Como Trump vai lidar com as guerras que
envolvem os EUA
A milhares de
quilômetros de distância dos EUA, os ucranianos não tiveram direito a voto nas
eleições, mas a escolha de Donald
Trump para comandar o país tem potencial
para afetar mais a vida deles do que a de muitos cidadãos americanos.
Isso porque, em guerra
contra a Rússia, a Ucrânia depende imensamente dos armamentos enviados para
Washington para impedir que Moscou invada e anexe uma parte de seu território.
Além do conflito na
Europa, os EUA também estão indiretamente envolvidos na guerra de Israel contra o Hamas e o Hezbollah, em Gaza e no Líbano – também
fornecendo armamentos e apoio para o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Até o momento, o
presidente democrata Joe Biden declara abertamente apoio a Kiev contra o
assédio de Vladimir Putin. Ao mesmo
tempo, mesmo contra parte de sua própria base eleitoral, seu governo defende as
ações de Israel com o argumento de que o país tem o direito de se defender de
agressões, como o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.
>>>>> Analistas
ainda debatem como Trump vai agir em cada um desses fronts. Veja o que eles
acham mais provável que aconteça:
<><>
Guerra da Ucrânia
Em seus discursos de
campanha, Trump dizia que podia costurar um acordo de paz “animador” entre
Rússia e Ucrânia em 24 horas, sem dar mais detalhes de como .
Em uma entrevista
antes da eleição, porém, seu vice, J.D. Vance, afirmou que a negociação
provavelmente envolver a entrega de regiões controladas por Moscou, o que é
visto pelas potências ocidentais como uma derrota para a Ucrânia e uma vitória
de Vladimir Putin.
Além disso, Vance
também mencionou um possível veto à entrada da Ucrânia na Otan, a aliança
militar do Ocidente, o que é uma demanda do Kremlin.
Enquanto permaneceu na
Presidência, Trump se gabou de ter mantido uma boa relação com Putin, entre
outros autocratas.
Além disso, um dos
motivos para o desgosto de muitos eleitores americanos com a gestão Biden é a
percepção de que muito dinheiro de impostos está sendo direcionado para guerras
que não envolvem os EUA, ao invés de se reverter em ajuda à população.
Em abril, o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda de US$ 61
bilhões à Ucrânia, e outras quantias foram liberadas na
sequência – a última delas, em outubro, ocorreu após uma conversa por telefone
entre Biden e Volodymyr
Zelensky, que resultou em um cheque de US$ 425 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões).
Trump se aproveitou
desse sentimento para angariar eleitores, e a visão de que os EUA estão
gastando demais com a Ucrânia é compartilhada por outras vozes proeminentes no
Partido Republicano. Seu regresso à Casa Branca tem sido um motivo, portanto,
para deixar Zelensky e os ucranianos preocupados.
Em Moscou, porém, as
reações com sua vitória eleitoral são mais comedidas. “Não vamos esquecer que
estamos falando sobre um país não amigável”, disse na quarta-feira (6) o
porta-voz do governo, Dmitry Peskov. Ele afirmou que o Kremlin está monitorando
e analisando a situação dos EUA e que vai tirar conclusões com base em
“palavras específicas e ações concretas”.
Na quinta-feira, Putin falou pela primeira vez sobre o tema. Ele parabenizou Trump pela vitória e disse estar pronto para
restabelecer relações com Washington. Zelensky também deu os parabéns ao
republicano.
<><>
Israel
Enquanto há hesitação
em fazer previsões para o front ucraniano, analistas internacionais falam com
mais segurança em uma continuidade do apoio americano à campanha de Israel em
Gaza e no Líbano contra o Hamas e o Hezbollah, respectivamente.
Logo após eleito,
Trump nomeou Brian Hook, seu antigo enviado para o Irã, para coordenar a
transição com o corpo diplomático. Hook fez a mediação de conversas secretas
entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, segundo uma reportagem do “The New
York Times” de 2019, e participou da construção dos Acordos de Abraão, em 2020
– uma série de acordos de normalização de relações entre Tel Aviv e países
árabes, mas que não exigiam de Israel o compromisso com a criação de um estado
palestino, o que foi considerado uma traição pelos palestinos.
Trump também escolheu
para sua equipe de transição o bilionário do setor financeiro Howard Lutnick,
que afirmou ter aceitado o posto por acreditar que Israel estará mais seguro
com o republicano no poder.
Também houve
sinalizações para o lado oposto. Para se contrapor à posição de Kamala Harris,
Trump fez um comício em Michigan, estado com grandes comunidades árabes e
muçulmanas, ao lado de líderes religiosos.
O republicano se
colocou como o candidato que traria paz para a região se eleito, embora tenha
sido vago sobre seu plano de acordo entre as partes. Ele se beneficiou, de
qualquer forma, com a rejeição do eleitorado árabe ao apoio incondicional de
Biden e Harris a Israel.
Em um evento de
campanha pró-Trump, porém, o ex-advogado de Trump Rudolph Giuliani disse que
“temos que estar ao lado de Israel porque eles estão do nosso lado”, em relação
ao conflito no Oriente Médio.
Trump quase sempre
agiu como aliado de Israel e do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Além dos
Acordos de Abraão, foi em seu governo que os EUA reconheceram Jerusalém como
capital do país, uma posição controversa, já que os palestinos veem a cidade como
central para seu futuro estado.
Em julho, Netanyahu se
encontrou com Trump em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida. Na reunião, o
então candidato expressou apoio à campanha contra o Hamas. No mês anterior, em
debate com Biden, o republicano chamou seu então rival de “palestino” de forma
pejorativa.
Na terça-feira (5),
dia da eleição americana, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, tido como uma figura próxima ao governo Biden. A decisão pode
ser vista como um aceno ao futuro ocupante da Casa Branca.
¨ Houthis a Trump: para tornar economia dos EUA grande novamente,
é preciso acabar com guerra em Gaza
Os Estados Unidos
gastaram mais de US$ 5 bilhões (pouco mais de R$ 28 bilhões) ao aumentarem sua
participação no Oriente Médio desde que a guerra em Gaza começou, em outubro de
2023, incluindo US$ 2,5 bilhões (R$ 14,22 bilhões) para confrontar os houthis e
bombardear o Iêmen. O grupo ofereceu a Donald Trump, presidente eleito dos EUA,
uma saída.
O movimento Ansar
Allah, ou os houthis, do Iêmen, não espera que Donald Trump "cumpra seu
compromisso com os eleitores árabes e apoiadores de Gaza" e dê um fim ao
conflito na Palestina, mas diz que os EUA ganhariam economicamente ao fazer
isso.
"A América está
pagando um preço econômico e militar por causa de seu apoio à ofensiva em Gaza
e também por causa de sua agressão ao Iêmen a serviço de Israel", disse
uma fonte houthi à Newsweek na quarta-feira (6).
"Ao impedirmos
que navios americanos cruzem os mares adjacentes ao Iêmen em resposta à
agressão americana ao nosso país, o cidadão americano tem que suportar os altos
preços [pelo encarecimento do transporte marítimo], e tudo por causa da
política do governo americano em relação ao nosso país a serviço de
Israel", acrescentou a fonte.
"A questão
permanece: Trump continuará com a mesma política e a agressão americana ao
Iêmen continuará? Se continuar, a economia americana sofrerá mais perdas",
alertou a fonte.
Os houthis começaram
um bloqueio parcial dos mares Vermelho e Arábico em novembro de 2023, em
resposta à invasão terrestre de Gaza por Israel, apreendendo um navio mercante
de propriedade israelense e, com o tempo, disparando centenas de drones e
mísseis contra navios comerciais que passavam e navios de guerra americanos e
britânicos enviados à região para tentar romper o bloqueio.
Os EUA, até agora,
falharam em "degradar" as capacidades houthis, com o grupo apenas
aumentando suas capacidades para incluir o disparo de veículos aéreos não
tripulados (VANTs) de longo alcance e mísseis em direção a Israel, e prometendo
continuar sua campanha até que a agressão contra Gaza e o Líbano pare.
Trump, cujo governo
rotulou os houthis de "organização terrorista" em janeiro de 2021, às
vésperas de sua saída da Casa Branca, evitou mencionar o movimento iemenita em
sua candidatura de 2024, e criticou a administração Biden em janeiro passado
pela campanha de ataques aéreos liderada pelos EUA lançada contra o Iêmen.
<><>
Especialistas não descartam acordo diplomático entre EUA e Irã sob Trump, diz
mídia
Um acordo diplomático
entre os Estados Unidos e o Irã no segundo mandato de Donald Trump é possível,
apesar da hostilidade mútua entre os dois países, informou o The Wall Street
Journal, citando o antigo círculo próximo de Trump.
Na quinta-feira (7), o
ex-representante especial dos Estados Unidos para o Irã, Brian Hook, disse que
Trump vê o Irã como uma das principais fontes de instabilidade no Oriente
Médio.
Ele acredita que a
crise atual é causada pelo fracasso do presidente dos EUA, Joe Biden, em
controlar o Irã e seus aliados.
No entanto, Hook
observou que Trump "não está interessado" em mudar o governo do Irã.
"Apesar da
hostilidade mútua, algumas pessoas que trabalharam para Trump não descartam um
eventual acordo diplomático entre os EUA e o Irã em seu segundo mandato",
afirmou o vice-secretário de Defesa para o Oriente Médio Mick Mulroy, citado
pelo jornal.
No entanto, fontes
disseram ao jornal que, enquanto isso, Trump planeja endurecer drasticamente as
sanções contra o Irã e dificultar as vendas de petróleo.
O jornal diz que a
nova equipe de Trump vai agir rapidamente para tentar reduzir as receitas de
petróleo iraniano.
Enquanto isso, um
diplomata iraniano não identificado disse ao jornal que Teerã está
ultrapassando as restrições dos EUA ao aprofundar suas parcerias comerciais por
meio da Organização de Cooperação de Xangai e outras alianças.
Donald Trump venceu as
eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024.
Ele se tornou o
primeiro político norte-americano desde o século XIX a retornar à Casa Branca
após um intervalo de quatro anos.
A candidata democrata
Kamala Harris disse que admite a derrota, enquanto o atual presidente, Joe
Biden, falou com Trump e o parabenizou.
Em 17 de dezembro, o
Colégio Eleitoral dos estados deve votar nos candidatos de acordo com a vontade
do eleitorado e, em 6 de janeiro, o novo Congresso vai aprovar os resultados da
votação.
A posse do novo
presidente deve ocorrer em 20 de janeiro de 2025.
<><>
Ataque israelense contra escola deixa pelo menos 14 mortos
Uma escola que
funciona como abrigo para palestinos na cidade de Gaza, uma das mais destruídas
pela guerra promovida por Israel no enclave, foi atacada nesta quinta-feira (7)
pelo país, e pelo menos 14 pessoas morreram no local, de acordo com as
autoridades. O local é administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
"As forças de
ocupação cometeram massacres contra famílias palestinas em uma escola da UNRWA
[Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no
Próximo Oriente, em tradução livre] no campo de refugiados de Shati, causando
14 mortes", informaram as autoridades do enclave palestino.
Já as Forças de Defesa
de Israel (FDI) não responderam aos questionamentos sobre o ataque ocorrido a
oeste da cidade de Gaza.
Nos últimos meses,
Israel realizou dezenas de bombardeios aéreos contra escolas em todo o enclave
sitiado, estruturas onde centenas de milhares de palestinos deslocados pelos
combates buscaram refúgio. O país afirma que combatentes do Hamas usam os espaços
e outros locais de proteção para os civis como cobertura, transformando os
palestinos e trabalhadores humanitários em escudos humanos.
Pouco depois do
ataque, os militares ordenaram a evacuação do campo de refugiados de Shati,
entre outros bairros, o que gerou pânico entre os palestinos que, nos últimos
dias, haviam procurado abrigo nessas áreas devido à ofensiva renovada de Israel
contra o Hamas mais ao norte da Faixa de Gaza.
Enquanto isso, as FDI
comunicaram que permitirão que 300 caminhões carregados de ajuda humanitária,
fornecida pelos Emirados Árabes Unidos, entrem no território palestino nos
próximos dias. Já os Estados Unidos solicitaram que Israel permita a entrada diária
de pelo menos 350 caminhões com ajuda ao enclave devastado pela guerra.
Já o organismo militar
israelense, responsável pelos assuntos civis em Gaza, comunicou que a ajuda foi
trazida por mar e descarregada no porto de Ashdod, adjacente ao norte de Gaza.
Também acrescentou que o envio, que inclui alimentos, água, equipamentos
médicos, abrigo e suprimentos de higiene, será inspecionado antes de ser
transportado por caminhões para Gaza, sem especificar uma data.
¨ Nações Unidas: mulheres e crianças representam 70% dos mortos na
Faixa de Gaza desde 2023
Mulheres e crianças
representam cerca de 70% dos mortos na Faixa de Gaza desde outubro de 2023,
relata o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos
Humanos (ACNUDH).
"O Escritório do
Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos tem verificado os
detalhes individuais dos mortos em Gaza por ataques, bombardeios e outras
condutas de hostilidades. Dessas fatalidades, até agora descobriu-se que cerca
de 70% das vítimas eram crianças e mulheres, indicando uma violação sistemática
dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário, incluindo
distinção e proporcionalidade", disse o ACNUDH em uma declaração à
imprensa.
A agência das Nações
Unidas identificou três faixas etárias de crianças entre os falecidos: as entre
5 e 9 anos, aquelas entre 10 e 14 anos, e bebês e crianças menores de 4 anos.
Além disso, a ACNUDH relata que cerca de 80% das mortes ocorreram em moradias
residenciais.
Em outubro de 2023,
Israel sofreu um ataque coordenado de militantes do Hamas, que abriram fogo
contra alvos militares e civis, e sequestraram mais de 200 pessoas. O atentado
também resultou em cerca de 1,1 mil mortes.
Como retaliação, as
Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram um bloqueio da Faixa de Gaza e
lançaram incursões terrestres e ataques aéreos a alvos civis. Mais de 43 mil
palestinos foram mortos e mais de 100 mil sofreram ferimentos desde o início do
conflito, diz o Ministério da Saúde de Gaza.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário