domingo, 27 de agosto de 2023

Por que Trump cresce nas pesquisas conforme se multiplicam processos na Justiça?

A corrida eleitoral dos Estados Unidos está de ponta-cabeça: o que normalmente estaria em baixa está em alta — pelo menos no que diz respeito aos dois principais candidatos e sua popularidade.

O número de acusações contra o ex-presidente republicano Donald Trump na Justiça continua aumentando, assim como seus números nas pesquisas de intenção de voto nas primárias republicanas e sua pilha de doações.

Já o atual presidente, o democrata Joe Biden, tem o problema oposto: ele não consegue decolar. Não importa o desempenho do país, ele não sobe nas pesquisas de avaliação de governo.

·         'Bidenomics' não empolga os eleitores

Biden está presidindo uma economia que causa inveja em quase todos os países do mundo.

A inflação está caindo (está em 3%, o que é menos da metade da inflação na União Europeia e no Reino Unido), o desemprego também é baixo (3,5%) e os temores de uma recessão estão diminuindo.

Os americanos ainda estão pressionados por altas taxas de juro e por preços que permanecem acima dos níveis pré-Covid, mas o presidente está viajando pelos EUA neste verão (do Hemisfério Norte) lembrando à população que partes fundamentais da sua agenda, como a Lei de Redução da Inflação e a Lei CHIPS (pacote de investimento na produção de semicondutores e chips), impulsionaram trilhões de dólares do governo na economia dos EUA.

Biden não parece estar recebendo muito reconhecimento pela recuperação econômica.

Uma pesquisa recente da Reuters mostrou que 54% dos americanos desaprovam o trabalho do presidente americano — na verdade, um valor alguns pontos pior do que em março, quando uma recessão parecia mais provável e a inflação estava mais alta.

O número atual também é significativamente pior do que os 32% que desaprovavam seu histórico quando ele assumiu em 2021.

A economia melhora, seus números nas pesquisas caem. Boas notícias nem sempre trazem boas notícias.

Parte do problema do democrata é que muitos dos grandes programas de investimentos do governo ainda estão em fase de aprovação.

Funcionários da administração federal com quem conversei esperam que, à medida que o dinheiro for distribuído em projetos em todo o país, o funcionamento "normal" da política seja retomado e as pessoas comecem a ver os benefícios da agenda de Biden.

É por isso que a Casa Branca apelidou seu plano de "Bidenomics". Mas há um risco nisso. Se a inflação voltar a subir e ressurgir o fantasma de uma recessão, os republicanos terão ganhado um slogan útil para falar dos planos econômicos frustrados de Biden.

·         Más notícias não são negativas para Trump

Enquanto isso, Donald Trump enfrenta a situação oposta: más notícias não são negativas para ele.

"Se a questão diante dos eleitores é se 'Trump deveria estar na prisão ou na Casa Branca', Trump vence."

Essa foi a mensagem que recebi de um aliado de Trump na noite em que este virou réu na Geórgia, sob a acusação de interferir nas eleições de 2020 no Estado.

Na quinta-feira (24/08), o ex-presidente compareceu a uma prisão no condado de Fulton, na Geórgia, onde foi fotografado em uma mugshot (fotografia de um réu ou de uma pessoa presa).

Sua fiança foi fixada em US$ 200 mil (cerca de R$ 970 mil) e ele deve voltar ao tribunal posteriormente para apresentar sua defesa. Esse é o quarto processo no qual Trump é réu.

Em tempos normais, uma acusação judicial com risco de pena de prisão não pareceria ser uma boa notícia para um candidato presidencial.

Mas aqui está o pensamento contraintuitivo da fonte alinhada a Trump com quem falei: "Na verdade, posso vender isso muito mais facilmente [risco de prisão] do que 'Biden é ruim e não merece um segundo mandato'".

É impressionante que as pessoas na órbita de Trump pensem que a situação jurídica do ex-presidente possa ser algo positivo para elas. Impressionante, mas, neste mundo de ponta-cabeça, não é totalmente surpreendente.

Resultados promissores nas pesquisas e as doações para campanha sugerem que os eleitores republicanos preferem Trump, apesar de, ou talvez até por causa dos seus problemas jurídicos.

Os membros da campanha dele apostam que os eleitores em áreas decisivas do país, como os subúrbios de Philadelphia e Milwaukee, ficariam tão horrorizados com a ideia de mandar um ex-presidente dos EUA para a prisão que votariam para colocar Trump de volta na Casa Branca — possivelmente na esperança dele escapar dos problemas legais.

Mas ainda é muito cedo para saber se é assim que os eleitores realmente verão as coisas em novembro de 2024.

Pesquisas recentes mostram que a maioria dos americanos acha que Trump cometeu um crime. A maioria também diz que não votará nele.

"Penso que a equipe dele reconhece o perigo que ele corre neste momento, mas eles querem manter o domínio sobre o Partido Republicano", diz Anthony Scaramucci, que foi conselheiro de comunicações por um breve período no governo Trump.

"Por esta razão, eles vão mantê-lo na campanha pelo maior tempo possível, mas acho que ele eventualmente desistirá, por conta da pressão na Justiça e da pressão de sua família."

Isso não é o mesmo que dizer que o eleitorado está entusiasmado com Joe Biden. Não está. Até os democratas questionam se ele está velho demais para concorrer a um segundo mandato.

Uma coisa é certa sobre esta campanha à presidência dos Estados Unidos: ela continuará trazendo episódios extraordinários.

 

Ø  Trump é alvo de 91 acusações em 4 processos criminais

 

Em junho de 2015, o empresário Donald Trump desceu a escada rolante para anunciar que seria candidato à Presidência, e começou a subir nas pesquisas.

Na reta final da campanha, o advogado de Trump, Michael Cohen, pagou US$ 130 mil ao advogado da atriz pornô Stormy Daniels para que ela não tornasse público o suposto caso que eles tiveram. Duas semanas depois, Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. Ao longo de 2017, o então presidente fez transferências ao advogado para reembolsar esses US$ 130 mil e registrou esses pagamentos como despesas jurídicas.

Seis anos depois, Donald Trump entrou para a história americana como o primeiro ex-presidente a se tornar réu, em tribunal do estado de Nova York. Ele é acusado de fraudes financeiras. A promotoria disse que o objetivo dos pagamentos era influenciar o resultado das eleições de 2016.

Em 2020, Trump seguia com o mesmo o objetivo - agora buscando a reeleição. Os americanos foram às urnas no dia 3 de novembro de 2020. Mas o resultado só saiu quatro dias depois: vitória do adversário, Joe Biden.

Entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, o então presidente falou repetidamente de fraudes nas urnas que nunca foram comprovadas. Trump chegou a telefonar para o secretário de estado da Geórgia para pedir que ele alterasse o resultado da contagem de votos do estado. Essa ligação resultou no processo da Geórgia. Ele é acusado de ser o chefe de uma organização criminosa que tinha como objetivo fraudar a eleição no estado.

Quatro dias depois do telefonema, Trump fez um discurso na capital, Washington, e incentivou a multidão a marchar em direção ao Congresso, que naquele momento estava reunido para certificar a vitória de Joe Biden. Centenas de apoiadores de Donald Trump, muitos deles armados, invadiram o Capitólio.

As ações de Trump entre a eleição e a invasão são o foco do processo federal em que Trump responde a quatro acusações - incluindo a de conspirar contra os Estados Unidos.

Duas semanas mais tarde, Joe Biden tomou posse. E a mudança de Trump deixou a Casa Branca em direção a casa dele na Flórida. Nas caixas, centenas de documentos - muitos altamente sigilosos, que deveriam ter sido entregues ao Arquivo Nacional.

Depois de inúmeras tentativas frustradas de negociar a devolução dos documentos - muitos, inclusive, com segredos militares -, Trump foi acusado em um tribunal federal da Flórida de colocar em risco a segurança nacional.

 

Ø  Polícia investiga ameaças contra júri que aprovou acusação formal de Trump

 

A polícia da Geórgia, nos Estados Unidos, informou, que estava investigando possíveis ameaças contra membros do grande júri que votaram a favor de acusar Donald Trump formalmente por tentar alterar os resultados das eleições de 2020 no estado. O ex-presidente recebeu 13 acusações penais graves.

Documentos mostram que os dados pessoais dos 23 jurados e três suplentes, incluindo imagens e endereços, foram publicados em vários sites. Alguns desses portais costumam publicar teorias da conspiração e são administrados por grupos de direita.

“Nossos investigadores estão trabalhando em estreita colaboração com as agências locais, estaduais e federais de aplicação da lei para rastrear a origem das ameaças no condado de Fulton e em outras jurisdições”, disse o gabinete do xerife do condado de Fulton em um comunicado.

A acusação de Trump e outras 18 pessoas por uma suposta conspiração para modificar ilegalmente os resultados das eleições de 2020, vencidas pelo democrata Joe Biden. É a quarta vez que o ex-presidente é acusado este ano.

 

Ø  Por que Trump pode ser um ponto de virada para o X, antigo Twitter

 

Nove meses depois de Elon Musk ter restabelecido a conta de Donald Trump na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, o ex-presidente dos Estados Unidos regressou àquela que foi outrora a sua plataforma eleitoreira para comunicar com o país.

O regresso de Trump – que costumava ser um dos utilizadores mais proeminentes, embora controversos, do site – poderá marcar um ponto de virada para a empresa após meses de turbulência.

Com quase 87 milhões de seguidores, Trump poderá atrair um vasto conjunto de usuários, especialmente no período que antecede as eleições presidenciais de 2024, em que é o principal candidato para vencer as prévias republicanas.

Ele também poderá apresentar um novo conjunto de desafios para a rede social, incluindo o esforço para atrair mais publicidade, caso o ex-presidente decida retomar suas publicações recorrentes na plataforma.

Na noite da última quinta-feira (24), Trump postou pela primeira vez no site desde janeiro de 2021, quando foi suspenso por violar as regras do Twitter após o ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos EUA.

A publicação trouxe a foto de fichamento policial do ex-presidente, após sua rendição na Geórgia por mais de doze acusações decorrentes de seus esforços para reverter os resultados das eleições de 2020. Ele ainda postou um link para uma arrecadação de fundos.

O retorno de Trump pareceu ser bem recebido por Musk, que tem incentivado políticos e figuras públicas a utilizar a plataforma, em uma tentativa de melhorar o número de usuários. O proprietário da rede social compartilhou a postagem do ex-presidente dizendo: “Próximo nível”.

Mais tarde, parecendo fazer referência a Trump sem nomeá-lo explicitamente, Musk postou que “a velocidade com que sua mensagem nesta plataforma pode alcançar um grande número de pessoas é alucinante”.

Procurado pela CNN, o X não quis comentar o caso.

Se Trump decidir voltar a postar regularmente no antigo Twitter, isso poderá ser um grande benefício no esforço da plataforma para atrair público, à medida que enfrenta o aumento da concorrência.

Na esteira das controversas decisões políticas de Musk, uma série redes sociais alternativas surgiram, incluindo o Threads, da Meta, que lançou uma atualização importante esta semana.

Em 17 de julho, o tráfego para o então Twitter caiu mais de 9%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o relatório público mais recente da empresa de inteligência de tráfego de internet Similarweb.

As mudanças de Musk na empresa também irritaram alguns anunciantes, afetando o negócio principal do X.

Enquanto presidente, as publicações de Trump movimentavam frequentemente os mercados, definiam o ciclo de notícias e impulsionavam a agenda em Washington – fato que beneficiou a empresa sob a forma de incontáveis ​​horas de engajamento dos utilizadores, o que quase certamente poderia voltar a acontecer.

E, embora Trump tenha utilizado sua própria rede, o Truth Social, desde que foi suspenso de outras plataformas no início de 2021, o X pode lhe dar um maior alcance enquanto disputa as prévias republicanas.

O retorno de Trump “deverá ter um impacto positivo no envolvimento [do X] no momento em que for necessário”, disse à CNN Tom Forte, analista do DA Davidson.

(Não está claro como Musk – que tem sido frequentemente o personagem principal do X desde a sua aquisição, em alguns casos graças às suas próprias decisões políticas – se sentiria em relação a compartilhar os holofotes.)

Esse envolvimento poderia ser um argumento de venda para o X em sua busca para atrair anunciantes de volta à plataforma.

Mas a volta de Trump também pode levantar novas preocupações para os anunciantes, alguns dos quais reduziram seus gastos no antigo Twitter por temores de que seus anúncios pudessem ser veiculados ao lado de conteúdo controverso ou potencialmente questionável, já que Musk reduziu a moderação de conteúdo no site.

Musk disse no mês passado que a empresa ainda tinha fluxo de caixa negativo devido a um declínio de 50% na receita de seu principal negócio publicitário, embora a CEO, Linda Yaccarino, tenha dito semanas depois que a empresa está agora “perto do ponto de equilíbrio”.

E, embora a liderança do X tenha afirmado que os anunciantes estão regressando graças aos novos controles de segurança da marca, pelo menos duas empresas interromperam recentemente os investimentos, depois de suas propagandas aparecerem ao lado de uma conta que celebrava o partido nazista.

O perfil foi suspenso e a plataforma disse que as impressões de anúncios na página eram mínimas.

Trump frequentemente ultrapassava os limites quando estava ativo no Twitter. Durante anos, a plataforma adotou uma abordagem moderada na moderação da sua conta, argumentando por vezes que, como funcionário público, o então presidente deveria ter ampla liberdade para falar.

Agora, se Trump regressar aos seus velhos hábitos – o ex-presidente, por exemplo, continuou a afirmar falsamente em publicações no Truth Social que as eleições de 2020 foram roubadas – Musk poderá ser forçado a decidir se perderá anunciantes ou comprometerá sua posição declarada com a “liberdade de expressão”.

O analista Tom Forte disse que observará de perto o impacto do retorno de Trump nos negócios de publicidade da rede social. “O aumento do envolvimento deve ser favorável, mas existe o risco de que o aumento da controvérsia possa prejudicar as vendas de anúncios”, explicou.

Ainda não está claro se Trump realmente voltará a ser ativo no X depois da postagem da última quinta-feira, que foi essencialmente um apelo de arrecadação de fundos, e semelhante ao que ele postou no Truth Social.

Depois que o Facebook restaurou a conta de Trump no início deste ano, muitas de suas postagens nessa plataforma tiveram como objetivo direcionar os usuários a doarem ou se voluntariarem para sua campanha.

Além disso, depois de retornar ao X, Trump apareceu para tentar esclarecer onde reside sua lealdade: “Eu amo o Truth Social. É minha casa”, publicou.

 

Fonte: BBC News Brasil/g1/CNNBrasil

 

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