Ação da PF contra Carla Zambelli e Delgatti mira prisão de Bolsonaro
A Operação 3FA, desencadeada nesta quarta-feira (2)
pela Polícia Federal, que realiza busca e apreensão em endereços ligados à
Carla Zambelli (PL-SP) e levou Walter Delgatti, o "hacker de
Araraquara", de volta à prisão tem um objetivo certo: levar Jair Bolsonaro
(PL) à cadeia.
Dias antes de encontrar Zambelli pela primeira vez
e ser levado ao encontro de Bolsonaro, Delgatti deu uma entrevista ao Fórum
Onze e Meia onde relatou as dificuldades financeiras que passava - e chegou a
divulgar o seu Pix.
Em seguida, Delgatti afirmou que “o lavajatismo
trouxe o bolsonarismo". "Se não fosse o fato de o ex-presidente
[Lula] ter sido preso... segundo as pesquisas ele teria ganhado [a eleição de
2018]. As pessoas passaram a falar o que antes não falavam, saíram da caixinha,
o discurso de ódio. Eu vejo que vai ser difícil tirá-lo”, emendou, falando
sobre Bolsonaro e antes de declarar que votaria em Lula em 2022.
Delgatti acreditava que Bolsonaro não deixaria o
poder. E, por isso, topou o encontro com Zambelli e teria acertado diretamente
com a campanha do ex-presidente o pagamento pelos serviços que prestaria.
Com a derrota de Bolsonaro, Delgatti voltou para a
prisão por violar as medidas judiciais, entre elas o uso de redes sociais e de
aparelhos celulares - motivos pelos quais alegou não poder trabalhar e estar
sem dinheiro.
Acuado e abandonado por bolsonaristas, Delgatti
resolveu colocar a boca no trombone e começou a entregar, um a um, em busca de
firmar uma delação premiada.
Nesta terça-feira (1º), uma dia antes da ação da
PF, o jornalista Joaquim de Carvalho, do Brasil 247, afirmou que Delgatti
contou à PF que recebeu ordens do próprio Jair Bolsonaro para invadir as urnas
eletrônicas.
Segundo o hacker, a conversa teria se dado por meio
de um celular novo, "tirado da caixa", durante encontro com Carla
Zambelli em um restaurante da rede Frango Assado na rodovia dos Bandeirantes,
em São Paulo.
Delgatti ainda teria dado detalhes sobre a
"missão" recebida de Bolsonaro: invadir as urnas eletrônicas para
provar que o sistema era falho.
Sem conseguir cumprir o acordado, o hacker então
teria sido instado por Bolsonaro a assumir uma gravação clandestina que ele
teria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Uma gravação que nunca foi ouvida pelo hacker, mas
que pode estar relacionada com a narrativa de golpe relatada pelo senador
afastado Marcos do Val (Podemos-ES) e por Daniel Silveira.
Essa relação já havia sido divulgada pelo revista
Veja em fevereiro deste ano. Segundo a reportagem, o "golpe Tabajara"
- alcunha criada por Moraes - teria sido iniciado em setembro de 2022.
Delgatti teria contado à PF que após Bolsonaro
tramar com Do Val o grampo em Moraes, já em dezembro de 2022, teria dado a ele
a nova missão.
“Eles precisam de alguém para apresentar (os
grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra. Ele (Bolsonaro) falou: ‘A
sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu
falei: beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, declarou
Delgatti à PF.
O "céu" prometido por Bolsonaro a
Delgatti, no entanto, virou um inferno para o ex-presidente e por seus
apoiadores radicais.
Delgatti já teria afirmado que tem provas da
transferência de dinheiro de Zambelli diretamente para sua conta, como forma de
pagamento aos serviços prestados.
Se o "hacker de Araraquara" tiver o
mínimo de inteligência, grampeou o encontro com Bolsonaro ou guardou alguma
prova que o liga diretamente ao ex-presidente.
Carla Zambelli foi rifada pelo clã Bolsonaro após
declarar à Folha de S.Paulo, em fevereiro, que "agora não é hora de bater
no STF", em uma espécie de acordo com Moraes para retomar suas redes
sociais.
Bolsonaro acusou a deputada de traição e se afastou
definitivamente de Carla Zambelli, que teria dado o telefone novo "tirado
da caixa" para Delgatti acertar a "missão" com o ex-presidente.
Desde então, Bolsonaro não fala mais com a aliada radical.
Se a deputada tiver o mínimo de inteligência,
gravou a conversa entre o hacker e Bolsonaro ou guardou alguma prova de que
agiu a mando do ex-presidente.
Acuada pela busca e apreensão da PF, Carla Zambelli
pode fazer o mesmo que seu "hacker de estimação" e detalhar a
participação de Bolsonaro na tentativa do "Golpe Tabajara",
arrastando o ex-presidente e seus asseclas para o "inferno" da
prisão.
Carla
Zambelli: Sete ações que podem levar deputada à prisão
Os dias não têm sido calmos para a deputada federal
Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar bolsonarista enfrenta o Conselho de Ética
da Câmara dos Deputados e foi alvo de busca e apreensão por parte da Polícia
Federal (PF). Parece ser questão de tempo até que seu mandato seja cassado.
Alvo de operação de busca e apreensão da Polícia
Federal, Carla Zambelli (PL-SP) tem no oportunismo a característica mais
marcante de sua trajetória de vida e, mais recentemente, de sua carreira
política.
Alçada às hostes da extrema direita fascista com o
advento do bolsonarismo, após breve "ativismo" sextremista no grupo
Femen ao lado de Sara "Winter" Geromini, Zambelli ganhou notoriedade
na política ao fundar o movimento Nas Ruas durante o processo que culminou no
golpe contra Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o Brasil.
No entanto, as investigações da Polícia Federal
(PF) e os processos no Conselho de Ética da Câmara podem colocar um fim à
carreira política da paulista de 43 anos nascida na interiorana Ribeirão Preto.
O mesmo oportunismo que a levou a se enfileirar nas
tropas de comando quando Bolsonaro se tornou presidente fez com que a deputada
procurasse Walter Delgatti Neto, "hacker de Araraquara" que tornou
pública a tramoia lavajatista e, em parte, permitiu que se provasse o lawfare
contra Lula.
Zambelli pressentia que o capitão seria derrotado
por Lula nas eleições em 2022. E, de forma oportunista, buscou em Delgatti uma
estratégia a fim de provar a propalada mentira do então presidente sobre a
fraude no sistema eleitoral.
Delgatti, que dias antes reclamaria da falta de
dinheiro e de trabalho em entrevista a esta Fórum, topou a empreitada. A
Bolsonaro, prometeu o que não podia entregar: a invasão das urnas eletrônicas.
Ao oportunismo de Carla Zambelli se juntava a
esperteza de Bolsonaro. Só que os dois não contavam com o blefe de Delgatti,
que, após voltar para a prisão em junho por violar medidas judiciais, resolveu
entregar detalhes do "golpe tabajara" arquitetado pelos extremistas.
Negociando delação premiada, o hacker de Araraquara
teria, segundo seu advogado Ariovaldo Moreira, uma coleção de provas contra
Zambelli e Bolsonaro.
• Por
tantas vezes eu andei mentindo...
Desesperada e isolada até mesmo por parlamentares
de seu partido, Carla Zambelli adotou um tom melancólico ao falar da operação
da PF que realizou busca e apreensão em seu gabinete e apartamento funcional.
Disse ter tido "poucos encontros" com
Delgatti e que o contratou por solidariedade para fazer a ligação de seu site
com as redes sociais – algo que qualquer estagiário de informática faz e que o
hacker não teria conseguido fazer.
A deputada ainda declarou que "não faria piada
de mau gosto com Moraes", sobre o objeto da ação da PF: a invasão do
sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir o falso mandado de
prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), assinado com o "publique-se, intime-se e faz o L". O deboche,
segundo Delgatti, seria obra da bolsonarista, que teria encomendado a
"brincadeira".
"Eu pagaria R$ 3 mil para se arriscar dessa
forma para fazer uma brincadeira de mau gosto? Porque essa questão do CNJ foi
só uma brincadeira de mau gosto. Eu sou uma deputada séria", disparou.
Zambelli ainda negou que tenha "tirado da
caixa" um celular novo para fazer a intermediação da conversa em que Bolsonaro
teria dado a Delgatti uma segunda missão – após o hacker falhar na invasão das
urnas eletrônicas.
"A partir dali não houve mais qualquer contato
com o presidente Bolsonaro. É mentira o que disseram a respeito do telefone,
que coloquei um chip novo e etc. Nunca fiz isso e nunca liguei para o
presidente Bolsonaro para falar sobre qualquer assunto relacionado a
isso", afirmou a deputada, já em um misto de desespero e irritação.
• Nunca
mais quero ver você me olhar...
Na entrevista, Zambelli afirmou ainda que
"Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com isso", recebendo a
solidariedade do filho "01" do ex-presidente, o senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), no dia seguinte.
Bolsonaro, no entanto, tenta se afastar da
ex-aliada radical e mandou recado, por meio de interlocutores, dizendo que não
fala com a deputada desde janeiro.
Na verdade, a mágoa de Bolsonaro vem de antes. O
ex-presidente já teria dito a pessoas próximas que a perseguição armada de
Zambelli contra um jornalista negro na véspera da eleição teria sido crucial
para sua derrota nas urnas.
No entanto, o episódio envolvendo Delgatti abre uma
nova perspectiva e faz a amarração em uma outra estratégia atabalhoada de
desencadear o golpe tabajara.
Na conversa com Bolsonaro por meio do celular
"tirado da caixa" por Zambelli, Delgatti teria recebido a nova missão
de Bolsonaro: assumir uma gravação clandestina que ele teria do ministro
Alexandre de Moraes.
Uma gravação que nunca foi ouvida pelo hacker, mas
que pode estar relacionada com a narrativa de golpe relatada pelo senador
Marcos do Val (Podemos-ES) e por Daniel Silveira.
Delgatti teria contado à PF que, após Bolsonaro
tramar com Do Val o grampo em Moraes, já em dezembro de 2022, teria dado a ele
a nova missão.
“Eles precisam de alguém para apresentar (os
grampos) e depois eles garantiram que limpam a barra. Ele (Bolsonaro) falou: ‘A
sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu
falei: beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’”, declarou
Delgatti à PF.
Ariovaldo Moreira, advogado do hacker, diz ter
provas contundentes tanto da relação com Zambelli quanto das
"missões" dadas a Delgatti por Bolsonaro.
• Se
for chorar...
Isolada, Carla Zambelli entrou em desespero no
Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na quarta-feira (2) e implorou para o
seu mandato ser poupado. Com a voz embargada e quase chorando, a deputada disse
que é "vítima de machismo", remontando de forma oportunista às suas
origens no "ativismo", mesmo que agora esteja totalmente alinhada à
pauta conservadora fascista.
Alinhada à quinta-coluna bolsonarista, Zambelli se
desespera por não ver oportunidade de uma reviravolta e por antever que sua
carreira política está próxima do fim.
Uma carreira que começou Nas Ruas. E que pode
acabar Na Prisão.
Ao longo de sua trajetória política, Carla Zambelli
acumulou motivos para ser alvo de investigações. Entre declarações que ferem a
integridade da democracia brasileira até erros em prestações de contas,
passando por porte ilegal de arma de fogo, confira sete ações de Carla Zambelli
que podem levá-la à prisão.
• Ligação
com o “Hacker de Araraquara”
Walter Delgatti, o “Hacker de Araraquara”, revelou
em depoimento à Polícia Federal que invadiu o Banco Nacional de Monitoramento
de Prisões (BNMP) a mando de Carla Zambelli. À PF, Delgatti também teria dito
que recebeu depósitos feitos por assessores de Zambelli direto em sua conta,
além de um montante pago em dinheiro vivo.
A Operação 3FA da PF investiga a atuação de
indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na
inserção de documentos e alvarás de soltura no BNMP, na qual Zambelli pode
estar implicada.
• Perseguição
armada
A deputada corre o risco de se tornar ré em uma
ação criminal por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com uso
de arma de fogo. O julgamento para decidir o destino da parlamentar está
marcado para ser realizado entre os dias 11 e 21 de agosto pelo Supremo
Tribunal Federal (STF).
Em outubro de 2022, às vésperas do segundo turno da
eleição, Carla Zambelli foi flagrada perseguindo um apoiador do agora
presidente Lula (PT) com uma arma em punho, após os dois discutirem no meio da
rua de um bairro nobre de São Paulo.
O Estatuto do Desarmamento veta o porte de arma de
fogo em todo o território nacional, exceto em casos específicos que não incluem
o da deputada. A pena prevê reclusão de dois a quatro anos e multa. Em janeiro,
foram apreendidas duas pistolas e um fuzil que estavam sob posse da deputada,
após um mandado de busca e apreensão emitido pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Gilmar Mendes.
• Racismo
Após o episódio na véspera do segundo turno, muitos
acusaram a parlamentar de racismo. O apoiador do presidente Lula alvo da
perseguição da bolsonarista era o jornalista negro Luan Araújo.
Em vídeos em que ela conta sua versão dos fatos,
Zambelli diz que “usaram um negro” para ir em cima dela. “É o fato dela ter
falado ‘me mandaram um negro’. A minha condição de negro ser uma uma condição,
para muitos, inferior, isso vem do racismo estrutural. Então, eu acho que não é
que eu sofri racismo, eu sofro racismo”, disse Luan, em entrevista ao Brasil de
Fato na época.
Em 2020, a deputada – ao divulgar o currículo do
então novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, um homem negro –
disse que “ele não precisou de cota” para conseguir o currículo.
O teólogo e ativista negro Ronilso Pacheco foi um
dos que criticaram a postura da deputada. ''Carla Zambelli cumpre a cartilha da
racista perfeita. Usa a imagem e a história de um homem negro como moeda, uma
coisa, um escudo humano pra dizer 'não somos racistas'. Como a madame que
mostra o seu animal de estimação e suas qualidades. Nossa... é
desprezível".
• Falsificação
em prestação de contas
Há indícios de fraude na documentação de prestação
de contas da campanha de Zambelli nas eleições de 2022. No documento, enviado
ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta uma série de doações feitas por
pessoas físicas à campanha, dentre elas o comerciante Roberto Habermann, de
Ribeirão Preto (SP), que teria doado R$ 870.
No entanto, o homem negou ter doado qualquer valor
e afirmou não ter nenhum envolvimento com a campanha da deputada. O caso ficou
mais grave, pois Zambelli teria falsificado a assinatura de Habermann, que
consta na prestação de contas, mas o comerciante negou ter assinado.
O Artigo 350 do Código Eleitoral tipifica como
crime “inserir ou fazer inserir, em documento público ou particular, declaração
falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais”, prevendo pena
de reclusão de até cinco anos.
• Ligação
com apoiadores dos atos de 8 de janeiro
As investigações sobre os atos golpistas de 8 de
janeiro – quando apoiadores de Jair Bolsonaro invadiram, vandalizaram e
depredaram as sedes dos Três Poderes da República em Brasília (DF), em ações
antidemocráticas – estão em curso e podem chegar até Carla Zambelli.
A deputada teria recebido em seu gabinete no dia 6
de dezembro de 2022 o influenciador Bismark Fugazza, que teve sua prisão
decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por incentivar atos
golpistas contra o presidente Lula.
A campanha da deputada também teria doado dinheiro
para quatro pessoas físicas, posteriormente acusadas de financiar os atos
antidemocráticos. Zambelli ainda teria relação com um dos donos de veículos
responsáveis por levar os bolsonaristas até Brasília. O dono da empresa
Nogueira Turismo, Maurício Nogueira, concorreu a um cargo de deputado estadual
pelo Republicanos em São Paulo em dobradinha com Zambelli.
• Declarações
golpistas
Mesmo antes do 8 de janeiro, Carla Zambelli já
trabalhava com intenções golpistas. Segundo informações da jornalista Bela
Megale, d'O Globo, a deputada teria articulado uma estratégia para “ocupar” o
Senado. A ideia era liderar um grupo de bolsonaristas do PL para pressionar os
senadores, entre eles o presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que
fossem discutidas e votadas pautas que visam minar o poder Judiciário.
A deputada também virou alvo de ação no STF após
gravar um vídeo, publicado no dia 30 de novembro de 2022, no qual ela se dirige
a generais de quatro estrelas e pede que os militares promovam um golpe no país
para evitar a posse do presidente eleito Lula.
No dia 21 de dezembro de 2022, a bolsonarista deu
uma entrevista com teor golpista para uma TV espanhola. “Bolsonaro tem sido um
presidente tremendo, tremendo... É muito difícil que tenha perdido”, disse. O
agravante é que ela estava em missão oficial pela Câmara dos Deputados e, por
isso, representava o parlamento brasileiro.
De acordo com o Artigo 8º da Lei Nº1802 do Código
Penal, “opor-se, diretamente, e por fato, à reunião ou livre funcionamento de
qualquer dos poderes políticos da União” pode levar a uma pena de reclusão de
dois a oito anos.
• Negacionismo
quanto à Covid-19
Carla Zambelli seguiu a toada de seu líder, Jair
Bolsonaro, e apresentou comportamentos negacionistas em relação à pandemia de
Covid-19 e a efetividade da vacinação. O Relatório Final da Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid sugeriu o indiciamento da parlamentar
por “incitação ao crime”, fato previsto no Artigo 286 do Código Penal.
Advogado
de Delgatti Neto aconselhou hacker a abandonar Zambelli e Bolsonaro: “a corda
sempre arrebenta para o lado mais fraco”
O advogado Ariovaldo Moreira, que representa Walter
Delgatti Neto, hacker conhecido por ser um dos responsáveis pela invasão de
celulares de autoridades no caso conhecido como "Vaza Jato", em
entrevista à TV 247, disse que aconselhou seu cliente a abandonar a trama
golpista que estava criando junto à deputada bolsonarista Carla Zambelli e Jair
Bolsonaro. O advogado disse, inclusive, que este foi um dos motivos que o levou
a abandonar o caso em 2022.
Moreira relatou que decidiu abandonar a defesa de
Delgatti Neto quando percebeu que ele estava se envolvendo com pessoas que
poderiam trazer graves problemas para ele. Ele mencionou um episódio em que o
hacker foi capturado por figuras da extrema direita, incluindo Valdemar Costa
Neto, presidente do PL, Jair Bolsonaro e Carla Zambelli, o que o deixou
profundamente triste e preocupado.
"Eu fiquei emocionado porque eu nunca, não sei
se você lembra disso, não é muito triste? Eu tava muito triste, sabe, eu não
queria aquilo. Foi muito triste aquele episódio, muito triste para mim como
pessoa, para mim como advogado, sabe?", disse.
Moreira também sentiu que Delgatti Neto estava
insatisfeito com a esquerda, sentindo-se abandonado e sem apoio financeiro.
Segundo o advogado, ambos foram a Brasília na tentativa de conseguir um
trabalho para o hacker e permitir que ele pudesse tocar sua vida de forma
digna. Entretanto, o acabou sendo desastroso, o que levou Moreira a aconselhar
Delgatti Neto a retornar a Araraquara.
Sobre a prisão do hacker, Moreira expressou
preocupação com a possibilidade de estar forçando uma delação, mas afirmou que
ainda não tinha certeza sobre os motivos reais para sua detenção. Ele declarou
ter encaminhado um e-mail ao gabinete do Ministro Alexandre de Moraes
solicitando uma audiência para expor a visão da defesa e requerer medidas
cautelares alternativas à prisão.
Um ponto intrigante levantado pelo advogado foi o
envolvimento claro de Carla Zambelli. Moreira questionou se a Polícia Federal
possuía imagens da reunião entre Delgatti Neto e o delegado no restaurante
Frango Assado, que poderia conter informações relevantes para o caso. Ele
também mencionou que o hacker afirmou ter entrado várias vezes no Ministério da
Defesa, mas não sabia se existiam registros desse acesso.
Em relação às mudanças de declaração de Zambelli
sobre o hacker, Moreira opinou que, caso as imagens fossem divulgadas, a
deputada poderia mudar novamente seu depoimento. No entanto, ele destacou que,
no momento, acredita no depoimento de seu ex-cliente.
A
ordem dos advogados a Bolsonaro e Valdemar sobre o caso Carla Zambelli
Assim que surgiram as primeiras informações a
respeito da operação da PF que teve como alvos a deputada federal Carla
Zambelli e o Walter Delgatti Neto, o hacker da Vaza Jato, os advogados de Jair
Bolsonaro enviaram uma ordem unida ao ex-presidente e a Valdemar Costa Neto,
presidente do partido: submergir.
Na avaliação dos times jurídicos que assessoram o
presidente, a operação de quarta-feira é potencialmente mais perigosa do que as
anteriores envolvendo Bolsonaro, por dois fatores.
O primeiro é que ninguém sabe exatamente o que
Zambelli escreveu em mensagens ou disse a Delgatti Neto a respeito de
Bolsonaro, do governo e da campanha eleitoral – e ainda, o que ela pode ter
feito que poderia levar à sua cassação.
O segundo fator de risco é o próprio hacker, que
está negociando com a PF uma delação premiada que teria como principal atrativo
aos investigadores a possibilidade de comprometer em definitivo o ex-presidente
com a trama golpista na eleição de 2022.
Enquanto não se puder avaliar o tamanho do estrago
que a operação puder causar, a orientação é para que nem Valdemar nem Bolsonaro
dêem nenhuma declaração e nem participem de eventos públicos. Além disso, a
defesa do ex-presidente já decidiu que não vai deixá-lo depor antes que venha a
público a versão definitiva de Delgatti Neto a respeito do episódio.
Bolsonaro, aliás, só vai se reunir com seus
advogados na semana que vem. Nos bastidores, ele vem dizendo a aliados que não
pediu nada ao hacker além de informações e que não fala com Zambelli há meses.
Fonte: Fórum/O Globo
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