Governo russo nega relação com morte de Prigozhin: 'Mentira absoluta'
Em relação ao acidente aéreo na sequência do qual
alegadamente morreu o fundador do Grupo Wagner Yevgeny Prigozhin há muita
especulação no Ocidente, tudo isso é uma mentira absoluta, declarou o porta-voz
do presidente russo Dmitry Peskov nesta sexta-feira (25).
"É evidente que atualmente há muita
especulação em torno dessa catástrofe e da trágica morte dos passageiros do
avião, incluindo Yevgeny Prigozhin. Claro que no Ocidente toda essa especulação
é apresentada de um certo ponto de vista", disse Peskov aos jornalistas
respondendo à pergunta sobre as declarações ocidentais alegando o envolvimento
do Kremlin no incidente.
“Tudo isso é mentira absoluta e aqui, ao abordar
esse assunto, é preciso se basear em fatos. Ainda não há muitos fatos. Eles precisam
ser apurados no decorrer das ações investigativas”.
Oficiais russos abriram uma investigação sobre o
que aconteceu, mas ainda não disseram o que suspeitam ter causado a queda
repentina do avião do céu a noroeste de Moscou. Nem mesmo a identidade de cada
um dos 10 mortos foi confirmada.
O presidente Vladimir Putin enviou na quinta-feira
suas condolências à família de Prigozhin, quebrando o silêncio depois que o
avião do líder mercenário caiu na noite de quarta-feira sem sobreviventes.
Peskov disse também que é impossível confirmar se
Putin irá ou não no funeral de Prigozhin, já que o presidente russo tem
"uma agenda muito lotada".
Na mesma conversa com repórteres, o porta-voz do
governo informou que Putin não pretende comparecer na cúpula do G20 marcada
para setembro, na Índia.
Atualmente não há muitos dados sobre o acidente de
avião em que morreu o chefe do Grupo Wagner, eles serão apurados no decorrer da
investigação, observou o porta-voz do presidente.
"Ao cobrir esta questão, é claro que é
necessário basear-se apenas em fatos. Por enquanto não há muitos fatos, pois
precisam de ser apurados ao longo dos trabalhos investigativos que estão sendo
realizados agora", explicou.
Peskov disse também que uma tal estrutura como a
empresa militar privada Wagner não existe de jure, há o Grupo Wagner, que fez
uma grande contribuição durante a operação militar especial na Ucrânia.
"Ontem [24] [o chefe interino da República
Popular de Donetsk Denis] Pushilin disse que ele [grupo] fez uma grande
contribuição para a libertação de muitos distritos da RPD. E o heroísmo dessas
pessoas nunca será esquecido, o presidente falou disso. Quanto ao futuro [do
Grupo Wagner], não posso dizer nada, não sei", disse o porta-voz do
Kremlin.
O presidente russo Vladimir Putin não teve recentemente
encontros com o fundador do Grupo Wagner, declarou Peskov.
De acordo com o Ministério para Situações de
Emergência da Rússia, uma aeronave privada Embraer Legacy que voava de Moscou
para São Petersburgo caiu na quarta-feira (23) perto do vilarejo de Kuzhenkino,
na região de Tver, e todas as dez pessoas a bordo morreram, segundo informações
preliminares.
Segundo a lista de passageiros fornecida pela
Agência Federal dos Transportes Aéreos da Rússia (Rosaviatsiya), Prigozhin
estava entre os passageiros. A Rosaviatsiya também informou que o avião
pertencia à MNT-Aero LLC, especializada em transporte comercial.
A queda do avião ocorreu
exatamente dois meses após o motim do grupo Wagner contra
a cúpula militar em Moscou, um episódio considerado como a maior ameaça já ocorrida
nos 23 anos do regime liderado por Putin.
O avião caiu na quarta-feira logo após decolar de
Moscou rumo a São Petersburgo. Prigozhin e outros seis membros do grupo Wagner, além de três
tripulantes, estavam a bordo, informou a autoridade russa de aviação. As
equipes de resgate encontraram dez corpos.
Na lista de passageiros também estava o segundo
membro mais alto do comando do Wagner, além do chefe de logística e ao menos
um guarda-costas. Não está claro o motivo pelo qual vários membros do alto
escalão do grupo – que normalmente são extremamente cuidadosos com sua
segurança – estavam no mesmo avião. A razão da viagem também não está
clara.
·
Homenagens de Putin
Nesta quinta-feira. Prigozhin, de 62 anos,
foi homenageado por Putin,
enquanto crescem as suspeitas de que ele tenha sido assassinado e que
o Kremlin estaria por trás da morte.
Depois de quase 24 horas de silêncio, Putin
ofereceu suas "sinceras condolências às famílias de todas as vítimas"
do acidente. Ele disse que conhecia Prigozhin desde os anos 1990 e o descreveu
como alguém que "cometeu muitos erros em sua vida, mas atingiu os
resultados de que precisava, tanto para si mesmo [...] quanto para a nossa
causa. Ela um homem de talento, um empresário de talento".
O líder russo disse que os passageiros do avião
acidentado "tiveram contribuição significativa" na guerra na Ucrânia.
"Nos lembraremos disso, sabemos que jamais iremos esquecer", disse
Putin.
Ao ser perguntado se havia recebido alguma
confirmação oficial sobre a morte de Prigozhin, o porta-voz Peskov se referiu a
uma fala de Putin no dia anterior. "Ele disse que agora, toda a análise
forense, incluindo os testes genéticos, estão sendo realizadas. Logo que as
conclusões oficiais estejam prontas para serem divulgadas, elas serão."
Peskov disse não saber se Putin irá ao funeral do líder
paramilitar. Ele disse que, em primeiro lugar, uma investigação exaustiva deve
ser concluída. "A agenda de trabalho do presidente anda muito ocupada no
momento."
Os mercenários do grupo Wagner vinham sendo
fundamentais na estratégia de guerra russa na Ucrânia, especialmente na longa
batalha por Bakhmut, um dos episódios mais dramáticos do conflito. Os soldados
também tiveram papel centra ao projetar a influência russa em locais de
conflito em outras partes do mundo, como na África e na Síria.
"Quanto ao futuro [do grupo Wagner], não posso
lhes dizer nada. Eu não sei", disse Peskov.
Vários críticos de Putin foram mortos ou gravemente feridos em aparentes tentativas de assassinato nas últimas décadas.
Autoridades dos EUA e de outros países já aguardavam a vez de Prigozhin, apesar
das promessas de Moscou de retirar processos na Justiça contra ele após o motim
de junho.
Prigozhin criticava abertamente a forma como os
generais russos ligados a Putin conduzem a guerra na Ucrânia. Durante
muito tempo, Putin parecia tolerar a postura do paramilitar, mas o levante
de dois meses atrás teria passado dos limites.
·
Especulações no Ocidente
O Ministério da Defesa do Reino Unido disse nesta
sexta feira que a suposta morte de Pregozhin poderia desestabilizar o Grupo
Wagner. "Seus atributos pessoais de hiperatividade, excepcional audácia,
um ímpeto por resultados e extrema brutalidade dificilmente seriam igualados
por um sucessor", disse a pasta, em nota.
Um relatório preliminar da inteligência dos EUA
concluiu que o avião teria sido derrubado por uma explosão intencional. Uma das
autoridades americanas por trás do documento afirmou que Prigozhin teria
"muito provavelmente" sido o alvo, e que a explosão estaria em linha
com "uma longa história de Putin tentando silenciar seus críticos".
As autoridades, que falaram à imprensa na condição
de anonimidade, não informaram sobre as possíveis causas da explosão, vista por
muitos como uma vingança pelo levante do grupo Wagner há dois meses.
Logo após a queda do avião, o presidente dos EUA,
Joe Biden, sinalizou suspeitas de que Putin estaria por trás da morte do
paramilitar. "Não sei exatamente o que aconteceu, mas não estou
surpreso", disse a jornalistas. "Não há muito o que aconteça na
Rússia que Putin não esteja por trás."
Ø O que acontece com os desafetos de Putin
Há poucos detalhes sobre a queda do jato particular que
teria matado o chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, na quarta-feira, mas é natural suspeitar que o
Kremlin esteja envolvido, disse a ministra do Exterior da Alemanha, Annalena
Baerbock, citando o histórico de "fatalidades não esclarecidas na
Rússia".
"Não é coincidência que todos olhem para o
Kremlin após um desonrado ex-aliado de Putin ter, repentinamente, caído do céu
dois meses depois que tentou um motim", disse Baerbock em uma coletiva de
imprensa nesta quinta-feira (24/08).
Ela relembrou as diversas formas pelas quais adversários
do presidente russo, Vladimir Putin, morreram nos
últimos anos. "Conhecemos este padrão na Rússia de Putin: mortes,
suicídios duvidosos, quedas de janelas, todas não esclarecidas, que revelam um
sistema de poder ditatorial baseado na violência", disse.
A morte presumida de Prigozhin em circunstâncias
misteriosas é apenas o mais recente episódio de uma série de desfechos fatais
para oposicionistas e críticos do Kremlin.
O envenenamento é a arma
preferencial dos serviços de segurança russos para silenciar dissidentes, mas
também há muitos casos de suicídios suspeitos, acidentes improváveis e
assassinatos à bala.
Em seguida, alguns óbitos nebulosos de pessoas
que teriam entrado na mira do Kremlin nas últimas décadas. Nenhuma delas
teve a autoria assumida por autoridades russas.
·
"Suicídio"
Diversos homens de negócios poderosos na Rússia morreram por motivos não esclarecidos após a invasão da Ucrânia.
Sergei Protosenya, um oligarca russo do setor de gás e petróleo que havia sido
vice-presidente da empresa de gás natural Novatek, foi encontrado morto por
policiais espanhóis em sua casa em Lloret de Mar, na Catalunha, em abril de
2022. Seu corpo estava pendurado nos jardins da casa, como num enforcamento.
Sua mulher e sua filha também estavam mortas, esfaqueadas.
Um dia antes, a polícia de Moscou havia encontrado,
na capital russa, o corpo do oligarca Vladislav Avayev, morto em seu apartamento de luxo. A agência estatal
russa Tass reportou que ele tinha uma pistola na mão, e as autoridades
suspeitavam que ele teria se matado após assassinar a mulher e a filha. Avayev
havia sido conselheiro de Putin e vice-presidente do Gazprombank, um dos
maiores bancos da Rússia.
Em maio de 2022, Alexander Subbotin, um ex-diretor do conselho da Lukoil, segunda
maior empresa de petróleo da Rússia, foi encontrado morto em uma casa em
Moscou. O conselho diretivo da Lukoil havia se pronunciado publicamente contra
a invasão da Ucrânia.
Em janeiro deste ano, um mês antes de os militares
russos invadirem a Ucrânia, Leonid
Schulman, um diretor da Gazprom, também foi encontrado morto no banheiro
de sua casa, com cortes nos pulsos, segundo a mídia russa.
Em fevereiro, Alexander Tyulyakov, outro diretor da estatal russa de energia,
foi encontrado enforcado na garagem de sua casa em São Petersburgo.
Alguns anos antes, outras figuras importantes do
aparato de poder russo já haviam sido encontradas enforcadas. Em 2018, esse foi
o destino de Nikolai Glushkov,
que havia sido vice-diretor da empresa de aviação russa Aeroflot, encontrado
enforcado em sua casa em Londres.
Glushkov era um notório crítico do Kremlin e amigo
do oligarca russo Boris Berezovsky, que também havia sido encontrado enforcado
em sua casa na cidade britânica de Berkshire em 2013, depois de ter rompido com
Putin e fugido para o Reino Unido.
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Quedas misteriosas
Ravil Maganov, o presidente
da Lukoil, empresa que havia pedido o fim da guerra na Ucrânia, morreu em
setembro de 2022 depois de cair de uma janela no sexto andar de um hospital em
Moscou onde a elite política e econômica russa costuma se tratar. A agência
estatal russa Tass reportou a morte como suicídio.
No mesmo mês, Ivan Pechorin, diretor de uma agência russa para o desenvolvimento
do extremo leste do país e do Ártico, foi encontrado morto em Vladivostok após
supostamente cair de seu iate de luxo e se afogar. Segundo relatos da mídia,
ele havia sido encarregado de modernizar a indústria de aviação russa e
reportava diretamente para Putin.
Anatoly Gerashchenko, que havia sido diretor do Instituto de Aviação de Moscou, também
morreu em setembro de 2022 após uma suposta queda de uma escada. O instituto
mantinha laços próximos com o Ministério da Defesa russo, inclusive para o
desenvolvimento de caças.
Em dezembro de 2022, Pavel Antov, que era um magnata e parlamentar local da região
russa de Vladimir, a 200 quilômetros de Moscou, foi encontrado morto após uma
queda de uma janela de um hotel em Rayagada, na Índia. Uma mensagem de WhatsApp
atribuída a ele havia definido como "terror" um ataque de míssil
russo a Kiev que matou um homem e feriu sua mulher e sua filha de 7 anos.
Depois que a mensagem veio à público, ele negou a autoria e disse que outra
pessoa a havia escrito.
Em maio deste ano, Andrei Krukovsky, diretor de um resort de esqui próximo a Sochi e
de propriedade da Gazprom, morreu após supostamente cair em um desfiladeiro
enquanto fazia uma caminhada pela região.
Quedas misteriosas com resultados fatais também
aconteceram fora da Rússia. Em outubro de 2021, um russo foi encontrado morto
após supostamente cair de uma janela da embaixada russa em Berlim – ele estava registrado como diplomata, mas seria um agente do
serviço secreto russo.
Em dezembro de 2021, Yegor Prosvirnin, um ativista de direita e autor de blogs
nacionalistas que apoiou a anexação da Crimeia e depois tornou-se crítico de
Putin, morreu após uma queda da janela de seu apartamento em Moscou.
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Envenenamento
Trata-se do causa mais comum de incidentes fatais
ou quase fatais envolvendo críticos do Kremlin.
Desde o final de 2022, Natalia Arno, Elena Kostyuchenko e Irina Babloyan, três importantes jornalistas russas que vivem em exílio, uma delas em
Munique, foram hospitalizadas por apresentar sintomas que indicam
"intoxicação exógena".
Em março de 2022, o oligarca russo Roman Abramovich,
ex-proprietário do clube de futebol inglês Chelsea FC, manifestou sintomas de
intoxicação durante conversações de paz na fronteira entre Ucrânia e Belarus,
perdendo a visão temporariamente. O grupo holandês de jornalismo investigativo
Bellingcat atribuiu o atentado a linhas duras de Moscou que apoiam a guerra
contra a Ucrânia, tratando-se antes uma advertência contra negociações de paz
do que uma tentativa real de assassinato.
Durante um voo doméstico na Rússia, em agosto de
2020, o ativista anticorrupção Alexei Navalny ficou
gravemente doente, o que exigiu um pouso de emergência. Mais tarde foi
transferido para tratamento na Alemanha. Diversos laboratórios independentes
atestaram a presença em seu organismo do agente dos nervoso Novichok.
Recuperado, Navalny retornou a seu país no mês seguinte, sendo preso
imediatamente. Já condenado a nove anos de prisão, em agosto de 2023 sua pena
foi acrescida de 19 anos, numa sentença amplamente considerada política, que o
réu classificou como "stalinista".
Em março de 2018, o ex-agente duplo russo Sergei
Skripal e sua filha Yulia foram envenenados com
Novichok em Salisbury, Inglaterra. Ambos sobreviveram, graças a tratamento
médico. Theresa May, então primeira-ministra britânica, condenou o atentado,
atribuindo-o diretamente à Rússia.
O caso Skripal exacerbou ainda mais as já tensas
relações entre Londres e Moscou após a morte por envenenamento por radiação em
2006, na capital britânica, do ex-espião Alexander Litvinenko. Crítico
de Putin, ele desertou em 2004 do serviço de inteligência russo, buscando asilo
em Londres. No começo de novembro de 2006, depois de tomar chá com outros dois
ex-espiões num hotel do centro da capital britânica, ele ficou enfermo,
morrendo cerca de três semanas mais tarde. Em seu corpo foram encontrados
vestígios de polônio-210: um micrograma desse metal volátil basta para matar um
adulto.
Em 2004, o candidato pró-europeu à presidência da
Ucrânia, Viktor Yushchenko, foi envenenado
com dioxina durante sua campanha eleitoral. Ele sobreviveu, mas ficou
permanentemente desfigurado por cicatrizes e manchas no rosto. Seu adversário,
o pró-russo Viktor Yanukovych, acabou vencendo, mas acusações de fraude
resultaram na série de protestos conhecida como Revolução Laranja. O Supremo
Tribunal ucraniano anulou o pleito, decretando um segundo, em dezembro, em que
Yushchenko foi eleito presidente.
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Assassinato a tiros
A jornalista Anna Politkovskaya, autora de
reportagens críticas a Putin, foi morta a tiros do lado de fora de seu
apartamento em Moscou em 2006, no dia do aniversário do líder russo.
O advogado de direitos humanos Stanislav Markelov, que defendia
Politkovskaya e outros jornalistas que criticavam Putin, foi assassinado a
tiros em 2009, depois de participar de uma coletiva de imprensa em Moscou, a
menos de 800 metros do Kremlin. A jornalista Anastasia Baburova, que tentou
socorrer Markelov, também foi morta a tiros no episódio.
O jornalista americano Paul Klebnikov, que era editor-chefe da edição russa da
revista Forbes e reportou casos de corrupção e sobre a vida
dos magnatas russos, foi morto em 2004 ao ser atingido por quatro tiros
disparados de um carro em movimento após sair de seu escritório, em Moscou.
Sergei Yushenkov era um político russo liberal e foi morto a tiros em 2003,
próximo de sua casa em Moscou, horas depois de registrar seu partido político
para participar das eleições parlamentares naquele ano.
Boris Nemtsov, que havia sido
vice-primeiro-ministro da Rússia durante o governo de Boris Yeltsin e depois se
tornou um crítico de Putin, foi morto com quatro tiros nas costas a poucos
metros do Kremlin quando voltava de um restaurante para casa em 2015.
Fonte: Sputnik Brasil/g1/Deutsche Welle
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