terça-feira, 5 de novembro de 2024

Problema não está no pobre de direita e sim na esquerda elitista,  diz Paulo Galo

O ativista Paulo Galo, que ficou conhecido em 2020, quando liderou protestos de entregadores por melhores condições de trabalho durante a pandemia, aponta uma crítica contundente à esquerda brasileira, que, segundo ele, se tornou elitista e alienada das questões reais da classe trabalhadora. Em uma entrevista publicada pelo UOL, Galo detalha como a desconexão com a base e o distanciamento das questões materiais têm fragilizado a atuação da esquerda. Para ele, o problema não está nos “pobres de direita”, mas numa “esquerda branca” e “playboy” que idealiza a consciência política enquanto ignora a realidade concreta.

“É o pensamento da classe média, de toda a esquerda branca, essa coisa de que tudo está dando mer** porque o pobre ‘não tem consciência’ ou ‘não sabe votar’”, declara Galo, em crítica direta à postura paternalista de intelectuais que culpam a população de baixa renda por não aderirem a determinadas ideologias. Ele contesta a ideia de que a classe trabalhadora é alienada e argumenta que as condições materiais de vida influenciam diretamente a consciência política. Para ele, ao contrário do que pensam alguns setores da esquerda, “a materialidade faz cada pessoa ser o que é”.

O ativista denuncia o que considera um erro fundamental: a noção de que a esquerda “acordou” para as injustiças sociais de forma natural, sem levar em conta as oportunidades e privilégios que permitiram o desenvolvimento dessa consciência. “Eles foram para a faculdade, tinham livros em casa, condições para impulsionar essa consciência”, argumenta Galo, em contraste com a realidade de quem enfrenta dificuldades financeiras cotidianas. “Por que eu sou o problema e você é a solução?”, questiona ele, subvertendo a ideia de que só existe uma visão válida para a luta social.

Para Galo, não se trata de uma divisão entre direita e esquerda, mas de entender que, enquanto a classe média permanece em sua “zona oeste” — uma referência à área nobre de São Paulo —, o trabalhador comum lida com dificuldades concretas, distantes das pautas e discussões elitizadas da academia e dos círculos políticos. O resultado, segundo ele, é que a esquerda se torna “arrogante para caralh*” e incapaz de dialogar com quem está fora da sua bolha. “Quando tentam interagir fora da bolha, são arrogantes para caralh*, chatos para caralh*, e as pessoas não aguentam”, afirma.

<><> Uma nova forma de base: a religião e o trabalho com a periferia

Outro ponto levantado por Galo é o abandono do trabalho de base pela esquerda. Para ele, existe um potencial transformador na religião que tem sido negligenciado por lideranças políticas. “Dá para fazer uma nova Teologia da Libertação usando a religião evangélica e a própria palavra de Deus”, explica ele, citando passagens bíblicas que, a seu ver, reforçam a luta de classes e a justiça social. Galo ressalta o poder de mobilização e conscientização que a fé pode proporcionar aos trabalhadores e lamenta que a esquerda se afaste dessa abordagem.

Para ele, passagens bíblicas como “é mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no reino dos céus” demonstram o potencial de resistência e de conscientização contidos na fé popular, algo que deveria ser reconhecido e aproveitado por movimentos sociais. Ao contrário do que muitos líderes progressistas acreditam, a religião, segundo Galo, não é apenas “ferramenta para alienar”, mas uma via potente de encontro e organização popular.

Ele vai além ao sugerir que, com a abordagem certa, seria possível até criar “coaches de esquerda” para a periferia, usando as mesmas estratégias de motivação pessoal que atraem tantas pessoas para o sucesso individual, mas com uma visão coletiva. “Dava para fazer um Pablo Marçal de esquerda”, declara ele, referindo-se a influenciadores que popularizam métodos de enriquecimento pessoal. “Dá para pegar as mesmas ferramentas que alienam e usá-las para desalienar. É só chegar aqui na periferia, tomar uma cerveja e trocar uma ideia normal, do dia a dia".

<><> A esquerda e seu vício na política eleitoral

Galo também critica a dependência da esquerda em relação à política eleitoral, descrevendo-a como um foco estreito que limita o alcance de suas ações. Ele menciona o exemplo do pastor Henrique Vieira, que, ao tentar realizar um trabalho de base, foi “sequestrado pela institucionalidade” e absorvido pela política partidária, perdendo o contato direto com a comunidade. “O problema é que a esquerda parece não saber fazer nada que não envolva voto”, conclui Galo, apontando para uma lacuna que deixa muitas demandas da classe trabalhadora sem uma resposta prática e eficaz.

Em sua visão, a verdadeira luta não se dá exclusivamente nas urnas ou em instâncias institucionais, mas no contato direto com a população, respeitando sua vivência e construindo uma consciência coletiva a partir de suas necessidades reais. Esse movimento, para ele, passa por superar preconceitos, ouvir sem julgamentos e criar uma esquerda que não apenas fale em nome dos trabalhadores, mas que verdadeiramente os compreenda e os represente.

 

¨      Conservadores e os ditos progressistas. Por Gastão Reis

A “progressista” esquerda brasileira, lançando mão da técnica de Gramsci, marxista italiano que pregava a tomada do poder pela superestrutura, ou seja, imprensa, televisão, rádios, sindicatos patronais e de trabalhadores, escolas, universidades etc, acabou sendo descoberta pela ampla maioria conservadora do País. E resultou na vitória dos candidatos de perfil conservador de direita nas últimas eleições. A má-fé de Gramsci ficava evidente ao propor que tudo isso deveria ser feito sem que as pessoas percebessem. Como se diz, na moita. Mas, finalmente, perceberam.

Durante muito tempo no Patropi, a esquerda usou o rótulo de progressista, taxando a direita de conservadora em que esta última palavra era usada como sinônimo de atraso. E foi assim que, durante décadas, a maioria conservadora foi amordaçada, e, de certa forma, subjugada por um discurso político que a associava a tudo de ruim que teria havido em nossa História. Puro jogo de cena político, sem visão histórica alguma, ao esquecer, por exemplo, que as leis abolicionistas foram todas passadas por gabinetes conservadores no Império.

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Boa parte da intelectualidade se deixou encantar pela obra de Marx, como a Bíblia redentora a ser lida, e posta em prática, para que o País pudesse de fato avançar. (Eu mesmo, no início da vida adulta, li O Capital, página por página, num curso do Prof. Lauro Campos, na UnB). Mas pouco se falava da luta de classes como motor (enguiçado, claro!) da História para não assustar a população. E foi assim que penetraram no ensino médio para angariar adeptos mal-informados sobre os reais problemas brasileiros a serem enfrentados.

E passaram a contar a história do Brasil que era conveniente a seus propósitos. O Brasil passou a ser o último grande país a abolir a escravidão, sem mencionar que houve uma política séria de alforrias, única no mundo, que havia libertado 80% dos descendentes de africanos quando foi assinada a Lei Áurea. Até em colégios religiosos de prestígio nacional, professores de História passaram a seus pupilos a tal visão crítica em que nosso passado só tinha coisas ruins, propondo-lhes um futuro (socialista) que seria tudo de bom.

Claro que a figura do empresário nas aulas saía bem chamuscada. Despertar o espírito empreendedor dos alunos estava fora de questão. Cuba, Nicarágua e Venezuela eram países heroicos em luta contra o maldito capitalismo. Felizmente, as redes sociais e a reação conservadora trouxeram ao grande público a realidade dos fatos nesses países. Pobreza e fome.

Aos poucos, a reação conservadora foi-se firmando. Escola sem política foi um movimento que, fundamentalmente, queria livrar as crianças da doutrinação gramsciana. Aquela coisa cretina de lhes fazer a cabeça sem que elas notassem que estavam indo nessa direção. A má-fé é evidente. Cristo quando andou nestas paradas terrenas jamais escondeu a que veio. Sempre disse a seus apóstolos qual era sua missão salvadora sem enganar ninguém. Obviamente, os milagres que ele fazia sem buscar maior divulgação eram a confirmação de sua divindade. Tudo às claras.

Essa contraposição entre Gramsci e Cristo deixa claro os propósitos de cada um. Um pregava o amor ao próximo em geral, o outro pregava o amor ao mais próximo, aquele do grupelho partidário sempre pronto e enfiar a mão no dinheiro público com a desculpa de que o usava para o bem do povo, vale dizer, o povo obediente ao partido salvador da pátria. Quem não se lembra das manifestações do PT turbinados a sanduíches de mortadela e refrigerante e um troco para atrair o manifestante, lá no fundo, não muito convicto. A militância do PT havia ido para o brejo. As últimas eleições estão com jeito de pá de cal.

Aquele palavrório lulista sem maiores compromissos, em especial com números inventados por ele, o grande cacique, foi perdendo toda credibilidade. O segundo 7 de setembro esvaziado em Brasília não poderia ser mais eloquente da ilegitimidade de Lula para a maioria da população brasileira. Em especial pelo fato de ter sido ressuscitado politicamente pelo STF, nas palavras do ministro aposentado Marco Aurélio Mello. Não poderia ter sido sequer candidato. Aqui está a raiz da ilegitimidade de Lula pouco mencionada e sua brutal rejeição a ponto de fugir de contatos públicos a não ser do domesticado.

Não obstante, o discurso da grande mídia e do andar de cima, comprometido até as orelhas com o status quo desigual, nos diz que está lutando pela democracia. Exatamente aquela que não permite ao eleitor brasileiro controlar seu representante entre as eleições. Sem voto distrital puro, ou equivalente, e a possibilidade de revogação de mandatos (recall) pelos eleitores quando seu representante não estivesse à altura. Aquela democracia que deixaria um europeu ou um americano rindo entre os dentes.

Mas o drama brasileiro vai além em termos de representatividade. Distorções introduzidas no sistema eleitoral brasileiro pelos militares para dar maior peso político ao Nordeste jamais foram removidas após a dita redemocratização com a saída dos militares. Exemplo: enquanto um deputado federal por São Paulo, em média, precisa mais de 100 mil votos para se eleger, um de Roraima pode chegar ao congresso com 15 mil.

Nos EUA, onde vigora o critério de um homem um voto, pouco importando o estado em que esteja localizado, levou, no passado, a estado que não tinha sequer um representante na Câmara Federal. Acabava sendo representado pelo deputado federal do estado vizinho.

O mais grave é que estamos diante de uma situação política que internalizou as distorções deixadas pelos militares. As regiões mais dinâmicas do país estão sub-representadas politicamente, e assim incapazes de, democraticamente, propor reformas e políticas capazes de beneficiar o País como um todo. Mais ainda: levar a sério o combate à desigualdade.

 

¨      "A direita não vai aderir ao PT se o PT se tornar mais direitista", diz Rui Costa Pimenta

Em entrevista à TV 247 na última sexta-feira, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, fez críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT), alertando para as consequências de uma possível guinada à centro-direita na busca por apoio eleitoral. Segundo Pimenta, a estratégia seria "suicida" e não traria o apoio da direita ao PT: "A direita não vai aderir ao PT se o PT se tornar mais direitista", afirmou ele. Para o líder do PCO, o Partido dos Trabalhadores enfrenta uma crise de identidade política e perde espaço popular para o bolsonarismo.

Pimenta abordou questões internacionais, expressando ceticismo sobre o cenário eleitoral nos Estados Unidos: “Vejo Trump como favorito, mas há uma grande chance de que ele não leve", afirmou, mencionando que, em uma eventual vitória de Kamala Harris, quem "governará será a máquina, o chamado estado profundo". Em relação à política externa brasileira, ele criticou o que vê como submissão do país aos interesses norte-americanos, comentando que “o Brasil já está controlado pelo sistema financeiro internacional – e por isso não vive sob sanções". Ele defendeu que o Brasil deveria integrar-se à iniciativa da Nova Rota da Seda, liderada pela China, mas apontou que "o motivo provável [da resistência brasileira] também é a pressão do imperialismo".

Ao tratar da política ambiental, Rui Pimenta criticou a postura de Lula em relação à Margem Equatorial. Ele sugeriu que o presidente deveria "encontrar uma maneira de passar por cima dessa resolução do Ibama sobre a Margem Equatorial", especialmente em um contexto de emissões poluentes americanas: "Enquanto os Estados Unidos não reduzirem em 70% sua emissão de carbono, o Brasil não deve fazer nada". Sobre a atuação de organizações internacionais, ele se posicionou de forma crítica em relação ao Greenpeace, que considera "mais uma onda imperialista, que deveria sofrer restrições no Brasil".

O presidente do PCO também comentou a direção que o PT tem tomado em relação ao identitarismo. Para ele, a insistência do partido nessa linha tem contribuído para sucessivas derrotas eleitorais da esquerda, o que se manifestou, segundo ele, no fracasso da candidatura de Guilherme Boulos, que “não gerou entusiasmo da base de esquerda". Rui Costa Pimenta foi direto: "O PT parece ter cera no ouvido e não consegue ouvir o grito contra o identitarismo", destacando que iniciativas como a recente participação da drag queen Rita Von Hunty na EBC são "um prato cheio para a direita".

Segundo ele, o bolsonarismo permanece forte e mantém apoio popular, superando o PT nas ruas, apesar da popularidade de Lula. Ele ponderou sobre a situação para as próximas eleições: "Bolsonaro hoje é o maior cabo eleitoral brasileiro. Por que ele vai entregar o bastão?", questionou, concluindo que a esperança do PT estaria em um embate direto entre Lula e Bolsonaro em 2026.

Rui Costa Pimenta, portanto, adverte o PT sobre os riscos de uma estratégia de adaptação à direita, enfatizando a necessidade de uma postura firme contra as pressões externas e as alianças questionáveis para retomar o apoio popular.

 

¨      Bolsonaro luta por sobrevivência política enquanto direita se fragmenta. Por Esmael Morais

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está travando uma batalha estratégica para manter-se relevante no cenário político brasileiro. Inelegível até 2030 devido a decisões do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro movimenta-se nos bastidores em busca de uma anistia que lhe permita disputar as eleições presidenciais de 2026.

Na semana passada, Bolsonaro esteve no Congresso Nacional articulando não apenas a anistia para si, mas também para os presos nos eventos de 8 de janeiro. Sua presença ativa indica uma tentativa clara de retomar o controle da narrativa política e evitar que novos líderes da direita ocupem o espaço que antes era seu.

“Estou vivo e o candidato sou eu”, declarou Bolsonaro à revista Veja.

“Falam em vários nomes. Tarcísio, Caiado, Zema…O Tarcísio é um baita gestor. Mas eu só falo depois de enterrado. Estou vivo. Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu”, reagiu o ex-presidente.

Pelo sim pelo não, figuras como Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, ganham destaque como possíveis candidatos da direita para 2026.

Caiado, após a vitória de seu candidato em Goiânia contra um nome apoiado por Bolsonaro, afirmou que “ninguém aguenta mais” a polarização extrema, sinalizando uma busca por alternativas dentro do próprio campo conservador.

O presidente Lula (PT), por sua vez, parece preferir enfrentar Bolsonaro novamente nas urnas. A avaliação nos corredores do Palácio do Planalto é que um adversário já conhecido e desgastado poderia facilitar a conquista de um quarto mandato. No entanto, a emergência de novos nomes na direita, menos polarizadores e com potencial de atrair o eleitorado moderado, preocupa o PT.

governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), também surge como uma figura de destaque. Após consolidar uma frente ampla em Curitiba, inclusive com os partidos da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), ele é cogitado tanto como candidato à Presidência quanto como possível vice na chapa de Lula. Sua postura pragmática e alianças estratégicas o colocam como um jogador importante no tabuleiro político.

As eleições municipais recentes reforçaram a fragmentação da direita e a necessidade de reavaliação de estratégias. Partidos de centro como PSD, MDB e União Brasil saíram fortalecidos, enquanto o PT, isoladamente, mostrou fragilidade, conquistando poucas prefeituras de destaque. Esse cenário aumenta a pressão sobre Lula para ampliar sua base de apoio e ajustar a articulação política de seu governo.

No entanto, porém, todavia, foi graças à centroesquerda, do Oiapoque ao Chuí, candidaturas mais moderadas foram vencedoras nas capitais e cidades que tiveram segundo turno. A unidade foi fundamental para derrotar os extremistas, a exemplo de Cristina Graeml (PMB), em Curitiba, Fred Rodrigues (PL), em Goiânia, e Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte.

Dentro da própria direita, Bolsonaro enfrenta críticas de antigos aliados. O pastor Silas Malafaia expressou decepção com o ex-presidente, questionando sua liderança. Ronaldo Caiado chamou Bolsonaro de “extremamente deselegante” e “desrespeitoso”, evidenciando o racha interno.

A busca por uma terceira via também ressurge. Governadores como Caiado, Tarcísio e Ratinho Junior posicionam-se como alternativas à polarização entre Lula e Bolsonaro. Eles defendem uma política menos ideológica e mais focada em resultados concretos para a população.

Enquanto isso, o governo Lula enfrenta o desafio de entregar melhorias econômicas palpáveis. A população espera por crescimento, geração de empregos e aumento do poder de compra. A capacidade do governo em atender a essas demandas será decisiva para o cenário eleitoral de 2026.

Em resumo, Bolsonaro luta para manter-se respirando politicamente em meio a um campo conservador cada vez mais fragmentado, embora o ex-presidente repita “o candidato sou eu”. A direita busca novos líderes, o centro ganha força e Lula precisa repensar suas alianças. Os próximos movimentos serão decisivos para definir quem estará na proa em 2026.

 

Fonte: Brasil 247/O Dia

 

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