Eleição de Trump pode fortalecer (ou não) a
extrema direita no Brasil
Nenhuma disputa
eleitoral é acompanhada com tanta atenção pelo mundo como a pela Casa Branca. O
cargo de presidente dos Estados Unidos tem
grande poder político, econômico e militar, e suas decisões provocam efeitos
muito além de suas fronteiras.
Segundo projeções
divulgadas pela imprensa americana nesta quarta-feira (06/11), o
republicano Donald
Trump derrotou sua rival democrata
Kamala Harris ao superar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral dos Estados
Unidos. Dessa forma, o republicano será novamente presidente dos Estados
Unidos.
Para o Brasil, o
impacto de uma vitória de Trump deve ser significativo: fortalecimento da
extrema direita, redução de financiamento e parcerias na área ambiental,
entraves comerciais e pressão sobre a parceria com a China são alguns dos
efeitos mencionados por especialistas ouvidos pela DW.
A vitória do
republicano foi comemorada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Contra tudo e contra todos, Donald Trump voltará à Presidência da
República dos Estados Unidos da América para completar sua missão: restaurar a
grandeza de sua nação, proteger os interesses de seu povo e trabalhar por um
mundo mais livre e com mais paz e tranquilidade", escreveu nas redes
sociais.
O ex-presidente também
publicou um vídeo em apoio a Trump dois antes das eleições. Usando um boné com
o slogan da campanha do então candidato republicano, Bolsonaro chamou Trump de
o "maior líder conservador da atualidade".
De acordo com a
cientista política Maria Hermínia Tavares, professora aposentada da USP e
pesquisadora sênior do Cebrap, a eleição de Trump fortalece a posição da
extrema direita ao redor do mundo, inclusive a do Brasil.
"Uma vitória do
Trump vai diminuir ainda mais a capacidade de democracias liberais de fazerem
frente a uma ascensão de regimes autoritários e de movimentos de extrema
direita", afirma. "Existe uma influência clara e uma linguagem comum
nesses movimentos, e uma vitória do Trump fortalece a extrema direita no
Brasil, que já é forte."
O sucesso de Trump em
2024 trará ainda um vento de esperança para o bolsonarismo em 2026, acrescenta
Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da UnB e
pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os
Estados Unidos (INCT-INEU).
"Há um vínculo
claro do núcleo duro do bolsonarismo com a extrema direita dos Estados Unidos.
Se ele assumir a Casa Branca, essa rede se consolida mais", diz, citando
as articulações de Eduardo Bolsonaro com o trumpismo e lembrando que ele chegou
a ser cogitado por Bolsonaro para ser embaixador do Brasil no país.
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Parcerias sobre mudanças climáticas
Atualmente um ponto de
convergência entre os atuais governos do Brasil e dos EUA é a defesa do meio
ambiente. As gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden firmaram
parecerias para iniciativas climáticas, e a Casa Branca anunciou um plano de doar 500 milhões de dólares para o Fundo Amazônia ao longo de cinco anos – dos quais
53 milhões já foram transferidos.
O valor total
anunciado pelos EUA é superior ao que Noruega, Alemanha e Petrobras doaram
ao Fundo Amazônia ao
longo de 14 anos, diz Menezes. Com Trump na Presidência, a tendência é de
desmobilização dessas parcerias na área ambiental. "O Trump tirou os
Estados Unidos do Acordo de Paris", lembra.
Os dois atuais
governos também avançaram em negociações sobre a economia verde, buscando
alinhar objetivos do Green New Deal de Biden aos do Plano de Transformação
Ecológica de Lula. Até agora, porém, pouco de concreto já foi anunciado – como
investimentos americanos para extrair minerais críticos.
"Para o Brasil,
essa cooperação na área ambiental é muito importante tanto no que diz respeito
a recursos como a parcerias técnicas e científicas", afirma Tavares. Com a
vitória de Trump, ela projeta que essas ações serão paralisadas. "O Trump
não é só muito nacionalista e isolacionista, mas também negacionista do ponto
de vista ambiental."
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Comércio exterior
Os EUA são o segundo
maior destino das exportações brasileiras. Em 2023, o país comprou 37 bilhões
de dólares do Brasil, só atrás da China, que comprou 104 bilhões de dólares no mesmo período, segundo
dados do Comex Stat.
O perfil de exportação
para os dois países também é diferente. Enquanto para a China predomina a venda
de commodities, para os Estados Unidos também são vendidos produtos
semimanufaturados ou manufaturados, diz Menezes.
Entre as dez
categorias de itens mais exportados para a China, todas são commodities
agrícolas ou minerais, enquanto no mesmo ranking para os EUA constam também
máquinas e aparelhos, aeronaves e produtos químicos. No entanto, a relação
comercial com a China é superavitária para o Brasil, e com os EUA é
deficitária.
No quesito
investimento direto no Brasil, os americanos lideram, com um estoque de 246,3
bilhões de dólares em 2022, cerca de um quarto do total, segundo estudo da Apex
Brasil divulgado neste ano, quando as relações comerciais entre os dois países
completaram 200 anos.
"Os EUA não estão
implicados diretamente no processo de desindustrialização da economia
brasileira, como é o caso da China", diz Menezes. Mesmo assim, a Casa
Branca não tem em vista nenhum projeto ou acordo comercial mais ambicioso para
o Brasil ou a América Latina, e isso não deve mudar. "Não somos um espaço
de primeira ordem para os EUA", afirma.
No entanto, Trump
prometeu na campanha aumentar linearmente em 10 pontos percentuais as tarifas
de importação. Para Tavares, se o acesso de produtos brasileiros ao mercado
americano for dificultado, a tendência é o Brasil desviar uma parcela ainda
maior de seu comércio exterior para a Ásia.
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Proximidade entre Brasil e China
Por sinal, a relação
do Brasil com a China é outro ponto que pode ser foco de tensões com a vitória
de Trump. Washington considera Pequim uma adversária, e vem
adotando políticas comerciais e regulatórias agressivas para tentar conter a
expansão da potência asiática.
Enquanto isso, a
relação entre Brasil e China se aprofunda. O país se tornou o maior parceiro
comercial do Brasil em 2009 e consolidou-se nessa posição. Os dois são membros
do Brics, e Pequim vem tentando convencer Brasília
a integrar seu programa de desenvolvimento da infraestrutura global, a
Iniciativa do Cinturão e Rota.
Sob Trump, um eventual
endurecimento dos EUA sobre o tema tende a empurrar o Brasil ainda mais na
direção da China. "A esquerda brasileira já tem uma tradição de um certo
antiamericanismo, e uma vitória do Trump vai fortalecer esses setores, que dirão:
'vamos para o Brics, são mais importantes que outras coalizões internacionais'.
Não acho que isso seja necessariamente bom".
Menezes também avalia
que um governo Trump tenderá a pressionar com mais agressividade Brasília para
que repense sua relação com Pequim. Ele cita como exemplo a decisão de a Casa
Branca "advertir" em outubro passado o Peru sobre a concessão de obras
de infraestrutura aos chineses em seu território, das quais a joia é o novo
porto ultramarino de Chancay. O porto será inaugurado em novembro com a
presença do presidente chinês, Xi Jinping, que em seguida visitará o Brasil e
se reunirá com Lula.
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Lindbergh: “Trump
venceu nos EUA; extrema direita sai fortalecida no mundo e na América
Latina"
“Trump venceu nos EUA.
A extrema direita sai fortalecida no mundo e na América Latina. Derrotá-los
passa por defender a democracia como instrumento de superação das nossas
gritantes desigualdades. Não faremos isso sem enfrentar o programa neoliberal
que quer retirar direitos dos mais pobres. O momento nos exige coragem e
ousadia para mudar a vida do povo de forma consistente!”, disse o deputado
federal Lindbergh Farias no X, nesta quarta-feira (6).
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Saiba mais
Quatro anos após
tentar se manter no poder sob alegações infundadas de fraude eleitoral e
impulsionado por um movimento que culminou na invasão do Capitólio, Donald John
Trump, 78, foi eleito presidente dos Estados Unidos, tornando-se o candidato
mais velho a assumir o cargo. Segundo a Folha de S. Paulo, Trump foi declarado oficialmente vencedor na manhã desta
quarta-feira (6), ao alcançar 276 votos no Colégio Eleitoral. Essa marca, além
de assegurar seu retorno à Casa Branca, representou uma guinada à direita na
política americana.
“Um mandato sem
precedentes” foi como Trump definiu o resultado da eleição em seu
pronunciamento durante a madrugada, na Flórida, enquanto observava a contagem
de votos. Em uma virada expressiva, ele também conquistou o voto popular, com
68 milhões de votos, ultrapassando os 62,9 milhões obtidos pela vice-presidente
Kamala Harris, que concorreu pelo Partido Democrata. Este feito marcou a
primeira vez que um republicano conquista a maioria do voto popular desde a
eleição de George W. Bush, em 2004.
Em um cenário de alta
polarização, Trump ampliou sua base entre eleitores negros e latinos, resultado
de uma estratégia que visou atrair jovens homens desses grupos demográficos,
especialmente na Flórida, onde, pela primeira vez, o condado de Miami-Dade voltou-se
para os republicanos. Até mesmo em Nova York, tradicional reduto democrata, o
republicano demonstrou um avanço em relação às últimas eleições. O retorno de
Trump ao cenário político foi ainda fortalecido pela recuperação do controle do
Senado pelos republicanos, que garantiram 51 das 100 cadeiras, um golpe
adicional ao Partido Democrata.
Sua vitória representa
uma reviravolta histórica, especialmente após o episódio do ataque ao Capitólio
em 2021, quando apoiadores, incitados por Trump, tentaram impedir a ratificação
da vitória de Joe Biden. Além disso, o ex-presidente enfrentou processos
judiciais sem precedentes, incluindo condenações por acusações criminais, algo
nunca visto na história dos EUA. Mesmo com tais controvérsias, a resiliência
política de Trump o coloca ao lado de Grover Cleveland, único presidente
americano a governar em dois mandatos não consecutivos (1885-1889 e 1893-1897).
Trump será lembrado, assim, como o 45º e também o 47º presidente dos Estados
Unidos.
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Gleisi: vitória de
Trump é alerta contra o receituário neoliberal
A vitória de Donald
Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta
entre lideranças progressistas e democráticas ao redor do mundo. No Brasil, a
presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), destacou a importância
de compreender o momento como um aviso sobre os riscos da extrema direita.
"A eleição de Trump é um sinal de alerta para o campo democrático no mundo
todo. A polarização se mantém como uma realidade e temos de nos preparar para
enfrentá-la também aqui no Brasil, onde a extrema direita já se assanha com o
resultado", afirmou Gleisi, ao defender uma atuação robusta em defesa da
democracia.
Após uma campanha
marcada por pautas populistas e polarizadoras, Trump, aos 78 anos, conseguiu
retomar o poder ao conquistar 276 votos no Colégio Eleitoral. Em seu primeiro
pronunciamento, o republicano destacou que este será um "mandato sem
precedentes", posicionando-se como uma liderança central no campo
conservador.
A vitória de Trump
também representa um marco no voto popular, onde conquistou 68 milhões de
votos, superando a democrata Kamala Harris. O feito é particularmente
significativo para os republicanos, pois desde 2004 nenhum candidato do partido
havia vencido na votação direta. Este resultado ainda trouxe à tona o
fortalecimento do Partido Republicano no Senado, que garantiu a maioria das
cadeiras, impondo mais um revés aos democratas.
Para Gleisi Hoffmann,
o resultado nos EUA reafirma a urgência de fortalecimento do campo democrático
no Brasil, especialmente em meio ao avanço de movimentos de direita que buscam
alinhar-se ao modelo político e econômico norte-americano. Segundo Gleisi, a
"receita neoliberal" não atende às necessidades reais da população.
"Temos de fortalecer o campo da democracia em nosso país, mas
principalmente dar respostas concretas às necessidade e expectativas do povo,
que não cabem na receita neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao
país", pontuou.
No campo econômico,
Trump usou a insatisfação popular com a inflação e a crise econômica
enfrentadas durante o governo Biden para atrair eleitores. Prometeu a maior
deportação em massa da história dos Estados Unidos e cortes de impostos,
políticas que visam acalmar os anseios de setores conservadores e da classe
média americana.
O contexto americano
oferece ao Brasil um espelho das tendências globais. A ascensão de líderes
populistas reforça o alerta para os defensores da democracia no país,
especialmente em um cenário onde o discurso neoliberal tenta se fortalecer em
meio a promessas de austeridade e reformas estruturais. Para Gleisi, a resposta
à vitória de Trump não deve ser apenas defensiva, mas sim voltada ao
fortalecimento de políticas que atendam às necessidades sociais de forma
inclusiva e democrática.
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Títulos argentinos
disparam com perspectiva de relação positiva entre Milei e Trump
Os títulos argentinos
em dólar saltavam no início das negociações desta quarta-feira e o índice de
risco do país caía de forma acentuada, com investidores animados com a
perspectiva de laços mais estreitos entre o presidente da Argentina, Javier
Milei, e o recém-eleito aliado dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os títulos listados no
exterior avançaram no início das negociações, enquanto o risco país, uma medida
do prêmio que os investidores exigem para manter os títulos locais em
comparação com a dívida equivalente dos EUA, caiu para pouco mais de 880
pontos-base, o menor valor em cinco anos.
Os mercados argentinos
já estão em um momento positivo sob o regime de austeridade pró-mercado de
Milei, um economista e ex-comentarista de TV que compartilha algumas das mesmas
políticas e a energia impetuosa de showman de Trump, que venceu a eleição presidencial
dos EUA na terça-feira.
Nas ruas de Buenos
Aires, muitos viram a vitória de Trump como positiva para a economia do país
sul-americano.
Milei, que fez
campanha com uma motosserra como símbolo de seus planos de cortes de gastos e
frequentemente canta músicas de rock, foi chamado de "El Loco" -- o
louco. Ele tem se tornado um ícone global da direita e se aproximado de Trump e
de aliados como Elon Musk.
"Parece-me que
eles vão se dar bem", disse Micaela Saracero, de 29 anos, moradora de
Buenos Aires, referindo-se a Milei e Trump. "Em termos econômicos, isso
pode ter um grande impacto na Argentina se eles se derem bem enquanto duas
pessoas loucas."
Damian Roux, um jovem
de 23 anos de Buenos Aires, concordou que a vitória de Trump foi positiva para
a Argentina.
"Acho que o
relacionamento com Milei vai ser bom, porque Milei tem bons laços com Trump e
espero que isso favoreça a Argentina, que é o que eu mais quero", disse
ele.
Os laços estreitos
podem ajudar no programa de empréstimo de 44 bilhões de dólares da Argentina
com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em meio à expectativa de que um novo
programa seja discutido no próximo ano. Os Estados Unidos têm o maior poder de
voto na instituição.
Entretanto, analistas
advertiram que a vitória de Trump pode levar a uma deterioração da âncora
cambial da Argentina, algo que Milei fortaleceu após anos de queda da moeda.
"Os argentinos
ainda não perceberam, mas uma vitória de Trump (que significaria tarifas dos
EUA sobre a China e outros países) exercerá uma enorme pressão depreciativa
sobre o peso", disse o Goldman Sachs em um relatório.
Fonte: DW Brasil/Brasil
247/Ansa/Reuters
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