Eduardo
Cunha encarcerado esta semana não foi surpresa a não ser por uma temível
delação capaz de arrastar Temer e embolar tudo. A poucos dias do segundo turno
das eleições , cada denúncia ou retaliação será um tiro certeiro nos rumos da
política brasileira. Cunha virou uma assombração no Planalto perturbando o sono
de Temer e de pelo menos 100 colegas. Faltava acrescentar esse ingrediente no insólito processo das eleições deste ano.
Por exemplo, o surpreendente interesse
em arte pelos apanhados na Lava Jato.
Em
agosto do ano passado, na 17a. fase da Operação, já haviam sido apreendidas 270
obras de arte nas mãos dos denunciados. Uma vasta coleção de Di Cavalcanti, Guignard, José Antonio da
Silva se encontrava em galerias cariocas especializadas para não levantar
suspeitas em seus donos, até então camuflados.
Para
deleite dos verdadeiros amantes de arte, outra leva de Iberê Camargo, Heitor dos Prazeres, Amílcar de
Castro, Miguel Rio Branco já havia sido confiscada cinco meses antes de
lavajatistas como o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque , dono de
um Guignard levado a leilão, onde arrecadou 380 mil dólares , e uma escultura
de Franz Krajberg, 220 mil dolares. Tudo foi levado para o museu curitibano
Oscar Niemeyer e pôde ser apreciado por R$ 9,00 a entrada inteira, R$4.50 a
meia.
Esta
semana foi a vez do lobista Zvi Skornicki que depois do acordo de delação foi
multado com a devolução de R$ 75,82 milhões
e forçado a entregar 48 obras de arte. Vieram no lote mais Salvador
Dali, Carlos Vergara, Vik Muniz, Cícero Dias e a surpresa de saber como a arte
mais pura serviu para lavar dinheiro do esquema criminoso de fraude, corrupção
e desvio de recursos da Petrobrás.
Tudo
obtido através do contrato entre a Engevix e a Jamp, segundo delação do
empresário Milton Pascowitch. O mesmo petróleo que junto com a mentira do
patrimônio 53 vezes maior que o declarado, fez Eduardo Cunha perder o mandato e
terminar atrás das grades. Petróleo lavado na tinta fresca sobre os suportes
nobres da arte.
Assim
como as melhores obras adquiriras pelos judeus foram roubadas, escondidas,
mutiladas por nazistas e agora , 71 anos depois do fim da Segunda Grande
Guerra, recompradas ou devolvidas aos museus europeus e americanos , os
devastadores brasileiros dos cofres públicos foram desmascarados. E as artes,
compradas a metro no Brasil, afinal expostas ao público.
Dá
para pensar em injustiça com a melhor arte ver John Neschling afastado neste
momento da direção artística do Theatro Municipal de São Paulo, depois do
maestro oferecer à cidade temporadas operísticas e líricas com qualidade de
Primeiro Mundo — além do legado da Sala São Paulo e a OSESP. Os lavajatistas
não nos ofereceram nada.
Sexo e exorcismo
Os
símbolos de poder adquiridos com dinheiro desviado pelo lobby lavajatista não
se limitaram a casas em Miami, aviões, lanchas, carros, viagens, roupas caras —
mas deve ter sobrado muito e a saída foi invadir o nada inocente mercado de
artes. Surpreendente esse tesouro nas mãos de quem foi parar , sem nem servir
para deleite próprio.
Essas
eleições de 2016 ,com vistas nas presidenciais de 2018 , trazem à tona não só o
tema das artes plásticas mas também faz contraponto com o sexo, aqui
personificado pela derrota do candidato carioca, Pedro Paulo, afilhado do
prefeito Eduardo Paes (PMDB), no primeiro turno das eleições. Foi sexo que
derrubou um candidato poderoso no Brasil e sexo que criou um “pussygate” nas
eleições americanas. Nem num país machista como o nosso, que este ano elegeu
apenas homens em 1291 cidades , um candidato que bate em mulher sobrevive.
Imagine
nos Estados Unidos . Deflagrado exibindo seus dotes de garanhão numa entrevista , o republicano Donald Trump
declarou horrores contra as mulheres que gostava de agarrar , na sua linguagem
chula, ” pela xoxota”. Resultado, a menos de um mês das eleições a democrata
Hillary Clinton está 11 pontos à frente do adversário e já abocanha 341 dos 538
votos do colégio eleitoral, deixando 197 para Trump — as declarações sobre sexo
foram decisivas.
Agora
descobriu-se no candidato à prefeitura carioca Marcelo Crivella o livro dos 501
Pensamentos de Edir Macedo , seu tio, sobre a mulher. “Não basta que ela seja
de Deus e batizada com o Espírito Santo; é preciso que seja compatível com o
marido, com o mesmo objetivo, sendo submissa, cumpridora dos deveres como
mulher, mãe e dona de casa”.
Junto,
Crivella introduziu outro tema nesta exótica eleição brasileira. A religião. O
candidato do PRB descambou para o exorcismo. Foi na África , onde Crivella ,
além de praticar o ritual , demonizou os homossexuais e as religiões, em
especial o catolicismo. Tudo explícito no livro “Evangelizando a África” , lançado em 2002 pela Editora
Gráfica Universal que pertence ao bispo Macedo. O PSOL teria tirado mais
proveito das revelações politicamente incorretas de Crivella, se não tivesse
sido obrigado a desculpar-se por ter chamado de genocida o recém-falecido
dirigente isralense, Shimon Peres.
Arte,
sexo, exorcismo , como essa mistura insólita vai trazer votos no segundo turno
das eleições de 2016 só veremos nas presidenciais de 2018 que é onde tudo isso
desemboca. Já se fala no governador Geraldo Alckmin se bandeando para o PRB com
Ciro Gomes, José Serra escalando o PMDB , Aécio Neves fincando o pé no PSDB, cada um tentando garantir um
lugar ao sol na presidência do Brasil.
Mas tudo pode girar pelo avesso se mais delações devolverem arte da boa aos museus,
mais sexo sujo rolar nas redes sociais e inacreditáveis exorcismos ressurgirem
em pleno século XXI.
Ou
se Eduardo Cunha, arquivo - vivo, abrir o bico . E ainda mais ingredientes forem acrescentados à essa
mistura onde a corrupção já acumula trilhões surrupiados do país.