A agenda climática e o neocolonialismo da África ao Brasil
Há alguns
meses, um ambientalista muito bem formado cujo o nome não vem ao caso, pois o
que interessa não é fulanizar, mas falar sobre uma linha de pensamento
malthusiana entre estudiosos na área, disse em entrevista a um programa de
entrevistas bem-conceituado, que em nome da mudança climática, a humanidade
deve se conformar que apenas cerca de 30% da população mundial terá energia
para manter a atual qualidade de vida, os 70% restantes não poderão. Fica a
questão, quais serão os países e suas populações que precisarão retornar a
Idade Média, sem eletricidade, sem internet, telecomunicações, equipamentos
hospitalares, computadores, veículos, máquinas agrícolas?
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Em recente entrevista
à Telesur, o Secretário-Geral da OPEP, o kuwaitiano Haitham al-Ghais,
apresentou os estudos da OPEP demonstrando que o mundo precisará utilizar todas
as formas de energias e permanecer dependente do petróleo e gás por um longo
período. O consumo de energia aumentará imensamente, os centros de IAs,
blockchain, datacenters etc, são sugadores de energia, o aumento demográfico
nas regiões da Ásia Ocidental, África e o crescimento da Índia, a qual será a
maior consumidora de petróleo global, farão com que o mundo de 2050 seja muito
diferente do que conhecemos agora, disse o kuwaitiano.
Por mais que a OPEP
seja a parte mais que interessada, o genocídio em Gaza, a tentativa de
desestabilizar a Venezuela, Essequibo, a disputa pelas imensas e incalculável
jazidas do Ártico, a comemoração a cada descoberta de novos campos de pré-sal
em vários outros países pelo mundo e a pressão contra a exploração da Bacia
Equatorial brasileira pela Petrobras, enquanto as petrolíferas estadunidenses
exploram a mesma região na Guiana, demonstram que os estudos da OPEP têm certo
lastro real.
“O petróleo não irá
desaparecer, haverá mais demanda. A indústria petroquímica – polímeros,
fertilizantes, diesel, combustível para aviões etc. – permanecerá robusta
independente de transições energéticas e os países que apostarem hoje na
petroquímica, estarão melhor preparados”, disse Ghais.
Segundo o relatório da
OPEP, o petróleo será responsável por 29% da demanda total de energia em 2050,
seguido pelo gás (24%), carvão (13%), biomassa (10%), nuclear (7%), hidro (3%),
além de outras fontes renováveis (14%). A participação dos países que não fazem
parte da OCDE alcançará 72% em 2050, um aumento de 7 % em relação a 2023.
Já o grupo dos países mais ricos cairá de 36% para 28%.
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O consumo global
apenas pelo petróleo crescerá 17,9%, atingindo 120,1 milhões de barris por dia.
Os países da OCDE terão uma redução de 10,1% (para 35,6 milhões de barris),
enquanto os países não membros da OCDE terão um aumento de 28%, chegando a 84,6
milhões de barris por dia.
Segundo estudos do MIT, os Data Centers consumirão até 21% da produção mundial de
eletricidade até 2030. A imagem acima, mostra o Centro de Processamento de
Dados Utah, centro de processamento e armazenamento de dados gerenciado
pela NSA para vigilância global em massa, denunciado por Snowden. O centro foi
construído em Bluffdale, entre o Lago Utah e Great Salt Lake pela tamanha
necessidade de consumo de água para resfriar os servidores e tem sua própria
subestação de energia dedicada fornecendo mais 65 Megawatts.
Na semana passada,
durante a XVI Cúpula do BRICS em Kazan de 22 a 24, em seu discurso de abertura via
videoconferência, o Presidente Lula trouxe entre suas
pautas a questão ambiental, entretanto, pelo ponto de vista da narrativa
estadunidense que prega discursivamente uma coisa, mas na prática faz o oposto.
As maiores montadoras automotivas americanas e alemãs anunciaram no mês passado
investimentos bilionários no desenvolvimento de novos motores a combustão,
abandonando os motores elétricos. Ademais, os EUA começou uma corrida pela
exploração de novas jazidas de petróleo no Ártico, inclusive, exige o aumento
de seu mar territorial no Ártico, expandindo sua plataforma continental
exclusiva.
Logo em seguida
ao discurso do Presidente Lula na Cúpula do BRICS, o Presidente Putin alertou:
“Os BRICS precisam
combater o emprego da agenda climática usada para eliminar a concorrência.
Precisamos combater as tentativas de se usar a agenda climática para eliminar a
concorrência dos mercados. Isto é especialmente importante para os mercados em
desenvolvimento. Isto é o que o grupo de contato do BRICS para o clima e o
desenvolvimento sustentável está fazendo”, disse o presidente russo na ocasião.
Na coletiva de
imprensa ocorrida ao fim da Cúpula do BRICS, o Presidente Putin retornou ao
tema e como o ocidente faz dela uma forma de neocolonialismo na África na
tentativa de impedir o crescimento econômico dos países da região e por isso a
importância do Banco de Desenvolvimento do BRICS.
“Será que África
conseguirá prescindir deste tipo de hidrocarbonetos ou não? Não. Os países
africanos e alguns outros países nos mercados em desenvolvimento estão se
forçando a impor ferramentas e tecnologias modernas, e talvez ambientalmente
eficazes. Mas eles não podem comprá-las – não têm dinheiro. Bem, dê-lhes o
dinheiro então! E ninguém lhes dá dinheiro. Mas depois eles introduziram as
ferramentas, acredito que estas são as ferramentas do neocolonialismo, quando
rebaixam estes países e os forçam a depender novamente de tecnologias e
empréstimos ocidentais. Os empréstimos são concedidos em condições terríveis e
não podem ser pagos. Esta é outra ferramenta do neocolonialismo”, afirmou Putin
durante a coletiva aberta aos jornalistas presentes.
Antes do início da
Cúpula do BRICS, os países africanos se uniram e anunciaram a criação de um
novo banco de desenvolvimento africano focado em financiar a exploração de
petróleo e gás, e desenvolver uma indústria petroquímica no continente. A
formação do banco vem em resposta à crescente pressão, apenas retórica, do
Ocidente Coletivo para que os países do Sul Global abandonem a exploração de
seus recursos petrolíferos e gás, justamente agora que esses países
desenvolveram capacidade de explorar suas próprias jazidas. Uma espécie de “Chutando a Escada” dos países periféricos novamente, enquanto os EUA e europeus
continuam procurando, explorando e fazendo guerras por mais campos petrolíferos
e de gás.
A Organização dos Produtores de Petróleo Africanos (APPO) formada por 18 países africanos e tendo a Venezuela como
um membro honorífico – Níger, Argélia, Angola, Benim, Camarões, Chade, Egito,
Costa do Marfim, entre outros -, anunciou o aporte de 5 bilhões de dólares para
iniciar seu Banco de Energia. Segundo o Financial Times os Bancos Ocidentais têm negado sistematicamente
empréstimos para o desenvolvimento de campos petrolíferos e gás dos Estados
africano.
“Os países [africanos]
estão em um estágio de desenvolvimento em que não podem mudar repentinamente
para uma “transição verde”… você não pode simplesmente dizer que o
financiamento foi cortado e nós não podemos fazer petróleo”, disse Haytham El
Maayergi, vice-presidente executivo de comércio global do Afrexim Bank.
A África é o
continente com a menor pegada de carbono. É também um continente rico em
petróleo e gás ainda não explorados. Sob pressão de governos ocidentais
pró-transição, as instituições de empréstimos internacionais como o Banco
Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento, pararam de fornecer dinheiro para
projetos de energia, limitando as chances desses países de tirar vantagem de
seus próprios recursos da mesma forma que países como os Estados Unidos,
Grã-Bretanha, Noruega e demais, estão fazendo.
Os EUA são o segundo
maior acionista do Banco Africano de Desenvolvimento, segundo o Financial
Times. Não só isso, mas funcionários do governo Biden elogiaram recentemente o
último boom no petróleo e gás de xisto dos EUA, ao mesmo tempo em que o Banco
Asiático de Desenvolvimento (ADB), cujos maiores acionistas são o governo dos
EUA e Japão, não favorecem nenhum desenvolvimento de petróleo e gás na África.
“O contexto da África é totalmente diferente do que você encontra em outros
lugares”, observa El Maayergi ao FT.
“Diferentemente de
algumas regiões produtoras de petróleo e gás, grande parte da riqueza de
hidrocarbonetos da África ainda não foi desenvolvida, servindo para aliviar a
pobreza galopante em muitas partes do continente, onde 600 milhões não têm
acesso à eletricidade e cerca de 1 bilhão cozinham com carvão, esterco e
lenha”, afirmou o vice-presidente do Afreximbank.
Mais uma vez, seria
difícil para instituições como o Banco Mundial — ou mesmo bancos privados —
argumentar que as nações africanas não têm o direito de colher os mesmos
benefícios dos hidrocarbonetos que as nações ocidentais colheram por décadas
antes de decidirem mudar para além do petróleo e gás. Seria especialmente
difícil porque essa mudança está se mostrando mais complicada do que seus
arquitetos esperavam e o mundo ocidental continua essencialmente tão dependente
do petróleo e gás quanto antes.
Enquanto isso, os
governos africanos estão lidando com boicotes de bancos e, mais recentemente,
de seguradoras, elas próprias objeto de crescente pressão de ativistas
climáticos, que insistem que a África deve permanecer como o continente menos
emissor, saltando a era dos hidrocarbonetos e indo direto do carvão para a
energia eólica e solar. Credores internacionais como o Banco Mundial e o Banco
Asiático de Desenvolvimento ficariam muito felizes em financiar tais projetos.
No entanto, há um problema com eles.
Fazendas solares e
eólicas geram eletricidade capturando a luz do sol ou a energia do vento e
convertendo-a em eletricidade. Essa eletricidade então precisa ser transmitida
para onde será usada ou armazenada. É nesse ponto que um dos desafios
específicos da África se apresenta: a transmissão.
Muitos países
africanos simplesmente não têm infraestrutura de transmissão extensa o
suficiente para acomodar instalações solares e eólicas em escala de utilidade
econômica. Afinal, uma empresa não pode simplesmente construir uma fazenda
solar em um local aleatório apenas porque ela está perto da infraestrutura
existente. Fazendas solares e eólicas exigem condições ótimas para ter um bom
desempenho. O fato de a transmissão ser um problema mesmo em mercados eólicos e
solares maduros, como a Europa, diz muito sobre o tamanho do desafio da
transição em países africanos.
Então, os estados
africanos estão se unindo para encontrar uma alternativa aos credores
ocidentais. Por enquanto, os 18 membros da iniciativa do Banco Africano de
Energia concordaram em contribuir cada um com US$ 83 milhões para o banco, para
um total de US$ 1,5 bilhão. O Afrexim Bank igualará esse valor, deixando uma
lacuna de US$ 2 bilhões que precisa ser preenchida por instituições externas,
como fundos soberanos, fundos privados e outros bancos. De acordo com a African
Energy Chamber, um grupo que defende o desenvolvimento de recursos locais de
petróleo e gás, há 125 bilhões de barris de petróleo e 620 trilhões de pés
cúbicos de gás natural esperando para serem explorados.
Em janeiro deste ano,
os países africanos da região do Sahel – Níger, Mali e Burkina Faso – numa luta
anticolonial expulsaram as bases militares dos EUA e França de seus países e
formaram a Confederação dos Estados do Sahel. A revolta desses países é além dos monopólios de exploração
francesa de urânio e outro minerais, a França não se importou com o fim de gás
russo, ela pretendia construir um grande gasoduto trans-sahariano da cidade
portuária no Atlântico de Warri na Nigéria até o Mediterrâneo pela Argélia,
onde se dividiria em duas rotas, uma para Espanha e outra para a Itália, já que
a Argélia não permitiria passar por seu território um gasoduto para a França,
sua antiga colônia de exploração. Com a união desses Estados e a expulsão do
Ocidente Coletivo o plano de construção do gasoduto foi abaixo.
Entretanto, os países
da região fecharam um acordo com a China no âmbito das novas rotas da Seda
(BRI). Após a formação da Confederação do Sahel as relações entre Benin e o
Níger se tornaram tensas. Em 8 de Maio, o Benim recusou-se a permitir que o
Níger utilizasse os seus portos para exportar petróleo. Em setembro do
ano passado, o Presidente Patrice Talon do Benim visitou a China, e a
diplomacia chinesa entrou em ação. A China National Petroleum Corporation
(CNPC) em parceria com Benin e Níger começaram a construção de um novo gasoduto
com mais 1.000 quilômetros de extensão no Níger e cerca de 700 quilômetros no
Benim. A produção de petróleo deverá ser de 90 mil barris por dia. O Benin pode
cobrar taxas e impostos de trânsito com base no volume de exportação.
A capacidade de
produção do campo petrolífero da primeira fase e a capacidade de processamento
da refinaria são ambas de 1 milhão de toneladas; a capacidade de produção do
campo petrolífero da segunda fase é de 4,5 milhões de toneladas e o oleoduto de
exportação de petróleo bruto tem 1.980 quilômetros.
Enquanto isso, o
Brasil enfrenta uma luta contra as ONGs e ambientalistas malthusianos
idealistas, sofrendo ameaças em sua segurança econômica e energética, e da
geração de capital, não apenas para o desenvolvimento industrial como a
diminuição da gritante desigualdade social regional e social do país. [Ibama mantém veto à Margem Equatorial e
pode condenar o Brasil a voltar a importar petróleo]. O desenvolvimento de novas tecnologias permite minimizar os
danos e impactos ambientais. Entretanto, isso aumenta o custo da produção e
consequentemente a diminuição da taxa de lucro. O que as grandes petroleiras
não aceitam, é essa a questão.
Em 2025 a Presidência
do BRICS cabe ao Brasil, que já declarou que a Cúpula do BRICS será realizada
em julho em vez do fim do ano, pois dará prioridade à COP30, a conferência
climática da ONU, financiada pelas mesmas ONGs, fundações, think tanks que provocam
Revoluções Coloridas por todo mundo, inclusive, no Brasil em 2016.
¨ Governo vai destinar R$ 1,5 bilhão para comprar terras para a
reforma agrária
Até o fim do ano, o
governo federal deve destinar R$ 1,5 bilhão em verbas para a compra de terras
destinadas à reforma agrária e à criação de novos assentamentos pelo país,
segundo o ministro Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e
Agricultura Familiar.
Para chegar a tal
repasse, a União estima investir R$ 300 milhões em verbas para a compra de
terras, além de R$ 500 milhões em terras do Banco do Brasil. Por fim, outros R$
700 milhões se referem a terras adjudicadas de grandes devedores.
“Retomamos
o programa de reforma agrária há um ano, quando o [presidente] Lula lançou o
Programa Terra da Gente, que é um programa de retomada da reforma agrária no
Brasil”, afirmou o ministro, durante coletiva
de imprensa nesta segunda-feira (4).
Teixeira ressaltou que
foi importante retormar o programa, tendo em vista que a reforma agrária virou
terra arrasada nos últimos governos.
Assim, o ministro
classifica a retomada do programa como potente, tendo em vista que a União vai
destinar ainda outros R$ 1 bilhão em crédito inicial para novos assentamentos,
totalizando R$ 2,5 bilhões investidos na reforma agrária.
Apesar de estar
bastante longe do que seria o ideal, as ações são um avanço, tendo em vista que
os valores destinados aos assentamentos será maior que a somatória empregada na
última década.
Fonte: Por Marcus
Atalla, do VeritXpress/Jornal GGN
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