quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Trump vira réu por tentar mudar resultado de eleição nos EUA

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump virou réu em um caso criminal mais uma vez, agora em um processo no qual ele é acusado de tentar reverter de forma ilegal as eleições presidenciais de 2020, que foram vencidas por seu opositor, Joe Biden.

Ele precisará se apresentar à Justiça na quinta-feira (3) em Washington D.C.

A invasão do Congresso americano, em 6 em janeiro de 2021, fez parte das tentativas de alterar o resultado das urnas.

No dia da insurreição, a vitória eleitoral de Biden estava sendo formalmente certificada no Capitólio (o prédio do Congresso dos EUA) quando o edifício foi invadido por uma multidão de apoiadores de Trump. Eles interromperam a sessão em que a certificação acontecia e ameaçaram o então vice-presidente Mike Pence, que conduzia o processo, por ter se recusado a reverter o resultado das urnas.

Trump foi acusado formalmente nesta terça-feira (1º) de participar de três conspirações para cometer crimes:

  • Conspiração para fraudar os Estados Unidos;
  • Conspiração para obstruir um processo oficial;
  • Conspiração contra os direitos dos americanos.

Esses crimes todos teriam como propósito interromper o processo de coletar e contar votos e certificar o resultado de uma eleição presidencial.

O ex-presidente dos EUA nega que tenha cometido crimes.

A procuradoria disse que o ex-presidente teria tido 6 cúmplices, mas não mencionou nomes. O processo foi liderado pelo procurador Jack Smith.

·         Procurador: ataque de 6 de janeiro foi motivado por mentiras

De acordo com os procuradores, o ex-presidente sabia que suas alegações a respeito das eleições eram mentiras, mas as repetia mesmo assim "para criar uma atmosfera intensa de falta de confiança e raiva e, assim, erodir a confiança pública na condução das eleições". Ou seja: Trump mentia para causar um tumulto.

O procurador Jack Smith, que lidera o processo, fez um curto discurso: "O ataque de 6 de janeiro de 2021 foi um ataque sem precedentes à democracia, foi motivado por mentiras do réu porque ele não queria a contagem e a certificação do resultado das eleições", afirmou Smith.

Ele elogiou as pessoas que defenderam o Capitólio naquele dia, afirmando que colocaram suas vidas na linha de frente pelo país".

Por fim, Smith afirmou que quer um processo rápido e que, por enquanto, Trump é considerado inocente.

·         Reação de Trump

Após o anúncio da acusação criminal, o ex-presidente publicou um texto na rede social Truth Social.

Trump afirma que a acusação da procuradoria faz parte de uma perseguição do atual presidente dos EUA, Joe Biden --no ano que vem, há novas eleições presidenciais, e Biden e Trump já afirmaram que são candidatos.

O ex-presidente dos EUA diz que as acusações poderiam ter sido feitas antes, mas que o procurador só fez isso agora por motivos políticos.

Ele, então, se comparou às vítimas do nazismo e de regimes autoritários como a União Soviética: "A ilegalidade dessas perseguições ao presidente Trump e seus apoiadores lembra a Alemanha nazista na década de 1930, a ex-União Soviética e outros regimes autoritários e ditatoriais".

·         Outros processos

O ex-presidente dos EUA enfrenta outros processos criminais.

  • Na Justiça federal, ele é réu por ter levado para casa documentos sigilosos.
  • Na Justiça de Nova York, ele enfrenta um processo ligado à compra de silêncio de uma atriz pornô durante as eleições de 2016.

Ele ainda pode ser acusado formalmente na Justiça do estado da Geórgia por tentar adulterar o resultado da votação especificamente lá.

·         Indicações de que Trump seria acusado novamente

Na semana passada, advogados que representam Donald Trump encontraram-se com membros da procuradoria. Já se esperava que o ex-presidente fosse acusado criminalmente por tentar reverter os resultados das eleições de 2020.

Mais cedo, o ex-presidente tinha afirmado em sua rede social Truth Social que sabia da iminência da acusação pelo procurador Jack Smith.

 

Ø  Quem é o promotor que já investigou crimes de guerra e indiciou Trump em 40 acusações

 

Ele atualmente está supervisionando duas investigações criminais separadas envolvendo um ex-presidente americano. Mas, para Jack Smith, não é nenhuma novidade lidar com casos de alto risco.

Nas últimas duas décadas, Smith, de 54 anos, investigou funcionários públicos nos Estados Unidos e no exterior – com um histórico misto de sucessos e fracassos.

O promotor veterano tem se mantido discreto desde sua nomeação como procurador especial nas duas investigações de Donald Trump pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Ao anunciar sua escolha em novembro passado, o procurador-geral Merrick Garland o chamou de "a escolha certa para concluir esses assuntos de maneira imparcial e urgente".

Enquanto isso, Trump caracterizou Smith como um homem "enlouquecido" na vanguarda de uma "caça às bruxas política" contra ele.

O procurador especial já indiciou o ex-presidente em 40 acusações criminais por seu suposto manuseio incorreto de documentos confidenciais. Ele também deve acusar Trump separadamente por seus esforços para questionar os resultados da eleição de 2020.

Como o ex-presidente que ele está investigando, John Luman Smith é nascido em Nova York.

Formado pela Harvard Law School, ele começou sua carreira de procurador em 1994 como promotor público assistente no escritório do promotor distrital de Manhattan.

Na década seguinte, subiu na hierarquia do escritório do procurador dos EUA no Brooklyn, onde perseguiu gangues violentas, fraudadores de colarinho branco e casos de corrupção pública.

Certa vez, ele passou um fim de semana dormindo no corredor de um prédio de apartamentos para convencer uma mulher a testemunhar em um caso de violência doméstica, informou a Associated Press (AP).

Durante esse tempo, Smith também estava entre aqueles que investigaram a infame tortura do imigrante haitiano Abner Louima com um cabo de vassoura pela polícia de Nova York.

Seu trabalho na equipe levou em parte à sua recomendação como procurador especial nos casos de Trump, de acordo com o New York Times.

Em 2008, Smith foi para Haia, na Holanda, onde supervisionou investigações de crimes de guerra como investigador júnior do Tribunal Penal Internacional.

Voltou ao Departamento de Justiça dois anos depois como chefe da unidade de integridade pública do Departamento de Justiça, que processa crimes federais como suborno público e fraude eleitoral.

Em uma entrevista à AP em 2010, ele descreveu a transição de carreira como "trocar o emprego dos sonhos por outro ainda melhor".

Mas quando ele assumiu, a unidade estava se recuperando de um fracasso da promotoria, que teve uma condenação criminal exemplar rejeitada por um juiz.

A passagem de Smith começou com o encerramento sem acusações de algumas investigações de longa data sobre membros do Congresso, mas ele prosseguiu com outros esforços.

Sob seu mandato, os promotores abriram um processo de corrupção pública contra o ex-governador da Virgínia Bob McDonnell, um republicano, em um caso anulado por unanimidade pela Suprema Corte dos EUA em 2016.

A unidade também processou o ex-candidato democrata à vice-presidência John Edwards, mas um júri o absolveu de uma acusação e chegou a um impasse em outras, e ele nunca mais foi julgado.

Trump aproveitou esses exemplos para argumentar que Smith "destruiu muitas vidas", ao mesmo tempo em que o criticou por seu envolvimento em um escândalo fiscal envolvendo uma suposta perseguição da Receita Federal americana a grupos conservadores.

"O que ele fez é simplesmente horrível", disse o ex-presidente ao site Breitbart na quinta-feira (27/7). "O abuso de poder – é uma má conduta da procuradoria."

Smith também teve muitas vitórias notáveis, incluindo o envio do ex-presidente da Assembleia do Estado de Nova York, Sheldon Silver, para a prisão por acusações de corrupção.

Ele também condenou o ex-congressista do Arizona Rick Renzi, um republicano, por corrupção. Mais tarde, Renzi recebeu um perdão presidencial de Trump.

·         'Destemido'

Em 2015, Smith aceitou um cargo na promotoria federal em Nashville, Tennessee, para ficar mais perto da família.

Ele saiu em 2017 para uma empresa privada de assistência médica depois de ser preterido para um cargo permanente durante o governo Trump.

Em 2018, estava de volta a Haia, onde assumiu o cargo de promotor-chefe do tribunal para acusações de crimes de guerra no conflito de Kosovo na década de 1990.

Quando Garland ofereceu a Smith o cargo de procurador especial em Washington, sua equipe estava se preparando para o julgamento do ex-presidente de Kosovo, Hashim Thaci, informou o Times.

Embora ansioso para retornar ao Departamento de Justiça, Smith estava se recuperando de uma cirurgia na perna esquerda após um acidente de bicicleta e não voltou aos Estados Unidos até janeiro de 2021.

É pelo menos a segunda lesão grave que ele já sofreu andando de bicicleta.

Na década de 2000, ele fraturou a pélvis após ser atropelado por um caminhão, um incidente que ele afirmou em uma entrevista que o levou a múltiplas sessões de fisioterapia.

Tão ávido corredor quanto ciclista, Smith completou mais de 100 triatlos (modalidade esportiva que combina natação, ciclismo e corrida) desde 2002, representando até a equipe dos EUA no campeonato mundial World Triathlon.

Seu amigo e ex-colega, o advogado novaiorquino Moe Fodeman, descreveu Smith à CNN no ano passado como um triatleta "literalmente insano" e "um dos melhores advogados que já vi".

Outros ex-colegas de trabalho falam do jeito destemido e proativo de Smith, e muitos dizem que os esforços de Trump para difamá-lo não darão em nada.

"Se eu fosse o tipo de pessoa que poderia ser intimidada – [que pensa] 'Eu sei que devemos abrir este caso, sei que a pessoa fez isso, mas podemos perder, e isso vai ser ruim para nossa imagem' – eu iria para outro campo de trabalho", disse Smith em uma entrevista de 2010 ao Times.

"Não consigo imaginar como alguém que faz o que faço ou já trabalhou comigo pode pensar isso."

 

Fonte: g1

 

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