quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Superquarta: entenda por que o BC do Brasil pode subir os juros, enquanto os EUA devem baixar

A semana começa quente no mercado financeiro, na expectativa da principal "Superquarta" de 2024. Esse é o nome das quartas-feiras em que coincidem as reuniões que definem as taxas de juros dos Estados Unidos e do Brasil.

A edição desta semana é especial porque os investidores esperam que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) finalmente dê início ao ciclo de redução dos juros americanos. As taxas estão no maior patamar em mais de 20 anos, em uma briga da maior economia do mundo para conter a inflação após a pandemia de Covid.

Foram meses de expectativa por esse momento, pois juros menores nos EUA melhoram a atividade da economia e dão ânimo para que os investidores do mundo todo procurem mais rentabilidade em novos destinos, destravando tanto investimentos diretos como nas bolsas de valores.

Já o Brasil — que vinha em um movimento de queda desde o ano passado, mas interrompeu o ciclo de cortes — chega a essa Superquarta com a expectativa de que o Banco Central do Brasil (BC) volte a subir a taxa básica de juros (Selic).

O país vem colhendo bons resultados de crescimento econômico, mas o mercado segue invocado com a falta de soluções para as contas públicas.

Enquanto o governo tenta convencer que será capaz de cumprir a missão de controlar os gastos, os investidores deixam o país de fora das primeiras apostas. Sem dólares entrando, o câmbio segue desvalorizado e gerando pressão na inflação brasileira.

Aí que entra o papel do BC como uma espécie de "guardião dos preços". Com a decisão desta quarta, analistas acreditam que a instituição deve subir os juros para mostrar um “cuidado ativo” com inflação, uma forma de convencer o mercado e os investidores de que está vigilante com a piora das expectativas à frente.

Especialistas ouvidos pelo g1 explicam como chegamos a essa Superquarta com sinais opostos entre as duas instituições, e por que o BC brasileiro pode precisar adotar um tom mais equilibrado em caso de alta, para não jogar um balde de água fria na economia brasileira.

<><> Entenda nesta reportagem:

  • O que deve acontecer nesta Superquarta?
  • O que explica a mudança de projeções?
  • Como as decisões devem mexer com a economia?

<><> O que deve acontecer nesta Superquarta?

Nesta edição da Superquarta, as expectativas do mercado são opostas para as instituições. É importante entender o contexto em cada uma delas.

O Federal Reserve deve realizar o primeiro corte de juros desde 2020. O mercado dá a redução como certa desde o discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, em agosto.

Ele disse que “chegou a hora de mudar a política (monetária)” dos EUA, e que há um “amplo espaço” para reduzir os juros. Powell não deu nenhuma pista sobre qual será o tamanho do corte, nem mesmo quantos ocorrerão, deixando essa dúvida entre os analistas.

De acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group, o mercado estima uma chance de 59% de a instituição reduzir os juros norte-americanos em 0,25 ponto percentual (p.p.). Outros 40% acreditam ser possível um corte mais expressivo, de 0,50 p.p.

De qualquer forma, a notícia é positiva. Entre o fim do ano passado e o começo deste, o mesmo FedWatch mostrava que mais da metade do mercado esperava pelo menos um primeiro corte ainda no primeiro semestre. Mas as projeções foram sucessivamente adiadas.

De olho nos dados econômicos que não lhe davam conforto para reduzir as taxas, o Fed foi postergando o ajuste. A instituição olha, principalmente, para a inflação americana, para uma possível pressão dos salários por um mercado de trabalho aquecido e para os números da atividade econômica.

Com juros mais altos, o crédito para consumo das famílias e para os investimentos das empresas ficam mais caros. Por isso, esse período longo que o Fed manteve as taxas mais elevadas ajudou a desaquecer o mercado de trabalho e, depois, a inflação.

Nos últimos meses, a geração de vagas de trabalho diminuiu e a taxa de desemprego subiu para 4,2% em agosto. Um ano atrás, a taxa era de 3,8%.

Já a inflação de agosto caiu para 2,5% no acumulado em 12 meses. Esse é o menor patamar desde fevereiro de 2021, e está mais perto da meta de 2% do Fed.

A exceção é a atividade econômica, que continua forte. O Produto Interno Bruto dos EUA foi de 3% no segundo trimestre. Mas há uma preocupação extra do Fed, de promover um “pouso suave” da economia — ou seja, reduzir a inflação sem prejudicar muito a atividade e os empregos. Um erro de calibração na hora de ajustar os juros pode gerar uma recessão.

Com tudo isso em conta, a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, acredita que essa é apenas a primeira de uma sequência de reduções nos juros americanos até o fim de 2024. “Esse primeiro corte deve ser o menor possível e continuar de forma muito gradual”.

A economista está do lado da maioria do mercado financeiro, e espera um corte de 0,25 p.p. nesta reunião, com mais dois cortes de mesma magnitude em novembro e dezembro. Carla explica que o “modus operandi” do Fed tem sido esse: promover ajustes pequenos enquanto aguarda novos dados econômicos.

Caso a projeção da economista se realize, os juros americanos devem passar da atual faixa de 5,25% a 5,50% ao ano para um patamar entre 4,50% e 4,75%.

Por aqui, o mercado espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) volte a subir a taxa Selic. Segundo os especialistas consultados pelo g1, houve uma piora da dinâmica da inflação nos últimos meses, que colocou os analistas em alerta.

<><> Entre os principais pontos, estão:

  • A forte desvalorização do real em relação ao dólar;
  • O crescimento (bem acima do esperado) da atividade econômica;
  • O desemprego nos menores patamares em 10 anos;
  • A dificuldade de que o governo cumpra o arcabouço fiscal e dê jeito nas contas públicas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acumula 4,24% em 12 meses.

Mesmo que ainda esteja dentro do que se considera uma meta de inflação cumprida, em que o teto é de 4,5%, o BC é obrigado também a olhar as projeções para meses (e anos) à frente, em que o IPCA está gradualmente se distanciando dessa mesma meta.

Segundo a economista sênior da LCA Consultores Thaís Zara, a instituição começou a olhar a situação com mais de cautela diante da proximidade da inflação com o teto da meta, e conforme economistas do mercado financeiro passaram a reavaliar os riscos da economia brasileira citados acima.

“As expectativas estão desancoradas, e isso tende a influenciar a própria inflação. As pessoas acabam reajustando preços porque percebem que a inflação futura pode ser mais alta”, explicou Zara.

Inflação "desancorada" é o jargão do mercado financeiro para definir esse momento em que as projeções dos economistas começam a escapar do que o BC precisa cumprir pela meta de inflação.

No mercado, não há um consenso se a situação é suficientemente grave para a subida de juros, mas a maior parte dos economistas já projeta uma taxa Selic em 11,25% ao ano até o fim de 2024 — 0,75 p.p. a mais que atualmente.

Para Alex Lima, fundador e estrategista-chefe da DA Economics, o mercado ainda pode enfrentar dificuldades para acertar as contas e recalcular as rotas para o que deve acontecer nas próximas reuniões do Copom.

“Vamos precisar viver um dia após o outro. Vai depender muito das sinalizações do Fed e do comunicado do Copom. Também de se condicionar pelos dados econômicos. E de ser relativamente duro para trazer as expectativas do mercado de volta para o lugar”, disse o especialista.

·        O que explica a mudança de projeções?

A previsão de um novo aumento de juros pelo Copom é nova no mercado. A mudança pôde ser vista nos últimos boletins do Focus, relatórios semanais elaborados pelo BC que reúnem projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.

Em janeiro, o Focus apontava para uma queda substancial da Selic em 2024. A estimativa era de que a taxa encerrasse o ano em 9%, o que representaria uma queda de 2,75 p.p. em relação ao fim do ano passado (11,75% ao ano). Já na semana passada, a expectativa apontava para 11,25% ao ano.

Nesse mesmo intervalo, as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) também mudaram bastante, mas para melhor. O Focus apontava para um PIB de 1,60% neste ano. Agora, a expectativa é de alta de 2,68% — com tendência de subir mais nas próximas semanas.

O economista André Perfeito diz que parte do que explica esses “erros sistemáticos de projeção” é a dificuldade que o mercado tem sentido em entender os movimentos da economia e os efeitos das políticas públicas nos números.

“Isso tem a ver com a incapacidade do governo de coordenar as informações”, disse Perfeito.

Em suma, os cálculos são feitos para tentar ler os rumos da economia, mas os erros se acumulam. Com os analistas perdidos, é preciso se segurar em qualquer nova pista do que pode acontecer.

Quando isso se junta com uma desconfiança persistente com os rumos do governo — seja pela necessidade de demonstrar mais preocupação com as contas, seja pelo teste da autonomia do BC com a sucessão de Roberto Campos Neto — um dado fora das expectativas pode mudar todo o rumo da análise.

“A atividade robusta [que pode elevar salários e pressionar os preços], uma desinflação lenta e até mais desafiadora, pioraram as expectativas. E ainda vimos um endurecimento na própria comunicação do Copom, indicando maior cautela e vigilância”, lembra o economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, Claudio Ferraz.

O problema não é uma exclusividade brasileira: não custa lembrar que as expectativas para as taxas de juros nos Estados Unidos também mudaram bastante ao longo de 2024. De março para abril. Depois, maio. Em seguida, junho. Por fim, setembro.

Pela lógica, os juros elevados deveriam levar os Estados Unidos a passar por uma desaceleração muito antes do que se previa. Passaram os meses e a maior economia do mundo continuou mostrando força.

Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a resiliência da economia americana foi puxada às custas do aumento do déficit público (quando os gastos do governo extrapolam as receitas).

“O déficit lá pode ser de um valor monumental, de até US$ 1 trilhão neste ano. Tem muito gasto público, muito programa de transferência de subsídios para investimentos, e tudo isso estimula a economia”, explica Gala.

Mais uma vez, os estímulos fizeram os especialistas errarem o cálculo ao projetar uma recessão para os EUA. No início de agosto, quando o relatório payroll, do mercado de trabalho americano, veio bem mais fraco que o esperado, houve um dia de pânico no mercado financeiro, com quedas de mais de 3% nas bolsas americanas.

O mercado dava como certo que uma crise se aproximava. Dois dias depois, com novos dados de atividade econômica, o "terror" se dissipou, e tudo voltou ao normal.

Por isso, o Fed tem sido absolutamente cuidadoso em suas comunicações. Por isso, Cristian Pelizza, economista da Nippur Finance, acredita que a instituição terá bastante parcimônia ao reduzir as taxas, com cortes de 0,25 p.p.

Tudo se trata de passar a mensagem mais correta possível. Uma surpresa só aconteceria, na visão de Pelizza, se houvesse uma queda muito forte dos empregos em pouco tempo.

“Uma desaceleração no mercado de trabalho poderia dar velocidade ao ciclo e ditar quão rápidos seriam os cortes”, diz o economista.

<><> Como as decisões devem mexer com a economia?

Na teoria, quando os juros de um país sobem, o consumo das famílias se reduz e os investimentos das empresas ficam mais caros. É uma forma de controle da inflação, por meio da desaceleração da atividade econômica.

O que o Copom tenta fazer é encontrar um equilíbrio delicado, de mostrar ao mercado que vai agir ao menor sinal de complicação com a inflação brasileira, mas sem reverter os bons resultados do PIB brasileiro e nem prejudicar o mercado de trabalho, que está nos melhores níveis em 10 anos.

Economistas dizem que a alta de juros é uma forma de demonstrar um “cuidado ativo” com a inflação, para tentar ancorar as expectativas do mercado e driblar pressões também nas projeções de juros.

“Quando olhamos para todo esse balanço de riscos que o Copom analisa, há uma série de fatores que apontam a necessidade de um ajuste adicional. Mas não acredito que será um ciclo de alta muito grande ou extenso, porque a correção de rumo necessária é relativamente pequena”, disse Zara, da LCA.

Para alguns especialistas, no entanto, ainda será necessário acompanhar a evolução do cenário macroeconômico para entender se esse ciclo de altas será suficiente.

“É fundamental o apoio de uma política fiscal mais contida, principalmente porque persistem as dúvidas sobre a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal e o alcance das medidas de estabilização da dívida pública”, afirmou Ferraz, do BTG.

Por outro lado, a provável redução nas taxas americanas deve mexer com o fluxo de dinheiro no mundo todo. E isso pode, inclusive, beneficiar um fluxo maior de capital para o Brasil, melhorando o mercado de ações e também a cotação do dólar.

“Nosso câmbio está rodando em torno de R$ 5,60 muito por fatores domésticos, mas com certeza seria uma pressão para baixo sobre o câmbio esse início de um afrouxamento de juros nos EUA”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Nesse sentido, um consenso entre os especialistas é que uma possível queda do dólar também traria bons efeitos sobre a inflação.

Parte da inflação brasileira é dolarizada, por conta dos diversos insumos e produtos importados que são consumidos no país. Assim, com um dólar mais barato, a pressão dos preços desses itens cai e tende a reduzir a inflação.

Paulo Gala, do Master, conclui que “quanto mais o Fed reduzir seus juros e continuando na estratégia do ‘pouso suave’, menos o nosso BC precisa subir a Selic, porque mais dólar entra no Brasil e ajuda a controlar a taxa de câmbio e a inflação”.

 

Fonte: g1

 

O banco em que a moeda é o tempo, e não o dinheiro

Bancos de tempo se espalharam pelo mundo nas últimas décadas. No Brasil, Florianópolis tem uma das primeiras iniciativas do tipo, com mais de 20 mil participantes trocando serviços que vão de quadros a aulas de inglês.

"Tempo é dinheiro." E se a famosa frase, dita por Benjamin Franklin no século 18, fosse alterada para "tempo é vida"? Foi assim que ativistas ambientais e moradores de Florianópolis, em Santa Catarina, resolveram abordar a questão, há 9 anos.

O grupo, que se reunia periodicamente para discutir diversos temas, mudou ainda mais a percepção sobre dinheiro e sociedade depois de assistir ao filme Zeitgeist (espírito da época), em que Peter Joseph lança um olhar crítico sobre a manipulação das massas por grandes instituições, governos e poderes econômicos. Inspirados por essa ideia, esses moradores e ativistas criaram, em setembro de 2015, o banco de tempo, uma rede solidária que transforma tempo em moeda, conectando pessoas e serviços.

"Já existia um banco pequeno em Garopaba, também em Santa Catarina, que se inspirou no de Portugal. Depois, trouxeram a ideia e adaptaram para Florianópolis", conta Adriana Klin, bióloga e facilitadora do banco na capital catarinense.

O advogado Edgar Cahn ajudou a popularizar a ideia nos Estados Unidos nos anos 80 e 90 e ficou conhecido como o fundador do banco de tempo moderno, estabelecendo o termo TimeBank como marca registrada. Ele criou o conceito de timebanking, inicialmente chamado de time dollars, uma nova moeda de troca de tempo, e não dinheiro.

Hoje há bancos do tempo espalhados pelo mundo. Na Itália, por exemplo, iniciativas semelhantes começaram no início dos anos 90. Em 2002, a ideia chegou a Portugal, onde hoje há várias agências de banco de tempo. Não há uma contabilização oficial de quantos bancos como esse existem mundo afora.

No Brasil, o Banco de Tempo de Florianópolis - BTF foi um dos primeiros e, atualmente, é considerado referência no país.

Foi no aniversário de um ano do banco que a instituição ganhou força. Moradores se reuniram para uma festa, que teve transmissão de uma emissora local, o que atraiu novos membros. "O grupo ficou, então, com mais de 10 mil pessoas", relembra Klin. Ele funciona por meio de um grupo no Facebook, que hoje conta com mais de 20 mil participantes, em sua maioria mulheres.

•        De massagens a mudas de planta

Para participar, a pessoa deve solicitar o acesso ao grupo do Banco de Tempo de Florianópolis na rede social e, uma vez admitida pelos responsáveis da conta, precisa preencher um formulário com suas habilidades e dados pessoais.

"Geralmente, pedimos para cadastrar um talento que te realiza, que te deixa pleno. Essa habilidade nem sempre precisa estar envolvida com a questão de dinheiro. É algo que você desempenha muito bem", explica Gilvana da Silva Machado, uma das facilitadoras do BTF e que participa ativamente das trocas desde fevereiro de 2017.

Por causa do sucesso e aceitação positiva na cidade, os facilitadores, como são chamados os administradores da página, pretendem fazer melhorias para que a ideia se perpetue e chegue a mais pessoas. Na pandemia de covid-19, eles permitiram que moradores de outras cidades e estados participassem e experimentassem as trocas.

Como o Facebook está caindo em desuso, elas afirmam que estão estudando a possibilidade de criar um site ou aplicativo para concentrar os cadastros dos participantes e manter ativo o banco de tempo.

No banco de tempo, não há dinheiro envolvido. Uma hora de jardinagem equivale a uma hora de massagem, por exemplo. Basta o usuário publicar o pedido de serviço ou ofertar algo na página e aguardar o contato de interessados.

Você "paga" com horas, que poderão ser usadas para solicitar outra atividade no futuro, criando um ciclo de colaboração e reciprocidade. Na prática, caso o indivíduo tenha feito um bolo e gastado duas horas nesse processo, ao disponibilizar o alimento para alguém, ele receberá suas horas no banco. Tudo fica controlado dentro de uma planilha administrada internamente.

São aceitos todos os tipos de serviço: aulas de inglês, peças em crochê, massagens, oferta de comidas, mudas de plantas e muitos outros.

Machado conta que já utilizou os serviços dentro do banco diversas vezes. Um dos mais marcantes foi quando precisou encontrar uma doula para acompanhá-la durante sua gestação. "No momento, não estava com muitas condições e propus a ideia. Expliquei como funcionava e ela cadastrou o talento dela no banco", diz.

"Um dos meus talentos era o tarô, mas como a assistência da doula envolvia cerca de 20 horas, fui ofertando e trocando até completar as horas", explica.

•        Senso de comunidade

A artista plástica e gaúcha Maria Selenir dos Santos, de 56 anos, conheceu o banco de tempo em 2017.Ao ingressar no BTF, ela ofertou seus quadros. Seu trabalho era todo feito de forma sustentável, o que, segundo ela, estava alinhado com a instituição.

"Eu vi bastante propósito no banco, e tinha a ver com a minha pesquisa. Um trabalho de conscientização de que é possível viver em harmonia e sem intervenção industrial", diz.

Durante dois anos, participou ativamente do banco, o que lhe permitiu conhecer muita gente e se conectar ainda mais com moradores locais.

Desde 2017, Maria já trocou mais de 100 quadros pintados por ela. Quando deixou a ilha, em 2019, levou até mesmo um móvel que recebeu também por meio do BTF. Hoje, ela mora em Brasília e participa do banco de forma online, sempre que possível.

Além dos itens materiais, a gaúcha ressalta que o principal benefício da iniciativa foi a humanização das relações sociais. "No banco, me senti pela primeira vez vivendo dentro de uma comunidade. Não era financeiro, mas, sim, uma parceria."

Além dos quadros, ela já ofereceu aulas de Tai Chi Chuan e recebeu diversos alimentos em sua casa, como bolos e tortas.

Assim como Maria, a profissional de educação física Luális Alves, 40 anos, utiliza os serviços do BTF há alguns anos. Ela já participou da plantação de hortas comunitárias, trocou alimentos, deu aula de ginástica funcional e outras atividades. Mas, para ela, o ganho principal do projeto são as conexões pessoais.

"Eu acho que o mais legal da plataforma é essa troca olho no olho, esse serviço oferecido para além do dinheiro", ressalta.

•        Todos têm o mesmo valor

Uma das filosofias do banco é reconhecer a importância e o valor das horas para todo mundo. Não há distinção em relação ao serviço ofertado e muito menos a quem oferece.

"O tempo é igual para todos. Não existe isso de o meu tempo é mais precioso que o seu. Essa troca não é igual ao dinheiro", diz Machado.

Segundo as representantes do banco, a organização é uma poderosa ferramenta de inclusão e transformação social. "Havia pessoas que nos agradeciam. Algumas conseguiam comer só porque recebiam por lá e não tinham grana para comprar um alimento", diz Klin.

"Uma faxineira que trabalhava lá por quatro ou cinco horas e ganhava essas horas depois, conseguia fazer uma massagem ou ter acesso a uma consulta com um médico que, muitas vezes, não conseguiria pagar", acrescenta a bióloga.

Ao valorizar o tempo e a participação de todos de maneira igualitária, a iniciativa tem atraído um número crescente de pessoas que buscam fortalecer os vínculos comunitários e explorar novas formas de convivência.

"Em um mundo onde o valor das coisas costuma ser medido em dinheiro, o banco de tempo surge como uma alternativa real para construir laços e colaborar de maneira mais humana", pontua Alves.

 

Fonte: DW Brasil

 

Saiba a importância do papel da prevenção contra as doenças do coração

Como vai esse coração? A pergunta e, principalmente a resposta, ganham uma importância extra quando se referem à saúde. Manter o coração saudável é a forma inicial de prevenção contra doenças cardiovasculares, uma das maiores causas de mortes no país, totalizando quase 400 mil óbitos por ano, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A campanha Setembro Vermelho está no ar com o objetivo de conscientizar a população sobre o papel da prevenção contra as doenças do coração. Precaução é a base de todo o cuidado.

As doenças cardiovasculares são condições que afetam o coração e os vasos sanguíneos do corpo, causando transtornos como ataques cardíacos, doença arterial coronariana, acidentes vasculares cerebrais (AVC), entre outros problemas. “O problema é grave porque essas doenças são responsáveis por mais de 30% das mortes no país. São mais de 380 mil todos os anos, cerca de mil por dia. O Brasil registra uma morte a cada 40 segundos devido às doenças cardiovasculares”, alerta o cardiologista Gustavo Torres.

Muitos ainda subestimam os riscos das doenças cardíacas por elas se desenvolverem de forma silenciosa, mas podem se manifestar de maneira grave, como em um infarto. O médico ressalta que as doenças do coração provocam o dobro de óbitos causados por todos os tipos de câncer, duas vezes mais que as causas externas (acidentes e violência), três vezes mais que as doenças respiratórias, e seis vezes mais que todas as infecções.

Os principais fatores de risco hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias, tabagismo, sedentarismo, estresse, obesidade, e histórico familiar de problemas cardiovasculares. “O controle desses fatores é essencial à redução do risco em ter problemas relacionados ao coração. A melhor maneira de tratar uma doença é a sua prevenção, por isso é importante o checkup cardiológico”, diz

 “É através dos exames de rotina que o paciente conhece a importância de manter seus números (pressão arterial, glicose, colesterol) e demais fatores de risco dentro da normalidade, conhecendo e reduzindo o risco cardiovascular”, diz Gustavo.

A hipertensão, que está entre os problemas mais comuns a afetar o coração, pode ser combatida com prática regular de atividade física, controle do peso, consumo controlado de sal, evitar estimulantes, diminuir a sobrecarga física e emocional são medidas que nos ajudam a melhor controlar a pressão arterial. “Na maioria dos casos, apesar destas medidas, o uso de medicamentos anti-hipertensivos se torna necessário”, completa o cardiologista.

O estresse recorrente também pode causar lesões crônicas aos vasos sanguíneos, abrindo espaço para problemas cardiovasculares. Quadros habituais de raiva podem comprometer a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos, causando lesões que geram efeitos irreversíveis no sistema circulatório e aumentam o risco de doenças cardíacas.

Entre os sintomas que devem despertar a atenção do indivíduo: dor ou desconforto no peito; falta de ar ou dificuldade para respirar; palpitações; fadiga ou fraqueza, mesmo após descanso adequado; tonturas ou desmaios; inchaço nos tornozelos, pernas, pés, abdômen ou área ao redor dos olhos.

•        Coração jovem

Um equívoco ainda muito associado às doenças cardíacas é a questão da idade: não é algo que só afeta gente idosa. Segundo Gustavo Torres, isso é um erro. “Cada vez mais nos deparamos com pessoas jovens vítimas de problemas cardiovasculares. Os jovens precisam estar atentos aos fatores de risco para doença cardiovascular já citados, porque o seu controle deve ser iniciado precocemente”, afirma.

O cardiologista explica que os exames de rotina devem ser realizados a partir dos 20 anos, a cada cinco anos, para portadores de fatores de risco, com história familiar de doença cardiovascular prematura, ou anualmente após os 40 anos de idade. “O histórico familiar de doença cardíaca deve ser valorizado e os exames feitos mais precocemente, a partir dos 20 anos de idade, caso algum parente de primeiro grau tenha evento cardíaco”, ressalta.

Há também outras vias que podem chegar ao coração, bem menos óbvias do que parece, mas igualmente preocupantes. Muita gente nem desconfia que muitos cuidados com o coração também envolvem a boca – e não se trata apenas da alimentação. “As bactérias presentes na cavidade bucal podem ser levadas à corrente sanguínea e em casos específicos se alojar no coração, podendo levar a problemas de infecção ou dano nas válvulas cardíacas”, explica o médico.

Estudos indicam que cerca de 45% das doenças cardíacas e 36% das mortes por problemas do coração têm origem dentária. As bactérias associadas a doenças periodontais e gengivais possuem relação direta com condições como a endocardite ou infecção do endocárdio. Um dos sinais que pode salvar vidas e que é fácil chamar atenção, é a condição do hálito, pois ela pode indicar graves problemas de saúde.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, as doenças cardiovasculares são as responsáveis por um terço das mortes entre mulheres em todo o mundo, cerca de 8,5 milhões de óbitos por ano. Para o cardiologista, podem contribuir para isso alguns fatores específicos como a menopausa, além das causas tradicionais.

Já pela via da alimentação, quanto mais saudável, melhor para o coração. “A alimentação saudável colabora muito na redução do risco cardiovascular, além de melhoria geral na qualidade de vida. São exemplos de alimentos cardioprotetores as frutas e verduras, carnes brancas, azeite, fibras. Devem ser evitadas frituras, carboidratos em excesso, alimentos industrializados, gordurosos ou que contenham excesso de sódio ou conservantes”, diz.

 

•        Dois tipos de pacientes que devem tomar aspirina todos os dias

A aspirina é um medicamento popular utilizado para tratar dor, inflamação e febre. Além disso, o remédio é popularmente utilizado de forma profilática contra doenças cardíacas. Porém, desde 2019, esse medicamento não é mais recomendado para homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 60, segundo o American College of Cardiology (ACC) ou Colégio Americano de Cardiologia, em tradução livre, e a Associação Americana de Cardiologia.

Nesse contexto, o cardiologista Dr. Jeremy Londou publicou um vídeo em seu TikTok na última quarta-feira (11), explicando que, realmente, nem todo mundo deve tomar aspirinas como forma preventiva. Porém, há dois grupos específicos que devem tomar doses do remédio diariamente. Texto também possui informações do New York Post.

<><> Quem deve tomar duas aspirinas por dia?

O cardiologista Dr. Jeremy London explica que há dois tipos de pacientes que se beneficiam por tomar aspirina todo dia. O primeiro são as pessoas que tiveram algum ataque cardíaco ou derrame:

— Desde que [essas pessoas] não tenham histórico de complicações de sangramento, eles devem tomar de 75 a 100 mg de aspirina por dia —, explica.

O médico também explica que o segundo grupo de pessoas que podem ter algum benefício pela dose diária de aspirina são pessoas que não tiveram ataque cardíaco, mas estão entre 40 e 70 anos de idade.

— Se você se enquadra nessa [segunda] categoria, e tem um risco progressivo de eventos cardiovasculares, você pode considerar a terapia [profilática] com aspirina —, complementa.

No entanto, para pessoas com 70 anos ou mais, o cardiologista explica que os riscos de desconforto gastrointestinal e sangramento associados à aspirina superam os benefícios de tomá-la para prevenir eventos cardiovasculares. Por isso, não recomenda que pessoas acima de 70 anos tome o remédio.

Essa recomendação também estão alinhadas com o Dr. Roger Blumenthal, especialisa do American Heart Association (Associação Americana de Cardiologia, em tradução livre).

— Tomar aspirina [todos os dias] não é mais recomendado para pessoas que nunca tiveram um evento cardíaco. É recomendado apenas para pessoas que os profissionais de saúde acham que têm um risco significativo e alto o suficiente para merecer continuar a tomá-la —, complementa.

Embora haja custos e benefícios a serem considerados na terapia com aspirina, uma nova pesquisa do Mass General Brigham descobriu que tomar duas aspirinas por semana pode ajudar a reduzir o risco de câncer colorretal em adultos que vivem estilos de vida pouco saudáveis.

Independende de qual grupo você possa estar classificado, nunca tome um remédio sem consultar seu médico, que fará a recomendação adequada para seu organismo e condição médica.

<><> Efeitos da aspirina, conforme fabricante

De acordo com a bula da aspirina, o remédio pode ter as segundas reações e efeitos colaterais:

•        “Distúrbios do trato gastrintestinal como má digestão (dispepsia), dor gastrintestinal e abdominal, raramente inflamação gastrintestinal, úlcera gastrintestinal, podendo levar, mas muito raramente, a úlcera gastrintestinal com hemorragia e perfuração, com os respectivos sinais e sintomas laboratoriais e clínicos; doença do diafragma intestinal, caracterizada por múltiplos finos septos (diafragmas) e que podem levar a obstrução intestinal, com frequência desconhecida (especialmente no tratamento de longo prazo);

•        Aumento do risco de sangramento devido a seu efeito inibitório sobre a agregação plaquetária, como hemorragia intra e pós-operatória, hematomas, sangramento nasal (epistaxe), sangramento urogenital (pela urina e genitais) e sangramento gengival;

•        Foram raros a muito raros os relatos de sangramentos graves, como hemorragia do trato gastrintestinal e hemorragia cerebral (especialmente em pacientes com pressão alta não controlada e/ ou em uso concomitante de agentes anti-hemostáticos), que em casos isolados podem ter potencial risco de morte;

•        Anemia pós-hemorrágica/ anemia por deficiência de ferro (por exemplo, sangramento oculto), a longo ou curto prazo (crônica ou aguda), apresentando sintomas como fraqueza (astenia), palidez e diminuição da circulação sanguínea (hipoperfusão);

•        Reações alérgicas (hipersensibilidade) como doença respiratória exacerbada por aspirina, reações leves a moderadas que potencialmente afetam a pele, o trato respiratório, o trato gastrintestinal e o sistema cardiovascular, com sintomas tais como erupções na pele (rash cutâneo), urticária, inchaço (edema), coceira (prurido), rinite, congestão nasal, alterações cardio- respiratórias e, muito raramente, reações graves, como choque anafilático;

•        Mau funcionamento temporário do fígado tem sido relatado muito raramente (disfunção hepática transitória com aumento das transaminases hepáticas);

•        Zumbidos (tinitos) e tonturas, que podem ser indicativos de sobredose;

•        Destruição/rompimento das células sanguíneas (hemólise) e anemia hemolítica em pacientes que sofrem de deficiência grave de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD);

•        Comprometimento dos rins e alteração da função dos rins (insuficiência renal aguda).

•        O ácido acetilsalicílico pode causar a síndrome de Reye, uma rara, mas grave reação que se apresenta como distúrbio da consciência, comportamento anormal ou vômitos, em crianças com doença viral (veja item “4. O que devo saber antes de usar este medicamento?”).”

 

Fonte: Tribuna do Norte/NSC Total

 

"Ajuste fiscal não será feito às custas dos mais pobres e bilionários devem ser tributados", diz Haddad

Em entrevista concedida ao programa Bom Dia, Ministro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, abordou o cenário fiscal brasileiro e destacou a importância de reequilibrar as contas públicas, mas sem comprometer o salário mínimo ou os programas sociais, como o Bolsa Família. A entrevista trouxe uma série de reflexões sobre o papel das grandes empresas no pagamento de impostos e as reformas estruturais que estão em andamento no país.

Desde 2015, segundo Haddad, o Brasil vive um processo de desajuste fiscal, agravado pela queda no ranking mundial das maiores economias do mundo. "Nós passamos de sexta para a 12ª economia do mundo. Hoje já somos a oitava novamente, e estamos a duas posições de recuperar o recorde do governo Lula", afirmou o ministro, em uma fala que reflete o otimismo em relação à recuperação econômica.

<><> Ajuste fiscal e equilíbrio

Haddad enfatizou a necessidade de um ajuste fiscal criterioso. Segundo ele, o processo deve ser feito sem sobrecarregar os que mais precisam da ajuda do Estado. "Você deixa uma grande empresa 10 anos sem pagar imposto e, para equilibrar as contas, vai em cima do salário mínimo? Não pode ser assim. Tem que acabar com esses 'jabutis'", declarou o ministro, criticando os privilégios concedidos a grandes corporações.

Ele ressaltou que o governo tem buscado apoio do Congresso para promover ajustes fiscais que sejam justos, de forma a garantir que todos contribuam de maneira proporcional à sua capacidade. Segundo o ministro, não há "lobby de pobre" em Brasília, mas o setor empresarial tem grande influência sobre as decisões políticas. "É um inferno. Temos que acabar com esses lobbies empresariais", acrescentou.

<><> Geração de empregos e crescimento econômico

Entre os destaques positivos, Haddad apontou a geração de mais de 1,5 milhão de empregos em poucos meses, fato que, segundo ele, tem contribuído para o crescimento econômico previsto em 3% para este ano. "Estamos batendo recorde de geração de empregos. Hoje o problema não é demanda, mas oferta de mão de obra. Empresários de diversos setores estão com dificuldade de contratar", afirmou.

Ele também comentou sobre a deflação registrada no último mês e como a combinação de baixa inflação e alto nível de empregos coloca o Brasil em uma das melhores posições históricas do ponto de vista econômico.

<><> Reformas estruturais e desafios

O ministro destacou que, além do ajuste fiscal, o governo está comprometido em realizar reformas estruturais de longo prazo, como a tributária e a do novo arcabouço fiscal. Ele lembrou que a reforma tributária estava em discussão há mais de 40 anos, mas só agora foi possível avançar. "Conseguimos fazer a maior reforma tributária dentro do regime democrático, o que é uma vitória histórica", celebrou.

No entanto, Haddad não minimizou os desafios à frente. Ele destacou que a economia global enfrenta incertezas, desde mudanças climáticas a tensões geopolíticas, e que o Brasil deve continuar atento. "Economia é como uma estrada. Você nunca sabe o que vai encontrar na próxima curva. O PIB pode crescer, mas há muitas variáveis fora do nosso controle", alertou.

<><> Tributação das grandes fortunas

Durante a entrevista, Haddad também abordou um tema polêmico: a tributação das grandes fortunas. Embora considere a medida justa, o ministro reconheceu as dificuldades práticas de implementá-la em nível nacional, citando a possibilidade de evasão fiscal e mudança de domicílio dos mais ricos. Por isso, o governo brasileiro levou a proposta ao G20, sugerindo que a tributação seja feita de forma internacional. "Se você tem bilhões de dólares, deve ser tributado, independentemente do país em que reside", explicou.

Com um tom otimista, o ministro reforçou que o governo está comprometido em ajustar as contas públicas sem sacrificar os mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que busca reformar setores estratégicos para garantir o crescimento sustentável e equilibrado do país. "Temos muitos desafios, mas também muitas oportunidades pela frente", concluiu Haddad, deixando uma mensagem de esperança em relação ao futuro econômico do Brasil. 

<><> Haddad reconhece dificuldade em implementar taxação de super-ricos: 'tem fuga de capital, mudança de domicílio fiscal'

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, relatou nesta quinta-feira (12) dificuldades para implementar a taxação dos super-ricos no mundo. O titular da pasta defendeu a importância de atuação de órgãos de controle em nível internacional, para evitar crimes fiscais e, por consequência, assegurar que uma possível taxação de grandes volumes de dinheiro tenha efeito prático, seja dentro ou fora do Brasil.

De acordo com o titular da pasta, as tentativas anteriores de taxar fortunas "nem sempre produziram os melhores resultados". "Não porque seja injusto, mas porque, do ponto de vista prático, você tem fuga de capital, mudança de domicílio fiscal", disse ele em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da TV Brasil.

Na entrevista, Haddad reforçou a necessidade de apoio entre vários países para que a proposta dê certo. "Quando você tenta cercar por um lado, o contribuinte foge por outro. Você tem vários magnatas brasileiros que fizeram planejamento tributário para não pagar [tributos]".

¨      "Não tem lobby de pobre em Brasília", diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez duras críticas à atuação de lobbies empresariais em Brasília e defendeu uma reforma fiscal mais justa, durante uma entrevista divulgada pelo canal "Cortes 247" no YouTube. Segundo Haddad, grandes empresas têm sido favorecidas há mais de uma década com isenções fiscais, enquanto as classes menos favorecidas arcam com o peso do ajuste nas contas públicas.

"Deixa uma grande empresa 10 anos sem pagar imposto e, para fazer o ajuste fiscal, o foco acaba sendo no salário mínimo, no Bolsa Família. Alguém tem que pagar a conta, e é isso que estamos tentando corrigir", desabafou o ministro. Ele enfatizou que o desequilíbrio fiscal no Brasil, presente desde 2015, prejudicou o crescimento econômico do país, levando-o a perder posições no ranking mundial das maiores economias. "O Brasil era a sexta maior economia do mundo e caiu para a 12ª. Agora estamos subindo novamente e já somos a oitava", disse Haddad.

Ao destacar a necessidade de uma gestão fiscal equilibrada, Haddad apontou que é essencial manter uma postura criteriosa na revisão de contas públicas, para garantir que a população mais vulnerável, que depende das oportunidades oferecidas pelo Estado, não seja prejudicada. Ele ressaltou que grandes corporações que não têm contribuído adequadamente precisam voltar a pagar seus impostos. "Não tem lobby de pobre em Brasília. O que existe é lobby de empresas, de escritórios de advocacia. Isso precisa acabar", declarou o ministro.

<><> Ajuste fiscal com justiça social

Haddad afirmou que a equipe econômica do governo está empenhada em encerrar o ciclo de desorganização fiscal que marcou a última década, muitas vezes alimentado por pressões empresariais. "Nós estamos conversando com o Congresso para colocar um fim nos 'jabutis' e na 'pauta-bomba'. Isso precisa acabar. Precisamos de mais transparência e de apoio a quem realmente precisa", argumentou.

O ministro reconheceu que algumas áreas da economia, como indústrias nascentes e setores estratégicos, ainda precisam de incentivos, mas destacou que o país também precisa encontrar um caminho de equilíbrio. Ele elogiou o desempenho do agronegócio brasileiro, que recentemente se consolidou como o maior exportador mundial de produtos alimentícios industrializados. "O Brasil se tornou um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Agora, precisamos equilibrar nossas contas e continuar gerando empregos", afirmou.

<><> Expectativa otimista para a economia brasileira

Fernando Haddad demonstrou otimismo quanto ao futuro da economia brasileira, mencionando os números positivos da geração de empregos nos primeiros sete meses do ano. "Geramos 1,5 milhão de empregos em sete meses, um recorde. Hoje, nosso problema não é demanda, mas oferta de mão de obra. Empresários de diversos setores estão com dificuldades para contratar, e isso mostra que estamos no caminho certo", disse.

Com uma projeção de crescimento econômico superior a 3% para o ano, Haddad acredita que o Brasil está em um momento propício para realizar as correções necessárias na política econômica. Ele reforçou que é crucial manter o foco na redução das taxas de juros, a fim de garantir a sustentabilidade da dívida interna e permitir que o país volte a crescer acima da média mundial. "Nós já acumulamos reservas cambiais desde o período do presidente Lula, não temos dívida externa, e agora precisamos controlar nossa dívida interna", comentou.

Ao final da entrevista, Haddad destacou que, apesar dos desafios, está confiante de que o país vai superar as dificuldades. "Estou otimista com a economia brasileira. Temos tudo para voltar a crescer, sem subestimar os problemas e desafios que enfrentamos", concluiu.

 

¨      “Temos uma elite econômica malthusiana que não acredita no Brasil”, afirma Renato Janine Ribeiro

Em entrevista ao canal Tutaméia, Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), teceu duras críticas à elite econômica brasileira, classificando-a como “malthusiana” — uma referência à teoria de Thomas Malthus, que previa o crescimento populacional desproporcional aos recursos alimentares. Segundo Ribeiro, essa elite não acredita no Brasil e age de maneira predatória, explorando recursos e comprometendo o futuro do país.

“Nós temos no Brasil uma elite econômica que não acredita no Brasil, uma elite malthusiana”, afirmou o ex-ministro, em alusão ao comportamento dessa classe, que prioriza seus interesses à custa da sustentabilidade e do bem-estar coletivo. “Essa elite não crê que o Brasil possa ir para frente, não acredita que o país possa dar certo”, completou.

<><> Desastre ambiental e irresponsabilidade governamental

Ribeiro destacou o impacto das queimadas e da destruição ambiental, particularmente na Amazônia, ressaltando o caráter criminoso de muitos incêndios florestais. Para ele, a destruição da floresta em prol da expansão agrícola e pecuária revela uma postura negligente e assassina em relação ao meio ambiente.

“O que estamos vendo é uma tragédia evitável. Muitas das queimadas são feitas de maneira irresponsável para expandir a soja ou o gado, atividades que não precisam destruir a natureza para prosperar”, declarou. Em tom de desabafo, acrescentou: “Hoje, viver no Brasil é sentir na pele os efeitos dessa destruição. Recentemente, em uma viagem por várias regiões do país, a seca e a fumaça eram onipresentes”.

Ribeiro também mencionou a falta de ações efetivas do governo de Jair Bolsonaro em proteger o meio ambiente, citando a infame declaração do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre "passar a boiada" enquanto a atenção estava voltada para a pandemia de COVID-19.

<><> Educação e ciência em risco

O ex-ministro também alertou sobre o ataque às instituições científicas e educacionais durante o governo Bolsonaro, enfatizando o papel crucial da ciência na proteção ambiental e no desenvolvimento do Brasil. “A ciência previu o que estamos vivendo. É assustador que, mesmo com todo o conhecimento disponível, continuemos em um caminho de destruição”, disse Ribeiro.

O ataque à ciência, segundo ele, não se limita ao Brasil. Em uma de suas observações mais incisivas, Ribeiro apontou o fenômeno global de desinformação, que atingiu seu ápice durante a pandemia de COVID-19, mas que continua a ameaçar o desenvolvimento da ciência e da educação. “Vivemos num período em que as fake news são usadas como arma para desacreditar a ciência e promover políticas destrutivas”, lamentou.

<><> Esperança na reconstrução

Apesar das críticas, Ribeiro demonstrou otimismo com a eleição de Lula e a nomeação de Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente. Segundo ele, a nomeação de Marina simboliza uma oportunidade de reconstruir a política ambiental do país e recolocar o Brasil no caminho da sustentabilidade.

“O Brasil tem tudo para ser uma potência ambiental. Temos uma biodiversidade única e cientistas brilhantes. O que precisamos é de uma elite comprometida com o futuro do país, e não apenas com seus lucros imediatos”, concluiu.

O ex-ministro encerrou a entrevista reforçando a importância da mobilização social e de uma grande campanha em defesa da justiça fiscal e social, defendendo um sistema de impostos mais progressivo que contribua para o crescimento sustentável do Brasil.

<><> Uma elite desconectada do povo e do meio ambiente

Ribeiro destacou que, enquanto países desenvolvidos avançam em direção a energias renováveis e preservação ambiental, a elite brasileira parece fixada em modelos ultrapassados de exploração. Ele lamentou o retrocesso nas políticas de incentivo à ciência e à inovação, mencionando o desmonte de estaleiros e projetos de trens de alta velocidade, que poderiam ter colocado o Brasil no cenário global de inovação.

A fala de Renato Janine Ribeiro reflete uma crítica profunda ao estado atual das políticas públicas no Brasil, especialmente no que tange ao meio ambiente e à ciência, reforçando a necessidade de mudança e de um olhar voltado para o futuro do país.

 

Fonte: Brasil 247