Zanin e Weber levam à campanha por trabalhista no STF
Com a saída de Marco Aurélio Mello, a presidente
Rosa Weber se tornou a única dos integrantes do Supremo Tribunal Federal com
origem trabalhista – ambos são oriundos do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Além disso, seus votos demonstram tendência pró-trabalhador ao contrário da
maioria da corte. Com isso, magistrados, procuradores, advogados e
sindicalistas vêm pedindo a Lula que indique alguém da área para substitui-la
após sua a aposentadoria, que ocorrerá no mês que vem.
Os votos do ministro Cristiano Zanin contrários à
descriminalização do uso de maconha e à equiparação de homotransfobia à injuria
racial e a favor de cadeia para furto de valores insignificantes aumentaram a
pressão para que o presidente escolha uma mulher para a vaga de Weber. De
preferência negra e progressista. Mas, para esse grupo, Lula precisa ir além.
“O caráter social da Constituição tem sofrido
ataques e os direitos dos trabalhadores tem sido esvaziados. Infelizmente, o
cenário que já não era positivo no STF piora muito com a saída de Rosa Weber”,
afirma a constitucionalista e professora da FGV Direito-SP, Eloísa Machado.
“Seria de se esperar que um governo preocupado com a dignidade do trabalho
escolhesse nomes comprometidos com os direitos dos trabalhadores para compor o
STF. Entretanto, a indicação de Zanin mostra um desvio neste propósito”,
avalia.
A coluna também conversou com fontes no TST e em
Tribunais Regionais do Trabalho, no Ministério Público do Trabalho e advogados.
Em comum, afirmam que junto com a questão da representatividade de gênero e
raça, seria importante que Lula não deixe a proteção aos trabalhadores sair
enfraquecida com sua escolha.
Avaliam que tanto o valor social do trabalho quanto
a livre iniciativa são princípios fundamentais da República, mas que o primeiro
está menos representado no STF do que o segundo.
O Anuário da Justiça do site Consultor Jurídico
analisou a tendência de votos dos ministros da corte, em 2022, e apontou que,
com exceção de Weber e de Edson Fachin, que foram pró-trabalhador em 71% dos
casos analisados, os outros nove ministros proferiram mais votos pró-empresa.
Desses, oito foram pró-empresa em 80% ou mais dos casos
“A ministra Rosa Weber tem sido um voto importante
para a proteção dos trabalhadores. Vai fazer muita falta, principalmente se o
presidente não indicar alguém com uma visão que garanta pluralidade à corte”,
afirmou um procurador do MPT que pediu reserva quanto ao nome.
Uma fonte ouvida no TST foi pelo mesmo caminho. “É
evidente a preocupação de Lula no combate à fome e à desigualdade. Para
alcançar isso, a única forma é com a promoção de direito e cidadania econômica
por meio do trabalho, uma vez que a imensa maioria dos cidadãos sobrevive do
seu trabalho”, afirma.
Em uma carta ao presidente Lula neste mês, os
presidentes da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(Anamatra), da Associação Nacional dos Procuradores e das Procuradoras do
Trabalho (ANPT) e da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat)
pediram a nomeação de uma mulher vinculada ao direito do trabalho no lugar de
Weber.
Defendem no documento que a indicação de uma mulher
que esteja imbuída do “genuíno propósito de assegurar a concretude dos direitos
sociais, fundamentais e humanos, é imprescindível à manutenção no STF de um
viés interpretativo de valorização do trabalho e de fortalecimento do sistema
de justiça trabalhista”.
Um advogado trabalhista com livre trânsito no
Palácio do Planalto afirma que até o ex-presidente Jair Bolsonaro entendeu a
importância da discussão sobre o direito do trabalho no STF. E, com isso, quase
indicou o conservador ministro do TST Ives Gandra Martins Filho para uma das
duas vagas abertas. Ele é conhecido por suas posições pró-empresa.
Ao final, Martins Filho foi preterido pela
indicação dos ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Mas bateu na
trave.
Os ouvidos afirma que há em curso uma campanha
contra o ramo do Poder Judiciário que trata de questões trabalhistas e que
indicar alguém sensível aos pleitos de trabalhadores seria uma sinalização
positiva de Lula, um ex-sindicalista e fundador do Partidos dos Trabalhador,
para reforçar sua importância.
Lembram que Lula, que tanto criticou pontos da
Reforma Trabalhista durante a eleição, deveria levar em conta que Rosa Weber e
Edson Fachin têm sido as vozes críticas em casos de análise da reforma que
chegam ao STF – mesmo que, por vezes, sejam votos derrotados.
Magistrados e procuradores apontam que há temas
candentes que vão demandar decisões do STF, como a questão do trabalho para
plataformas digitais.
“Há quem no Supremo encare entregadores como
empreendedores livres. Mas esse ‘empreendedor livre’ está com uma bicicleta
alugada do Itaú, levando uma caixa com o nome da iFood, transportando um lanche
com fome, porque não terá tempo de parar para comer”, afirma um magistrado
trabalhista.
A questão não se resolve com a indicação de um
ministro ou uma ministra, claro. Tanto que uma das falhas mais apontadas pelos
ouvidos pela coluna é a falta de juízes auxiliares no STF que sejam oriundos da
área trabalhista. Mas já seria um alento.
“É essencial que alguém comprometido com o
constitucionalismo social seja indicado no lugar de Rosa Weber”, resume Eloísa
Machado.
Rosa Weber completa 75 anos no próximo dia 2 de
outubro, o que torna sua aposentadoria compulsória. Lula não tem prazo para
indicar uma substituta ou um substituto. O ministro Ricardo Lewandowski se
aposentou em 11 de abril e Cristiano Zanin tomou posse apenas em 3 de agosto.
Moraes
vota para anular eleição de 7 deputados federais
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes votou a favor da mudança na regra de distribuição de sobras
eleitorais para vagas na Câmara dos Deputados, com aplicação retroativa às
eleições de 2022. Se o entendimento for mantido pelos demais colegas, sete
deputados federais poderão perder o mandato.
Está em discussão no plenário virtual do STF a
constitucionalidade da exigência de desempenho de 80% do quociente eleitoral
(resultado do número de votos válidos dividido pelo número de vagas
disponíveis) para os partidos concorrerem às vagas remanescentes de deputado.
No entendimento de Moraes, a norma favorece
candidatos que alcançaram menos votos individualmente apenas por estarem em um
partido que reuniu mais votos de forma coletiva.
O ministro do STF citou o caso do Distrito Federal.
Dos oito deputados federais da capital do país, Gilvan Máximo (Republicanos) e
Alberto Fraga (PL) obtiveram 20.923 e 28.825 votos, respectivamente. O
desempenho foi menor que o do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que ficou
de fora da Câmara porque o PSB não alcançou 80% do quociente, conforme prevê a
regra atual.
“Vê-se, portanto, que o candidato Rodrigo
Rollemberg (PSB-DF), com 51.926 votos (25,84% do Q.E.), foi mais votado que os
candidatos eleitos para a 7ª e 8ª cadeiras da bancada do Distrito Federal, em
razão do fato de esses candidatos integrarem partidos que participam da
distribuição de votos (Fraga, PL-DF, e Gilvan Máximo, Republicanos)”, escreveu
Moraes.
O STF julga três ações de autoria do PSB,
Sustentabilidade e Podemos que questionam a regra atual de distribuição das
sobras eleitorais. Antes de se aposentar, o relator Ricardo Lewandowski votou a
favor do pedido das siglas, de forma que seja excluída a exigência de alcance
de 80% do quociente eleitoral pelo partido para participação na partilha das
cadeiras legislativas.
Lewandowski entendeu, contudo, que a alteração
deveria valer somente a partir das eleições de 2024. Moraes divergiu do colega
nesse ponto e votou pela aplicação da mudança de forma retroativa às eleições
de 2022.
No voto, Moraes enfatizou que a regra atual sobre a
distribuição das sobras eleitorais tem impacto na composição das bancadas dos
partidos políticos na Câmara dos Deputados, com alteração de ao menos sete
cadeiras.
“Uma vez firmada a inconstitucionalidade da vedação
a que todos os partidos políticos participem da fase final de distribuição das
sobras eleitorais, não subsiste qualquer razão para a aplicação desse
entendimento apenas no pleito de 2024, com fundamento no art. 16 da CF, pois a
sua aplicação imediata não compromete, mas sim promove a igualdade de condições
de disputa eleitoral e política”, afirmou Moraes.
Os demais nove ministros do STF devem votar sobre o
tema, em julgamento virtual, até a próxima sexta-feira (1º/9).
Ronaldinho
Gaúcho será impedido de sair do Brasil
A Comissão Parlamentar de Inquérito das Pirâmides
Financeiras pediu à Justiça Federal do Rio de Janeiro que o ex-jogador
Ronaldinho Gaúcho seja impedido de sair do Brasil. Ele e o irmão seriam sócios
da empresa 18K Ronaldinho, que atua com trading e arbitragem de criptomoedas. A
empresa é acusada de não passar a custódia das moedas virtuais a seus clientes,
que tinham a promessa de rendimentos de até 2% ao dia. O ex-jogador tinha
depoimento marcado para quinta-feira (24/8), mas não compareceu à CPI.
Em ofício, acessado pela CNN, a comissão fez o
pedido em caráter de urgência e solicitou que o impedimento de sair do país
valha até que Ronaldinho preste depoimento na Comissão. Ele já deixou de
comparecer à CPI duas vezes nesta semana. Na terça-feira (22/8), o ex-jogador
alegou que não tinha sido intimado. Já na quinta (24/8), ele disse que não conseguiu
pegar o voo devido ao “mau tempo” em Porto Alegre.
O pedido da CPI vem após a defesa do ex-jogador
afirmar que Ronaldinho vai viajar para o exterior nesta sexta-feira (25/8). “A
saída da testemunha do país, prevista para o dia 25 de agosto de 2023, frustra
completamente a investigação em curso por parte desta CPI, motivo pelo qual a
decretação da proibição do depoente deixar o país se faz urgentíssima”, diz
trecho do ofício da CPI.
Ronaldinho conseguiu, no Supremo Tribunal Federal
(STF), habeas corpus para permanecerem em silêncio. Em depoimento na CPI, o
irmão do ex-jogador, Roberto Assis Moreira, afirmou que eles nunca foram donos
da 18K Ronaldinho e que ambos são vítimas de dois outros sócios da empresa.
“Eles utilizaram o nome e a imagem do meu irmão sem autorização. Não
autorizamos o uso de imagem nem o uso de exploração”, disse.
Após a ausência de Ronaldinho na CPI, o presidente
da comissão, deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), afirmou que irá pedir
condução coercitiva do depoente.
Fonte: UOL/Metrópoles/Correio Braziliense
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