
depoimentos, pedindo, portanto, que fosse anulada. A Corte também rejeitou esse
pedido.
Encerrado
o julgamento, Bolsonaro reuniu a imprensa na saída do Senado e fez um longo
discurso.
Começou
reiterando que não estava no Brasil no dia 8 de janeiro. "Se eu estivesse
aqui no 8 de janeiro, estaria preso até hoje. Ou morto."
"Espero
colocar um ponto final nisso. A acusação contra mim é muito grave, infundada, e
não é algo que eu diga da boca para fora. Parece que há algo pessoal contra
mim", disse a jornalistas.
Novamente,
Bolsonaro levantou suspeitas sem provas sobre a lisura do processo eleitoral
brasileiro. Comparou sua situação com a da oposição na Venezuela, onde houve
eleição presidencial no ano passado e o Conselho Nacional Eleitoral — formado
também por aliados do governo — declarou a vitória de Nicolás Maduro sem ter,
até hoje, apresentado todas as atas eleitorais.
Em seu
discurso, Bolsonaro ensinou que o TSE poderia ter agido em favor da vitória de
Lula em 2022. "Houve interferência do TSE nas eleições de 22 ou
não?", questionou.
Ele
afirmou que o TSE fez uma campanha "massiva" para que jovens tirassem
o título de eleitor, e que essa faixa do eleitorado poderia representar
justamente a quantidade de votos entre ele e Lula em 2022.
"Houve
uma diferença de dois milhões de votos, com uma campanha massiva para a faixa
etária de 16 anos tirassem título de eleitor, quando 75% dessa faixa etária
vota na esquerda. Só isso já dá uma diferença de dois milhões de votos",
afirmou.
O
ex-presidente deixou o local sem responder a perguntas da imprensa.
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Ajuda internacional
No dia
em que o julgamento sobre sua denúncia foi iniciado, na terça-feira (25/3), o
jornal britânico Financial Times publicou uma entrevista com Bolsonaro
em que ele pede "apoio do exterior" e comparou o Brasil a uma
ditadura.
"Temos
um problema de ditadura, uma ditadura real", disse Bolsonaro na
entrevista.
"O
Brasil não tem como sair dessa situação sozinho. Precisa de apoio do
exterior."
Bolsonaro
disse ainda ao Financial Times que a "ajuda americana é muito
bem-vinda" e agradeceu o presidente americano, Donald Trump, por encerrar
a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que,
segundo ele, havia "interferido" na maior democracia da América
Latina (o Brasil).
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"Eu preso vou dar trabalho", diz Bolsonaro
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta-feira (26) que "vai
dar trabalho" caso seja preso por envolvimento na tentativa de golpe
de Estado após as eleições de 2022. A Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu tornar Bolsonaro e mais sete integrantes do "Núcleo
1" da trama golpista réus por tentativa de golpe.
"Eu
preso vou dar trabalho", disse o ex-presidente momentos após a decisão da
Corte.
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Réus por cinco crimes
Os oito
denunciados responderão formalmente pelos seguintes crimes:
- Organização
criminosa armada
- Tentativa de
abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Tentativa de
golpe de Estado
- Dano qualificado
pela violência e grave ameaça contra o patrimônio público
- Deterioração do
patrimônio tombado
Além de
Bolsonaro, tornam-se réus:
- Alexandre
Ramagem (PL-RJ), deputado federal e ex-diretor da Abin
- Almir Garnier
Santos, ex-comandante da Marinha
- Anderson Torres,
ex-ministro da Justiça
- General Augusto
Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Tenente-coronel
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e já colaborador da Justiça
- General Paulo
Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- General Walter
Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil
Segundo
a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, os acusados atuaram
de forma articulada entre 2021 e 2023 com o objetivo de minar a confiança nas
eleições, difundir desinformação e criar um ambiente favorável à ruptura
institucional. O plano previa impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e se materializou nos atos violentos de 8 de janeiro.
Fonte:
BBC News Brasil/Brasi 247
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