terça-feira, 8 de agosto de 2023

Ação da PF contra Carla Zambelli e Delgatti mira prisão de Bolsonaro

A Operação 3FA, desencadeada nesta quarta-feira (2) pela Polícia Federal, que realiza busca e apreensão em endereços ligados à Carla Zambelli (PL-SP) e levou Walter Delgatti, o "hacker de Araraquara", de volta à prisão tem um objetivo certo: levar Jair Bolsonaro (PL) à cadeia.

Dias antes de encontrar Zambelli pela primeira vez e ser levado ao encontro de Bolsonaro, Delgatti deu uma entrevista ao Fórum Onze e Meia onde relatou as dificuldades financeiras que passava - e chegou a divulgar o seu Pix.

Em seguida, Delgatti afirmou que “o lavajatismo trouxe o bolsonarismo". "Se não fosse o fato de o ex-presidente [Lula] ter sido preso... segundo as pesquisas ele teria ganhado [a eleição de 2018]. As pessoas passaram a falar o que antes não falavam, saíram da caixinha, o discurso de ódio. Eu vejo que vai ser difícil tirá-lo”, emendou, falando sobre Bolsonaro e antes de declarar que votaria em Lula em 2022.

Delgatti acreditava que Bolsonaro não deixaria o poder. E, por isso, topou o encontro com Zambelli e teria acertado diretamente com a campanha do ex-presidente o pagamento pelos serviços que prestaria.

Com a derrota de Bolsonaro, Delgatti voltou para a prisão por violar as medidas judiciais, entre elas o uso de redes sociais e de aparelhos celulares - motivos pelos quais alegou não poder trabalhar e estar sem dinheiro.

Acuado e abandonado por bolsonaristas, Delgatti resolveu colocar a boca no trombone e começou a entregar, um a um, em busca de firmar uma delação premiada.

Nesta terça-feira (1º), uma dia antes da ação da PF, o jornalista Joaquim de Carvalho, do Brasil 247, afirmou que Delgatti contou à PF que recebeu ordens do próprio Jair Bolsonaro para invadir as urnas eletrônicas.

Segundo o hacker, a conversa teria se dado por meio de um celular novo, "tirado da caixa", durante encontro com Carla Zambelli em um restaurante da rede Frango Assado na rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo.

Delgatti ainda teria dado detalhes sobre a "missão" recebida de Bolsonaro: invadir as urnas eletrônicas para provar que o sistema era falho.

Sem conseguir cumprir o acordado, o hacker então teria sido instado por Bolsonaro a assumir uma gravação clandestina que ele teria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Uma gravação que nunca foi ouvida pelo hacker, mas que pode estar relacionada com a narrativa de golpe relatada pelo senador afastado Marcos do Val (Podemos-ES) e por Daniel Silveira.

Essa relação já havia sido divulgada pelo revista Veja em fevereiro deste ano. Segundo a reportagem, o "golpe Tabajara" - alcunha criada por Moraes - teria sido iniciado em setembro de 2022.

Delgatti teria contado à PF que após Bolsonaro tramar com Do Val o grampo em Moraes, já em dezembro de 2022, teria dado a ele a nova missão.

“Eles precisam de alguém para apresentar (os grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra. Ele (Bolsonaro) falou: ‘A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu falei: beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, declarou Delgatti à PF.

O "céu" prometido por Bolsonaro a Delgatti, no entanto, virou um inferno para o ex-presidente e por seus apoiadores radicais.

Delgatti já teria afirmado que tem provas da transferência de dinheiro de Zambelli diretamente para sua conta, como forma de pagamento aos serviços prestados.

Se o "hacker de Araraquara" tiver o mínimo de inteligência, grampeou o encontro com Bolsonaro ou guardou alguma prova que o liga diretamente ao ex-presidente.

Carla Zambelli foi rifada pelo clã Bolsonaro após declarar à Folha de S.Paulo, em fevereiro, que "agora não é hora de bater no STF", em uma espécie de acordo com Moraes para retomar suas redes sociais.

Bolsonaro acusou a deputada de traição e se afastou definitivamente de Carla Zambelli, que teria dado o telefone novo "tirado da caixa" para Delgatti acertar a "missão" com o ex-presidente. Desde então, Bolsonaro não fala mais com a aliada radical.

Se a deputada tiver o mínimo de inteligência, gravou a conversa entre o hacker e Bolsonaro ou guardou alguma prova de que agiu a mando do ex-presidente.

Acuada pela busca e apreensão da PF, Carla Zambelli pode fazer o mesmo que seu "hacker de estimação" e detalhar a participação de Bolsonaro na tentativa do "Golpe Tabajara", arrastando o ex-presidente e seus asseclas para o "inferno" da prisão.

 

       Carla Zambelli: Sete ações que podem levar deputada à prisão

 

Os dias não têm sido calmos para a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar bolsonarista enfrenta o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e foi alvo de busca e apreensão por parte da Polícia Federal (PF). Parece ser questão de tempo até que seu mandato seja cassado.

Alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal, Carla Zambelli (PL-SP) tem no oportunismo a característica mais marcante de sua trajetória de vida e, mais recentemente, de sua carreira política.

Alçada às hostes da extrema direita fascista com o advento do bolsonarismo, após breve "ativismo" sextremista no grupo Femen ao lado de Sara "Winter" Geromini, Zambelli ganhou notoriedade na política ao fundar o movimento Nas Ruas durante o processo que culminou no golpe contra Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o Brasil.

No entanto, as investigações da Polícia Federal (PF) e os processos no Conselho de Ética da Câmara podem colocar um fim à carreira política da paulista de 43 anos nascida na interiorana Ribeirão Preto.

O mesmo oportunismo que a levou a se enfileirar nas tropas de comando quando Bolsonaro se tornou presidente fez com que a deputada procurasse Walter Delgatti Neto, "hacker de Araraquara" que tornou pública a tramoia lavajatista e, em parte, permitiu que se provasse o lawfare contra Lula.

Zambelli pressentia que o capitão seria derrotado por Lula nas eleições em 2022. E, de forma oportunista, buscou em Delgatti uma estratégia a fim de provar a propalada mentira do então presidente sobre a fraude no sistema eleitoral.

Delgatti, que dias antes reclamaria da falta de dinheiro e de trabalho em entrevista a esta Fórum, topou a empreitada. A Bolsonaro, prometeu o que não podia entregar: a invasão das urnas eletrônicas.

Ao oportunismo de Carla Zambelli se juntava a esperteza de Bolsonaro. Só que os dois não contavam com o blefe de Delgatti, que, após voltar para a prisão em junho por violar medidas judiciais, resolveu entregar detalhes do "golpe tabajara" arquitetado pelos extremistas.

Negociando delação premiada, o hacker de Araraquara teria, segundo seu advogado Ariovaldo Moreira, uma coleção de provas contra Zambelli e Bolsonaro.

•        Por tantas vezes eu andei mentindo...

Desesperada e isolada até mesmo por parlamentares de seu partido, Carla Zambelli adotou um tom melancólico ao falar da operação da PF que realizou busca e apreensão em seu gabinete e apartamento funcional.

Disse ter tido "poucos encontros" com Delgatti e que o contratou por solidariedade para fazer a ligação de seu site com as redes sociais – algo que qualquer estagiário de informática faz e que o hacker não teria conseguido fazer.

A deputada ainda declarou que "não faria piada de mau gosto com Moraes", sobre o objeto da ação da PF: a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir o falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assinado com o "publique-se, intime-se e faz o L". O deboche, segundo Delgatti, seria obra da bolsonarista, que teria encomendado a "brincadeira".

"Eu pagaria R$ 3 mil para se arriscar dessa forma para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi só uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria", disparou.

Zambelli ainda negou que tenha "tirado da caixa" um celular novo para fazer a intermediação da conversa em que Bolsonaro teria dado a Delgatti uma segunda missão – após o hacker falhar na invasão das urnas eletrônicas.

"A partir dali não houve mais qualquer contato com o presidente Bolsonaro. É mentira o que disseram a respeito do telefone, que coloquei um chip novo e etc. Nunca fiz isso e nunca liguei para o presidente Bolsonaro para falar sobre qualquer assunto relacionado a isso", afirmou a deputada, já em um misto de desespero e irritação.

•        Nunca mais quero ver você me olhar...

Na entrevista, Zambelli afirmou ainda que "Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com isso", recebendo a solidariedade do filho "01" do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no dia seguinte.

Bolsonaro, no entanto, tenta se afastar da ex-aliada radical e mandou recado, por meio de interlocutores, dizendo que não fala com a deputada desde janeiro.

Na verdade, a mágoa de Bolsonaro vem de antes. O ex-presidente já teria dito a pessoas próximas que a perseguição armada de Zambelli contra um jornalista negro na véspera da eleição teria sido crucial para sua derrota nas urnas.

No entanto, o episódio envolvendo Delgatti abre uma nova perspectiva e faz a amarração em uma outra estratégia atabalhoada de desencadear o golpe tabajara.

Na conversa com Bolsonaro por meio do celular "tirado da caixa" por Zambelli, Delgatti teria recebido a nova missão de Bolsonaro: assumir uma gravação clandestina que ele teria do ministro Alexandre de Moraes.

Uma gravação que nunca foi ouvida pelo hacker, mas que pode estar relacionada com a narrativa de golpe relatada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) e por Daniel Silveira.

Delgatti teria contado à PF que, após Bolsonaro tramar com Do Val o grampo em Moraes, já em dezembro de 2022, teria dado a ele a nova missão.

“Eles precisam de alguém para apresentar (os grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra. Ele (Bolsonaro) falou: ‘A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu falei: beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, declarou Delgatti à PF.

Ariovaldo Moreira, advogado do hacker, diz ter provas contundentes tanto da relação com Zambelli quanto das "missões" dadas a Delgatti por Bolsonaro.

•        Se for chorar...

Isolada, Carla Zambelli entrou em desespero no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na quarta-feira (2) e implorou para o seu mandato ser poupado. Com a voz embargada e quase chorando, a deputada disse que é "vítima de machismo", remontando de forma oportunista às suas origens no "ativismo", mesmo que agora esteja totalmente alinhada à pauta conservadora fascista.

Alinhada à quinta-coluna bolsonarista, Zambelli se desespera por não ver oportunidade de uma reviravolta e por antever que sua carreira política está próxima do fim.

Uma carreira que começou Nas Ruas. E que pode acabar Na Prisão.

Ao longo de sua trajetória política, Carla Zambelli acumulou motivos para ser alvo de investigações. Entre declarações que ferem a integridade da democracia brasileira até erros em prestações de contas, passando por porte ilegal de arma de fogo, confira sete ações de Carla Zambelli que podem levá-la à prisão.

•        Ligação com o “Hacker de Araraquara”

Walter Delgatti, o “Hacker de Araraquara”, revelou em depoimento à Polícia Federal que invadiu o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP) a mando de Carla Zambelli. À PF, Delgatti também teria dito que recebeu depósitos feitos por assessores de Zambelli direto em sua conta, além de um montante pago em dinheiro vivo.

A Operação 3FA da PF investiga a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura no BNMP, na qual Zambelli pode estar implicada.

•        Perseguição armada

A deputada corre o risco de se tornar ré em uma ação criminal por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com uso de arma de fogo. O julgamento para decidir o destino da parlamentar está marcado para ser realizado entre os dias 11 e 21 de agosto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em outubro de 2022, às vésperas do segundo turno da eleição, Carla Zambelli foi flagrada perseguindo um apoiador do agora presidente Lula (PT) com uma arma em punho, após os dois discutirem no meio da rua de um bairro nobre de São Paulo.

O Estatuto do Desarmamento veta o porte de arma de fogo em todo o território nacional, exceto em casos específicos que não incluem o da deputada. A pena prevê reclusão de dois a quatro anos e multa. Em janeiro, foram apreendidas duas pistolas e um fuzil que estavam sob posse da deputada, após um mandado de busca e apreensão emitido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

•        Racismo

Após o episódio na véspera do segundo turno, muitos acusaram a parlamentar de racismo. O apoiador do presidente Lula alvo da perseguição da bolsonarista era o jornalista negro Luan Araújo.

Em vídeos em que ela conta sua versão dos fatos, Zambelli diz que “usaram um negro” para ir em cima dela. “É o fato dela ter falado ‘me mandaram um negro’. A minha condição de negro ser uma uma condição, para muitos, inferior, isso vem do racismo estrutural. Então, eu acho que não é que eu sofri racismo, eu sofro racismo”, disse Luan, em entrevista ao Brasil de Fato na época.

Em 2020, a deputada – ao divulgar o currículo do então novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, um homem negro – disse que “ele não precisou de cota” para conseguir o currículo.

O teólogo e ativista negro Ronilso Pacheco foi um dos que criticaram a postura da deputada. ''Carla Zambelli cumpre a cartilha da racista perfeita. Usa a imagem e a história de um homem negro como moeda, uma coisa, um escudo humano pra dizer 'não somos racistas'. Como a madame que mostra o seu animal de estimação e suas qualidades. Nossa... é desprezível".

•        Falsificação em prestação de contas

Há indícios de fraude na documentação de prestação de contas da campanha de Zambelli nas eleições de 2022. No documento, enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta uma série de doações feitas por pessoas físicas à campanha, dentre elas o comerciante Roberto Habermann, de Ribeirão Preto (SP), que teria doado R$ 870.

No entanto, o homem negou ter doado qualquer valor e afirmou não ter nenhum envolvimento com a campanha da deputada. O caso ficou mais grave, pois Zambelli teria falsificado a assinatura de Habermann, que consta na prestação de contas, mas o comerciante negou ter assinado.

O Artigo 350 do Código Eleitoral tipifica como crime “inserir ou fazer inserir, em documento público ou particular, declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais”, prevendo pena de reclusão de até cinco anos.

•        Ligação com apoiadores dos atos de 8 de janeiro

As investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro – quando apoiadores de Jair Bolsonaro invadiram, vandalizaram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República em Brasília (DF), em ações antidemocráticas – estão em curso e podem chegar até Carla Zambelli.

A deputada teria recebido em seu gabinete no dia 6 de dezembro de 2022 o influenciador Bismark Fugazza, que teve sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por incentivar atos golpistas contra o presidente Lula.

A campanha da deputada também teria doado dinheiro para quatro pessoas físicas, posteriormente acusadas de financiar os atos antidemocráticos. Zambelli ainda teria relação com um dos donos de veículos responsáveis por levar os bolsonaristas até Brasília. O dono da empresa Nogueira Turismo, Maurício Nogueira, concorreu a um cargo de deputado estadual pelo Republicanos em São Paulo em dobradinha com Zambelli.

•        Declarações golpistas

Mesmo antes do 8 de janeiro, Carla Zambelli já trabalhava com intenções golpistas. Segundo informações da jornalista Bela Megale, d'O Globo, a deputada teria articulado uma estratégia para “ocupar” o Senado. A ideia era liderar um grupo de bolsonaristas do PL para pressionar os senadores, entre eles o presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que fossem discutidas e votadas pautas que visam minar o poder Judiciário.

A deputada também virou alvo de ação no STF após gravar um vídeo, publicado no dia 30 de novembro de 2022, no qual ela se dirige a generais de quatro estrelas e pede que os militares promovam um golpe no país para evitar a posse do presidente eleito Lula.

No dia 21 de dezembro de 2022, a bolsonarista deu uma entrevista com teor golpista para uma TV espanhola. “Bolsonaro tem sido um presidente tremendo, tremendo... É muito difícil que tenha perdido”, disse. O agravante é que ela estava em missão oficial pela Câmara dos Deputados e, por isso, representava o parlamento brasileiro.

De acordo com o Artigo 8º da Lei Nº1802 do Código Penal, “opor-se, diretamente, e por fato, à reunião ou livre funcionamento de qualquer dos poderes políticos da União” pode levar a uma pena de reclusão de dois a oito anos.

•        Negacionismo quanto à Covid-19

Carla Zambelli seguiu a toada de seu líder, Jair Bolsonaro, e apresentou comportamentos negacionistas em relação à pandemia de Covid-19 e a efetividade da vacinação. O Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid sugeriu o indiciamento da parlamentar por “incitação ao crime”, fato previsto no Artigo 286 do Código Penal.

 

       Advogado de Delgatti Neto aconselhou hacker a abandonar Zambelli e Bolsonaro: “a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco”

 

O advogado Ariovaldo Moreira, que representa Walter Delgatti Neto, hacker conhecido por ser um dos responsáveis pela invasão de celulares de autoridades no caso conhecido como "Vaza Jato", em entrevista à TV 247, disse que aconselhou seu cliente a abandonar a trama golpista que estava criando junto à deputada bolsonarista Carla Zambelli e Jair Bolsonaro. O advogado disse, inclusive, que este foi um dos motivos que o levou a abandonar o caso em 2022.

Moreira relatou que decidiu abandonar a defesa de Delgatti Neto quando percebeu que ele estava se envolvendo com pessoas que poderiam trazer graves problemas para ele. Ele mencionou um episódio em que o hacker foi capturado por figuras da extrema direita, incluindo Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Jair Bolsonaro e Carla Zambelli, o que o deixou profundamente triste e preocupado.

"Eu fiquei emocionado porque eu nunca, não sei se você lembra disso, não é muito triste? Eu tava muito triste, sabe, eu não queria aquilo. Foi muito triste aquele episódio, muito triste para mim como pessoa, para mim como advogado, sabe?", disse.

Moreira também sentiu que Delgatti Neto estava insatisfeito com a esquerda, sentindo-se abandonado e sem apoio financeiro. Segundo o advogado, ambos foram a Brasília na tentativa de conseguir um trabalho para o hacker e permitir que ele pudesse tocar sua vida de forma digna. Entretanto, o acabou sendo desastroso, o que levou Moreira a aconselhar Delgatti Neto a retornar a Araraquara.

Sobre a prisão do hacker, Moreira expressou preocupação com a possibilidade de estar forçando uma delação, mas afirmou que ainda não tinha certeza sobre os motivos reais para sua detenção. Ele declarou ter encaminhado um e-mail ao gabinete do Ministro Alexandre de Moraes solicitando uma audiência para expor a visão da defesa e requerer medidas cautelares alternativas à prisão.

Um ponto intrigante levantado pelo advogado foi o envolvimento claro de Carla Zambelli. Moreira questionou se a Polícia Federal possuía imagens da reunião entre Delgatti Neto e o delegado no restaurante Frango Assado, que poderia conter informações relevantes para o caso. Ele também mencionou que o hacker afirmou ter entrado várias vezes no Ministério da Defesa, mas não sabia se existiam registros desse acesso.

Em relação às mudanças de declaração de Zambelli sobre o hacker, Moreira opinou que, caso as imagens fossem divulgadas, a deputada poderia mudar novamente seu depoimento. No entanto, ele destacou que, no momento, acredita no depoimento de seu ex-cliente.

 

       A ordem dos advogados a Bolsonaro e Valdemar sobre o caso Carla Zambelli

 

Assim que surgiram as primeiras informações a respeito da operação da PF que teve como alvos a deputada federal Carla Zambelli e o Walter Delgatti Neto, o hacker da Vaza Jato, os advogados de Jair Bolsonaro enviaram uma ordem unida ao ex-presidente e a Valdemar Costa Neto, presidente do partido: submergir.

Na avaliação dos times jurídicos que assessoram o presidente, a operação de quarta-feira é potencialmente mais perigosa do que as anteriores envolvendo Bolsonaro, por dois fatores.

O primeiro é que ninguém sabe exatamente o que Zambelli escreveu em mensagens ou disse a Delgatti Neto a respeito de Bolsonaro, do governo e da campanha eleitoral – e ainda, o que ela pode ter feito que poderia levar à sua cassação.

O segundo fator de risco é o próprio hacker, que está negociando com a PF uma delação premiada que teria como principal atrativo aos investigadores a possibilidade de comprometer em definitivo o ex-presidente com a trama golpista na eleição de 2022.

Enquanto não se puder avaliar o tamanho do estrago que a operação puder causar, a orientação é para que nem Valdemar nem Bolsonaro dêem nenhuma declaração e nem participem de eventos públicos. Além disso, a defesa do ex-presidente já decidiu que não vai deixá-lo depor antes que venha a público a versão definitiva de Delgatti Neto a respeito do episódio.

Bolsonaro, aliás, só vai se reunir com seus advogados na semana que vem. Nos bastidores, ele vem dizendo a aliados que não pediu nada ao hacker além de informações e que não fala com Zambelli há meses.

 

Fonte: Fórum/O Globo

 

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