terça-feira, 7 de janeiro de 2025

O que os "místicos" preveem para o ano de 2025

Com a chegada de 2025, a busca por respostas e orientações para os desafios vindouros ganha força. Milhares de brasilienses recorrem a práticas tradicionais como Tarô e Astrologia. Embora não tenham respaldo científico, essas técnicas milenares continuam a atrair adeptos interessados em dar uma espiadinha no que o futuro reserva. Estudiosos das áreas místicas projetam cenários para o próximo ano, abordando temas como política, economia, saúde e transformações sociais.

Uma palavra que pode resumir o que está por vir no ano que vem: mudança. Segundo especialistas ouvidos pelo Correio, 2025 chega com promessas de transformações profundas. Na visão da taróloga e astróloga Anna Beatriz de Carvalho Leite, 2025 será regido pelo número 9, associado ao arcano do Eremita. 

Na numerologia, o algarismo simboliza a conclusão de ciclos, sabedoria e iluminação espiritual. Ele representa um ponto de virada, onde se encerra uma fase e se inicia outra. Por sua vez, o Eremita, no Tarot, é uma figura solitária, em busca de sabedoria interior, o qual representa a necessidade de se conectar com a própria essência. 

"Um ano de número 9 carrega uma energia marcada por encerramento de ciclos e preparação para novos começos. Será um momento de reavaliar valores, soltar o que não serve mais e plantar sementes para o futuro", comenta a especialista. 

Entretanto, para o astrólogo Arthur Curado, será mais um "teaser" do que uma mudança definitiva. "Não tem uma só [grande transformação]. O universo quase nunca interfere de um modo 'corte-seco'. Uma coisa vai fundindo na outra. De modo geral, parece que 2025 tem muita coisa acontecendo e serve mais como um teaser do que será 2026 e a partir de lá", explica.

Apesar disso, ele reforça a importância de acompanhar os ciclos lunares, eclipses e retrogradações — movimentos dos astros associados a períodos de revisão, reavaliação e interiorização —  pode ajudar as pessoas a atravessar o ano com mais tranquilidade. "É bom se ligar um pico nestes movimentos para uma experiência de mais 'bem-estar' ou 'estar bem'", sugere.

Enquanto 2025 é apontado como um ano de transição e preparação, a expectativa é que 2026 traga transformações ainda mais profundas para as quais devemos nos preparar. "Não é culpa das estrelas — pelo menos não tudo", finaliza Curado, lembrando que o céu pode oferecer tendências, mas as ações e escolhas ainda estão em nossas mãos.

·        Cuidado emocional

Analisando céu e astros, a astróloga Ananda Guerra Santos afirma que 2025 traz uma necessidade de mudanças profundas na relação com o planeta e entre as pessoas. Os eixos nodais, pontos de encontro entre a órbita lunar e o caminho aparente do Sol, estão em Áries e Libra e entrarão nos signos de Peixes e Virgem. Peixes faz um convite à introspecção e ao cuidado emocional, enquanto Virgem enfatiza a organização. 

Diante desses indicadores, ela enfatiza a importância de cuidar da saúde emocional neste novo ano. "Foquem na espiritualidade de vocês e, principalmente, em manter uma frequência vibracional alta. Antes de querer salvar o outro, tente se acolher primeiro", afirma. Ela acrescenta sobre a necessidade de fazer terapia, reforçar a saúde mental e nutrir pensamentos elevados.

Segundo Ananda, o próximo ano traz Marte retrógrado, significando que o ano terá aspectos de conflito, brigas e guerras. Isso ocorre, pois o planeta é considerado regente da ação, energia e assertividade, mas nessa fase passa por um período de introspecção, o que pode gerar impaciência, frustrações e maior tendência a disputas.

A oposição de Marte em Leão e Plutão em Aquário é definida como um dos aspectos mais tensos do ano, possibilitando conflitos relacionados a dinâmicas de poder e transformação. "Geopoliticamente falando, esse cenário de expansão de guerras reflete na economia e na exportação de produtos, gerando impacto no bolso da grande maioria das pessoas", conclui. 

Além disso, a astróloga e analista junguiana Aline Maccari reforça que este novo ano será incomum, com cinco planetas mudando de signo. Netuno e Saturno em Áries simbolizam desafios climáticos e de saúde.

"Como o Brasil é nascido em 7 de setembro e tem ascendente em peixes, um eclipse importante está previsto para esta data. Ele sugere catástrofes climáticas que incidem diretamente sobre a saúde, a economia e a política", alerta Aline. Contudo, ela aponta que o país terá um destaque cultural, especialmente nas artes, como cinema e música.

·        Política e economia

Anna destaca que as transformações sociais e políticas serão marcadas pela entrada de Plutão em Aquário, trazendo reconfigurações ideológicas e lideranças revolucionárias. Isso ocorre, pois, na astrologia, o planeta é considerado um astro que representa crises e renovações. Já o signo está associado à inovação, quebra de paradigmas e razão.

A prática dos Búzios também mostra que será um ano de desafios econômicos, especialmente nos primeiros meses. Contudo, áreas como agricultura e agropecuária podem ajudar na recuperação financeira a partir de maio.

Na política, prevê-se instabilidade, com riscos para figuras públicas importantes. "O presidente pode ser surpreendido com um susto na saúde, além de risco de acidente aéreo. Além disso, o ministro da Economia pode não terminar seu mandato", disse Pai Ivan Choas, da Umbanda. Já na área social, desentendimentos políticos podem gerar conflitos urbanos em grandes capitais, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Na economia, o destaque será a tokenização de bens — transformar coisas de valor, como imóveis ou ações, em moedas digitais —  e fortalecimento das mudanças digitais. A tendência é a redução drástica da utilização do dinheiro físico, bem como a ascensão das redes financeiras globais, trazendo maior transparência e acessibilidade, mas também levantando debates sobre descentralização do poder econômico.

As profissões ligadas à tecnologia e sustentabilidade continuarão a crescer, bem como o uso e a integração de inteligência artificial em diversas áreas. Nesse sentido, um aumento do desemprego pode ser esperado. Na saúde, haverá avanço na medicina integrativa e ênfase no equilíbrio emocional.

As cidades do futuro começam a ganhar forma, com urbanismo inteligente e sustentável, enquanto os espaços virtuais se tornam tão significativos quanto os físicos. No mesmo sentido, com Urano em Gêmeos — astro associado à inovação e signo ligado ao aprendizado —, a educação passará por transformações profundas, integrando inteligência artificial, realidade virtual e métodos personalizados. Será um ano de grande criatividade e inovação, mas também de dispersão e sobrecarga informacional.

<><> Principais movimentos 

  • » Marte retrógrado: Indica um período de maior introspecção e potencial para conflitos, tanto em nível pessoal quanto coletivo.
  • » Oposição entre Marte em Leão e Plutão em Aquário: Sugere tensões relacionadas a poder, transformações e questões coletivas.
  • » Eixos Nodais em Peixes e Virgem: Convidam à introspecção, cuidado emocional e organização.
  • » Plutão em Aquário: Indica transformações profundas nas estruturas sociais e políticas, com foco em inovação e quebra de paradigmas.
  • » Urano em Gêmeos: Sugere transformações na educação, com foco em tecnologia, personalização e novas formas de aprendizado.

<><> Dicas para 2025

  • » Invista na sua saúde mental e emocional. Terapia e práticas espirituais podem ser valiosas;
  • » Diversifique investimentos financeiros para se proteger das instabilidades;
  • » Esteja aberto a mudanças, mas mantenha a ética e os valores humanos;
  • » Busque conexões autênticas e participe de comunidades solidárias;
  • » Aproveite o segundo semestre para focar em projetos familiares e domésticos, favorecidos por Júpiter em Câncer;
  • » Buscar união familiar e prática da gentileza;
  • » Ser justo e verdadeiro consigo mesmo e com os outros;
  • » Ter fé e confiar na própria capacidade de superar desafios.

<><> Vidente do 11/9 faz previsões para 2025; saiba quais

As previsões de Baba Vanga , conhecida como a "Nostradamus dos Bálcãs" , voltaram a ganhar atenção devido a supostas profecias sobre 2025. Segundo relatos associados a suas visões , este ano marcaria o início de um processo de extinção humana , especialmente na Europa, provocado por conflitos de grandes proporções.

Embora tenha falecido há quase três décadas, as premonições de Baba Vanga continuam sendo tema de debate, com algumas pessoas associando suas palavras a eventos históricos, como os ataques de 11 de setembro de 2001, a queda da União Soviética e a pandemia global de 2022.

Apesar do fascínio, especialistas ressaltam que suas previsões carecem de comprovação científica.

Entre as principais previsões atribuídas à vidente para o futuro próximo está a exploração de novos planetas em busca de fontes de energia, prevista para 2028, e mudanças climáticas intensas devido ao derretimento dos polos em 2033.

Para períodos mais distantes, Baba Vanga teria vislumbrado o retorno do comunismo global em 2076, o contato com civilizações extraterrestres em 2130 e até mesmo guerras interplanetárias em 3005.

No entanto, suas profecias também apontam para um evento cósmico catastrófico em 5079, que resultaria no fim do mundo.

Nascida na Bulgária em um ambiente humilde, Baba Vanga alegava ter visões desde a adolescência, atribuindo suas habilidades a experiências místicas.

Durante o regime comunista na Bulgária, suas previsões foram documentadas oficialmente, mas também enfrentaram ceticismo. Apesar disso, seu nome se tornou conhecido mundialmente, e suas profecias continuam a atrair atenção.

Eventos como o desastre de Chernobyl e a ascensão de líderes russos, como Vladimir Putin, são frequentemente associados a suas visões.

O interesse por Baba Vanga é alimentado tanto por sua influência mística quanto pela dificuldade em verificar a precisão de suas profecias.

 

¨      E aí, já comprou sua arma para enfrentar o Novo Ano? Por Paulo José Cunha

Tão cedo o rastro de destruição do governo Bolsonaro sobre os principais pilares da convivência democrática e cordial entre os cidadãos será removido. Vai demorar muitos anos para que os efeitos deletérios da política armamentista e da cultura da violência como método de solução de problemas sejam neutralizados. Até porque nas últimas eleições a bancada de adeptos, aliados ou simpatizantes do ex-presidente saiu turbinada das urnas. Todos defendendo em uníssono o pensamento reacionário, violento e individualista do capitão.

Para ficar num único exemplo, basta ver que as bancadas BBB – B (de bala), B (de Bíblia, os evangélicos) e B de boi (os representantes do agronegócio) garantiram a aprovação na reforma tributária da isenção do imposto seletivo sobre as armas. Ou seja: asseguraram um incentivo à venda e à aquisição de armas. Desde sua criação há 20 anos, o Estatuto do Desarmamento, que regulou aquisição, posse e uso de armas de fogo no Brasil, está sob ataque ininterrupto. Nem mesmo diante das evidências e estatísticas segundo as quais quanto maior o número de armas em circulação maior é a violência, as bancadas armamentistas não depuseram as… suas armas. Dia e noite parlamentares se revezam nas tribunas exigindo exatamente o contrário: o direito irrestrito de qualquer pessoa adquirir, portar e usar armas de fogo. Só para lembrar: Bolsonaro, em pleno governo, defendeu que todo brasileiro tivesse garantido o direito de ter seu fuzil.

O próprio decreto regulamentando o uso da força pelas polícias estaduais, publicado na véspera do Natal, está sob ataque da direita e da extrema-direita. Pelo menos três governadores – o do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, o de Goiás, Ronaldo Caiado e a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão – detonaram o decreto alegando interferência indevida do governo federal em sua autonomia. Recentemente, pelo menos os governadores nordestinos se manifestaram em sentido contrário. Divulgaram nota garantindo que a medida “não altera a autonomia dos estados nem as normativas já estabelecidas” e “reafirma a centralidade da prudência, do equilíbrio e do bom senso no exercício da atividade policial”.

Já o número de armas em circulação não parou de crescer no governo armamentista de Bolsonaro e depois dele. O número delas mais que dobrou e chegou a quase 3 milhões no período de 2019 a 2022, segundo levantamento dos institutos Igarapé e Sou da Paz. E o crescimento, segundo a equipe que realizou o estudo, tem relação direta com medidas adotadas durante a gestão de Jair Bolsonaro na Presidência. Medidas que facilitaram o acesso a armamentos, principalmente entre os CACs (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores). Ficou mais fácil o porte municiado e a disponibilidade de armas mais potentes e em grande quantidade. O crescimento é mais assustador quando se observa que os membros de instituições militares deixaram de ser os principais proprietários de acervos particulares de armamentos. Os CACs assumiram essa dianteira. Agora podem adquirir, e estão adquirindo, armas de calibres muito superiores. E que ninguém se iluda: o aumento de armas em circulação é levado em conta pelo crime organizado, que se prepara para explorar essa movimentação de armas em seu proveito.

Pelo resultado da votação que resultou na retirada do imposto seletivo sobre os armamentos é possível prever que o crescimento de armas em circulação continuará em escala geométrica. Ainda mais num parlamento que, pelas últimas projeções, tende a se tornar cada vez mais conservador e autoritário. Até aqui, Lula e seu governo fizeram pouco ou quase nada para reverter a queda em sua popularidade, essencial para garantir as condições mínimas para disputar uma eleição com chances de vitória. Sequer se esboçou qualquer gesto no sentido da construção de uma alternativa ao próprio Lula para as próximas eleições, considerando a possibilidade real de não ter condições físicas de concorrer. Sem esquecer que o próximo pleito será muito mais difícil do que o último, em que a esquerda venceu por um fiapo de votos. Também não se viu qualquer medida concreta no sentido de fazer frente ao avassalador crescimento da extrema-direita nas redes sociais, enquanto Lula permaneceu nos mesmos níveis. Tudo em sintonia global com o crescimento da extrema-direita no mundo, tendo à frente o republicano Donald Trump, com inegáveis reverberações na conduta do eleitorado tupiniquim. Só para reforçar: hoje, o palco da política é o cyber-espaço, especialmente as redes sociais. O sistema de comunicação da presidência da república tem atuação pífia nessa área que se tornou, apenas, estratégica. Mas o governo parece que não está dando a mínima bola. Continua acreditando em santinhos, cartazes e comícios em cima de carrocerias de caminhões. Enquanto isso, a boiada vai passando…

Tal quadro remete à conclusão assustadora de que, mantendo-se a situação de hoje no pleito de 2026, a tendência é o crescimento das alas de centro, centro-direita, direita e extrema-direita no parlamento. Ou seja: as bancadas armamentistas, fortalecidas, têm tudo para ampliar ainda mais tanto a aquisição quanto a posse e o uso de armas de fogo. E assim, sem qualquer exagero, têm farto potencial para transformar o país num grande faroeste. E o problema não tem a ver com esquerda ou direita, mas, sim, com a sobrevivência de todos em meio ao tiroteio que se vislumbra. Já passa, e passa muito, da hora de o governo acordar para essa realidade e, pelo menos, começar a se mexer.

 

Fonte: Correio Braziliense/iG/Congresso em Foco

 

Como João Pessoa foi de capital 'esquecida' a nova 'queridinha' do verão do Nordeste

"Os turistas vão para Recife e pulam direto para Natal."

Era isso que a professora Adriana Brambilla dizia até pouco tempo atrás a seus alunos do curso de Turismo na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.

No meio do caminho de um dos trechos mais movimentados do litoral do Nordeste, a capital paraibana era conhecida pela tranquilidade, praias vazias e uma orla de prédios baixos com pequenos hotéis.

"João Pessoa não chamava atenção nacionalmente. Por muitos anos, ficamos de lado", diz Brambilla, coordenadora do Grupo de Cultura e Estudos em Turismo (GCET) da UFPB.

Mas quem visita a cidade hoje pouco vai encontrar da João Pessoa "esquecida" de décadas atrás.

Novos prédios de luxo surgem por todos os lados, beach clubs ocupam o litoral e a rede hoteleira só cresce.

Ao mesmo tempo, o trânsito tem começado a dar um nó, atrações como bancos de corais e de areia no meio do mar cristalino estão lotadas e restaurantes se enchem de filas.

Nas redes sociais, pessoenses têm feito centenas de vídeos e comentários (em geral, em tom de brincadeira) pedindo para os turistas se afastarem da cidade.

"Não cabe mais ninguém", escreve uma moradora num vídeo que mostra um engarrafamento no TikTok.

Ao que tudo indica, porém, a procura vai aumentar.

Em sua recém-divulgada lista anual dos dez destinos em alta no mundo, a Booking.com, uma das maiores plataformas de reservas do turismo global, João Pessoa é colocada em terceiro lugar.

"Estará no topo da lista de todos em 2025", diz a projeção.

A capital paraibana ficou atrás apenas de Sanya, considerada o "Havaí chinês", e Trieste, na costa italiana do mar Adriático.

Na alta temporada que vai de dezembro a fevereiro, a prefeitura projeta uma ocupação hoteleira de quase 100%. E a Paraíba foi o Estado que mais cresceu na preferência dos brasileiros nesta atual temporada de verão, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério do Turismo.

Nos próximos três anos, a expectativa é de que a cidade ganhe mais de 10 mil novos leitos com os hotéis em construção. E, até novembro deste ano, o Aeroporto Castro Pinto, em João Pessoal, registrou um aumento de 13,3% no movimento de passageiros

No entanto, o "inchaço" em João Pessoa não vem apenas do turismo.

A cidade também foi uma das que mais ganhou população no Brasil nos últimos anos, segundo o censo de 2022.

Foram 110 mil novos moradores em 12 anos (censo de 2010), um aumento de 15,3% — o maior salto entre as 20 cidades mais populosas do país.

Muitos desses novos residentes — entre aposentados e profissionais que podem trabalhar à distância — conheceram a cidade justamente em viagens, como mostraram diversas reportagens na imprensa paraibana.

O boom tardio

Se as atrações naturais de João Pessoa sempre estiveram ali, por que só nos últimos anos aconteceu o boom turístico?

Na visão do ex-secretário de Turismo da capital paraibana Roberto Brunet (2012-2014), a demora se deve principalmente a uma falta de prioridade de políticas públicas estadual e municipal no setor, em comparação a outros destinos nordestinos próximos.

É como se João Pessoa tivesse se deixado ofuscar diante de cidades de porte historicamente maior, como Recife, ou que viu primeiro no turismo uma oportunidade de crescimento, como Natal, que encheu as paredes e folhetos de agências de turismo com fotos do famoso Morro do Careca desde os anos 1990.

"A cidade não tinha visibilidade" e o "turismo era regional", avalia Brunet, que também é ex-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) e empresário do setor.

Vale lembrar também que João Pessoa brigou durante muito tempo para ter o protagonismo dentro da própria Paraíba.

Até meados do século 20, Campina Grande chegou a ser a cidade mais populosa do Estado e manteve forte sua influência política e comercial na região.

Nos anos 1990, quando Brunet tinha uma agência em João Pessoa, eram muito populares os passeios de um dia de turistas que estavam hospedados em Natal ou Pipa, no Rio Grande do Norte, e no Recife e em Porto de Galinhas, em Pernambuco.

O que se vê hoje, na avaliação da professora Adriana Brambilla, é uma João Pessoa alcançando "um novo patamar", consequência de vários fatores, como uma campanha de marketing bem feita do setor público, que passou a vender melhor o destino, e o avanço da iniciativa privada, especialmente na área de construção civil.

Para o ex-secretário de Turismo Brunet, a capital paraibana também conseguiu aproveitar, especialmente após a pandemia de covid-19, um movimento comum no mercado do turismo em qualquer lugar do mundo: o fator novidade.

"As pessoas cansam de ficar repetindo destino turístico. E, nessa região do Nordeste, ficava concentrado apenas em Pipa, Porto de Galinhas, Maceió, Fortaleza e Natal", diz Brunet.

"Então, aparece uma cidade como João Pessoa, com potencial turístico e gastronômico, como uma novidade no mercado nacional. Hoje, só se fala daqui", completa.

O papel das redes sociais também é visto como fundamental. Entre turismólogos, costumava-se dizer que, em média, a cada visitante satisfeito com uma cidade visitada, seis pessoas eram atingidas pelo relato na volta para casa.

"Agora, com as redes, isso se multiplica para milhares", diz a professora Brambilla, da UFPB.

·        De Parahyba a João Pessoa

O nome da capital paraibana, que antes de 1930 era Parahyba, é motivo de discussão.

Para alguns, o nome anterior deveria ser retomado, como forma de resgatar a identidade local.

A mudança aconteceu após o assassinato do governador paraibano João Pessoa, em 1930, em Pernambuco – episódio considerado estopim para a tomada de poder por Getúlio Vargas, que havia tido João Pessoa como concorrente a vice em sua chapa.

Em dezembro de 2024, no entanto, a Assembleia Legislativa da Paraíba aprovou uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que oficializou o nome da capital como "João Pessoa", em substituição a uma previsão de realizar um plebiscito sobre o tema.

A nova redação, lida como forma de encerrar a discussão sobre a mudança do nome da capital, entrou em vigor na sexta-feira (3/1).

·        Aprender com erros?

É num cenário de rios, mata atlântica e falésias à beira-mar que construções em escala monumental começam a despontar no horizonte de João Pessoa.

São parques aquáticos, resorts, shopping e uma roda-gigante que vão encher o até então pouco explorado extremo sul da capital paraibana, onde fica ponto mais oriental da América continental.

É o chamado Polo Turístico de Cabo Branco, projeto atual do governo da Paraíba inspirado num plano do fim dos anos 1980 e chamado de "maior complexo turístico planejado do Nordeste".

O governo e empreendedores têm vendido o projeto como sustentável, preservando áreas de mata.

Pesquisadores, no entanto, têm feito alerta sobre impactos socioambientais, como diminuição da vegetação nativa, assoreamento de rio e impactos a comunidades de pescadores.

"João Pessoa está adotando um tipo de turismo predatório e arcaico", diz um artigo na Revista Brasileira de Ecoturismo.

Mas se os impactos do novo polo serão mais sentidos com o seu funcionamento, fato é que a cidade já vê impactos no trânsito e nos preços, seja pelos novos moradores ou pelo movimento turístico.

"A gente está experimentando congestionamentos que a gente nunca tinha experienciado antes. Tem dia que gasto quase 1 hora de trânsito em percurso que fazia em 15 minutos", relata a professora Adriana Brambilla.

Em nota, a prefeitura de João Pessoa disse que tem investido em novas vias e num sistema rápido de ônibus (BRS).

Em 2024, João Pessoa também foi a segunda capital do país com maior valorização imobiliária, de 16,13%, atrás apenas de Curitiba, segundo índice FipeZap. Mas imóveis à beira-mar em João Pessoa seguem sendo mais baratos do que em cidades como Fortaleza, o que segue atraindo investidores e turistas.

"O boom é ótimo para cidade, melhorou a autoestima da população, mas também é preocupante. É notório que teve uma inflação no custo de vida aqui, nos imóveis, na alimentação. Também temos visto aumento da prostituição e do tráfico de drogas. O poder público tem que atuar junto para combater tudo isso que vem com o turismo", diz o ex-secretário Roberto Brunet.

"Esse é um momento de trabalhar com profissionalismo para que esse turismo não seja passageiro e predatório", completa o empresário, ressaltando que João Pessoa teve a chance de aprender com erros de destinos vizinhos.

Apesar das reclamações com as mudanças repentinas na rotina da cidade vindas com o turismo de massa, a professora Adriana Brambilla diz que não vê sinais de "turismofobia", que em 2024 ganhou manchetes pelo mundo com os protestos feitos por moradores de cidades da Espanha tomadas pelos visitantes.

"Mas é o que costumo dizer: a cidade só é boa para o turismo se ela continuar boa para a população", conclui a professora.

 

Fonte: BBC News Brasil

 

Por que humanos não podem beber água do mar

A dúvida entre beber ou não água do mar é o dilema mais torturante que um náufrago pode enfrentar.

Não é para menos. Deve ser arrepiante ficar morrendo de sede, sem poder tomar um gole sequer das toneladas de água à sua volta.

Mas é preciso não cair nesta tentação. Os marinheiros conhecem profundamente o risco causado ao atender a este premente desejo.

Muito longe de nos hidratar, beber água do mar nos desidrata... com rapidez alucinante.

·        O que acontece quando perdemos água?

Do ponto de vista químico, nós, seres humanos (e os demais organismos vivos do planeta) somos sistemas instáveis, constituídos basicamente por água com dissolução de sais, entre outras substâncias.

água é o meio no qual acontecem todas as nossas reações bioquímicas. Por isso, este elemento é imprescindível para garantir nossa subsistência metabólica.

Como vivemos em um ambiente terrestre (seco), a água tende a escapar do nosso meio interno, o que causa desidratação e, consequentemente, a morte. Isso só não acontece porque a evolução selecionou, ao longo da nossa linhagem, um magnífico envoltório que, como um tecido sintético, não deixa a água passar.

Seu nome é pele – e sua capacidade impermeabilizante se deve a uma proteína situada nas suas camadas mais externas: a queratina.

Mas o corpo humano está muito longe de ser um compartimento estanque. Na verdade, a água evapora continuamente através de regiões do corpo que precisam ser mantidas úmidas para manter sua funcionalidade, como os olhos, as fossas nasais, a boca, a uretra, o ânus e a vagina.

Paralelamente, eliminamos nossos restos nitrogenados venenosos, resultantes do catabolismo proteico, na forma de urina – que é, basicamente, ureia diluída em água.

Por fim, a "lona queratínica" precisa ter poros para podermos suar, já que esta é a nossa forma de nos refrigerarmos quando faz calor.

Seja qual for o motivo, a realidade é que nós perdemos continuamente nosso precioso e imprescindível líquido vital.

Recuperar a água perdida requer que a "roubemos" do nosso reservatório hídrico principal, que é o sangue. Com isso, a volemia (o volume sanguíneo) se reduz e, com ela, a pressão arterial.

Esta perigosa situação é detectada pelos receptores cardiopulmonares e barorreceptores, ativa o sistema renina-angiotensina (SRA) e reduz o peptídeo natriurético atrial. As duas ações são dipsogênicas, ou seja, elas desencadeiam a sensação de sede no cérebro.

Assim que somos informados, nós reagimos bebendo água. Nós a absorvemos através do intestino até a corrente sanguínea pelos capilares, recuperamos o volume sanguíneo e tudo volta a se equilibrar.

·        E se a água tiver sal?

Se bebermos água do mar, o intestino irá absorvê-la da mesma forma. Com isso, a água chegará ao sangue junto com seus sais – basicamente, cloreto de sódio, ou sal de cozinha.

Os rins irão tentar manter o equilíbrio osmótico a todo custo e tenderão a eliminar o excesso de sal através da urina.

Traduzindo em números, o rim humano pode eliminar do sangue até cerca de seis gramas de sódio por litro de urina excretada.

Como a água do mar contém cerca de 12 gramas de sódio por litro, se bebermos um litro de água salgada, iremos acumular seis gramas de sal sem o equivalente em água para diluição.

Em outras palavras, para eliminar o sal de um copo de água do mar, deveríamos expelir dois copos de urina, o que nos deixaria mais desidratados do que antes de beber.

O mais grave é que, além do cloreto de sódio, a água do mar contém sulfato de magnésio, uma molécula que retém a água no interior do intestino, impedindo sua absorção. Por isso, ela é o componente básico de um tipo muito popular de laxante.

Pobre náufrago! Agora, ele está com mais sede do que antes e, ainda por cima, com diarreia!

·        Como fazem os peixes, tartarugas e crocodilos?

A evolução solucionou este problema osmótico com estratégias muito diferentes.

Em princípio, poderíamos pensar que os peixes, por viverem "dentro d'água", não precisam lutar contra a desidratação. Mas não é verdade.

Dependendo das particularidades osmóticas de cada grupo e sempre em quantidades menores que os vertebrados terrestres, a fisiologia dos peixes passa também pela necessidade de reposição de água. Isso significa que eles também precisam eliminar os íons de sódio excedentes.

Os peixes ósseos não urinam. Eles expelem os sais através das brânquias. Já os tubarões e similares, embora também tenham brânquias, são mais criativos e eliminam os sais pelas fezes.

Eles conseguem fazer isso filtrando duplamente seu sangue, primeiro nos rins (como qualquer outro vertebrado) e, depois, pela glândula retal, um divertículo contrátil próximo ao ânus (ou cloaca).

Outros vertebrados que também se alimentam e vivem no mar também possuem estas glândulas, que concentram e secretam o sal, mas em outras regiões da sua anatomia.

Por isso, as aves marinhas e alguns répteis marinhos têm as glândulas localizadas no nariz, enquanto, em algumas tartarugas marinhas, elas ficam nas órbitas oculares.

As mesmas glândulas ficam embaixo da língua nas serpentes marinhas e em cima da língua, nos crocodilos marinhos asiáticos e norte-americanos.

·        A opção das baleias e golfinhos

Dentre este diverso e variado mostruário de fezes, mucos, lágrimas e salivas ultrassalgados, qual deles é adotado pelos mamíferos marinhos?

Surpreendentemente, eles não apresentam nenhum tipo de glândula salina. Ou seja, eles não possuem órgãos de secreção de sal, além dos rins.

Poderíamos então imaginar que seus rins devem ser muito eficientes, capazes de produzir uma urina extremamente salgada.

Mas, embora sua urina realmente seja muito concentrada, os leões-marinhos, focas, baleias, marsupiais, orcas e golfinhos optaram por uma solução alternativa muito curiosa: não beber água.

Sua estratégia é surpreendentemente distinta. Ela consiste em aproveitar o trabalho osmorregulador das suas presas. E o fazem de duas formas.

De um lado, os fluidos dos animais caçados (basicamente, seu sangue) são sua principal fonte de água. Além disso, eles geram água de forma bioquímica, a partir da própria "carne" do animalzinho que estão comendo.

Poderíamos dizer que esta é uma "água metabólica", gerada como produto principal da sua bioquímica.

O processo é simples. Os hidratos de carbono, gorduras e proteínas da presa são digeridos no estômago do cetáceo (ou do pinípede, se pensarmos em uma foca, no lugar do golfinho). Eles são absorvidos no seu intestino e distribuídos pelo sangue para todas as células do corpo.

Ali, já degradados em ácidos tricarboxílicos, eles entram nas suas prodigiosas máquinas biológicas, que são as mitocôndrias, para obter energia e algo mais: valiosíssimos íons de hidrogênio (H+).

Depois, é só somar os H+ ao oxigênio que respiram (O2) para conseguir o milagre: H2O.

Este processo é chamado de respiração celular. Ele ocorre de forma generalizada nos animais, como organismos aeróbios, mas nem todos têm o mesmo valor relativo.

Para um animal que bebe líquidos, as moléculas de água geradas são elementos "de sobra" eliminados diretamente, gerando mais urina.

Mas, para os mamíferos marinhos, as mitocôndrias são verdadeiras "pedras filosofais da bioquímica", capazes de gerar o mais valioso dos tesouros: a água.

 

¨      Água filtrada é realmente mais saudável do que água da torneira?

Sempre que pode, Shima Chin-See evita beber água direto da torneira.

A geladeira da sua casa em Northwich, no Reino Unido, onde ela mora com sua jovem família, tem um dispensador de água na porta, ligado a um filtro. E, quando ela sai de casa, sempre leva uma garrafa autolimpante de sua confiança, que esteriliza a água através de um chip ultravioleta embutido na tampa.

"O gosto da água filtrada, simplesmente, é melhor", afirma Chin-See. "Eu consigo sentir o cheiro e o gosto das substâncias químicas na água da torneira."

Algumas pessoas acham estranho ouvir isso e uma delas era o seu marido. Certa vez, ele fez com ela uma prova cega de sabor da água. O resultado: ela realmente conseguiu identificar a água da torneira filtrada e não filtrada.

Na verdade, Chin-See está longe de ser a única. A organização sem fins lucrativos Grupo de Trabalho Ambiental entrevistou 2,8 mil pessoas espalhadas pelos Estados Unidos e a metade delas respondeu que a água da torneira não é segura para beber. E cerca de 35% delas filtram sua água para consumo.

Da mesma forma, uma pesquisa de 2023 com mais de 500 pessoas no Reino Unido, realizada pela companhia sueca de filtros Tappwater, concluiu que 42% "não confiam ou não gostam do sabor da água da torneira".

Um quarto dos participantes acredita que a água que sai da sua torneira não é limpa. Suas principais preocupações são os contaminantes, substâncias químicas e bactérias.

Por isso, mais da metade dos moradores de Londres (54%) afirmam que usam filtro de água.

Os filtros de água parecem estar atingindo um apogeu, principalmente na América do Norte, Europa e China.

Em 2022, o mercado global de purificadores de água atingiu o valor estimado de US$ 30 bilhões (cerca de R$ 155 bilhões) e é esperado um crescimento de mais de 7% até 2030.

Os defensores da filtragem da água afirmam que ela pode trazer muitos benefícios, que incluem desde a remoção de toxinas e patógenos até a redução da "dureza" da água e melhoria do seu odor e sabor.

Mas a água filtrada realmente é mais saudável do que a água da torneira?

<><> Ampla variedade disponível

Para quem prefere filtrar a água que consome, existe uma enorme variedade de sistemas à disposição. Filtros de barro, filtros adaptados à torneira, purificadores de bancada, de geladeira e instalados embaixo da pia são apenas alguns exemplos.

Os filtros simples podem custar muito pouco, mas os mais elaborados podem chegar à casa dos milhares de dólares – imagine aparelhos conectados por wi-fi que monitoram o uso da água e detectam problemas na tubulação.

Geralmente, os filtros de água se enquadram em dois grupos principais, segundo Kyle Postmus, coordenador de certificação de filtros da Fundação Sanitária Nacional (NSF, na sigla em inglês), uma organização independente de certificação sediada em Michigan, nos Estados Unidos.

"Os filtros em pontos de uso filtram a água pouco antes que ela chegue ao copo, enquanto os filtros de ponto de entrada tratam a água no momento em que ela entra na residência ou no edifício", explica ele.

Os filtros também se diferenciam pelo tipo de materiais usados na sua produção e pelas diversas tecnologias empregadas para separar a água de outras moléculas. Adsorção, troca iônica, osmose reversa e separação mecânica são as mais populares.

"Diferentes filtros podem atender diferentes necessidades de tratamento", afirma o professor de engenharia civil e ambiental Detlef Knappe, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. "Existem muitas nuances."

A questão é saber o que há na sua água e se ela precisa ser tratada, para encontrar o filtro adequado para a tarefa.

<><> Última defesa

É claro que os possíveis benefícios de filtrar a água da torneira dependem do lugar do mundo em que você vive.

Nos países em desenvolvimento, onde as comunidades têm dificuldade para conseguir acesso à água limpa e potável, "a principal preocupação, normalmente, são bactérias como E. coli e Legionella", explica o professor de química Brent Krueger, um dos diretores do Instituto Global de Pesquisas sobre a Água do Hope College de Michigan, nos Estados Unidos.

A água contaminada pode causar diarreia, uma doença que mata cerca de um milhão de pessoas todos os anos. Cerca de metade das vítimas são crianças com menos de cinco anos de idade – e a doença pode ser evitada.

Os filtros de água podem ser "muito eficazes para eliminar as bactérias", afirma Krueger, que trabalha com sua equipe na América Latina.

Em um experimento, eles instalaram filtros em residências de 16 aldeias na República Dominicana. A medida levou à queda da incidência de diarreia de 25,6% para menos de 10%, entre outros efeitos positivos.

"As crianças perdem menos aulas e os adultos perdem menos dias de trabalho, o que também traz benefícios financeiros para a família", conta Krueger.

Nos países ricos, a água da torneira é rigorosamente regulada e geralmente considerada segura.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a legislação exige que os fornecedores respeitem certos padrões de qualidade da água, tratando mais de 90 contaminantes que podem ser encontrados na água potável da rede pública.

No Reino Unido, a água passa por diversas rodadas de filtragem, seguidas por desinfecção ultravioleta e cloração, até chegar à torneira do consumidor.

A qualidade da água potável e do saneamento do país foi avaliada em primeiro lugar no Índice de Desempenho Ambiental de 2022 – uma avaliação da sustentabilidade global realizada a cada dois anos pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos – ao lado da Finlândia, Islândia, Noruega, Suíça e Holanda.

"Na maioria desses países [ocidentais], o fornecedor de água precisa fazer testes regulares e divulgar as informações ao público", afirma Krueger.

Mas ele adverte: "só porque você tem um grande sistema municipal de água, isso não significa que tudo esteja perfeitamente bem."

As regulamentações podem definir a quantidade de chumbo permitida nos canos, por exemplo. Mas isso nem sempre se estende aos imóveis residenciais – o que pode ser problemático, principalmente em casas mais antigas.

"Canos corroídos são um grande problema. Observo muita toxicidade por chumbo de canos de água antigos", afirma a médica Nirusa Kumaran, diretora da clínica médica HUM2N, em Londres. Nestes casos, os filtros podem ser úteis para retirar o chumbo da água.

Kumaran também afirma que eles podem oferecer uma última linha de defesa contra outras toxinas e substâncias químicas.

"Nós ainda observamos restos de certos medicamentos – terapias de substituição hormonal, pílulas anticoncepcionais, certos medicamentos psicotrópicos – no nosso sistema de água", explica ela. "Eles vêm da urina – quando você libera a medicação na urina, ela vai para o rio."

<><> Os produtos químicos eternos

Existe um grupo de toxinas presentes na água da torneira que preocupa os especialistas. Ele é formado por mais de 15 mil substâncias químicas de origem humana, conhecidas como PFAS (compostos per e polifluoroalquila, na sigla em inglês).

Essas substâncias também são chamadas de "produtos químicos eternos", porque persistem no meio ambiente, sem se degradarem.

Os PFAs estão relacionados a uma série de problemas de saúde, incluindo câncerlesões do fígado e redução da fertilidade.

"Nós nos preocupamos com níveis muito baixos dessas substâncias porque certos PFAS podem se bioacumular no corpo humano de forma bastante significativa", explica Knappe. "E existem agora baixos níveis de PFAS em quase todas as fontes de água, em todo o mundo."

Em 2023, por exemplo, pelo menos um PFAS foi detectado em amostras de água potável de 17 das 18 companhias de água da Inglaterra. E, nos Estados Unidos, os PFAS estão presentes em 45% da água da torneira. Acredita-se que seis a cada 10 pessoas sejam expostas a essas substâncias no país.

Felizmente, os filtros podem ajudar a remover essas substâncias nocivas.

Em um estudo publicado em 2020, Knappe e seus colegas descobriram que filtros de dois estágios e osmose reversa instalados embaixo da pia (com filtros mecânicos e de carvão ativado) são capazes de remover quase todos os PFAS que eles avaliaram.

A organização de Postmus (NSF) fornece certificação para uma série de produtos, incluindo filtros de água. Ele recomenda três tipos específicos de filtros: carvão ativado, troca iônica e osmose reversa.

"Estamos certificando filtros para reduzir os PFAS há cerca de seis anos e temos dados que demonstram que eles são eficientes", ele conta.

<><> Cuidado na compra

Os filtros podem ser úteis para remover substâncias nocivas da nossa água. Mas, às vezes, eles também retiram minerais benéficos. Estes incluem cálcio e magnésio, além de ferro (eliminado para que a água fique mais suave) e manganês (para evitar a descoloração).

Os filtros também podem remover o fluoreto que alguns municípios acrescentam à água da rede pública para ajudar a combater a cárie dentária.

De fato, os filtros de osmose reversa – que, segundo Knappe, estão entre as barreiras mais eficazes que existem, "pois retiram tudo" – são vendidos, às vezes, com cartuchos de remineralização, para tentar devolver minerais benéficos para a água filtrada.

Algumas pessoas também despejam uma pitada de sal marinho na água filtrada, mas, até agora, não existem evidências de que isso seja eficaz para devolver minerais perdidos na filtragem.

Na verdade, o mais importante é conseguir esses compostos importantes na alimentação, segundo Kumaran. "Nós não deveríamos depender da água que bebemos como nossa principal fonte de minerais."

Outra desvantagem dos filtros de água é que, às vezes, eles podem fazer mais mal do que bem, especialmente se as velas não forem substituídas regularmente.

Os filtros de carvão ativado, particularmente, são similares a esponjas e podem servir de campos de criação de bactérias nocivas.

Um pequeno estudo realizado em Singapura comparou amostras de água da torneira com água filtrada da mesma residência. A maioria das amostras de água da torneira continha contagem bacteriana de 500, dentro do limite local de segurança.

Mas, em comparação, esse número foi de 9 mil a 25,4 mil entre 60% das amostras de água filtrada. A contagem mais alta foi retirada de um filtro cuja troca estava vencida há um mês.

Em outro estudo, água mantida em repouso em um filtro de torneira ou embaixo da pia, por apenas uma noite, apresentou aumento das concentrações de bactérias. Para evitar isso, aconselha-se enxaguar seu filtro por pelo menos 10 segundos antes de beber a água.

"Se você não fizer a manutenção adequada, o filtro, no mínimo, não irá trazer nenhum benefício", afirma Knappe. "Ou a água pode sair dele com qualidade até pior do que quando entrou."

<><> Hidratação acima de tudo

Por fim, antes de decidir usar ou não o filtro, é preciso conhecer o tipo de água disponível na sua região e definir o seu nível de conforto e aceitação sobre o que contém aquela água.

"Se você pesquisar um pouco, muitas vezes pode encontrar informações sobre a qualidade da sua água potável", segundo Brent Krueger. Ele explica que as companhias de água normalmente são obrigadas a publicar os resultados dos seus testes, para que fiquem livremente disponíveis.

Além disso, "você pode contratar empresas para testar a sua água, se estiver preocupado com ela", orienta Krueger.

Se você acredita que a água da sua torneira não corresponde às suas expectativas, a etapa seguinte é encontrar um filtro apropriado que se enquadre à sua casa, ao seu estilo de vida e que possa remover os contaminantes específicos em questão.

É difícil recomendar um tipo ou fabricante específico, segundo Kyle Postmus, mas o fundamental é garantir que o filtro que você comprar seja certificado.

"Se o filtro for certificado, pelo menos você sabe que ele é eficaz", afirma ele.

Para Nirusa Kumaran, mais importante do que beber água filtrada ou não é se manter sempre hidratado. "Como médica de assistência primária, vejo muitos problemas causados pela desidratação", orienta ela.

 

Fonte: A. Victoria de Andrés Fernández, para The Conversation/BBC Future