quarta-feira, 27 de novembro de 2024

João Lister: STF político só traz incertezas à democracia

O recente indiciamento de Jair Bolsonaro, do ex-ministro Braga Netto e do General Augusto Heleno por envolvimento em atos antidemocráticos, incluindo os ataques de 8 de janeiro e outras condutas que ferem os pilares constitucionais, suscita uma questão que vai além das provas: por que essas figuras seguem em liberdade? A ausência de mandados de prisão preventiva contra os indiciados, diante de fatos amplamente documentados, não só desafia a lógica jurídica, mas também fragiliza a credibilidade do sistema de Justiça.

·        Os Fatos que Fundamentam Medidas Mais Rígidas

# Bolsonaro e a incitação ao golpe:

Em diversas ocasiões, Bolsonaro agiu para fomentar desconfiança contra o processo eleitoral, o que culminou no incentivo a atos golpistas. Antes e após o resultado das eleições de 2022, o ex-presidente promoveu narrativas de fraude sem qualquer evidência concreta. Além disso, sua reunião com embaixadores estrangeiros em julho de 2022, onde atacou o sistema eleitoral brasileiro, foi uma clara tentativa de deslegitimar as instituições democráticas perante a comunidade internacional.

# Braga Netto e a defesa da ruptura institucional:

Braga Netto, como candidato à vice-presidência em 2022, protagonizou discursos abertamente contrários ao respeito às urnas eletrônicas, chegando a afirmar que “as Forças Armadas não permitiriam a posse de alguém que não tivesse vencido de forma legítima”. Tal declaração não só reforçou as bases para a insubordinação civil, como deu respaldo moral às manifestações golpistas que bloquearam estradas e culminaram nos atos de 8 de janeiro.

# General Heleno e a sabotagem institucional:

Enquanto ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Heleno protagonizou episódios que minaram a confiança nas instituições. Ele promoveu ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de agir como elemento de blindagem política para Bolsonaro em situações de flagrante abuso de poder, como o caso da intervenção no comando da Polícia Federal para proteger aliados próximos.

# Os atos de 8 de janeiro e a omissão deliberada:

Bolsonaro, mesmo fora do país, foi apontado como articulador simbólico das invasões ao STF, ao Congresso Nacional e ao Palácio do Planalto. Braga Netto e Heleno, com suas redes de influência militar, teriam, segundo apurações, contribuído para a organização logística e a falta de contenção desses atos, sendo coniventes ou deliberadamente omissos diante do caos instaurado.

# A Minuta do Golpe e os Planos de Assassinato

Nessa semana, a Polícia Federal revelou que Bolsonaro redigiu e ajustou uma "minuta do golpe", e que a minuta fora apresentada, por ele, aos Ministros das três Armadas, buscando apoio, documento que delineava medidas para contestar os resultados das eleições de 2022 e manter-se no poder. Além disso, investigações apontaram para planos de assassinato contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com a ciência dos três indiciados. Esses planos incluíam métodos como envenenamento e uso de explosivos, evidenciando a gravidade das ações planejadas.

A existência desses planos reforça a necessidade de medidas preventivas mais rigorosas. A prisão preventiva, nesses casos, não é apenas cabível, mas essencial para garantir a ordem pública e a aplicação da lei penal. A ausência de tais medidas sugere uma seletividade na aplicação da Justiça, onde figuras de poder são tratadas com leniência, enquanto cidadãos comuns enfrentam rigor desproporcional.

Esses fatos não apenas comprometem a integridade de cada um dos indiciados, mas também revelam um padrão de comportamento que coloca em risco a ordem pública e a democracia.

<><> Base Jurídica para a Prisão Preventiva

O artigo 312 do Código de Processo Penal (CPP) prevê a prisão preventiva para:

  • Garantia da ordem pública ou econômica: A liberdade dos indiciados mantém vivo o risco de articulações contra as instituições democráticas, especialmente porque são figuras com forte apelo junto a grupos extremistas.
  • Conveniência da instrução criminal: A influência política e militar dos acusados permite interferências diretas ou indiretas no curso das investigações, seja na destruição de provas, seja na intimidação de testemunhas.
  • Assegurar a aplicação da lei penal: Como já demonstrado no caso de Bolsonaro com o uso de documentos falsos para viajar ao exterior, há risco de fuga que justifica a adoção de medidas preventivas.

Nos últimos anos, essas mesmas justificativas têm sido aplicadas com rigor a cidadãos comuns, especialmente em investigações relacionadas a corrupção e organização criminosa. Por que a Justiça, ao se deparar com casos envolvendo as elites políticas e militares, age de forma tão branda?

<><> Impunidade e a Crise de Credibilidade do Judiciário

A liberdade de Bolsonaro, Braga Netto e Heleno projeta uma Justiça que falha em garantir igualdade perante a lei. Quando evidências tão graves não resultam em prisões cautelares, a mensagem transmitida é que o Judiciário se curva a interesses políticos, comprometendo sua autonomia. Essa omissão reforça o sentimento de que "a lei não é para todos", mas apenas para aqueles sem poder econômico ou político.

Mais grave ainda é o impacto institucional: ao não agir de forma proporcional à gravidade dos atos, o Judiciário enfraquece sua posição como guardião da democracia. Enquanto milhares de pessoas foram presas em flagrante pelos ataques de 8 de janeiro, os líderes e articuladores intelectuais seguem sem medidas cautelares mais severas, como se o peso da lei fosse seletivo.

<><> Conclusão: Justiça Seletiva, Democracia Ameaçada

A ausência de mandados de prisão preventiva contra Jair Bolsonaro, Braga Netto e General Heleno é um sintoma de um sistema que se recusa a tratar os poderosos com o mesmo rigor aplicado ao cidadão comum. Diante das evidências que os vinculam a atos antidemocráticos e sabotagem institucional, a omissão do Judiciário não é apenas uma falha técnica; é uma declaração política de fragilidade e complacência.

A democracia brasileira exige que seus pilares sejam protegidos sem distinção de classe, cargo ou influência. Enquanto a Justiça não enfrentar os poderosos com a mesma determinação aplicada aos vulneráveis, o Brasil continuará refém de um sistema que privilegia alguns e pune outros, corroendo a confiança pública na lei e nas instituições.

Que futuro pode ter uma democracia onde os líderes de ataques contra ela mesma permanecem impunes?

¨      STF: ministros indicados por Bolsonaro podem ficar fora de julgamento sobre tentativa de golpe

Os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Jair Bolsonaro (PL), devem ser excluídos dos julgamentos colegiados relacionados à tentativa de golpe de Estado investigada pela Polícia Federal (PF). Essa exclusão é possível porque o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, planeja submeter a denúncia à Primeira Turma do STF, composta por cinco ministros, e não ao plenário, que conta com a participação de todos os 11 magistrados.

Segundo a CNN Brasil, a decisão de Moraes segue a alteração no regimento interno do Supremo, feita em dezembro de 2023, que devolveu às turmas a competência para julgar processos penais. Apesar disso, o relator ainda tem a prerrogativa de levar o caso ao plenário. Fontes da Corte, contudo, indicam que Moraes não deve adotar essa abordagem.

Na Primeira Turma, além de Moraes, estão os ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Entre eles, três são indicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Fux foi indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A configuração do colegiado favorece, segundo interlocutores, uma decisão unânime e alinhada ao posicionamento do relator.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve apresentar a denúncia contra Bolsonaro em 2025. O documento será fundamentado em um relatório de mais de 880 páginas da Polícia Federal, que indiciou o ex-presidente e outras 36 pessoas — em sua maioria militares — por orquestrar um golpe de Estado em 2022.

Segundo a PF, após a derrota para Lula nas eleições de 2022, Bolsonaro teria assumido a liderança de uma organização criminosa com o objetivo de impedir a posse de Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), em 2023. As investigações também revelaram planos macabros, como o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, utilizando artefatos explosivos e métodos de envenenamento.

 

¨      “Parece que nós perdemos nossa capacidade de indignação”, diz Lenio Streck

O jurista Lenio Streck, durante entrevista ao programa Giro das Onze, teceu duras críticas ao cenário político e social brasileiro, marcado pela polarização e por planos golpistas recentemente revelados. Ele também destacou a importância de medidas para responsabilizar os envolvidos e fortalecer a democracia.

“Depois de tantos anos de construção da democracia, aparecem uns aventureiros, como esses que, por um azar da história, chegaram à República, conseguiram dividir o país, criar uma legião de radicais e intoxicar a sociedade pelas redes sociais”, afirmou Streck. Segundo ele, os fatos expostos pelas investigações da Polícia Federal sobre o plano golpista são alarmantes: “Bolsonaro atuou diretamente na redação [da minuta do golpe]. Ele fez ajustes, inclusive. Então está tudo aí na mão, tudo amarrado”.

Streck ainda comentou o nível de gravidade do plano, que, segundo as investigações, incluía o assassinato de figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. “Veja a gravidade: a tentativa de planejar a morte do presidente eleito. Nem mesmo o golpe militar de 64 tinha nos planos a morte do Jango”, comparou.

Ele criticou a falta de indignação da sociedade brasileira frente à gravidade do caso. “Parece que nós perdemos nossa capacidade de indignação. Eles planejavam matar o presidente eleito, o vice e o ministro. Cadê a indignação nacional com relação a isso? Talvez grandes passeatas sejam necessárias para exigir a prisão dessa gente”.

Ao abordar o papel de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Lenio também questionou o alinhamento de setores com ideologias extremistas. “Advogados que odeiam a Constituição, médicos que odeiam vacinas. O que mais você quer, meu amigo?”, provocou.

Por fim, o jurista destacou a necessidade de uma ampla conscientização e de maior protagonismo dos meios de comunicação para combater retrocessos institucionais. “Está na hora de editoriais candentes exigindo a prisão de quem planejou o golpe”, concluiu.

 

¨      “Espero que essas pessoas sejam exemplarmente punidas”, diz Frei Betto

“Espero que essas pessoas sejam exemplarmente punidas. É minha esperança. É preciso ter pulso firme, não temer, porque senão o Brasil vai amargar no futuro uma nova ditadura militar, que, dessa vez, será muito mais trágica e genocida.” Com essas palavras, o teólogo e escritor Frei Betto reagiu à descoberta de um plano golpista para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A declaração foi feita durante entrevista concedida ao programa Mario Vitor e Regina Zappa, onde o frei dominicano discutiu as ameaças à democracia e os rumos da esquerda brasileira.

Frei Betto destacou que, diante do avanço do autoritarismo, é fundamental que a esquerda retome o contato com as bases populares e “suje os pés” para recuperar espaço nas comunidades e periferias. Ele atribuiu a perda de influência nesses territórios à ausência de partidos progressistas, espaço que, segundo ele, foi ocupado por cristianismo fundamentalista, narcotráfico e milícias.

Na entrevista, Betto exaltou a trajetória de Lula como exemplo do sucesso do trabalho popular iniciado nos anos 1970, durante a ditadura militar, sob influência do método Paulo Freire. Ele descreveu o ex-presidente como um “fenômeno” por ser um líder de origem humilde que chegou ao poder. “Isso representa o êxito do nosso trabalho popular”, afirmou.

Frei Betto também alertou sobre os riscos do atual cenário político. “A elite tirou a máscara. Hoje as pessoas de direita não têm vergonha, sentem orgulho de se declarar de direita. E diria mais: se Hitler e Mussolini vivessem hoje ficariam muito bem na foto.”

Apesar das críticas, Betto ressaltou avanços significativos no governo Lula e pediu uma comunicação mais eficiente para ampliar a compreensão popular sobre as mudanças. “Tem coisas extraordinárias que estão sendo feitas nesse governo. Em reunião com Lula, ele nos deu dados absolutamente impactantes. É preciso uma comunicação melhor e mais frequente por parte do governo.”

Encerrando com otimismo, Frei Betto reforçou a importância de cultivar esperança e utopia: “Vamos guardar o pessimismo para dias melhores. Temos que injetar utopia na veia e tirar Paulo Freire das prateleiras.”

 

¨      Os ‘juristas do Reich’ estão defendendo Bolsonaro e espalhando notícias falsas, diz Pedro Serrano

O jurista Pedro Serrano criticou duramente, neste domingo (24), no programa Bom Dia 247, a propagação de notícias falsas sobre a possível prescrição dos crimes atribuídos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Serrano, essas informações seriam parte de uma estratégia deliberada para confundir a opinião pública e desacreditar a Justiça. "O Brasil hoje tem juristas do Reich fazendo defesa do Bolsonaro e infiltrando notícias na mídia", afirmou.

A declaração de Serrano foi uma resposta direta a matérias recentes, como a publicada pela Folha de S. Paulo, que sugerem que Bolsonaro poderia se beneficiar da prescrição de crimes ao completar 70 anos, em março de 2025. O jurista refutou categoricamente essa possibilidade, destacando que a prescrição mínima para os crimes investigados só ocorreria a partir de 2030. "As notícias sobre prescrição dos crimes de Bolsonaro são falsas. Minha suspeita é que sejam os juristas do Reich fazendo seu serviço", enfatizou.

<><> Golpe de estado: crime já se inicia no planejamento

Serrano também destacou a gravidade dos crimes em apuração, que incluem tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e organização criminosa. "Esses crimes são gravíssimos. O plano era, inclusive, matar o ministro Alexandre de Moraes. No crime de golpe de Estado, o crime já se inicia pelo planejamento", alertou.

A complexidade do caso, segundo ele, também se dá pelo alto número de réus e testemunhas. "Temos hoje potencialmente 37 réus. Cada um tem direito a apontar oito testemunhas. São mais de 240 testemunhas só de defesa. Isso gera um tempo de tramitação longo, o que pode ser um modo de proteger os golpistas e fazer um mau trabalho técnico", explicou Serrano, reforçando a necessidade de paciência no andamento dos processos.

<><> A estratégia dos juristas do Reich

O termo "juristas do Reich", utilizado por Serrano, remete a uma comparação com advogados e juristas que, durante o regime nazista, criaram narrativas jurídicas para justificar atos autoritários. Segundo ele, esses profissionais estariam hoje atuando para defender Bolsonaro e disseminar "teorias fajutas" como as de prescrição dos crimes antes mesmo do julgamento.

A reportagem da Folha de S. Paulo, que Serrano classificou como exemplo de desinformação, afirma que "Bolsonaro terá benefício em prescrição de crimes ao fazer 70 anos". Contudo, o jurista explicou que isso não ocorre no caso em questão. "A prescrição mínima, mesmo considerando os benefícios pela idade, só ocorrerá em 2030. Até lá, não há qualquer possibilidade de Bolsonaro se livrar dos processos", reiterou.

<><> O impacto jurídico e político

Caso condenado pelos crimes investigados, Bolsonaro pode enfrentar penas que somam até 28 anos de reclusão, além de ficar inelegível por mais de 30 anos. Isso tornaria inviável sua volta ao cenário político até 2061, quando teria 106 anos. "Essas investigações são fundamentais para a consolidação do Estado democrático de Direito. Permitir que narrativas falsas prejudiquem a Justiça seria um retrocesso grave", concluiu Serrano.

A entrevista de Pedro Serrano reforça a necessidade de atenção redobrada frente a tentativas de manipulação jurídica e midiática. A disseminação de informações falsas não apenas confunde a opinião pública, mas também compromete a credibilidade das instituições democráticas. 

 Fonte: Brasil 247

 

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