sábado, 9 de novembro de 2024

O que levou mais de 40% das eleitoras nos EUA a votarem em Donald Trump

As pesquisas de boca de urna da eleição presidencial dos EUA indicam - como já era esperado - uma margem de 10 pontos percentuais de diferença entre a forma como homens e mulheres votaram no país.

Enquanto a maioria das eleitoras do sexo feminino escolheu a democrata Kamala Harris, a maior parte dos eleitores do sexo masculino foi com Donald Trump, que saiu vencedor da disputa.

Ainda assim, cerca de 44% das mulheres que foram às urnas deram seu voto para Trump - uma margem que é pelo menos 2 pontos percentuais maior do que a obtida pelo republicano nas eleições anteriores, quando ele foi derrotado pelo atual presidente Joe Biden.

Segundo analistas, as pesquisas de boca de urna contém imprecisões e a margem de crescimento de Donald Trump entre as mulheres apontada nas enquetes é pequena.

Apesar disso, muitos deles consideraram o apoio feminino recebido pelo republicano significativo - e indicativo dos fatores que motivam muitas das eleitoras no momento de decidir seu voto.

·        Economia e avaliação do mandatário

"Nesta eleição em particular, ou em eleições presidenciais dos Estados Unidos em geral, as duas coisas que mais importam [para os eleitores] são a avaliação do trabalho do atual presidente e as crenças das pessoas sobre o estado da economia", explica Kathleen Dolan, cientista política e professora da Universidade de Wisconsin-Milwaukee.

"E no momento o presidente Biden não está muito popular entre o público e as pessoas acham que a economia está em uma situação ruim."

Uma pesquisa realizada na terça-feira (5/11) pela agência de notícias AP com americanos registrados para votar apontou uma alta na ansiedade em relação aos níveis de inflação em todo o país, assim como um impulso na crença de que Trump estaria melhor preparado do que Harris para lidar com a economia e a geração de empregos.

Segundo a sondagem, cerca de três em cada 10 eleitores acreditam que a situação financeira de suas famílias estava "ficando para trás", ante cerca de dois em cada 10 na eleição presidencial de 2020.

Muitos americanos também parecem ainda estar se recuperando da alta na inflação, que atingiu seu pico em quatro décadas nos EUA em junho de 2022.

Cerca de nove em 10 eleitores se disseram muito ou um pouco preocupados com o custo dos mantimentos no dia da eleição, segundo a pesquisa. E cerca de oito em cada 10 se mostraram receosos com seus gastos em saúde, moradia e gasolina.

As pesquisas de boca de urna ainda apontam uma ampla visão negativa em relação à Kamala Harris entre os americanos que escolheram Trump.

Segundo os dados divulgados até agora, 93% dos eleitores que disseram ter uma perspectiva negativa da democrata escolheram o republicano nas cédulas de votação, enquanto 88% dos que dizem ter uma visão ruim de Donald Trump elegeram a democrata como sua candidata.

E segundo as especialistas consultadas pela BBC Brasil, todas essas preocupações também pesaram para as mulheres.

"A suposição de que as mulheres não têm os mesmos preconceitos, preocupações e prioridades que os homens não é - e nunca foi - uma suposição enraizada na realidade", afirma Christina Wolbrecht, cientista política da Universidade de Notre Dame, em Indiana, nos EUA.

·        Questões de gênero e identificação

E enquanto Biden atraiu o voto de cerca de 57% das mulheres que foram às urnas há quatro anos, Kamala Harris recebeu o apoio de algo em torno de 53% do público feminino votante.

"Na história da política americana, nunca houve evidências de que as mulheres como um grupo preferem votar em outras mulheres do que em candidatos do sexo masculino", diz Christina Wolbrecht.

Segundo a pesquisadora, é muito raro que tanto mulheres que se identificam como republicanas quanto como democratas tenham tendência a mudar sua orientação política por conta do sexo dos concorrentes.

"Classe social, educação, raça - todos esses são fatores que podem ajudar a predizer se uma pessoa votará no partido democrata ou republicano. Mas o sexo do candidato não costuma ser um fator."

Kathleen Dolan nota ainda que, diferente de outros conjuntos demográficos, as mulheres não costumam se unir em torno de um candidato em comum nos EUA.

"As mulheres nos Estados Unidos não compartilham nenhum tipo de identidade de gênero", diz. "Ao contrário dos eleitores negros ou latinos, que têm um senso de como a sua identidade racial é importante para suas vidas e por isso tendem a votar de forma mais uniforme."

Entre as eleitoras negras nessas eleições, apenas 7% votaram em Trump - 91% escolheram Harris.

Em termos de educação, 51% das mulheres com diploma de ensino superior declararam apoio para o republicano, contra 61% que disseram ter votado na democrata, segundo a boca de urna.

As especialistas consultadas pela BBC Brasil concordam ainda que os temas relacionados à vida das mulheres que dominaram a campanha eleitoral nos Estados Unidos não uniram as americanas em torno de uma única candidatura.

Um desses tópicos é o acesso ao direito ao aborto no país, que ganhou mais relevância no país após 2022, quando a Suprema Corte americana anulou a decisão que durante meio século garantiu o direito constitucional à interrupção da gravidez no país.

Hoje alguns dos 50 Estados norte-americanos têm proibições quase totais ao aborto com exceções limitadas ou sem exceções - incluindo em casos de violação, incesto e riscos para a vida da mulher grávida - e vários outros proíbem o procedimento com base na duração da gestação.

Donald Trump assumiu o crédito pela decisão judicial que restringiu o aborto no país, já que foi o responsável por indicar três dos nove juízes que ocupavam o Supremo no momento em que ela foi aprovada.

No entanto, ele minimizou o aborto como um tema prioritário do seu segundo mandato, apesar de não ter dito explicitamente que vetaria legislações de restrição nacional caso elas chegassem à sua mesa.

Já Kamala Harris prometeu restaurar o direito ao aborto e vetar qualquer proposta que promulgasse uma proibição nacional.

Diferente do seu adversário, a democrata tornou esse tópico um dos pilares de sua campanha ao longo dos últimos meses, promovendo a ideia de que a vida e a liberdade das mulheres estariam em risco caso Trump fosse eleito.

E assim como em eleições anteriores, o tema dividiu profundamente o eleitorado americano: enquanto 87% dos americanos que se declararam a favor da legalização do aborto em todos os casos votaram em Harris, 88% dos que defendem que a prática seja ilegal em qualquer circunstância se declararam apoiadores de Trump.

Os democratas, porém, esperavam que as discussões sobre o tema mobilizassem mais mulheres em torno da campanha de Kamala Harris do que de fato aconteceu.

Entre as eleitoras que disseram que o aborto deve ser legal, 88% votaram em Harris, segundo a pesquisa de boca de urna realizada pela CNN.

Por outro lado, 85% das mulheres que querem que a prática seja ilegal em todo o país e em todos os casos votaram em Trump.

Christina Wolbrecht, da Universidade de Notre Dame, reafirma a ideia de que temas sociais diversos, e especialmente econômicos, tendem a mobilizar mais as eleitoras americanas do que questões identitárias ligadas ao gênero.

A pesquisadora também afirma que outros fatores, tais como religião e educação, podem pesar mais quando o tema é, por exemplo, o aborto, do que o gênero do eleitor - especialmente entre os americanos que se declaram republicanos.

"É bastante possível que mulheres com ensino superior que tenham obtido ganhos econômicos independentes vejam Trump como uma ameaça maior do que mulheres sem ensino superior, para quem a economia não está trazendo benefícios", diz.

Os resultados de Donald Trump entre as mulheres surpreenderam especialmente eleitores e observadores que acreditavam que algumas das declarações feitas pelo republicano durante a campanha e que foram amplamente apontadas como misóginas teriam um efeito repelente maior.

Nas redes sociais, apoiadores de Kamala Harris passaram as semanas antes da eleição compartilhando postagens que analisavam o comportamento do agora presidente eleito.

Os posts relembravam episódios como suas condenações por ocultação de um pagamento para comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels e por abuso sexual e difamação contra a escritora americana Elizabeth Jean Carroll.

Muitos mencionam o vídeo que veio à tona antes das eleições presidenciais de 2016 em que o republicano insinua que poderia usar sua fama para "agarrar as mulheres pela vagina".

Declarações feitas durante a campanha mais recente também entraram na mira, com ofensas constantes dirigidas a Harris e outras democratas.

Em agosto, Trump foi fortemente criticado por compartilhar uma publicação na rede social Truth Social que parecia insinuar que a candidata democrata e vice-presidente teve uma ascensão política graças à concessão de favores sexuais.

Mas segundo Wolbrecht, apesar de muitos terem notado que Donald Trump estaria adotando uma "retórica mais dura" nas últimas semanas, algumas de suas opiniões e posicionamentos não são novidade.

"Ele foi processado e considerado culpado por agressão sexual. Ele vem falando coisas assim durante toda sua carreira pública", diz.

"As pessoas que estão votando nele sabem quem ele é e, ou aprovam esses comportamentos, ou não se importam com eles o suficiente para mudar seu voto."

Kathleen Dolan, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, afirma que algumas americanas não enxergam tais comportamentos como ofensivos - e até valorizam tais declarações vindas do seu candidato preferido.

"Há muitas mulheres que têm muita misoginia internalizada. Assim como há muitas mulheres que acreditam em um tipo muito tradicional de ideologia de gênero que dita o que é apropriado ou não para mulheres ou que são pró-vida", diz.

"Esperar que todas as mulheres se comportem de uma certa maneira quando um candidato trata as mulheres mal não é realista."

 

•        Alto escalão terá pessoas fiéis a Trump; veja alguns cotados

O presidente eleito Donald Trump já iniciou o processo de escolha de secretários e outros funcionários de alto escalão para o próximo governo dos Estados Unidos. O republicano derrotou a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira (5).

Até agora, Trump anunciou somente quem será sua próxima chefe de Gabinete. O presidente eleito optou por Susie Wiles, que é considerada uma das principais arquitetas da vitória do republicano nas eleições presidenciais.

A imprensa norte-americana acredita que Trump escolherá pessoas fiéis a ele. Entre os cotados estão senadores, congressistas e aliados que estiveram em cargos no primeiro mandato do republicano.

Alguns, no entanto, podem enfrentar certa resistência dentro de alas do Partido Republicano, por fatores que vão desde posturas mais liberais na economia global até o apoio à ajuda militar para a Ucrânia.

Confira, a seguir, quem são os principais candidatos para os cargos mais importantes do governo americano. A lista inclui autoridades da defesa, inteligência, diplomacia, comércio, imigração e políticas econômicas. Alguns dos nomes são cotados para cargos diferentes.

<><> Secretário de Estado

Um dos principais nomes para o cargo é o do ex-conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien. Ele trabalhou com Trump no primeiro mandato do republicano e mantém uma relação próxima com o presidente eleito.

Nos últimos anos, O’Brien manteve contato com líderes estrangeiros e chegou a se encontrar com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em maio.

As opiniões dele são um pouco mais agressivas do que as de alguns conselheiros de Trump. Ele, por exemplo, tem sido mais favorável à ajuda militar à Ucrânia e é um defensor da proibição do TikTok nos Estados Unidos.

Além dele, também estão na disputa:

•        Marco Rubio: senador pela Flórida e candidato presidencial republicano de 2016, Rubio é um dos principais candidatos ao cargo. Também chegou a ser cotado para concorrer como vice-presidente.

•        Bill Hagerty: senador pelo Tennessee e ex-embaixador no Japão, Hagerty é outro forte candidato. Ele mantém boas relações em todas as alas do Partido Republicano. No início do ano, votou contra um grande pacote de ajuda militar à Ucrânia.

<><> Defesa

Mike Pompeo, que trabalhou como secretário de Estado no primeiro mandato de Trump, é o favorito para assumir a Secretaria da Defesa.

Pompeo, que também já foi diretor da CIA, ainda é cotado para outros cargos relacionados à segurança nacional, inteligência ou diplomacia. Ele e Trump passaram um período afastados, mas voltaram a se aproximar nos últimos meses.

O ex-secretário de Estado se destaca como um dos maiores defensores da Ucrânia entre os aliados próximos de Trump. Isso o coloca em desacordo com a maioria das figuras de alto escalão no entorno republicano.

Também disputa o cargo:

•        Mike Waltz: ex-integrante do Exército e congressista pela Flórida, Waltz se tornou um forte crítico da China dentro da Câmara dos Representantes.

<><> Segurança Nacional

Entre os conselheiros mais próximos de Trump para política externa, Richard Grenell pode ser indicado para o comando Segurança Nacional — um cargo que não precisa de autorização do Senado para nomeação. Ele também é um forte candidato ao cargo de secretário de Estado.

Durante o primeiro mandato de Trump, Grenell serviu como diretor interino de inteligência nacional e embaixador dos EUA na Alemanha. Neste ano, quando o republicano se encontrou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ele participou da reunião privada.

•        Além disso, o ex-funcionário da Câmara Kash Patel é cotado para um cargo dentro da secretaria. Ele já trabalhou como conselheiro em defesa e inteligência e é fiel a Trump.

•        Outro cotado para um cargo na secretaria é o general aposentado Keith Kellogg. Ele é ex-chefe de gabinete do Conselho de Segurança Nacional e tem um plano para encerrar a guerra na Ucrânia, incluindo a recusa do país na Otan.

<><> Segurança Interna

Um dos favoritos ao cargo é Tom Homan, ex-diretor interino da Imigração e Alfândega no primeiro mandato de Trump. O combate à imigração ilegal foi o elemento central da campanha republicana, incluindo a promessa de deportações em massa.

Trump elogiou Homan frequentemente durante a campanha. No primeiro mandato do republicano, ele foi um dos principais defensores da controversa política da separação de crianças de famílias que entraram ilegalmente no país.

Também estão na disputa:

•        Chad Wolf: ex-secretário interino do Departamento de Segurança Interna, Wolf é leal às políticas de Trump. Ele renunciou ao cargo poucos dias após a invasão ao capitólio, em janeiro de 2021.

•        Mark Green: ex-cirurgião de voo do Exército e atual presidente do Comitê de Segurança Interna da Câmara. Ele chegou a ser nomeado por Trump como secretário do Exército, mas renunciou após controvérsias envolvendo falas transfóbicas e islamofóbicas.

<><> Tesouro

Scott Bessent, que atua como um importante conselheiro econômico de Trump, é visto como um dos principais candidatos para secretário do Tesouro. Investidor de longa data e professor por vários anos na Universidade Yale, ele tem uma boa relação com o presidente eleito.

Embora Bessent tenha sido um defensor das políticas de liberais populares no Partido Republicano antes de Trump, ele também elogiou o uso de tarifas como uma ferramenta de negociação.

O investidor também vê com bons olhos a filosofia econômica do presidente eleito, que se baseia em uma postura cética em relação às regulamentações e ao comércio internacional.

Além dele, outras pessoas são cotadas para o cargo:

•        John Paulson: bilionário e um dos principais doadores para a campanha Trump. Ele apoia tarifas para combater práticas comerciais injustas no exterior.

•        Larry Kudlow: comentarista de uma emissora de TV voltada para negócios e ex-diretor do Conselho Econômico Nacional durante o primeiro mandato de Trump.

•        Robert Lightizer: trabalhou como representante comercial dos Estados Unidos no primeiro mantado de Trump. Teve um papel central na guerra comercial com a China e na renegociação do acordo de livre comércio com México e Canadá.

•        Howard Lutnick: copresidente da equipe de transição de Trump, em 2016, e CEO de uma empresa de serviços financeiros.

<><> Procuradoria-Geral

Mike Lee, senador por Utah, é um dos principais candidatos ao cargo é um fiel aliado de Trump. Embora tenha se recusado a votar no republicano durante a eleição de 2016, ele mais tarde se tornou um aliado inabalável do presidente eleito.

Ele foi uma figura-chave nas tentativas de Trump e seus aliados de reverter sua derrota na eleição de 2020 para Joe Biden e espalhou teorias da conspiração infundadas sobre o ataque ao Capitólio.

Também está na disputa:

•        John Ratcliffe: ex-congressista e ex-diretor de inteligência nacional, Ratcliffe é visto como um candidato potencial que conseguiria aprovação do Senado. No primeiro mandato de Trump, foi acusado pelos democratas de ter politizado o cargo.

 

Fonte: BBC News Mundo/g1

 

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