sábado, 26 de agosto de 2023

PF descobre que segurança de Lula estava em grupo de Zap golpista; GSI exonera

A apreensão do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, levou a Polícia Federal a descobrir que um segurança presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva estava em um grupo de whatsapp com militares da ativa que defendiam um golpe de Estado e que faziam ameaças ao ministro Alexandre de Moraes.

Segundo informações apuradas, o tenente Coronel André Luis Cruz Correia estava no grupo que, entre outros, tinha Mauro Cid como membro. Na semana retrasada, o jornalista Cesar Tralli antecipou, na GloboNews, que havia essa suspeita.

Assim que descobriu a informação, a PF levou o caso ao Palácio do Planalto —que mandou demitir Correia.

Correia é subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e, segundo integrantes do governo, atuava na segurança direta de Lula. Ele chegou, inclusive, a participar de viagens recentes com o presidente, como a da Bélgica.

A descoberta da presença de Correia no grupo de WhatsApp golpista turbinou a guerra de desconfiança nos bastidores entre PF e o GSI.

A PF defende, desde o ano passado, que a segurança presidencial seja feita pela Polícia Federal. No entanto, para evitar desgaste com militares, Lula ordenou um modelo híbrido: com GSI no comando.

Nos bastidores, o GSI trata o episódio envolvendo Correia como mais um capítulo dessa briga —e integrantes do gabinete afirmam que o tenente coronel não pode ser julgado por integrar o grupo sem saber se houve interação ou participação ativa dele nas conversas.

Já investigadores da PF se dizem incrédulos com mais um capítulo de desconfiança envolvendo o GSI, que já teve integrantes envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.

Além disso, volta à cena a revelação de que Mauro Cid estava no email de ajudância de ordens da Presidência. O GSI informou, à época, que abriria uma sindicância para apurar o caso e que não cabia ao gabinete fazer a limpeza nesse tipo de email. No entanto, até o momento, o governo não explicou de quem era a responsabilidade.

Na PF, a avaliação é a de que só o fato de que um segurança que lida com a proteção da vida do presidente da República compor um grupo criado para dar um golpe de Estado é grave e preocupante.

Inclusive, investigadores têm a informação de que o coronel Correia teria pedido ajuda para Cid para conseguir uma realocação da Bahia para Brasília —o que, de fato, aconteceu.

No GSI, fontes ouvidas afirmam que não foi um pedido de ajuda —mas uma consulta sobre vagas disponíveis na capital federal. Tudo isso aconteceu em março deste ano, após os atos golpistas de 8 de janeiro.

Correia só foi designado para a segurança de Lula no final de março.

Procurado, o ministro do GSI, general Marcos Antonio Amaro dos Santos, confirmou a saída de Correia da segurança presidencial e disse que se trata de uma exoneração, não uma demissão. Ele também disse desconhecer a existência de um relatório da PF que indique que Correia estava em grupo golpista.

Questionado sobre se sabia da existência do relatório da PF que indica a presença de Correia em um grupo golpista, o general disse desconhecer a informação. Ele também afirma que Cid não tinha como ajudar Correia a entrar no GSI.

“Não conheço. Não tinha [informações sobre o relatório da PF]. Eu acredito que não teria ajuda para ele [Correia] vir para cá [GSI]. Quem define quem vem para cá, de acordo com os critérios de seleção, é o comando do Exército. É o gabinete do comandante do Exército. [O ingresso no GSI] não é por indicação pessoal, não”, disse.

Amaro contou também que o GSI planeja uma reestruturação no órgão que deve ser publicada já na próxima semana.

Apesar de a nomeação ser publicada assim), um porta-voz do Exército entrou em contato  para esclarecer que Correia não foi classificado no gabinete do Comando, mas sim no Centro de Comunicação Social do Exército.

>>> Leia a nota do Exército na íntegra:

Atendendo à sua solicitação, o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) esclarece que nomeações e exonerações de funções são rotineiras dentro da Instituição, as quais visam empregar os recursos humanos nas atividades para as quais estejam habilitados. No caso em questão, houve uma troca direta com um militar que trabalhava no CCOMSEx e foi destinado ao GSI. Cabe ressaltar que diversos órgãos, ainda que separados fisicamente, compõem o Gabinete do Comandante do Exército. A Instituição segue à disposição dos Órgãos que apuram os fatos, a fim de contribuir com as investigações em curso, sendo que quaisquer esclarecimentos solicitados serão prestados exclusivamente aos mesmos.

Atenciosamente,

•        Militar golpista que fazia segurança de Lula acompanhou o presidente em cinco viagens

O tenente-coronel André Luis Cruz Correia, que fazia a segurança do presidente Lula (PT) e foi exonerado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) após a Polícia Federal revelar sua participação em um grupo de WhatsApp com pregações golpistas, realizou ao menos seis viagens, tanto nacionais quanto internacionais, desde março, quando passou a integrar a equipe de segurança presidencial, informa Lauro Jardim, do jornal O Globo. Em cinco dessas ocasiões, ele acompanhou o presidente.

A investigação ganhou tração com a apreensão do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). Esse achado levou a Polícia Federal a descobrir a conexão do tenente-coronel do Exército, um integrante da equipe de segurança de Lula, com um grupo no WhatsApp. Nesse grupo, não apenas se promovia a ideia de um golpe, mas também foram feitas ameaças direcionadas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

No exercício de suas funções como parte da equipe de segurança presidencial de Lula, André Luis Cruz Correia embarcou em diversas viagens. Algumas destas incluem uma estadia em Bruxelas, Bélgica, que ocorreu de 15 a 20 de julho; uma visita a Leticia, Colômbia, em 8 de julho; e uma passagem por Puerto Iguazu, Argentina, de 3 a 4 de julho. Em termos de deslocamentos dentro do território nacional, o tenente-coronel esteve presente em Ilhéus, Bahia, entre 2 e 3 de julho, além de uma estadia em São Paulo nos dias 22 e 23 de junho.

 

       Quem é o militar do Exército no GSI que estava em grupo golpista

 

Tenente coronel do Exército que fazia parte da segurança de Lula no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), André Luis Cruz Correia foi exonerado do cargo do cargo no último dia 16 de agosto após vir à tona que o militar participava de grupo de WhatsApp com apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que pregavam um golpe de Estado.

Correia atuava na segurança direta de Lula e chegou a viajar com o presidente para Bruxelas, na Bélgica, para o encontro de líderes de países do Mercosul e União Europeia, que aconteceu em julho.

O tenente coronel foi levado ao GSI por meio de portaria de 5 de abril de 2023 assinada pelo então secretário-executivo do GSI, general Ricardo José Nigri.

Nigri trabalhou como assessor do general Eduardo Villas Bôas entre 2016 e 2019 e era próximo do ex-ministro do gabinete, general Augusto Heleno. Ele foi exonerado do GSI no mesmo mês de abril de 2023.

Antes de ser deslocado para o GSI, Correia atuou no Comando de Operações Especiais do Exército em Goiás. Depois de concluir a Escola do Estado Maior, o tenente-coronel foi designado como oficial de Operações do Comando da 6ª Região Militar, responsável pelos estados de Sergipe e Bahia.

O militar é alvo de um requerimento do deputado Rafael Brito (MDB-AL) para prestar depoimento à CPMI dos Atos Golpistas.

 

       Alckmin quer deixar de ser ‘Picolé de Chuchu’

 

“Hoje eu tiro o boné para o Hip Hop”. A frase, depois seguida ao pé da letra, foi dita pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) em um vídeo publicado nas redes sociais no dia 11 de agosto. O momento inesperado para um político cujo estilo “insosso” rendeu no passado o apelido de “Picolé de Chuchu” ocorreu dias depois do ex-tucano, agora integrante do governo Lula (PT), compartilhar uma adaptação de um dos memes mais conhecidos da internet, o chamado Pikachu surpreso. Na versão de Alckmin, o personagem da franquia Pokémon surgiu verde e com bandeiras do Brasil nas bochechas. A imagem serviu para celebrar um acordo entre Brasil e Japão para isentar vistos por até 90 dias.

As postagens são uma amostra da estratégia digital adotada pelo vice-presidente com mais intensidade nas últimas semanas e que, segundo apurou O GLOBO, seguirá daqui para frente focada em programas e entregas do Executivo. No entorno do também ministro da Indústria, a avaliação é que o tom mais descontraído tem permitido atingir, na ponta, públicos que não receberiam normalmente o conteúdo de Alckmin nas redes sociais, principalmente os mais jovens. Um exemplo é que o meme do Pikachu acabou compartilhado por páginas de fora da política.

O humor e a linguagem mais simples dos memes, conectada à lógica das redes, são vistos como um jeito também de atender a um pedido feito pelo presidente Lula, em reunião ministerial no início do ano, para que os ministros divulguem melhor feitos do governo. As publicações nessa linha têm sido feitas aos poucos e se misturam a conteúdos com formatos mais institucionais e tradicionais do ministro. O último meme foi publicado na última quarta-feira e usa uma montagem com Alckmim e cenas da animação Dragon Ball Z para abordar o avanço de pautas como o arcabouço fiscal e a reforma tributária. No Twitter, a publicação foi visualizada por mais de 800 mil usuários até a manhã desta sexta-feira — alcance que supera todas as outras publicações do vice dentro da mesma semana.

Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB), vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF), Viktor Chagas explica que recorrer ao humor não é uma particularidade de Alckmim, mas se trata de uma estratégia recorrente entre políticos para se aproximar do eleitorado. A diferença é que agora a tática adota linguagens da cultura das redes, como os memes, à medida que há maior peso do ambiente digital. O próprio Alckmin já tinha aderido a brincadeiras com o apelido “Picolé de Chuchu” na campanha presidencial do ano passado. Chama atenção o fato de a estratégia ser usada fora do período eleitoral.

— O que Alckmin faz é construir um reposicionamento da imagem no período entre as eleições, o que me parece certeiro. É ruim quando isso causa um estranhamento, por exemplo, no curto período das eleições, porque aquilo costuma soar como um apelo desesperado. A gente tem inúmeros casos de políticos que, no calor das eleições, decidem se reposicionar e acabam incorrendo no erro de mudar de uma hora para outra. Agora, quando você consegue construir isso num período com duração mais longa, esse reposicionamento acaba a suavizado — analisa Chagas.

Ainda é cedo para avaliar se a tática traz bons resultados para a imagem de Alckmin, que se reposicionou no ano passado ao entrar na chapa de Lula, mas dados do perfil do vice-presidente no Instagram mostram que sua conta passou a chamar mais atenção na comparação com colegas de Esplanada. Nos últimos meses, Alckmin subiu para a segunda posição em número de interações entre os ministros de Lula na rede social, a mais usada no país, e está atrás apenas de Flávio Dino (PSB). Os dados são do CrowdTangle, ferramenta de monitoramento oficial da Meta. A frequência de suas postagens também cresceu, de apenas 22 publicações em janeiro para 94 em julho.

Doutor em Semiótica e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Mackenzie, Paolo Demuru acrescenta que uma das características das redes é a presença constante, a função fática da linguagem, usada para estabelecer comunicação, e que o uso desses recursos por Alckmin reforça uma mudança estrutural acelerada com o bolsonarismo.

— Alckmin se apropria desse mecanismo e aposta no longo prazo. Ao mesmo tempo, adota uma comunicação coerente com a função que foi chamado a desempenhar no governo Lula, de mediação, seja por exemplo entre o centro e o PT ou entre o mundo empresarial e o PT. Ele aposta na autoironia, na figura de um cara que não se leva tão a sério, que é diplomático, bem-visto por todo mundo, mas faz isso sem exagero, mantendo um estilo até mesmo de moda. Ele põe o chapéu de rapper, mas segue de terno. É uma comunicação dosada, coisa que João Doria, por exemplo, não fazia. Se você exagerar, perde a mão e parece falso.

 

Fonte: g1/Brasil 247/Fórum/O Globo

 

Nenhum comentário: