terça-feira, 5 de novembro de 2024

A razão da Bahia ser tão grande e Sergipe tão pequeno: roubamos as terras na cara dura

Enquanto a Bahia é o quinto maior estado territorial do país, Sergipe segura a lanterninha no mesmo quesito: é o menor do Brasil. Para efeitos de comparação, basta dizer que cabem aproximadamente 25 estados de Sergipe dentro da Bahia. A diferença territorial entre os dois é absurda e, reparem só, está longe de ser um mero acaso.

Há uma relação direta de causa e efeito no gigantismo de um e no encolhimento do outro. Trocando em miúdos, a Bahia roubou terras do seu vizinho, modelando seu mapa, expandindo suas divisas e redesenhando seu próprio território, do Brasil Colônia até o começo do século 20.

O grande responsável por legitimar a usurpação cirúrgica final foi o médico baiano Braz Hermenegildo do Amaral, que se destacou mesmo na área da pesquisa histórica.

Amaral foi deputado federal por três legislaturas e ajudou a fundar duas importantes entidades da intelectualidade do estado: a Academia de Letras da Bahia (ALB), ocupando a cadeira de número 4, e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).

A convite do então governador JJ Seabra, que estreou no cargo em 1912, Braz do Amaral topou iniciar uma série de pesquisas para definir as novas divisas da Bahia – tanto ao norte, em áreas delimitadas com Sergipe, Alagoas e Pernambuco, quanto no extremo sul, na separação com o Espírito Santo.

Aqui cabe explicar um contexto importante da época. Com a proclamação da República, em 1889, o que antes eram províncias foram transformadas em estados, seguindo a lógica federalista adotada pelos Estados Unidos, que já despontava como uma nação próspera naquele período. Cada estado passou a ter sua própria bandeira, brasão de armas e Constituição estadual.

Ao se tornar governador, JJ Seabra, que hoje dá nome à Avenida da Baixa dos Sapateiros, iniciou uma ofensiva para tornar a Bahia um espaço de maior relevância no Brasil, tanto em extensão, quanto em importância política.

O governo do estado, então, passa a financiar longas viagens de Braz do Amaral ao Rio de Janeiro e também a Portugal. Nelas, ele encontrou inúmeros documentos para legitimar as novas fronteiras que a Bahia pleiteava – e que são apresentadas, anos depois, na Conferência de Limites Interestaduais, convocada pelo então presidente Epitácio Pessoa, em 1920.

Entre o material encontrado estavam 29 cartas escritas pelo português e professor de grego de Salvador Luís Santos Vilhena, cujo conteúdo guarda narrações sobre o cotidiano da cidade e detalhes da extensão territorial da Bahia.

Com esta carta de super trunfo na mão, Amaral arranca aproximadamente 17 mil quilômetros quadrados de Sergipe, que passou a, insistentemente, pedir o VAR para rever o impedimento da jogada.

No comando do Brasil após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas chegou a se mostrar sensível à causa, mas desistiu do pleito para não desagradar o então interventor da Bahia, Juraci Magalhães. Na década de 1980, houve uma nova tentativa de reabrir a discussão, sufocada pelo lobby político.

•        Sergipe já foi mesmo da Bahia

De fato, na primeira divisão do Brasil Colônia, o território que hoje pertence a Sergipe foi mesmo área da capitania da Bahia de Todos os Santos, doada a Francisco Pereira Coutinho.

Em 1590, no período em que Espanha e Portugal foram regidos pelo mesmo monarca, Filipe II, foi estabelecida a província de Sergipe Del-Rey, com mais que o dobro do território que possui atualmente.

Ao longo dos anos, a província voltou a pertencer à Bahia, que também lhe tomou diversas terras, reduzindo seu tamanho original. Somente em 1820, enquanto vivia em solo brasileiro, que o rei Dom João VI assinou um decreto separando definitivamente as duas províncias.

Em 1855, a capital sergipana deixou de ser a histórica São Cristóvão e foi transferida para o povoado de Santo Antônio de Aracaju, planejada para ocupar a faixa litorânea do território.

Até os dias de hoje, os baianos insistem na infame piada de chamar Sergipe de quintal de casa, além de fazer chacota sobre a diminuta extensão do estado vizinho. Mas, ironicamente, é a Bahia quem deve explicações sobre o seu real tamanho.

 

•        O brasão da Bahia é feião. Tem que mudar!

Os belo-horizontinos já deram a letra. É possível alterar símbolos oficiais por meio de referendos populares. No último dia 6 de outubro, enquanto os brasileiros foram às urnas votar em seus candidatos a prefeito e vereador, os mineirinhos comeram pelas beiradas e propuseram uma consulta adicional: escolher se alteravam ou não a bandeira da cidade.

No fim, a proposta foi rejeitada por 84% do eleitorado. O resultado acachapante é o que menos importa aqui. Como um pouco de esforço e muita criatividade, a Bahia pode repetir o plebiscito, mas não para alterar sua própria flâmula – simples, bonita, harmônica e eficiente.

Nosso distintivo feio, mal-diagramado, canhestro, defeituoso, esquisito, problemático e mocorongo é outro: o brasão de armas do estado. Um vatapá de loucuras que parece ter surgido num trabalho apressado, com prazo curto de entrega e finalizado numa quarta-feira de cinzas, após um Carnaval de reprisados virotes.

De bate-pronto, o que se vê no brasão da Bahia é a imagem de um homem branco, musculoso, de barba e cabelos castanhos, trajando uma exótica sunguinha vermelha. Atrás dele há uma bigorna. Com a mão direita, ele aciona a alavanca que parece fazer girar a roldana de uma misteriosa máquina.

A outra mão ele estende até se entrelaçar com uma moça branca, descalça, de vestido verde e lenço vermelho na cabeça. Os dois se olham com cara de bunda. Não sorriem.

A senhorita ainda segura a bandeira da Bahia, enquanto um triângulo mágico, surgido do absoluto nada, sobrevoa até estacionar a meio mastro.

No meio, há um quadro com um desenho de um barquinho. Lá, nota-se a penumbra de um homem acenando com um lenço branco para uma enorme serra. Em cima desse quadro, uma enorme estrela brilha perto do rosto do casal.

Ao pé da gravura, palavras em latim emolduram a monstruosidade estética: 'per ardua surgo' ("venço apesar das dificuldades", em livre tradução).

São tantos elementos juntos e misturados que fica difícil compreender cada coisa separadamente. O pior é que o mal-apanhado distintivo tem uma explicação histórica e cada componente hediondo ali presente sinaliza para uma razão específica.

<><> É horrível e o povão ficou de fora

O brasão da Bahia está em uso desde a primeira Constituição da República, promulgada em 1891, ainda que tenha passado por algumas repaginações e agregado novos elementos desde então.

O homem barbudo representa a força do trabalho. O maquinário atrás dele significa a indústria – embora a Bahia ainda fosse um estado agrário e de recente mão de obra escrava no fim do século 19.

A enfezada senhorita simboliza a República, numa inspiração clara do quadro 'A Liberdade guiando o povo', do francês Eugène Delacroix, no qual uma mulher com os seios à mostra ergue uma bandeira da França em meio à uma revolução armada.

A pirâmide voadora é um símbolo da maçonaria, também presente na própria bandeira da Bahia. O homem dentro do barco é uma referência à chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral à praia de Porto Seguro, onde primeiro desembarcou para iniciar o processo de colonização do Brasil.

A estrela brilhante é a própria Bahia. Na bandeira nacional, claramente inspirada na bandeira dos Estados Unidos, cada estado é representado por uma estrela.

Mesmo conhecendo um pouco mais da origem dos elementos fica difícil criar uma empatia pela disforme figura. Até porque, ao dissecar cada traço, fica claro que não há qualquer representatividade do povo baiano entre os elementos inseridos. O brasão da Bahia não representa o povo baiano!

O estado possui 27 territórios de identidade, definidos recentemente a partir do espaço geográfico, modos de vida, cultura, instituições, e com uma população com grupos sociais relativamente distintos.

A questão é que nenhuma dessas representações aparece no brasão, que privilegia uma visão europeia, branca e colonizadora. A república brasileira, quando proclamada, fez questão de deixar o povo de lado – assistindo a tudo bestializado.

<><> Por que é importante mudar o brasão?

O fato do brasão de armas da Bahia ser bem feião já seria um ponto fundamental para ensejar uma mudança imediata. No entanto, há outro fator de maior importância.

Há 15 anos, as fardas dos colégios da rede estadual de ensino são padronizadas e carregam no peito o medonho escudo. Em outras palavras, o ensino público baiano passou a adotar justamente uma representação europeia, branca e colonizadora.

Em tempo de movimentos decoloniais, de questionamentos abertos ao ensino de uma história oficial que declina a participação popular nos eventos fundamentais de uma nação, é simbolicamente forte que um brasão anti-povo estampe justamente o uniforme de alunos de baixa renda.

Com esforço e criatividade dá para mudar isso. Propor soluções mais representativas, bonitas e populares. Muita gente vai tentar colocar gosto ruim, dizer que é desnecessário, balela e tudo mais.

Como ensina o próprio brasão feioso, 'per ardua surgo' – dá pra vencer, apesar das dificuldades.

 

•        Refinaria de Mataripe não é ativo de especulação

A Refinaria de Mataripe, antiga refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, vem sendo vítima de ataques de fake news, que se intensificaram nos últimos dias, na tentativa de valorização da empresa para além do que de fato vale hoje.

A manobra parte da Acelen - empresa que administra e opera a refinaria vendida em 2021, a preço de banana, para o fundo árabe Mubadala - e acontece no momento em que há uma discussão sobre a recompra da refinaria pela Petrobras e em que as partes estão prestes a apresentar o valuation, a avaliação desse ativo.

Com o objetivo claro de valorização da empresa, a Acelen vem gastando dinheiro em intensa campanha de publicidade em rádio, televisão, outdoor, sites, jornais e redes sociais para dourar a realidade, dizendo que desde que eles comparam a refinaria, no governo Bolsonaro, a unidade está recebendo investimentos e crescendo.

Isso não passa de uma grande mentira e os trabalhadores baianos sabem disso. A refinaria está operando hoje com apenas 70% da sua capacidade de processamento, o que faz com que a Bahia perca milhões de reais com arrecadação de ICMS e tenha dificuldade em arcar com as suas contas. A refinaria representa em torno de 27% da arrecadação do Estado.

Por conta da capacidade ociosa da refinaria, a Bahia tem necessidade de importar diesel e gás de cozinha (GLP). Se os preços desses insumos já são altos, eles ficam ainda mais elevados para o cidadão e para a indústria baiana. E mais do que isso. Há a preocupação de que essa refinaria pare de produzir, como aconteceu com a Refinaria do Amazonas (REAM), também privatizada no governo passado.

Até 2015, antes, portanto, do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, a refinaria Landulpho Alves, a segunda maior do país, operava com 97% da sua capacidade de produção. Ou seja, um fator de utilização de 97%, o que significa o processamento de 97% dos 320 mil barris de petróleo por dia que ela tem capacidade de refinar.

A partir daí, porém, a refinaria entrou em processo de sucateamento, e chegou a operar com apenas 53% da sua capacidade. Com a venda da unidade para o fundo árabe, a preço abaixo do mercado, o fator de utilização passou para algo em torno de 75%. Agora, voltou a despencar para algo, em média, de 65%, 70% de sua capacidade.

Quem não pode ser prejudicado nesse processo é o povo trabalhador e a indústria baiana. Ao longo do processo de privatização da Rlam já tivemos unidades de produção que foram paralisadas e a demissão de mais de 700 trabalhadores, próprios da Acelen e das empresas terceirizadas. E mais: a refinaria privatizada impôs ao consumidor baiano o segundo maior preço de combustíveis do país, atrás somente da também privada refinaria do Amazonas.

 

•        Megainvestimento de R$ 522 bilhões promete tornar o Nordeste uma das regiões mais importantes do mundo

O Nordeste brasileiro está prestes a se tornar um polo global no setor de hidrogênio verde. O estado do Rio Grande do Norte desponta com um megainvestimento que promete transformar a produção de combustível do futuro. Serão R$ 111 bilhões de investimentos destinados a projetos desse tesouro escondido que visam alavancar a economia local e fortalecer a matriz energética do país. Este avanço trará inovação e colocará o estado na liderança do setor de hidrogênio verde (H2V) no Brasil.

Esse cenário é o resultado de pelo menos seis projetos em andamento, que prometem gerar até 5 GW de energia, posicionando o Rio Grande do Norte como um player importante no mercado de H2V. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec), o total de investimentos previstos pode ultrapassar US$ 20 bilhões, ou cerca de R$ 111 bilhões na cotação atual.

Esses projetos, baseados em fontes de energia renovável como eólica e solar, estão em diferentes estágios de desenvolvimento e licenciamento que pode transformar a economia da região e criar mais de 30 mil novos empregos nos próximos anos.

<><> Investimentos em hidrogênio verde no Nordeste podem chegar a US$ 90 bilhões ( aproximadamente R$ 522 bilhões de reais) e gerar 30 mil empregos

Entre os seis projetos, três já estão avançando para a fase de licenciamento ambiental. Além disso, o estado está focado na viabilização do Porto-Indústria, que será fundamental para o escoamento da produção de hidrogênio verde. Essa infraestrutura será crucial para garantir que o estado consiga atender à demanda crescente por energia limpa. O Nordeste é uma das regiões mais promissoras para a produção de H2V, graças às suas condições climáticas e geográficas, favoráveis à geração de energia renovável.

Os números são impressionantes. Apenas na região do Nordeste, os investimentos em hidrogênio verde podem chegar a US$ 90 bilhões. O Rio Grande do Norte, que já lidera a produção de energia eólica no Brasil, quer assumir também a liderança no setor de H2V. O estado conta com o projeto do Complexo Industrial Alto dos Ventos, em Macau, com investimento de US$ 2,5 bilhões, aproximadamente R$ 14,5 bilhões. Esse complexo, liderado pelas empresas Nordex e Acciona, terá uma capacidade de produção de 1 GW de hidrogênio verde em uma área de 10 hectares.

Outros estados do Nordeste, como Ceará, Piauí e Bahia, também estão mirando o hidrogênio verde como uma alternativa econômica sustentável. O estudo “Hidrogênio Sustentável: Perspectivas para o Desenvolvimento e Potencial para a Indústria Brasileira”, da CNI, destacou a importância da região para o avanço do combustível do futuro. O Ceará, por exemplo, lidera com 27 projetos voltados para o desenvolvimento do hidrogênio verde. Esse movimento coloca o Nordeste em uma posição estratégica no cenário global de energias renováveis.

No Rio Grande do Norte, os três projetos em fase de licenciamento estão localizados nas cidades de Areia Branca, Macau e Pedra Grande. Segundo Hugo Fonseca, secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico, o foco é atrair investimentos que permitam explorar as áreas com maior potencial de produção de H2V. Contudo, os detalhes dos projetos permanecem confidenciais, pois estão em fase de acordos preliminares e memorandos de entendimento. Empresas como Neoenergia, Enterprize e Maturati Participações estão envolvidas nas negociações.

<><> Estado conta com um Marco Legal que define as diretrizes para a produção do combustível do futuro (H2V) no Brasil

As condições para o sucesso no Rio Grande do Norte são favoráveis. A abundância de recursos naturais, como água e energia renovável, facilita a implementação da cadeia de produção de hidrogênio verde. Além disso, o estado conta com um Marco Legal que define as diretrizes para a produção de H2V no Brasil. A Assembleia Legislativa do RN está desenvolvendo uma regulação local para o setor, com o objetivo de impulsionar ainda mais os investimentos no estado.

Outro destaque é o Centro de Excelência em Formação Profissional para Hidrogênio Verde, o primeiro do Brasil, inaugurado em fevereiro deste ano. Essa instituição visa qualificar profissionais para atuar em todas as etapas da cadeia produtiva de H2V, desde a geração de energia até a aplicação prática. A mão de obra qualificada será essencial para atender à crescente demanda do setor, fortalecendo a posição do estado como líder na produção de hidrogênio verde.

O desenvolvimento do Porto-Indústria Verde também avança, com localização já definida entre Caiçara do Norte e Galinhos. O projeto é fundamental para o escoamento e exportação do combustível do futuro produzido no estado. O governo do Rio Grande do Norte já solicitou a autorização ao Ministério dos Portos e Aeroportos para iniciar o processo de licenciamento ambiental, um passo crucial para a viabilização do porto.

<><> Construção do Porto-Indústria Verde contará com investimentos do BNDES

Com um investimento de R$ 5,6 bilhões, o Porto-Indústria Verde será desenvolvido em uma área de 13 mil hectares, seguindo o modelo de Parceria Público-Privada (PPP). A expectativa é que o porto se torne um centro estratégico para a exportação de hidrogênio verde e outros produtos sustentáveis. O processo de licenciamento ambiental do porto tem custo estimado de R$ 12 milhões, e parcerias com o BNDES e o Ministério dos Portos estão sendo negociadas para garantir o apoio financeiro necessário.

O Porto-Indústria Verde será um marco no desenvolvimento econômico e sustentável do estado, consolidando o Rio Grande do Norte como um dos principais produtores de hidrogênio verde no Brasil. O porto, além de escoar a produção de H2V, também será um ponto estratégico para a exportação de outros produtos derivados de fontes renováveis. Com as operações previstas para iniciar por volta de 2030, o estado tem uma oportunidade única de se destacar no mercado global de energia limpa.

<><> Hidrogênio Verde: O tesouro escondido do Nordeste que vai revolucionar a energia renovável no mundo

O Nordeste brasileiro está em uma posição privilegiada para se tornar líder mundial na produção de hidrogênio verde. Com investimentos bilionários, um ambiente favorável e apoio governamental, o Rio Grande do Norte desponta como protagonista da revolução energética.

 

Fonte: Por André Uzeda, no Correio/A Tarde/Revista Sociedade Militar

 

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