quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Planalto vê Trump mais forte no retorno à Casa Branca e ameaça à democracia brasileira

Aliados do presidente Lula (PT) avaliam que o novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos terá mais força e deve pressionar a democracia brasileira, informa a jornalista Daniela Lima, do G1. Trump conseguiu vencer Kamala Harris no voto popular e deve construir maioria na Câmara e no Senado que, aliados a uma Suprema Corte conservadora, darão mais poder ao novo presidente.

"Ao contrário de 2016, ele agora teve também a maioria do voto popular. Deve fazer a maioria na Câmara, já tem a do Senado e, mesmo antes de sair, tinha moldado uma suprema corte conservadora", avalia um conselheiro de Lula. Nesse sentido, Trump pode ter mais força para implementar políticas mais extremas, como uma possível  deportação em massa, além de revanches contra adversários políticos. "Algumas propostas precisam de maioria absoluta no congresso americano, mas sem dúvida ele terá mais espaço para manobra", explica o aliado do presidente brasileiro.

Diante desse cenário, o amplo poder trumpista nos Estados Unidos pode ter implicações diretas na política brasileira. Comissões na Câmara e no Senado americanos podem dar espaço para questionamentos à democracia brasileira, à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), aliado de Trump.

Com a radicalização da política externa dos Estados Unidos, com possíveis políticas protecionistas, a China deve ganhar importância estratégica para o Brasil, avaliam conselheiros de Lula. "Nesse cenário, BRICS e Mercosul precisam ser analisados como mercados estratégicos para o Brasil", defendem.

¨      Vitória de Trump nos EUA é péssima notícia para Lula e cria "embaraço", diz analista

A confirmação da vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, na manhã desta quarta-feira (6), representa uma “péssima notícia” para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na avaliação do cientista político Ricardo Ribeiro, das consultorias MCM e LCA.

Para o especialista, Lula assumiu um risco relevante ao tornar pública sua nada surpreendente torcida pela candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris, do Partido Democrata. O episódio, avalia, trouxe riscos de criar uma espécie de “embaraço diplomático”, mesmo com o reconhecimento do resultado e dos cumprimentos feitos pelo mandatário brasileiro a Trump nas redes sociais.

“Ao tornar pública sua posição, Lula se arriscou a, no mínimo, criar um clima de embaraço diplomático em caso de vitória de Trump ─ o que acabou ocorrendo”, disse o especialista em análise distribuída a clientes.

Em mensagem publicada em sua conta oficial do X (antigo Twitter), Lula afirmou que a democracia “deve ser respeitada” e desejou sorte ao republicano.

Na avaliação de Ribeiro, embora a tendência seja de o governo brasileiro trabalhar para manter a normalidade das relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos, as expectativas podem não ser tão favoráveis.

“As relações entre os dois governos tendem a ser, na melhor das hipóteses, protocolares. No pior cenário, serão tensas. O grau de animosidade dependerá mais do governo Trump do que do governo Lula, a quem não interessará alimentar atritos com os Estados Unidos”, observou.

Para o especialista, o retorno de Donald Trump à Casa Branca também terá impactos, ainda que indiretos, na política doméstica brasileira, soprando ventos em direção ao campo da direita e de uma agenda conservadora.

“Assim como é o caso da eleição municipal, a vitória de Trump não terá efeito direto sobre o cenário da eleição presidencial de 2026 no Brasil. Porém, como ocorreu com a eleição municipal, o sucesso de Trump reitera a força política contemporânea da direita e da agenda conservadora. E ajuda a criar um clima de animação para a direita e de apreensão para a esquerda”, avaliou.

Outro ponto levantado por Ribeiro é a maior proximidade da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com Trump e seu entorno, o que, a seu ver, será potencial fonte de “embaraço e ruídos” nas relações entre Brasília e Washington a partir de 2025. Soma-se a isso a importante participação do bilionário Elon Musk, com quem a atual administração brasileira alimenta animosidade, na campanha republicana.

No campo das relações internacionais, a expectativa do especialista é de que Trump ajude a turbinar governos e figuras de direita ─ o que seria boa notícia para Bolsonaro e o atual presidente da Argentina, Javier Milei, principal antípoda de Lula no continente.

Ribeiro também espera que um novo mandato de Trump enfraqueça as instituições multilaterais, prestigiadas pela diplomacia brasileira. O mesmo vale para a agenda ambientalista e de combate à crise climática, na qual a atual administração brasileira buscava ocupar posição de destaque.

“Ou seja, com Trump na Casa Branca, o Brasil, especialmente durante o governo Lula, ficará ainda mais escanteado internacionalmente. Enfim, havia mesmo muitas razões para Lula torcer pela vitória de Kamala”, concluiu.

¨      Com Trump no horizonte, ministros avaliam que governo deve "fazer o dever de casa" e acionar o "modo pragmatismo"

A vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos já está gerando reflexões dentro do governo brasileiro. Em meio a um cenário de acusações de crimes e impeachment enfrentados por ele, ministros ouvidos pela coluna a jornalista Renata Agostini, de O Globo, afirmam que sua volta à Casa Branca pressiona a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a se comprometer com um ajuste nas contas públicas e a realizar seu “dever de casa”.

Um auxiliar do presidente avalia que a ascensão de Trump exige que o governo brasileiro esteja “na ponta dos cascos”, ou seja, pronto para lidar com uma administração americana que pode não ver o Brasil como um aliado. Essa mudança no cenário político também intensifica a necessidade de aprovar um robusto pacote de cortes de gastos no país.

Ainda conforme um outro integrante do governo ouvido pela reportagem, a eleição de Trump é um problema interno dos Estados Unidos, e o Brasil deve focar em “comer em real”, o que significa que resolver as questões internas é essencial para o futuro próximo. A análise feita por ministros nesta quarta-feira (6) sugere que, do ponto de vista econômico, será necessário lidar com as instabilidades da economia global, reforçando a necessidade de um foco nas contas internas.

Outro auxiliar presidencial compartilha essa visão, enfatizando a necessidade de o governo se conectar mais com pautas populares, em vez de se restringir a um pequeno grupo de influenciadores. Nesta linha, o objetivo não é ignorar pautas minoritárias, mas priorizar aquelas que promovem a união do país, como empreendedorismo, emprego, renda, crédito e oportunidades no ensino superior.

A conquista de Trump também serve como um alerta sobre os riscos que uma comunicação inadequada pode trazer para um mandatário. Um auxiliar de Lula observa que o atual presidente dos EUA, Joe Biden, cometeu diversos erros de comunicação e “perdeu a narrativa”, mesmo apresentando uma economia em crescimento e com baixa taxa de desemprego.

Em relação ao apoio de Lula à eleição de Kamala Harris, um ministro ressaltou que essa escolha não deve ser encarada como um erro, pois “não havia espaço para neutralidade” nem possibilidade de apoio a Trump. A prioridade agora deve ser acionar o “modo pragmatismo” e buscar convergências.

Por fim, outro ministro menciona que o gesto de Lula em relação a Kamala não deve interditar as relações com os Estados Unidos. Historicamente, a América Latina sempre foi de pouco interesse para os americanos, e ele alerta que um possível gesto de Trump em direção à Argentina, sob a liderança de Javier Milei, pode ter impactos positivos para o Mercosul.

¨      "Política externa para América Latina será muito mais agressiva", diz José Reinaldo Carvalho

Com a vitória de Donald Trump na eleição presidencial de 2024, apontada pela Fox News como quase certa após a conquista de estados-chave como Pensilvânia, Carolina do Norte e Geórgia, analistas já começam a antecipar os impactos em diversas regiões do mundo, incluindo a América Latina. José Reinaldo Carvalho, editor internacional do Brasil 247, comentou em uma superlive sobre as consequências dessa mudança no cenário político dos Estados Unidos, destacando uma política externa muito mais agressiva.

“Haverá um aperto na política externa americana para a América Latina. A tentativa de destruição de Cuba e Venezuela, por exemplo, é evidente”, afirmou Carvalho, apontando que esses países, já submetidos a severas sanções e pressão diplomática, enfrentarão um cerco ainda maior com Trump de volta à Casa Branca. Ele destacou que o objetivo de Washington será debilitar governos que desafiam a hegemonia dos EUA na região.

Carvalho ressaltou a necessidade de fortalecer a unidade entre os países latino-americanos para resistir a esse novo cenário, enfatizando a importância de reaproximação entre Brasil e Venezuela. “Por isso mesmo, é preciso recompor a unidade latino-americana”, disse, destacando que a cooperação regional será fundamental para enfrentar a ofensiva de uma administração Trump determinada a impor sua agenda política e econômica. Além de Cuba e Venezuela, ele mencionou que Bolívia, Colômbia e Nicarágua também estarão na mira da política externa norte-americana.

O retorno de Trump, segundo o editor, pode ter implicações para além das fronteiras dos EUA e de suas relações com a América Latina. José Reinaldo alertou que a vitória de Trump cria um ambiente político propício para a volta de líderes populistas de extrema-direita, como Jair Bolsonaro no Brasil. “Será um grande teste para as instituições brasileiras, para o STF, para o ministro Alexandre de Moraes e para o presidente Lula”, disse ele, apontando que o contexto político interno do Brasil pode ser desafiado por uma nova onda de apoio ao bolsonarismo, impulsionada pela retomada de Trump ao poder.

Trump, em sua declaração de vitória no Palm Beach County Convention Center, descreveu seu retorno como um “mandato poderoso e sem precedentes”, prometendo uma administração que fortalecerá os interesses dos EUA e que, segundo analistas, representará uma intensificação das políticas de pressão e sanções. A nomeação de Elon Musk para liderar uma comissão de eficiência governamental é um dos primeiros sinais de que Trump busca alinhar aliados poderosos e influentes em sua nova administração.

Diante desse panorama, José Reinaldo Carvalho destacou que a América Latina deve se preparar para um período de maior hostilidade e resistência, com Cuba e Venezuela como focos imediatos e um possível aumento da pressão sobre outros governos que tentem manter uma postura independente em relação a Washington.

¨      “BRICS entram na mira direta dos Estados Unidos", diz Guilherme Paladino

Durante uma superlive da TV 247, Guilherme Paladino, correspondente do canal na China, destacou que os BRICS – bloco criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – enfrentarão fortes desafios pela frente, especialmente em termos de sanções e pressões econômicas e políticas dos Estados Unidos.

Paladino ressaltou que, embora os chineses estejam focados em suas próprias questões e desenvolvimento interno, “certamente seria melhor para a China uma vitória democrata”, indicando que a postura de Trump tende a intensificar tensões e medidas punitivas. Ele explicou que, com a vitória republicana, a política externa americana deve reforçar uma abordagem mais dura em relação ao bloco, que tem assumido uma postura política contrária aos interesses do Ocidente.

“O bloco tem muito protagonismo da China e da Rússia e estará na mira dos Estados Unidos”, afirmou Paladino. Ele lembrou que a retórica de Trump durante suas campanhas e seu histórico de governo demonstram uma disposição clara de enfrentar o que ele vê como ameaças à hegemonia americana. Dessa forma, os BRICS, que têm se destacado por sua cooperação econômica e posicionamentos independentes, serão alvo de sanções mais severas e uma política de isolamento por parte dos Estados Unidos.

Para o analista, a volta de Trump à Casa Branca representa não apenas uma retomada de políticas protecionistas e nacionalistas, mas também uma intensificação de ações para conter o crescimento de influências globais que desafiam Washington. “A postura dos BRICS de buscar alternativas ao sistema ocidental de comércio e finanças é algo que incomoda profundamente o establishment americano”, pontuou Paladino.

Trump, em sua declaração de vitória no Palm Beach County Convention Center, descreveu seu retorno como um “mandato poderoso e sem precedentes”, sinalizando uma administração focada em recuperar e manter a supremacia global dos EUA. Com um potencial novo governo Trump, analistas como Paladino alertam para um aumento na pressão sobre alianças e blocos considerados rivais, prevendo um “tsunami de sanções” que visa enfraquecer economias que oferecem resistência à agenda de Washington.

Em um cenário global que já se desenha mais polarizado, a expectativa é que a relação entre os BRICS e os Estados Unidos se torne um dos pontos de maior atenção e tensão nos próximos anos. 

 

Fonte: Brasil 247/Infomoney

 

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