terça-feira, 25 de março de 2025

Isenção de IR mostra o caminho para a reeleição de Lula

O governo Lula entregou para o Congresso o primeiro passo da reforma do imposto de renda, que isenta as pessoas que ganham até 5 mil reais por mês e oferece um desconto para quem ganha entre 5 mil e 7,5 mil. O projeto também propõe recuperar a receita perdida com um imposto mínimo sobre os super-ricos, que hoje pagam menos imposto de renda que uma policial ou um professor universitário.

O projeto apresentado é o primeiro passo da reforma do imposto de renda. Com a isenção, a tabela de fato do imposto de renda passa a ter na prática uma única alíquota: quem não está dentro da isenção, vai pagar 27,5% de imposto. Isto é, os trabalhadores que recebem salários acima da faixa de isenção pagarão 27,5%.

O próximo passo da reforma do imposto de renda é justamente o fim da isenção de lucros e dividendos, que faria os capitalistas pagarem imposto como todos nós, trabalhadores. Corrigida a distorção dos lucros e dividendos, aí sim será possível corrigir a tabela, para favorecer a classe média-alta com a correção de toda a tabela às custas da criação de uma alíquota mais elevada para os super-ricos.

Como eu disse no ano passado, a reforma do imposto de renda tem tudo para ser um ponto alto do governo Lula. Ela também vem após uma série de anúncios de políticas voltadas para a classe trabalhadora, como os medicamentos gratuitos na farmácia popular, o primeiro pagamento de fim de ano do pé-de-meia, o Desenrola Rural e o do novo programa Crédito do Trabalhador. 

Aqui, é bom fazermos uma pausa para reflexão: ao contrário do que parte da esquerda tem dito, o programa não é um incentivo ao endividamento da classe trabalhadora. Pelo contrário, 76,1% das famílias já estão endividadas, principalmente com os juros mais abusivos de cartões de crédito e cheque especial. A medida provisória exige que, nos primeiros 120 dias, qualquer crédito novo deve ser utilizado para pagar modalidades não consignadas e sem garantia. Também exige que os juros sejam menores. Assim o peso das parcelas cairá e aliviará o bolso de quem tem dívidas e é CLT. Caso o trabalhador quite as parcelas em dia, seu FGTS continua intocado para a emergência da demissão.

Esse conjunto de propostas marca o retorno do lado popular da frente ampla que derrotou o bolsonarismo. A segunda metade de 2024 foi dominada pelo discurso da austeridade, que culminou em um pacote de cortes de gastos sociais. A virada para a austeridade foi combinada com a disparada do dólar (causada pela eleição de Trump nos EUA e ampliada pela especulação cambial no Brasil), o aumento de preços internacionais de alimentos e com a crise do PIX. Essa mistura explosiva derrubou a popularidade do governo.

As medidas populares recolocam o governo no rumo correto. A reforma ministerial também está colocando o governo em melhores condições de combate, com presenças mais altivas na liderança da Câmara (Lindbergh Farias), na Secretaria de Relações Institucionais (Gleisi Hoffmann) e no Ministério da Saúde (Alexandre Padilha). A mudança de comunicação, promovida por Sidônio Palmeira, já é perceptível até nas falas do ministro Haddad, que tende a ser mais tecnocrático, mas tem adotado falas mais combativas.

Não é por acaso que o lado liberal da frente ampla reagiu: Simone Tebet já adiantou que o governo tem uma briga interna marcada para o fim do mandato sobre o futuro do arcabouço fiscal. Como todos sabemos, o governo fez a proposta sabendo que teria que revisar o arcabouço no futuroidealmente só em 2027, pois o arcabouço fiscal é incompatível no médio-prazo com os pisos constitucionais da saúde e da educação.

A briga do arcabouço fiscal será levantada na campanha de 2026 e dividirá a frente ampla: de um lado, o campo popular proporá que o arcabouço fiscal tem que caber dentro da Constituição. A ministra Tebet e seu campo proporão austeridade para colocar a Constituição dentro do arcabouço. Resta saber de que lado ficará o resto da equipe econômica.

A briga agendada do arcabouço, aliás, prenuncia os dois desafios que o governo tem até a reeleição. Primeiro, o governo precisa manter anúncios de políticas públicas para a classe trabalhadora para recuperar sua popularidade com entregas concretas – isso deve incluir a classe trabalhadora informal e as classes médias. Além de lançar as políticas, é preciso garantir que o público alvo participe, um problema do programa Desenrola.

Segundo, o governo precisa mostrar que tem lado e, caso não consiga implementar propostas do campo popular, tem que mostrar disposição para brigar. Hoje, parte do problema de comunicação na verdade é um problema de política: o governo não assume que o conflito faz parte da política. As dificuldades na vida dos trabalhadores e trabalhadoras estão aí e, na falta de um culpado, a culpa será do governo. Se a alta de preços de alimentos não é culpa do agronegócio, que está lucrando como nunca com preços internacionais altos, vai ser culpa do governo.

A comunicação sobre a isenção do imposto de renda mostrou alguma melhora: Haddad foi claro, no anúncio do programa e nas entrevistas, de que trata-se de um programa a favor de milhões de pessoas trabalhadoras e contrário a 141 mil folgados que não pagam impostos. Essa postura tem que continuar: lançar programas populares e identificar que trata-se do governo tomando o lado da classe trabalhadora contra os ricos que não fazem sua parte.

¨      Com isenção e redução de imposto de renda para até R$ 7 mil, Lula rompe tabu histórico

Em uma das maiores economias do mundo, assolada, porém, pela chaga de ser também uma das mais desiguais, as medidas recentemente propostas pelo governo federal representam um passo crucial para, afinal, romper esse paradoxo histórico.

A reforma proposta, que isenta totalmente de Imposto de Renda aqueles que ganham até R$ 5 mil e reduz a carga tributária para faixas de renda intermediárias, é uma iniciativa que merece amplo apoio do Parlamento. Essas medidas não apenas aliviam o peso sobre os trabalhadores de menor renda, mas também estimulam a economia ao injetar mais recursos no bolso das famílias que mais consomem em proporção de sua renda.

Com mais dinheiro circulando, há um efeito positivo no consumo, o que impulsiona o crescimento econômico e gera mais empregos. É uma política que combina justiça fiscal com estímulo à atividade econômica, beneficiando tanto os cidadãos daquela faixa quanto o país como um todo. Vale lembrar que os que ganham até R$ 7 mil também serão beneficiados por isenção de até 70% do imposto de renda a pagar.

Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, o ministro Haddad destacou que a proposta foi muito bem recebida porque “quem vai pagar essa conta é quem hoje não paga Imposto de Renda”. Ele afirmou que a medida corrige uma injustiça tributária que há muito tempo beneficia os mais ricos. “Estamos corrigindo uma injustiça tributária que há muito tempo beneficia os mais ricos”, disse Haddad, ressaltando que a criação de uma alíquota de 10% para os super-ricos só incidirá sobre aqueles que atualmente não recolhem nada ao fisco.

A decisão de tributar os ganhos financeiros dos setores mais abastados, que percebem mais de R$ 50 mil mensais, é um avanço significativo na correção de distorções históricas do sistema tributário brasileiro. A medida constava dos compromissos de campanha de Lula na eleição de 2022.

Enquanto os trabalhadores de renda média e baixa pagam até 27,5% de imposto de renda, os grandes investidores do mercado de ações gozavam de isenção total de imposto.

Rendimentos financeiros semelhantes nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, são taxados com alíquota média de 20%.

Essa mudança é um passo importante para reduzir a desigualdade e garantir que os mais ricos contribuam de forma justa para o desenvolvimento do país.

Com medidas que rompem tabus erigidos pela plutocracia que sempre deu as cartas no país, a gestão Lula afronta o credo neoliberal que dominou as políticas econômicas na última década.

É sabido que o neoliberalismo enfatiza os privilégios aos milionários, sob o argumento falacioso e jamais provado de que a riqueza irriga a economia e assim traz benefícios aos pobres.

Já o governo de Lula crê na criação de instituições que imponham a justiça de oportunidades e de encargos, de olho nos mais necessitados. Estima-se que essa isenção será suficiente para já garantir um crescimento mínimo de 3% da economia em 2026.

Nacionalista, progressista e distributivista, o governo Lula busca assim resgatar a imensa dívida social que o Brasil acumulou ao longo de sua história.

Haddad também criticou a política monetária do Banco Central, que nesta semana elevou em mais um ponto a taxa Selic, para 14,25%, prejudicando o crédito e o crescimento econômico. “Não acredito que seja necessário provocar uma recessão para controlar a inflação. É possível crescer de forma sustentável sem comprometer a estabilidade econômica”, afirmou o ministro.

Além disso, Haddad destacou a criação do crédito consignado para trabalhadores formais com garantia do FGTS. A medida permitirá a renegociação de dívidas a taxas menores, beneficiando diretamente os trabalhadores. Nos primeiros dias, a plataforma aberta para isso teve uma expressiva procura, com mais de 15 milhões de acessos. Estimativas dão conta de que o novo consignado injetará R$ 40 bilhões na economia.

Em um momento em que o mundo enfrenta crises econômicas e sociais sem precedentes, o Brasil de Lula dá exemplo de como é possível conciliar crescimento econômico com busca de justiça social efetiva.

Com essas mudanças tributárias, Lula cria um antes e um depois: antes, a estrutura de impostos acirrava a desigualdade estrutural. Depois, se forem aprovadas, elas atuarão, afinal, para mitigar a injustiça e promover mais igualdade de renda e oportunidades.

¨      Justiça tributária: mudança no IR pode reduzir desigualdade no Brasil

O projeto de lei (PL) que prevê a isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação de pessoas que recebem mais de R$ 50 mil por mês, se aprovado pelo Congresso Nacional, aproxima o Brasil do sistema tributário de países mais igualitários, como França e Alemanha. A avaliação é da professora de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Clara Zanon Brenck.

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“Países mais igualitários, como os mais desenvolvidos da Europa, tendem a tributar de maneira mais progressiva. O Brasil, fazendo essa mudança, vai se aproximar desses países”, disse à Agência Brasil.

Na última terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao Congresso o PL. Além de isentar do imposto de renda o trabalhador que recebe até R$ 5 mil mensais, o texto cria descontos na tributação para a faixa entre R$ 5 mil e R$ 7 mil.

Em contrapartida, a proposta cria alíquota de cobrança de imposto para pessoas com renda superior a R$ 600 mil anuais – média de R$ 50 mil mensais. Essa cobrança dos mais ricos proporciona o que os especialistas chamam de neutralidade fiscal, ou seja, o que o governo deixará de arrecadar das pessoas com menor renda será compensando cobrando dos ricos.

Nas contas do Ministério da Fazenda, 10 milhões de brasileiros vão parar de pagar IR, o que representa uma renúncia fiscal prevista em R$ 25,84 bilhões.

Esse valor será compensado com a cobrança de imposto de 141,3 mil pessoas. Na base de cálculo da renda desses contribuintes serão incluídos rendimentos atualmente isentos, como dividendos (distribuição de lucros de empresas).

Ainda segundo a Fazenda, nove em cada dez brasileiros que pagam IR terão isenção total ou parcial. Dos declarantes do IR, mais de 26 milhões (65%) não vão pagar nada. Já a tributação sobre altas rendas atingirá 0,13% dos contribuintes e 0,06% da população.

<><> Justiça tributária

A economista Clara Brenck explica que justiça tributária é a ideia de que “quem recebe mais vai pagar mais proporcionalmente à sua renda”.

Ela exemplifica que, se uma pessoa recebe R$ 5 mil e paga R$ 500 de imposto de renda, isso representa 10% da renda. Se uma pessoa que ganha R$ 500 mil paga R$ 50 mil, isso também representa 10%, e é um caso em que não há justiça tributária.

“Você tem as pessoas pagando o mesmo tanto de imposto, independentemente da sua renda”, aponta a professora, que também é pesquisadora do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ela, ao lado de políticas de distribuição de renda, a justiça tributária é um elemento “muito importante” para a redução da desigualdade de um país.

<><> Cobrança no topo

Para a professora, as mudanças propostas caminham para redução da desigualdade, mas ainda não são suficientes. Cálculos do Made apontam maior efetividade caso a alíquota dos ricos ficasse próxima de 15%. Isso faria com que os mais ricos e a maior parte da população que paga imposto sentissem no bolso a mesma carga tributária efetiva ─ o que a pessoa realmente paga de imposto no fim das contas.

Ao defender a proposta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem demonstrado que a alíquota efetiva da classe média é de cerca de 10%.

“O grande mérito dessa proposta é que ela abre uma avenida para a gente discutir justiça tributária”, afirmou Haddad na quinta-feira (20), em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, transmitido pelo Canal Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

A professora Brenck avalia que é adequado determinar o piso de renda de R$ 50 mil mensais como alvo da tributação progressiva, mas acha que não são necessariamente super-ricos. “A gente não pode chamá-los de super-ricos”, diz, antes de emendar: “é mais do que justo essas pessoas passarem a pagar mais e ir aumentando progressivamente”.

Outro fator que impede mais igualdade, diz a professora da UFMG, é a tributação indireta, que faz com que consumidores paguem imposto na hora de comprar produtos e serviços. Isso faz com que pessoas de baixa renda paguem, proporcionalmente, mais imposto que os ricos.

Clara Brenck afirma que a primeira parte da reforma tributária, que unificou tributos e teve a regulamentação sancionada no começo deste ano, não resolveu o problema pelo fato de os dois temas terem sido tratados separadamente.

“A partir do momento em que você separa a reforma indireta da reforma da renda, você mantém a proporção da reforma indireta na carga tributária total, e é esse o problema”, avalia.

“Tinha que mexer nessa composição do quanto [da arrecadação] que vem do imposto direto da renda e quanto que vem do indireto. Fazendo as duas reformas separadas, você não consegue mudar as proporções”, complementa.

A economista defende também que haja, ao longo do tempo, a correção pela inflação do valor das faixas de renda que sofrem a tributação. “Para continuar atingindo os estratos de renda que a gente quer. O que chamamos de super-ricos hoje vai ser diferente daqui a 10 anos”.

<><> Desigualdade de renda

No Brasil, a renda dos 10% mais ricos é 14,4 vezes superior à dos 40% mais pobres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O esforço para reduzir a desigualdade é uma das bandeiras do governo para convencer o Congresso a aprovar o projeto de lei.

“Nós figuramos entre as dez piores distribuições de renda do mundo. É isso que nós temos que explicar para a sociedade. O Brasil está entre os dez países com pior distribuição de renda do mundo”, citou Haddad no Bom Dia, Ministro.

“Tem muita gente que tem renda que concorda com a justiça social. Não é porque a pessoa tem renda que ela vai deixar de votar em um projeto justo. Você pode ter certeza, muita gente ali [representada no Congresso], empresário, fazendeiro, vai votar a favor desse projeto porque sabe que ele é justo”, espera.

<><> Tramitação

O texto enviado pelo governo ao Congresso passará a valer se for aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado. Nesse caminho, a matéria pode sofrer alteração por parte dos parlamentares.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que o Congresso terá a sensibilidade para ver o alcance social da proposta, mas não descartou alterações no sentido da melhoria das medidas.

O analista da Tendências Consultoria, João Leme, disse à Agência Brasil que o PL “pode ser considerado um avanço em termos de justiça tributária” e corrigir algumas distorções próprias da dinâmica brasileira, como o fato de os estratos mais ricos terem a maior parte da renda isenta, como no caso de dividendos.

Mas ele adverte que há o risco de, no Congresso, não haver a aprovação da parte que trata da tributação dos mais ricos.

“Há risco de que esses mecanismos de contrapartida fiscal acabem sendo diluídos ou excluídos durante a tramitação legislativa, o que tornaria a medida um tiro no pé, dado que o custo fiscal não seria propriamente equalizado, aumentando a incerteza fiscal, deteriorando expectativas e complicando o frágil equilíbrio político e econômico do governo”, analisa. “A expectativa é que as equipes de articulação do governo pressionem pela manutenção desses contrapesos”.

<><> Extremos da pirâmide social

O pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, considera que a parte mais importante e desafiadora do PL é fazer com que os que ganham mais de R$ 50 mil mensais em média passem a pagar mais imposto.

Para ele, tornar a tributação mais progressiva, sem tantas isenções e desonerações para os mais ricos, é essencial para a redução das desigualdades, de forma “que permita ao país cumprir um de seus objetivos fundamentais estabelecidos no Artigo 3º da Constituição Federal de 1988, que é reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

Hecksher, especialista em desigualdade de renda, adverte que a proposta governista beneficia diretamente “quem está no meio da distribuição de renda, não na base”. Dessa forma, ele chama atenção para a parte do Orçamento dos governos dedicada a programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

“A redução das desigualdades de renda realizada de 2001 a 2014 foi muito concentrada em aumento de gasto público destinado aos mais pobres”, cita.

 

Fonte: Opera Mundi/Brasil 247/Jornal GGN

 

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