Planalto vê Trump mais forte no retorno à
Casa Branca e ameaça à democracia brasileira
Aliados do presidente
Lula (PT) avaliam que o novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados
Unidos terá mais força e deve pressionar a democracia brasileira, informa a
jornalista Daniela Lima, do G1.
Trump conseguiu vencer Kamala Harris no voto popular e deve construir maioria
na Câmara e no Senado que, aliados a uma Suprema Corte conservadora, darão mais
poder ao novo presidente.
"Ao contrário de
2016, ele agora teve também a maioria do voto popular. Deve fazer a maioria na
Câmara, já tem a do Senado e, mesmo antes de sair, tinha moldado uma suprema
corte conservadora", avalia um conselheiro de Lula. Nesse sentido, Trump
pode ter mais força para implementar políticas mais extremas, como uma possível
deportação em massa, além de revanches contra adversários políticos.
"Algumas propostas precisam de maioria absoluta no congresso americano,
mas sem dúvida ele terá mais espaço para manobra", explica o aliado do
presidente brasileiro.
Diante desse cenário,
o amplo poder trumpista nos Estados Unidos pode ter implicações diretas na
política brasileira. Comissões na Câmara e no Senado americanos podem dar
espaço para questionamentos à democracia brasileira, à atuação do Supremo
Tribunal Federal (STF) e à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), aliado de
Trump.
Com a radicalização da
política externa dos Estados Unidos, com possíveis políticas protecionistas, a
China deve ganhar importância estratégica para o Brasil, avaliam conselheiros
de Lula. "Nesse cenário, BRICS e Mercosul precisam ser analisados como
mercados estratégicos para o Brasil", defendem.
¨ Vitória de Trump nos EUA é péssima notícia para Lula e cria
"embaraço", diz analista
A confirmação da
vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados
Unidos, na manhã desta quarta-feira (6), representa uma “péssima notícia” para
o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na avaliação do
cientista político Ricardo Ribeiro, das consultorias MCM e LCA.
Para o especialista,
Lula assumiu um risco relevante ao tornar pública sua nada surpreendente
torcida pela candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris, do Partido
Democrata. O episódio, avalia, trouxe riscos de criar uma espécie de “embaraço
diplomático”, mesmo com o reconhecimento do resultado e dos cumprimentos feitos
pelo mandatário brasileiro a Trump nas redes sociais.
“Ao tornar pública sua
posição, Lula se arriscou a, no mínimo, criar um clima de embaraço diplomático
em caso de vitória de Trump ─ o que acabou ocorrendo”, disse o
especialista em análise distribuída a clientes.
Em mensagem publicada
em sua conta oficial do X (antigo Twitter), Lula afirmou que a democracia “deve
ser respeitada” e desejou sorte ao republicano.
Na avaliação de
Ribeiro, embora a tendência seja de o governo brasileiro trabalhar para manter
a normalidade das relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos, as
expectativas podem não ser tão favoráveis.
“As relações entre os
dois governos tendem a ser, na melhor das hipóteses, protocolares. No pior
cenário, serão tensas. O grau de animosidade dependerá mais do governo Trump do
que do governo Lula, a quem não interessará alimentar atritos com os Estados Unidos”,
observou.
Para o especialista, o
retorno de Donald Trump à Casa Branca também terá impactos, ainda que
indiretos, na política doméstica brasileira, soprando ventos em direção ao
campo da direita e de uma agenda conservadora.
“Assim como é o caso
da eleição municipal, a vitória de Trump não terá efeito direto sobre o cenário
da eleição presidencial de 2026 no Brasil. Porém, como ocorreu com a eleição
municipal, o sucesso de Trump reitera a força política contemporânea da direita
e da agenda conservadora. E ajuda a criar um clima de animação para a direita e
de apreensão para a esquerda”, avaliou.
Outro ponto levantado
por Ribeiro é a maior proximidade da família do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) com Trump e seu entorno, o que, a seu ver, será potencial fonte de
“embaraço e ruídos” nas relações entre Brasília e Washington a partir de 2025.
Soma-se a isso a importante participação do bilionário Elon Musk, com quem a
atual administração brasileira alimenta animosidade, na campanha republicana.
No campo das relações
internacionais, a expectativa do especialista é de que Trump ajude a turbinar
governos e figuras de direita ─ o que seria boa notícia para Bolsonaro e o
atual presidente da Argentina, Javier Milei, principal antípoda de Lula no continente.
Ribeiro também espera
que um novo mandato de Trump enfraqueça as instituições multilaterais,
prestigiadas pela diplomacia brasileira. O mesmo vale para a agenda
ambientalista e de combate à crise climática, na qual a atual administração
brasileira buscava ocupar posição de destaque.
“Ou seja, com Trump na
Casa Branca, o Brasil, especialmente durante o governo Lula, ficará ainda mais
escanteado internacionalmente. Enfim, havia mesmo muitas razões para Lula
torcer pela vitória de Kamala”, concluiu.
¨ Com Trump no horizonte, ministros avaliam que governo deve
"fazer o dever de casa" e acionar o "modo pragmatismo"
A vitória de Donald
Trump nas eleições dos Estados Unidos já está gerando reflexões dentro do
governo brasileiro. Em meio a um cenário de acusações de crimes e impeachment
enfrentados por ele, ministros ouvidos pela coluna a jornalista Renata Agostini, de O Globo, afirmam que sua volta à Casa Branca pressiona a
administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a se comprometer com
um ajuste nas contas públicas e a realizar seu “dever de casa”.
Um auxiliar do
presidente avalia que a ascensão de Trump exige que o governo brasileiro esteja
“na ponta dos cascos”, ou seja, pronto para lidar com uma administração
americana que pode não ver o Brasil como um aliado. Essa mudança no cenário
político também intensifica a necessidade de aprovar um robusto pacote de
cortes de gastos no país.
Ainda conforme um
outro integrante do governo ouvido pela reportagem, a eleição de Trump é um
problema interno dos Estados Unidos, e o Brasil deve focar em “comer em real”,
o que significa que resolver as questões internas é essencial para o futuro
próximo. A análise feita por ministros nesta quarta-feira (6) sugere que, do
ponto de vista econômico, será necessário lidar com as instabilidades da
economia global, reforçando a necessidade de um foco nas contas internas.
Outro auxiliar
presidencial compartilha essa visão, enfatizando a necessidade de o governo se
conectar mais com pautas populares, em vez de se restringir a um pequeno grupo
de influenciadores. Nesta linha, o objetivo não é ignorar pautas minoritárias,
mas priorizar aquelas que promovem a união do país, como empreendedorismo,
emprego, renda, crédito e oportunidades no ensino superior.
A conquista de Trump
também serve como um alerta sobre os riscos que uma comunicação inadequada pode
trazer para um mandatário. Um auxiliar de Lula observa que o atual presidente
dos EUA, Joe Biden, cometeu diversos erros de comunicação e “perdeu a narrativa”,
mesmo apresentando uma economia em crescimento e com baixa taxa de desemprego.
Em relação ao apoio de
Lula à eleição de Kamala Harris, um ministro ressaltou que essa escolha não
deve ser encarada como um erro, pois “não havia espaço para neutralidade” nem
possibilidade de apoio a Trump. A prioridade agora deve ser acionar o “modo pragmatismo”
e buscar convergências.
Por fim, outro
ministro menciona que o gesto de Lula em relação a Kamala não deve interditar
as relações com os Estados Unidos. Historicamente, a América Latina sempre foi
de pouco interesse para os americanos, e ele alerta que um possível gesto de
Trump em direção à Argentina, sob a liderança de Javier Milei, pode ter
impactos positivos para o Mercosul.
¨ "Política externa para América Latina será muito mais
agressiva", diz José Reinaldo Carvalho
Com a vitória de
Donald Trump na eleição presidencial de 2024, apontada pela Fox News como quase
certa após a conquista de estados-chave como Pensilvânia, Carolina do Norte e
Geórgia, analistas já começam a antecipar os impactos em diversas regiões do mundo,
incluindo a América Latina. José Reinaldo Carvalho, editor internacional do
Brasil 247, comentou em uma superlive sobre as consequências dessa mudança no
cenário político dos Estados Unidos, destacando uma política externa muito mais
agressiva.
“Haverá um aperto na
política externa americana para a América Latina. A tentativa de destruição de
Cuba e Venezuela, por exemplo, é evidente”, afirmou Carvalho, apontando que
esses países, já submetidos a severas sanções e pressão diplomática, enfrentarão
um cerco ainda maior com Trump de volta à Casa Branca. Ele destacou que o
objetivo de Washington será debilitar governos que desafiam a hegemonia dos EUA
na região.
Carvalho ressaltou a
necessidade de fortalecer a unidade entre os países latino-americanos para
resistir a esse novo cenário, enfatizando a importância de reaproximação entre
Brasil e Venezuela. “Por isso mesmo, é preciso recompor a unidade latino-americana”,
disse, destacando que a cooperação regional será fundamental para enfrentar a
ofensiva de uma administração Trump determinada a impor sua agenda política e
econômica. Além de Cuba e Venezuela, ele mencionou que Bolívia, Colômbia e
Nicarágua também estarão na mira da política externa norte-americana.
O retorno de Trump,
segundo o editor, pode ter implicações para além das fronteiras dos EUA e de
suas relações com a América Latina. José Reinaldo alertou que a vitória de
Trump cria um ambiente político propício para a volta de líderes populistas de
extrema-direita, como Jair Bolsonaro no Brasil. “Será um grande teste para as
instituições brasileiras, para o STF, para o ministro Alexandre de Moraes e
para o presidente Lula”, disse ele, apontando que o contexto político interno
do Brasil pode ser desafiado por uma nova onda de apoio ao bolsonarismo,
impulsionada pela retomada de Trump ao poder.
Trump, em sua
declaração de vitória no Palm Beach County Convention Center, descreveu seu
retorno como um “mandato poderoso e sem precedentes”, prometendo uma
administração que fortalecerá os interesses dos EUA e que, segundo analistas,
representará uma intensificação das políticas de pressão e sanções. A nomeação
de Elon Musk para liderar uma comissão de eficiência governamental é um dos
primeiros sinais de que Trump busca alinhar aliados poderosos e influentes em
sua nova administração.
Diante desse panorama,
José Reinaldo Carvalho destacou que a América Latina deve se preparar para um
período de maior hostilidade e resistência, com Cuba e Venezuela como focos
imediatos e um possível aumento da pressão sobre outros governos que tentem manter
uma postura independente em relação a Washington.
¨ “BRICS entram na mira direta dos Estados Unidos", diz
Guilherme Paladino
Durante uma superlive
da TV 247, Guilherme Paladino, correspondente do canal na China, destacou que
os BRICS – bloco criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –
enfrentarão fortes desafios pela frente, especialmente em termos de sanções e pressões
econômicas e políticas dos Estados Unidos.
Paladino ressaltou
que, embora os chineses estejam focados em suas próprias questões e
desenvolvimento interno, “certamente seria melhor para a China uma vitória
democrata”, indicando que a postura de Trump tende a intensificar tensões e
medidas punitivas. Ele explicou que, com a vitória republicana, a política
externa americana deve reforçar uma abordagem mais dura em relação ao bloco,
que tem assumido uma postura política contrária aos interesses do Ocidente.
“O bloco tem muito
protagonismo da China e da Rússia e estará na mira dos Estados Unidos”, afirmou
Paladino. Ele lembrou que a retórica de Trump durante suas campanhas e seu
histórico de governo demonstram uma disposição clara de enfrentar o que ele vê
como ameaças à hegemonia americana. Dessa forma, os BRICS, que têm se destacado
por sua cooperação econômica e posicionamentos independentes, serão alvo de
sanções mais severas e uma política de isolamento por parte dos Estados Unidos.
Para o analista, a
volta de Trump à Casa Branca representa não apenas uma retomada de políticas
protecionistas e nacionalistas, mas também uma intensificação de ações para
conter o crescimento de influências globais que desafiam Washington. “A postura
dos BRICS de buscar alternativas ao sistema ocidental de comércio e finanças é
algo que incomoda profundamente o establishment americano”, pontuou Paladino.
Trump, em sua
declaração de vitória no Palm Beach County Convention Center, descreveu seu
retorno como um “mandato poderoso e sem precedentes”, sinalizando uma
administração focada em recuperar e manter a supremacia global dos EUA. Com um
potencial novo governo Trump, analistas como Paladino alertam para um aumento
na pressão sobre alianças e blocos considerados rivais, prevendo um “tsunami de
sanções” que visa enfraquecer economias que oferecem resistência à agenda de
Washington.
Em um cenário global
que já se desenha mais polarizado, a expectativa é que a relação entre os BRICS
e os Estados Unidos se torne um dos pontos de maior atenção e tensão nos
próximos anos.
Fonte: Brasil 247/Infomoney
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