The
Economist: A (falta) de importância da América Latina no comércio mundial
Seguindo
um caminhão carregado com carros de fabricação brasileira enquanto desce as
curvas fechadas do Paso Internacional Los Libertadores até o Chile, os desafios
do comércio na América Latina ficam claros. Por quatro vezes o caminhão precisa
parar enquanto os trabalhadores consertam a estrada à frente; neve, gelo e
avalanches em breve destruirão a pista novamente.
A
demora é tanta que os motoristas saem para fumar, olhando para os picos ao
redor. Há pelo menos um acidente por semana, avalia um funcionário da
fronteira. Esta é a travessia comercial mais movimentada entre a Argentina e o
Chile, mas o gelo traiçoeiro significa que, no inverno, ela opera apenas 12
horas por dia. Durante cerca de 40 dias por ano, coberta de neve, a estrada é
completamente fechada.
O comércio
internacional da América Latina, medido por exportações mais importações como porcentagem
do PIB, aumentou ao longo das duas décadas mais recentes, mas ainda fica atrás
da maioria dos mercados emergentes. Se retirarmos a superforça do México na
indústria manufatureira para exportação destinada aos Estados Unidos, o quadro
fica ainda pior. Na América do Sul, o comércio de mercadorias representa
menos de 30% do PIB. Em outros mercados emergentes, representa cerca de 50%.
Os
países latino-americanos são ainda piores em se tratando do comércio entre si.
A região é muito mais rica do que a África Subsaariana, mas o comércio
intrarregional representa apenas 7% do PIB em ambos os locais. Medido de forma
diferente, apenas 14% do comércio total de bens da América Latina ocorre dentro
da região, o valor mais baixo do mundo.
O
baixo comércio em geral é um problema. Os lugares mais ricos tendem a
comercializar mais, e o comércio internacional tem sido um poderoso motor de
desenvolvimento em todos os lugares, da Europa à Ásia. Contudo, é discutível se
o baixo comércio regional é uma preocupação.
Para
além do México, o crescimento comercial da América Latina nos anos mais
recentes se baseou na crescente procura chinesa por commodities como cobre,
soja e lítio. Muitos governos ainda estão ansiosos por se concentrarem nesta
oportunidade, em vez de fomentarem o comércio com os vizinhos.
Mas
a relação tensa entre os Estados Unidos e a China representa um risco. Se as
tensões envolvendo Taiwan aumentarem, por exemplo, a América Latina poderá ter
dificuldades em manter relações comerciais com seus dois parceiros mais
importantes.
O
comércio internacional da América Latina, medido pexportações mais importações
como porcentagem do PIB, aumentou ao longo das duas décadas mais recentes, mas
ainda fica atrás da maioria dos mercados emergentes. Se retirarmos a superforça
do México na indústria manufatureira para exportação destinada aos Estados
Unidos, o quadro fica ainda pior. Na América do Sul, o comércio de mercadorias
representa menos de 30% do PIB. Em outros mercados emergentes, representa cerca
de 50%.
Deixando
de lado o México, as exportações para os EUA se mantiveram estáveis no ano
passado. Se o nearshoring estiver em curso, mas ainda não
aparecer nas estatísticas de exportação, seria de esperar um aumento do
investimento direto estrangeiro (IDE). Isso tampouco está acontecendo. Em
porcentagem do PIB, o IDE recebido não é perceptivelmente superior à média de
longo prazo na maior parte da América Latina. Comparemos isso com o Sudeste
Asiático, que também procura se beneficiar das empresas que fogem da China,
onde o IDE está aumentando rapidamente.
O
estímulo ao comércio intra-regional poderia proteger as economias
latino-americanas da desaceleração da demanda chinesa, bem como das tensões
entre as superpotências. Também poderia ajudar a tornar a América Latina mais
competitiva globalmente. Se as peças e os produtos pudessem ser fabricados nas
áreas da região onde é mais barato fazê-lo, sendo depois comercializados,
combinados e vendidos, eles formariam as chamadas cadeias de valor regionais e
impulsionariam as exportações. Por que, então, os países latino-americanos são
tão ruins no comércio entre si?
Algumas
razões são estruturais. “Não negociamos uns com os outros porque queremos
consumir coisas que não produzimos”, diz Ricardo Hausmann, da Universidade
Harvard. O baixo comércio intra-regional deve-se, em parte, à falta de produção
de artigos sofisticados. Pior ainda, os países latino-americanos produzem
frequentemente as mesmas coisas: commodities.
O
maior artigo de exportação do Chile é o cobre. O mesmo acontece com o Peru.
Nenhum dos dois jamais venderá muito para o outro. A geografia também importa.
A América do Sul abrange quase 18 milhões de quilômetros quadrados, quatro
vezes o tamanho da União Europeia. A maior cordilheira do mundo e a sua maior
floresta tropical tornam grande parte do continente intransitável para todos,
exceto condores e onças.
Estes
fatores restringem o potencial do comércio intrarregional, mas são apenas
parcialmente responsáveis pela sua pobreza. O FMI avalia que o comércio de bens
na América Latina é 40% inferior ao que seria esperado quando o comparamos com
outras partes do mundo com desafios econômicos e geográficos semelhantes. A
semelhança das cestas de exportações desses países explica mais a diferença,
mas as exportações podem mudar, e mudam ao longo do tempo.
O
comércio intra-regional poderia melhorar se os governos abordassem os problemas
básicos. Construir melhor infraestrutura aliviaria as dores de cabeça da
geografia. A Argentina, por exemplo, ocupa a 73ª posição no índice de
desempenho logístico do Banco Mundial, uma medida da qualidade da
infraestrutura física e da eficiência aduaneira. O FMI estima que reduzir pela
metade a lacuna entre a infraestrutura da América Latina e a dos países ricos
poderia aumentar as exportações em 30%.
·
Base do Aconcágua
De
tempos em tempos, a ideia de cavar um vasto e longo túnel atravessando os Andes
ressurge. Mas isso continua sendo um sonho impossível. Enquanto isso,
caminhoneiros como Ricardo Emmanuel, de 38 anos, um homem de Mendoza, na
Argentina, continuam transportando mercadorias para cima e para baixo em rotas
perigosas e lentas. “Daquele lado a pista nunca é consertada”, reclama ele,
apontando para a estrada em direção à Argentina, do alto do Paso Internacional
Los Libertadores.
Ele
elogia o elegante complexo alfandegário do Chile, situado no alto dos Andes,
mas diz que os argentinos às vezes abrem apenas um dos seus muitos postos de
controle, gerando uma fila de caminhões. Por que? “Eles não querem trabalhar!”
grita ele, frustrado.
Uma
melhor política comercial também ajudaria. À primeira vista, o quadro parece
bom: quase 90% do comércio intrarregional já é isento de tarifas. Mas esses
números são lisonjeiros e enganosos. Há dois grandes problemas. Primeiro, não
existe um acordo comercial preferencial adequado entre o México, a segunda
maior economia da região, e o Brasil e a Argentina, a maior e a terceira maior.
Em
segundo lugar, grande parte do comércio livre se baseia em um emaranhado de
acordos bilaterais. Isto é importante porque a maioria desses acordos obriga os
produtores a utilizar matérias-primas e insumos produzidos quase exclusivamente
no seu país de origem, em vez de provenientes de países terceiros,
potencialmente mais baratos, da região. “Este é um enorme obstáculo à criação
de cadeias de valor regionais”, afirma Antoni Estevadeordal, da Universidade
Georgetown. Ele avalia que essas regras equivalem a uma tarifa extra de cerca
de 15%.
Alguns
líderes latino-americanos simplesmente não querem um comércio mais livre.
Brasil e Argentina são os dois mercados emergentes mais protecionistas do
mundo, diz Marcel Vaillant, da Universidade da República, no Uruguai. Com uma
população de mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil é o maior mercado do
continente, mas o protecionismo significa que, para muitas empresas na América
Latina, as vendas para o país são limitadas.
A
Argentina cobra atualmente um imposto de 17,5% sobre compras de moeda
estrangeira para a maioria das importações, e tributa diretamente vastas áreas
das suas exportações (os impostos de exportação também são populares no
Cazaquistão, mas são vistos como uma loucura nos países ricos). As barreiras
não tarifárias são abundantes em toda a região. Os produtores chilenos de tudo,
desde abacate a salmão, têm de realizar processos de vigilância sanitária
separados para cada mercado para o qual exportam. “Isso representa tempo e
dinheiro”, salienta Ignacio Fernández Ruiz, chefe da ProChile, a agência de
promoção de exportações do país.
Este
protecionismo também destruiu grandes esperanças para o Mercosul, a união
aduaneira entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em vez disso, o bloco
tem barreiras tarifárias elevadas para o restante do mundo e está repleto de
barreiras internas. O Mercosul impulsionou brevemente o comércio entre seus
membros, mas o comércio dentro do grupo não é atualmente melhor do que entre
outros países da região. O comércio entre o Mercosul e o resto da América
Latina é miseravelmente baixo.
A
volatilidade política é outra dor de cabeça. A Aliança do Pacífico, um acordo
de comércio livre entre o Chile, a Colômbia, o México e o Peru, foi lançada por
quatro líderes de centro-direita em 2011. Esperava-se que fosse um modelo de
como a integração regional também poderia impulsionar o comércio global. Mas a
eleição de líderes de esquerda na Colômbia, no Chile e no México minou o
dinamismo da organização.
O
México se recusou a passar a liderança rotativa da Aliança para a presidente
Dina Boluarte do Peru, alegando que a nomeação dela era ilegítima depois de ter
substituído seu antecessor, envolvido em um impeachment. A Aliança do Pacífico
está no seu ponto mais baixo desde que foi fundada, afirma Felipe Lopeandía,
antigo negociador comercial principal do Chile, agora na Deloitte, uma empresa
de consultoria.
Ainda
assim, é mais fácil resolver estes problemas do que mover os Andes. E mesmo os
dois impedimentos estruturais ao comércio na América Latina – a geografia e o
fato de os seus países produzirem bens semelhantes – parecem diferentes da
perspectiva da parte do comércio global que está se expandindo mais
rapidamente: os serviços.
A
Amazon não impede que consultorias equatorianas vendam seus serviços no Brasil.
Para as empresas chilenas de engenharia de minas, o fato de o Peru também
produzir cobre representa uma tremenda oportunidade. O comércio intra-regional
de serviços da América Latina ainda é baixo, mas o potencial é óbvio.
As
exportações de serviços do Chile também são pequenas, mas, no ano passado,
cresceram 51%, principalmente na América Latina. O potencial para crescer
entusiasma Fernández Ruiz, que trouxe dezenas de grandes empresas de toda a
América Latina para conhecer prestadores de serviços chilenos. Não é a primeira
vez que a região poderá aprender com o Chile pró-comércio.
¨
Papel dos EUA no
comércio internacional 'está começando a diminuir', avalia especialista
Na
opinião de um assessor do ministro das Finanças da Arábia Saudita, o fim do
acordo de "petrodólar" de 1974 sinaliza um declínio de longo prazo de
Washington.
A
expiração do acordo entre a Arábia Saudita e os EUA para fixar os preços do
petróleo em dólares mostra o declínio do papel de Washington no comércio
mundial, contou à Sputnik um ex-membro do Conselho Executivo do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e assessor especial do ministro das Finanças saudita.
"Isso
indica que o papel internacional dos Estados Unidos no comércio está começando
a diminuir", apontou Hossein Askari, comentando a expiração do acordo.
Embora
o processo de redução do papel de Washington já tenha começado, ele advertiu
que não se pode esperar grandes mudanças em um futuro próximo, e que o mercado
global de petróleo não será afetado pelo fim do acordo.
"Não
vejo a Arábia Saudita procurando se denominar em uma moeda diferente por
motivos financeiros. Se eles mudarem a denominação da moeda, será mais por
motivos políticos", vê ele.
Os
preços do petróleo seriam mais estáveis se fossem calculados com base em uma
cesta de várias moedas, observou Askari. O especialista destacou igualmente o
declínio do papel do petróleo no mundo em meio ao aumento da importância do gás
natural liquefeito (GNL), da energia renovável e da disseminação do transporte
elétrico.
O
acordo dos petrodólares, formalizado após a crise do petróleo de 1973 e
encerrado em 9 de junho, estipulava que a Arábia Saudita fixaria o preço do
petróleo exportado exclusivamente em dólares americanos e investiria as
receitas excedentes do petróleo em títulos do tesouro dos EUA. Por sua vez,
segundo termos desse acordo, os EUA fornecem ao país árabe apoio e proteção
militar.
O
pacto exige que o petróleo seja vendido em dólares americanos, o que elevou o
status do dólar como moeda de reserva mundial e teve um efeito profundo na
economia dos EUA. A demanda global por dólares para comprar petróleo ajudou a
manter a moeda americana forte, tornando as importações relativamente baratas
para os consumidores dos EUA. Além disso, a entrada de capital estrangeiro nos
títulos do tesouro dos EUA ajudou a manter as taxas de juros baixas e o mercado
de ações forte ao longo das décadas.
Anteriormente,
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, comentou que a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) e outros produtores independentes aliados
(OPEP+) é um formato importante que contribui para a estabilização e a
previsibilidade dos mercados globais de energia.
Fonte:
Agencia Estado/Sputnik Brasil
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