As
doenças infecciosas derrotadas graças às vacinas
Não nos
lembramos da maioria das picadas porque éramos bebês. Talvez em uma ou outra situação
particular, quando precisamos dela para acampar ou éramos surpreendidos por uma
ferida profunda fruto de nossas travessuras infantis.
As
vacinas nos protegem desde sempre e, graças a elas, assim como o juramento de
Scarlett O'Hara (personagem do filme E o Vento Levou), jamais
sofreremos novamente com algumas doenças graves que desde o início da
humanidade tiveram consequências catastróficas.
Nem
nós, nem ninguém, desde que as campanhas de erradicação se estendam
massivamente, como em alguns casos que vamos recordar. A esperança é que todas
as doenças infecciosas sejam levadas pelo vento.
Não
podemos esquecer de Edward Jenner, médico inglês que descobriu como o vírus vaccinia das
vacas era capaz de provocar imunidade contra a varíola quando
inoculado em pessoas saudáveis. Desde então, as vacinas têm salvado a
humanidade de um grande número de doenças infecciosas.
- A primeira
doença erradicada
A
varíola é a única doença infecciosa erradicada
por meio de uma vacina. É causada por um vírus da família Poxviridae,
que tem DNA como material genético.
Pesquisas
arqueológicas indicam que a doença, transmitida pelo contato com feridas ou com
gotículas emitidas pela respiração de alguém infectado, afetava a humanidade
havia bastante tempo, com indícios de sua presença em sociedades muito antigas.
A taxa
de mortalidade era muito elevada, em torno de 30%, e a doença era caracterizada
pela aparição de pústulas, algumas das quais se tornavam cicatrizes pelo corpo,
e, em alguns casos, até cegueira. A morte, que costumava acontecer na segunda
semana, vinha da resposta inflamatória massiva que causava choque e levava à
falência múltipla dos órgãos.
A
vacina consiste na inoculação no organismo do vírus vaccinia,
semelhante ao da varíola, mas que, em condições normais, causa uma doença mais
leve. Não é uma vacina de vírus atenuado ou inativado — ele está vivo!
Desde
1977, a doença é considerada erradicada graças à vacinação. Uma das vacinas que
está sendo desenvolvidas contra a covid-19 utiliza uma metodologia semelhante
com um vírus que causa estomatite — mas está em estágio menos avançado do que
aquelas que utilizam RNA e adenovírus.
O
último caso de contágio natural foi diagnosticado em outubro de 1977 e, em
1980, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou a erradicação em todo o
planeta.
- Não apenas
manchas na pele
O
sarampo é uma doença causada por um vírus RNA da família dos paramixovirus.
Assim como o Sars-CoV-2, causa infecção (ainda que com muito mais eficácia) e
se reproduz nas vias aéreas superiores. Cerca de 90% das pessoas suscetíveis
que se expõem ao vírus são infectadas.
O ser
humano é único hospedeiro do vírus do sarampo. A doença se caracteriza por
sintomas como febre, tosse, dor de garganta e um exantema característico
(manchas na pele). Pode apresentar complicações como bronquite, laringite,
pneumonia, encefalite e causa problemas na gravidez. A porcentagem de casos
fatais é de um em mil, mas a taxa pode chegar a até 10% em países em
desenvolvimento.
O
imunizante foi desenvolvido nos anos 60 e é baseado em um vírus atenuado. São
necessárias duas doses, geralmente administradas com as vacinas da rubéola e da
caxumba.
Ainda
que a vacina de sarampo tenha contribuído para a diminuir a mortalidade
infantil (calcula-se que tenha prevenido 1,4 milhão de mortes no mundo), a
doença está longe de ser erradicada — no momento em que a população deixa de se
vacinar, imediatamente aparecem novos surtos. E, por ser muito contagiosa, o
número de pessoas que sofreriam complicações seria grande o suficiente para
saturar rapidamente os recursos hospitalares disponíveis — soa familiar?
- A vacina contra
paralisia que se toma via oral
A
poliomielite foi descrita pela primeira vez pelo alemão Jakob Heine em 1840. É
causada por um enterovírus conhecido como poliovírus (PV), que
é também um vírus RNA. A doença afeta principalmente o sistema nervoso e só
acomete seres humanos.
A
maioria das infecções de polio é assintomática. Só em 1% dos casos o vírus
infecta e destrói os neurônios motores, causando fraqueza muscular e paralisia
aguda, afetando principalmente as crianças.
A poliomielite
é altamente contagiosa e se propaga facilmente por meio de secreções
respiratórias e por rota fecal-oral. Em zonas endêmicas, o poliovírus é capaz
de infectar praticamente toda uma população humana.
Existem
duas versões da vacina, uma de vírus inativado, injetável, e outra de vírus
atenuado, administrada via oral. Em 1988, a polio causava deficiência motora em
mais de mil crianças por dia. A partir de um programa mundial de erradicação
empreendido pela OMS, em 2001 o número de casos havia caído para menos de mil
por ano.
A
poliomielite está erradicada na maioria dos países ocidentais, mas não ainda em
todo o mundo. Espera-se que ela seja a segunda doença viral eliminada do globo,
depois da varíola.
- A vacina
antitetânica, a cada 10 anos
O
tétano é uma infecção provocada por uma neurotoxina secretada pela
bactéria Clostridium tetani, que pode ser encontrada em terras
agrícolas, fezes e intestinos de animais de granja e ratos. Seus esporos, meio
pelo qual se dissemina, entram no corpo geralmente por meio de ferimentos na
pele.
Materiais
que remontam ao século 5 a.C. descrevem a enfermidade. Hipócrates foi o
primeiro que escreveu sobre os sintomas do tétano, como a hipercontração de
músculos. A doença causa espasmos violentos, rigidez e desestabiliza o sistema
nervoso autônomo.
Não
existe imunidade natural, nem mesmo para aqueles que já tiveram contato com a
bactéria e se curaram. Por isso, além de medidas de higiene, a imunização é a
única forma de prevenção.
A
vacina antitetânica se baseia em um "toxoide", uma versão inativa das
toxinas liberadas pela bactéria que causa a doença.
Ele não
desencadeia a enfermidade, mas ativa o sistema imunológico contra o agente
patogênico. Tem uma taxa de efetividade de 99%, mas a proteção diminui com o
tempo. Por isso, a revacinação a cada 10 anos é imprescindível.
A
imunização é universal e sistemática para crianças e adultos, com calendários
específicos vigentes em cada país. Ela é especialmente importante para aqueles
com mais de 50 anos, idosos que vivem em asilos, moradores da zona rural,
imigrantes, doentes que passarão por cirurgias, diabéticos, portadores de HIV,
dependentes químicos e pessoas com tatuagens e piercings.
As
vacinas vêm tendo papel importante em melhorar a qualidade de vida em todo o
planeta. Previnem doenças e evitam sofrimento e mortes.
Fonte:
Por María Mercedes Jiménez Sarmiento, Matilde Cañelles López e Nuria Eugenia
Campillo, em The Conversation
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