Brasil-Israel: o que está em jogo? A
complexa relação Brasil-Israel
As relações entre
Brasil e Israel se destacam como um eixo estratégico que transcende afinidades
culturais ou meros alinhamentos ideológicos. Mais do que uma questão de postura
diplomática, essa parceria envolve setores vitais para o desenvolvimento econômico,
a segurança nacional e a inovação tecnológica no Brasil. Desde os primeiros
contatos, esses laços evoluíram para uma dependência do Brasil, que hoje
influencia áreas como defesa, agricultura, segurança cibernética e até mesmo o
setor financeiro. Em um cenário global marcado pela competição tecnológica e
pela necessidade crescente de segurança, Israel tem se consolidado como um dos
principais fornecedores de tecnologia para o mundo, incluindo o Brasil. Essa
dependência vai desde armamentos e sistemas de vigilância, que fortalecem as
Forças Armadas e outras instituições de segurança, até soluções agrícolas e de
gestão hídrica utilizados no agronegócio brasileiro. Ao longo das últimas
décadas, a falta de investimentos históricos do Brasil em setores estratégicos
como defesa, agricultura e tecnologia acabou por torná-lo dependente de
tecnologias estrangeiras, criando uma vulnerabilidade considerável. Sem uma
indústria nacional robusta capaz de desenvolver inovações de ponta, o Brasil se
viu forçado a recorrer a parcerias externas para suprir suas necessidades
críticas. Nesse contexto, Israel surgiu como um dos principais fornecedores de
tecnologias avançadas, consolidando sua presença no país e utilizando essa
dependência a seu favor. Essa situação abriu espaço para uma relação de
dependência que, em muitos aspectos, se configura como uma espécie de
"chantagem tecnológica". Ao fornecer sistemas fundamentais para a
segurança e o desenvolvimento brasileiro – desde armamentos e monitoramento de
fronteiras até soluções agrícolas e cibernéticas –, Israel passou a deter uma
influência significativa sobre o Brasil. A interrupção dessa parceria colocaria
em risco áreas sensíveis da infraestrutura nacional, o que reforça o poder de
barganha de Israel e limita as opções diplomáticas e comerciais do Brasil.
Assim, a escassez de investimentos locais em tecnologia não apenas ampliou a
vulnerabilidade brasileira, como também permitiu que Israel consolidasse uma
posição de controle, essencialmente criando uma relação de dependência
estratégica.
No campo econômico, a
presença do capital israelense no Brasil também é notável. Com investimentos em
setores essenciais, como o agronegócio, comércio e serviços, empresas
israelenses aportam tecnologia, recursos e expertise que ampliam as capacidades
produtivas e a competitividade da economia brasileira. Essa cooperação
econômica envolve mais do que simples transações comerciais; ela cria uma rede
de interdependência que torna arriscada a hipótese de cortar relações sem
impactos graves. Além disso, há um aspecto cultural e ideológico cada vez mais
presente nessa relação, especialmente com o crescimento do apoio ao sionismo
entre movimentos religiosos neopentecostais no Brasil. A identificação de
líderes religiosos e milhões de fiéis com Israel reflete uma estratégia de
guerra cultural que, ao mesmo tempo, aprofunda os laços entre os dois países e
influência a base de apoio político interna. Esse sincretismo religioso,
similar ao fenômeno ocorrido nos Estados Unidos, reforça a aliança com Israel,
legitimando o apoio a suas causas e políticas. Este artigo busca, portanto,
explorar as diferentes dimensões dessas relações e esclarecer por que, sob uma
análise estratégica, o Brasil não pode, neste momento, cortar laços com Israel.
A interdependência estabelecida nas últimas décadas se consolidou como um pilar
da estrutura econômica, militar e cultural do país, o que torna qualquer
mudança brusca uma medida potencialmente danosa para o Brasil.
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Capital e dependência econômica
A presença de capital
israelense e sionista no setor financeiro brasileiro é robusta e se manifesta
por meio de grandes bancos, fundos de investimento e agências de capital que
têm forte influência sobre setores estratégicos da economia. Dois dos maiores
conglomerados de investimentos globais, BlackRock e Vanguard, são
frequentemente associados a investimentos de interesse sionista. A seguir, um
detalhamento sobre cada um desses players e o impacto de suas operações no
Brasil. BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo, com mais de 10 trilhões
de dólares sob gestão, e tem investimentos maciços em empresas estratégicas no
Brasil. Embora não seja israelense, a BlackRock tem capital fortemente
associado a interesses sionistas devido a sua rede de investidores e seu apoio
declarado ao Estado de Israel. O CEO da BlackRock, Larry Fink, é uma figura
influente na política global e é judeu, e a empresa apoia publicamente Israel
em diversos fóruns internacionais. No Brasil, a BlackRock possui investimentos
significativos em setores estratégicos, como energia, infraestrutura e
agroindústria. Ela detém ações em várias empresas brasileiras e tem
participação em grandes grupos econômicos, o que lhe concede influência direta
sobre as políticas e operações dessas empresas. Além disso, por meio de seus
fundos e ETFs (fundos de índice), a BlackRock mantém controle sobre uma parcela
considerável do mercado de capitais brasileiro. A influência da BlackRock é tão
ampla que suas decisões de investimento têm o poder de impactar diretamente o
valor das ações e a estabilidade financeira de grandes empresas brasileiras,
tornando o Brasil vulnerável as movimentações e diretrizes de uma empresa cuja
liderança apoia interesses sionistas. Vanguard é outro gigante do setor de
investimentos, com trilhões de dólares em ativos sob sua gestão e grande poder
de influência nas economias ao redor do mundo. Embora Vanguard também não seja
uma instituição israelense, seu CEO é conhecido por seu alinhamento com o
sionismo cristão, uma vertente que apoia o fortalecimento de Israel por
convicções religiosas. A Vanguard tem participação acionária em inúmeras
empresas brasileiras de setores essenciais como o de energia, mineração e
alimentos, o que torna sua influência profundamente integrada à economia
brasileira. No Brasil, Vanguard segue um modelo de negócios que garante poder
sobre as empresas em que investe, sem necessariamente interferir em suas
operações no dia a dia. No entanto, sua posição de liderança no mercado de
capitais global permite à empresa exercer influência sobre políticas
empresariais e decisões estratégicas, especialmente em momentos de crise
econômica ou política. Essa influência, combinada ao alinhamento ideológico
sionista-cristão de sua liderança, coloca o Brasil em uma situação delicada de
dependência financeira, onde os interesses de um Estado estrangeiro e de
ideologias externas podem influenciar indiretamente a economia nacional.
O Banco Leumi é um dos
maiores bancos de Israel e possui operações no Brasil, oferecendo serviços
financeiros e de investimento voltados tanto para empresas como para
investidores de grande porte. A presença do Banco Leumi no Brasil reforça o
papel do capital israelense no mercado financeiro nacional, criando
interdependência entre as economias dos dois países. Esse banco oferece crédito
e financiamento para empresas brasileiras em áreas como agronegócio,
infraestrutura e tecnologia, setores nos quais Israel busca expandir sua
influência. Além disso, o Banco Leumi tem papel fundamental na facilitação de
parcerias entre empresas brasileiras e israelenses, especialmente em setores
onde Israel possui expertise tecnológica, como cibersegurança, defesa e inovação
agrícola. Essa presença no Brasil torna o Banco Leumi um ator estratégico,
capaz de influenciar acordos comerciais e o direcionamento de investimentos em
setores-chave, alinhando-os a interesses econômicos israelenses.
- Setor de Energia: Tanto BlackRock quanto Vanguard têm
investimentos em empresas de energia brasileiras, como a Petrobras e a
Eletrobras. Esses investimentos conferem a essas instituições poder sobre
um setor vital para a economia nacional e para a independência energética
do Brasil.
- Agronegócio: O capital israelense e os fundos com
interesses sionistas possuem também investimentos em grandes empresas de
agronegócio no Brasil. Essa participação é estratégica para Israel, que
tem interesse em garantir acesso a produtos agrícolas e tecnologias
avançadas de produção. Com isso, o Brasil se torna, em parte, uma extensão
das necessidades alimentares e econômicas de Israel, colocando o
agronegócio brasileiro sob influência indireta de investidores que atuam
em nome de interesses israelenses.
- Tecnologia e Inovação: A BlackRock e o Banco Leumi
financiam diversas startups e empresas brasileiras de tecnologia,
especialmente em setores como fintechs e agritech. Ao investirem em
empresas tecnológicas brasileiras, esses agentes de capital israelense
aumentam sua presença em um setor vital para a segurança e a independência
digital do Brasil.
- Influência Política e de Mercado: A presença dessas
instituições com capital israelense no Brasil não se limita a
investimentos econômicos; elas também têm influência política por meio de
lobby e parcerias com líderes empresariais e políticos. A continuidade
dessas relações oferece a Israel e aos interesses sionistas uma rede de
apoio político-econômico que lhes permite influenciar políticas públicas e
decisões de grande impacto na economia brasileira.
Essa dependência
financeira e econômica reforça o poder de Israel sobre o Brasil, consolidando
um quadro em que o capital estrangeiro, fortemente alinhado a interesses
sionistas, se torna uma peça indispensável para setores estratégicos do país.
Dessa forma, qualquer tentativa de rompimento diplomático com Israel poderia
afetar diretamente o setor financeiro e gerar instabilidade em áreas essenciais
da economia brasileira. A relação econômica Brasil-Israel também é impulsionada
por acordos bilaterais, como o Acordo de Livre Comércio entre Israel e o
Mercosul, assinado em 2007 e em vigor desde 2010. Esse acordo facilitou o fluxo
de produtos entre os países e ajudou a reduzir tarifas de importação,
principalmente para produtos agrícolas e industriais. Com isso, empresas
israelenses tiveram mais facilidade para estabelecer negócios no Brasil,
enquanto produtos brasileiros, como a carne e o café, encontraram um mercado
ampliado em Israel. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior
e Serviços (MDIC), o comércio entre Brasil e Israel registrou crescimento de
mais de 40% desde a implementação do acordo, fortalecendo os laços econômicos e
a interdependência entre as nações. Além disso, o Programa de Cooperação
Científica e Tecnológica Brasil-Israel, firmado em 2019, incentiva o
desenvolvimento conjunto em áreas como biotecnologia, nanotecnologia e
tecnologias para energias renováveis. Esse programa amplia a dependência
tecnológica brasileira, pois facilita o acesso a tecnologias de ponta
israelenses, porém deixa o Brasil cada vez mais vulnerável à continuidade
desses investimentos para manter sua competitividade e inovação tecnológica.
Relatórios de comércio internacional indicam que, entre 2015 e 2020, o volume
de capital israelense no Brasil cresceu substancialmente, especialmente no
agronegócio e no setor de cibersegurança. O Banco Central do Brasil e o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registram que o fluxo de
investimento direto de Israel no Brasil se estabilizou em aproximadamente US$
1,8 bilhão durante esses anos, com projeções de crescimento sustentadas pela
expansão do setor agrícola e de TI. Esses dados revelam que, em setores
essenciais, o Brasil depende diretamente dos recursos e da expertise
israelense, criando um vínculo econômico que transcende as importações e
exportações tradicionais, consolidando-se como uma interdependência estrutural.
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Segurança e defesa
Para entender a
profundidade da influência de Israel na segurança pública e defesa do Brasil, é
essencial observar como tecnologias e sistemas israelenses foram integrados em
várias esferas críticas desse setor. Israel se consolidou como um dos maiores fornecedores
de tecnologia militar e de segurança para o Brasil, dominando áreas como
vigilância, controle de fronteiras, cibersegurança, equipamentos de defesa e
cibernética. Entre as empresas israelenses com forte presença no Brasil,
destaca-se a Elbit Systems, uma das maiores fornecedoras globais de tecnologias
militares, que passou a desempenhar um papel ainda mais importante após o golpe
de Estado de 2016. A dependência do Brasil em relação à tecnologia de segurança
e defesa fornecida pela Elbit Systems representa um sério risco à soberania
nacional, especialmente em áreas estratégicas como a Amazônia, que é alvo
constante de interesses internacionais devido à sua biodiversidade e recursos
naturais. A Elbit, ao fornecer tecnologias de vigilância, drones e sistemas de
comunicação de alta precisão para o Brasil, está diretamente envolvida no
monitoramento de fronteiras, operações de segurança urbana e proteção de
território nacional. Esses sistemas são amplamente utilizados por polícias
militares e forças federais para controlar manifestações, monitorar atividades
suspeitas e combater o crime organizado, mas essa dependência de tecnologias
estrangeiras traz perigos reais. O acesso de Israel a dados sensíveis sobre o
território brasileiro, especialmente na Amazônia, confere a um Estado
estrangeiro uma posição de poder inquestionável sobre informações estratégicas
de segurança. A Amazônia, uma das regiões mais visadas do mundo por conta de
suas riquezas naturais e posição geopolítica, tem seus dados críticos de
segurança potencialmente ao alcance de interesses externos, colocando o Brasil
em uma posição vulnerável em relação à sua própria defesa. Por meio dos
sistemas de monitoramento e radares avançados da Elbit, que rastreiam
atividades na Amazônia e no litoral brasileiro, Israel tem, na prática, acesso
a informações estratégicas sobre movimentação de tropas, pontos de interesse e
atividades econômicas da região. Além disso, caso houvesse qualquer tensão
diplomática ou corte de relações, o Brasil estaria suscetível a perder acesso a
atualizações, manutenção e suporte técnico dessas tecnologias críticas, o que
poderia desestruturar a segurança em áreas como as fronteiras amazônicas,
agravando a vulnerabilidade da região. Em um cenário de aumento das pressões externas
sobre a Amazônia, essa dependência tecnológica coloca em risco a autonomia do
Brasil sobre seu próprio território, tornando-o refém de sistemas e informações
que estão, na prática, sob a influência de interesses estrangeiros.
O rompimento de
relações com Israel implicaria na perda de acesso a essas tecnologias, deixando
lacunas significativas na estrutura de segurança pública e nacional do Brasil.
Como essas soluções tecnológicas não possuem substitutos fáceis e acessíveis, a
segurança brasileira ficaria seriamente comprometida, expondo o país a riscos
de insegurança pública e potencial instabilidade, agravada pela ideologia de
extrema-direita presente em parte das forças de segurança. Esse setor, já
caracterizado por tensões políticas e alinhamentos ideológicos, poderia ver um
aumento de instabilidade interna e insubordinações, em um cenário onde se sente
"abandonado" em relação aos recursos de segurança tecnológica
necessários. A crise política e institucional que culminou no golpe de 2016
trouxe profundas consequências para o desenvolvimento tecnológico e industrial
do Brasil, especialmente na área de defesa. Empresas brasileiras como a
Odebrecht Defense and Tecnologic e a Mectron, que estavam em processo de consolidação
de tecnologias nacionais, foram diretamente impactadas. A Mectron, em
particular, era uma empresa de alta tecnologia brasileira com foco no
desenvolvimento de sistemas de defesa, incluindo mísseis e sistemas de radar.
Contudo, com o golpe de 2016 e o enfraquecimento da política de desenvolvimento
industrial nacional, a Mectron enfrentou dificuldades financeiras e acabou
sendo adquirida pela Elbit Systems. A venda da Mectron para a Elbit aprofundou
a dependência do Brasil em relação à tecnologia estrangeira, especificamente
israelense. Antes do golpe, a Odebrecht Defesa e a Mectron estavam
desenvolvendo tecnologias estratégicas que visavam reduzir a dependência
externa e fortalecer a autonomia tecnológica do Brasil na defesa nacional. Com
a desestruturação dessas empresas e sua subsequente venda a grupos
estrangeiros, o país se viu obrigado a importar equipamentos e sistemas que
antes poderiam ter sido desenvolvidos localmente. Esse processo comprometeu
seriamente a capacidade brasileira de desenvolver tecnologias autônomas e
ampliar sua independência no setor de defesa. A aquisição da Mectron pela Elbit
consolidou o domínio israelense sobre o setor de defesa e tecnologia de
segurança no Brasil, tornando o país ainda mais refém das importações
tecnológicas. De fato, desde então, o Brasil depende quase que exclusivamente
de sistemas de defesa de empresas estrangeiras, especialmente israelenses, para
atender suas demandas de segurança nacional e pública. Caso as relações com
Israel fossem cortadas, o Brasil ficaria extremamente vulnerável, pois grande
parte de sua infraestrutura de segurança é mantida e atualizada por essas
tecnologias israelenses. A atuação de empresas israelenses no setor de
segurança privada e tecnologia da informação (TI) é outro ponto central dessa
relação. Elbit Systems, uma das maiores empresas de tecnologia militar e de
segurança de Israel, possui subsidiárias no Brasil, onde fornece sistemas de
vigilância e monitoramento para empresas privadas e até para órgãos
governamentais. Esses sistemas são amplamente utilizados na proteção de
infraestruturas críticas e também no controle de áreas urbanas, oferecendo uma
segurança que as empresas brasileiras, por limitações tecnológicas e baixos
investimentos em tecnologia de defesa próprias, ainda não conseguem suprir
internamente. No setor de TI, Israel também é um parceiro estratégico para o
Brasil. A empresa Check Point Software Technologies, especializada em
cibersegurança, é uma das que lideram a segurança digital de diversas empresas
brasileiras.
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Influência cultural e alinhamento ideológico: guerra cultural e crescimento
neopentecostal
A relação entre o
movimento cristão evangélico brasileiro e o sionismo político tem se
aprofundado ao longo das últimas décadas, transformando-se em um dos mais
marcantes fenômenos da atual guerra cultural no país. Esse movimento é marcado
por um sincretismo religioso que aproxima o cristianismo neopentecostal do
judaísmo, promovendo um apoio ideológico e político a Israel que redefine a
identidade religiosa e cultural de amplas parcelas da sociedade brasileira.
Esse fenômeno tem implicações profundas para a política e para como setores da
sociedade enxergam o papel das esquerdas e dos governos progressistas,
frequentemente taxados como “inimigos de Israel” e da “fé”. No Brasil, o
movimento neopentecostal tem adotado inúmeros símbolos judaicos e referências à
cultura judaica. É comum que igrejas neopentecostais utilizem elementos como a
estrela de Davi, menorás, bandeiras de Israel e até mesmo shofares
(instrumentos de sopro tradicionais judaicos) em suas cerimônias, reforçando
uma identificação com Israel como “terra sagrada”. Além disso, em diversas
igrejas, é comum que líderes religiosos incentivem os fiéis a realizarem
"peregrinações" para Israel, apresentando o país como o ponto de
encontro espiritual e a nação “abençoada por Deus”. Esse sincretismo cria uma
base emocional e simbólica que legitima uma relação íntima e incondicional com
Israel, fortalecendo o apoio político que essas igrejas conferem ao sionismo.
Assim como nos Estados Unidos, onde o sionismo político e religioso encontra um
apoio sólido entre cristãos evangélicos, no Brasil, o movimento neopentecostal
também se tornou um defensor entusiástico de Israel. Nos EUA, essa aliança
entre evangélicos e Israel é consolidada por uma retórica de “destino
manifesto” e “promessa divina” que coloca os dois países como aliados naturais.
No Brasil, essa ideologia é adaptada e promovida entre os evangélicos, gerando
uma identificação com o Estado de Israel como "terra santa" e uma
narrativa que posiciona o Brasil como aliado espiritual e moral de Israel. Esse
vínculo ideológico se reflete em práticas e discursos de apoio incondicional a
Israel, frequentemente veiculados em cultos, sermões e nas mídias sociais das
igrejas. Muitos líderes religiosos brasileiros utilizam suas plataformas para
defender Israel e enfatizar uma aliança entre o Brasil e Israel, retratando o
sionismo como uma causa sagrada e associando qualquer crítica a Israel a um
posicionamento anticristão. Esse processo contribui para o enfraquecimento de
ideologias de esquerda, associando-as ao que esses líderes retratam como
"ameaças" à aliança religiosa entre Brasil e Israel. O sionismo vem
sendo promovido entre os evangélicos brasileiros como uma estratégia consciente
de guerra cultural. Esse apoio a Israel cria um ambiente onde movimentos
progressistas são vistos com suspeita ou até hostilidade, e onde a identidade
nacional passa a ser cada vez mais associada a uma visão religiosa alinhada ao
sionismo. Vários líderes religiosos neopentecostais, como Silas Malafaia e Edir
Macedo, por exemplo, defendem abertamente Israel, utilizando suas plataformas
para endossar políticas pró-Israel e para incentivar que seus seguidores apoiem
candidatos e partidos que se alinham a essa visão. Essa promoção do sionismo é
uma parte integral da guerra cultural no Brasil, onde o apoio a Israel é
vinculado a um conjunto de valores conservadores e, muitas vezes, anti
esquerdistas.
Um exemplo claro da
influência cultural e política do sionismo na sociedade brasileira é o
surgimento do Complexo de Israel no Rio de Janeiro. Este fenômeno é fruto de um
grupo criminoso, autodenominado “Complexo de Israel”, que controla o tráfico de
drogas em várias comunidades do Rio de Janeiro e que adota símbolos e discursos
relacionados a Israel e ao judaísmo. Essa apropriação do imaginário israelense
pelo crime organizado é um reflexo de como o sincretismo religioso e o apoio ao
sionismo transcenderam o âmbito das igrejas e passaram a influenciar até mesmo
a criminalidade. A ideologia sionista é usada como uma forma de identidade e
autoridade por essas facções, que veem em Israel um modelo de força e
legitimidade. Esse fenômeno também revela uma influência indireta sobre as
forças de segurança, muitas das quais são adeptas dessa identificação com
Israel. A militarização da segurança pública e a adoção de práticas e
tecnologias israelenses nas polícias brasileiras refletem essa tendência,
ampliando o alcance da guerra cultural e gerando um cenário em que o apoio
incondicional a Israel se torna um valor de ordem dentro do aparato estatal. A
influência do sionismo e a sua promoção como parte da guerra cultural têm
efeitos profundos na sociedade brasileira. Esse movimento altera não apenas as
visões políticas, mas também as alianças eleitorais, transformando o apoio a
Israel em uma das principais forças eleitorais do país. Ao criminalizar e
demonizar movimentos progressistas e de esquerda, essa estratégia de guerra
cultural contribui para a polarização da sociedade, reduzindo o espaço para o
diálogo e reforçando uma visão conservadora e militarizada. A questão do apoio
a Israel passa a ser usada como um teste de lealdade política e moral, o que
estreita ainda mais a visão política e limita o espaço para uma análise crítica
das relações internacionais. Esse apoio a Israel, incentivado pelo sincretismo
religioso e pelo avanço do sionismo, reflete um movimento que impacta
diretamente a sociedade brasileira, tanto no aspecto cultural quanto na
segurança pública. Assim, a guerra cultural sionista está enraizada em
setores-chave, consolidando uma base de apoio popular e redefinindo a
identidade nacional em torno de uma aliança que influencia desde as igrejas até
as forças de segurança, impactando de maneira decisiva o cenário político e
ideológico do Brasil.
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A interdependência Brasil-Israel
As relações entre
Brasil e Israel transcendem a mera diplomacia; elas se entrelaçam em uma teia
complexa que abrange segurança nacional, economia e aspectos culturais. Os
investimentos israelenses em setores estratégicos, como segurança pública,
tecnologia e agroindústria, ilustram como a interdependência é profunda e
multifacetada. Um eventual corte desses laços não apenas colocaria em risco
acordos comerciais e parcerias tecnológicas, mas também ameaçaria a
estabilidade das forças de segurança, cuja modernização e eficiência muitas
vezes dependem da tecnologia israelense. Em um cenário global onde diversos
países enfrentam dilemas semelhantes sobre suas relações com Israel, o Brasil
se encontra em uma encruzilhada política significativa. O governo do presidente
Lula é pressionado pela base de apoio progressista a romper relações com
Israel, em um contexto onde as elites e setores econômicos vêem essa
possibilidade como uma oportunidade para mais uma vez ameaçar à estabilidade e
ao desenvolvimento do país. Essa situação é ainda mais complexa considerando
que o atual embaixador de Israel no Brasil se posiciona como um defensor da
extrema-direita e apoia abertamente o bolsonarismo. Essa dinâmica sugere que
uma ruptura abrupta poderia não apenas agravar as tensões internas, mas também
abrir espaço para uma nova onda de desestabilização do governo progressista,
uma vez que Israel poderia retaliar com esforços de deslegitimação e
influência. A continuidade da relação entre Brasil e Israel deve ser
considerada com uma análise estratégica profunda, levando em conta não apenas
os fatores ideológicos e os interesses econômicos, mas também as implicações de
segurança e os impactos culturais, no campo eleitoral, dessa interdependência.
As relações internacionais, em seu ethos, são essencialmente pragmáticas,
buscando sempre o equilíbrio entre boas relações e os interesses soberanos dos
Estados. Nesse contexto, é fundamental compreender as relações internacionais
como um campo de atuação onde cada interação é moldada por interesses variados,
que vão desde questões econômicas até preocupações de segurança e estabilidade.
Um olhar pragmático considera não apenas os benefícios imediatos de uma
cooperação, mas também as implicações a longo prazo de uma ruptura, avaliando
como as ações de um país podem afetar sua posição no cenário global. A quebra
de cooperação, portanto, deve ser analisada de forma crítica, levando em conta
todos os detalhes da relação envolvida, como a interdependência econômica e a
segurança nacional. Essa abordagem permite que os Estados naveguem por um
cenário complexo e volátil, onde decisões unilaterais podem desencadear
consequências indesejadas, comprometendo não apenas a relação específica em
questão, mas também o ambiente internacional mais amplo. A sociedade brasileira
deve refletir sobre os riscos envolvidos nessa potencial ruptura: quais seriam
as consequências para a segurança nacional, para as políticas públicas e para a
coesão social? A pergunta que fica é: estamos dispostos a arriscar a estabilidade
do Brasil e a segurança das nossas instituições em nome de uma ideologia que,
embora compartilhe um elo histórico com algumas correntes religiosas e
políticas, pode, ao mesmo tempo, desestabilizar e polarizar nossa sociedade?
Essa reflexão se torna ainda mais crucial em um momento em que as tensões
sociais e políticas se intensificam e as divisões se acentuam.
Diante da análise
profunda das relações Brasil-Israel, é evidente que a dependência tecnológica e
econômica do Brasil em relação a Israel e a outros atores internacionais
representa um desafio significativo para a soberania nacional. A necessidade
urgente de desenvolver tecnologias que garantam maior autonomia ao Brasil é um
imperativo que não pode ser ignorado, especialmente em um cenário onde a
interdependência cria vulnerabilidades. O presidente Lula tem se esforçado para
implementar um projeto de desenvolvimento industrial e econômico que visa
fortalecer a base tecnológica do país, promovendo inovações que permitam ao
Brasil não apenas competir no mercado global, mas também reduzir sua
dependência de fornecedores estrangeiros. Entretanto, essa empreitada enfrenta
resistência significativa, tanto de setores do ocidente, que historicamente têm
interesse em manter o Brasil em uma posição subserviente, quanto de pressões
específicas ligadas a interesses de Israel, frequentemente mediadas pelos
Estados Unidos. Essa dinâmica cria um ambiente desafiador para a construção de
um futuro sustentável e independente, colocando em risco não apenas o progresso
econômico, mas também a integridade das políticas sociais e de desenvolvimento.
A promoção de um projeto nacional que priorize a inovação, a pesquisa e o
desenvolvimento de tecnologias autônomas é crucial para assegurar que o Brasil
possa não apenas se defender de pressões externas, mas também estabelecer um
papel mais proativo e respeitado no cenário internacional. No entanto, a
concretização desse projeto requer um alinhamento estratégico que considere as
implicações das relações internacionais e a importância de se construir
parcerias que fortaleçam a soberania nacional, sem abrir mão da autonomia em
setores vitais para o desenvolvimento do país. Portanto, a sociedade brasileira
deve refletir sobre os riscos associados à continuidade de uma dependência que
limita o potencial do Brasil, e a necessidade de um esforço conjunto para
garantir um futuro onde o país possa trilhar seu próprio caminho de
desenvolvimento, livre de influências externas que buscam desestabilizá-lo.
Fonte: Por Reynaldo
José Aragon Gonçalves, em Brasil 247
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