domingo, 27 de agosto de 2023

Número de crianças ameaçadas de morte dispara em cadastro de programa de proteção do governo

O número de crianças, adolescentes e familiares ameaçados de morte incluídos no programa federal de proteção explodiu no primeiro semestre deste ano. Entre janeiro e junho, 377 crianças e adolescentes e 468 familiares (845, ao todo) passaram a fazer parte do programa. É mais do que as 701 pessoas incluídas ao longo de todo o ano de 2022, por exemplo, ou os 659 incluídos ao longo de 2021.

Um dos fatores para o aumento expressivo destes primeiros meses de 2023 são os efeitos econômicos ainda gerados pela pandemia de Covid, segundo especialistas.

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), gerido pelo Ministério dos Direitos Humanos, completa 20 anos em 2023. Até dezembro do ano passado, havia protegido mais de 13 mil pessoas, segundo dados oficiais.

São crianças, adolescentes e parentes em situações de ameaça iminente de morte, em sua maioria do sexo masculino e negros. No ano passado, quase um terço dos incluídos no programa tinha menos de 16 anos.

Segundo os dados do MDH, 63% dos incluídos no programa entre 2018 e 2022 estavam relacionados a problemas com o tráfico de drogas. A segunda principal causa -- vingança e acerto de contas -- responde por 15% dos casos.

"A grande maioria dos adolescentes acabam indo para o programa por questões relacionadas às drogas. Usuários endividados ameaçados de morte, alguns considerados delatores de facções e grupos criminosos e outros que tentam deixar as facções e grupos criminosos. Existem também aqueles ameaçados de morte por milícias, grupos de extermínio e por policiais", explica o advogado Ariel de Castro Alves, que comandou até maio a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, responsável pelo programa.

De acordo com ele, a vulnerabilidade socioeconômica de crianças e adolescentes de camadas menos favorecidas da população aumento após a pandemia.

"A vulnerabilidade de crianças e adolescentes se agravou com a degradação da situação econômica e social das famílias e com a evasão escolar", argumentou o advogado.

"Pela falta de oportunidades educacionais e programas de oportunidades e inclusão social por meio de bolsas de estudos e vagas de aprendizagem e estágios, os adolescentes ficam cada vez mais expostos ao aliciamento do tráfico de drogas e depois são condenados a não mais saírem dos grupos criminosos que exploram a mão de obra infanto-juvenil", afirma Ariel.

•        Aumento no orçamento

A maior necessidade de proteção forçou um reajuste no orçamento do programa. Em 2013, o programa custou R$ 5,9 milhões, pouco mais de R$ 10 milhões após correção pela inflação. Já no ano passado, o valor gasto subiu para R$ 18,2 milhões e, neste ano, a previsão é de gastar pelo menos R$ 27 milhões.

"As previsões orçamentárias não acompanharam a hiperinflação que atingiu todas as regiões do País, o que repercutiu na limitação de atendimento de novos casos pelo programa. Com isso os novos aportes serviram como correção dessa diferença financeira apresentada no período pós-pandêmico", explicou o ministério em nota.

O ex-secretário explica que foi necessário pedir mais dinheiro após indicações dos técnicos do programa e demandas de estados para atendimentos, mas nem todos os estados integram o programa. Hoje, há protegidos pelo programa de 17 estados e do Distrito Federal, e o programa atua junto aos casos dos demais estados que não integram o programa.

Segundo o ministério, o objetivo é formalizar convênios para implantação do PPCAAM em Goiás, Amapá, Mato Grosso do Sul e Roraima ainda este ano. Tocantins e Sergipe seriam integrados em 2024 e Rondônia e Mato Grosso, em 2025.

•        Expansão

A expansão do programa foi um dos pontos sugeridos pelo Conanda em nota divulgada no começo de agosto. O conselho se manifestou sobre episódios de violência em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, inclusive com mortes de crianças, e pediu - entre outras coisas - a expansão e reestruturação do PPCAAM.

"O Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte deve ser expandido para todo o Brasil e deve ser reestruturado de modo a compreender os fenômenos que geram ameaças e atuar também de modo preventivo nos territórios", disse o conselho.

Em resposta ao que sugere o Conanda, o MDH destacou que há previsão, para o ano que vem, de um Plano de Prevenção da Violência Letal contra a Criança e o Adolescente. Mas o ex-secretário ressalta a necessidade de ações dos governos estaduais.

"Os estados precisam criar os comitês de enfrentamento da letalidade infanto-juvenil", diz Ariel. "Esses comitês precisam desencadear pesquisas e levantamentos dos diagnósticos de letalidade", destaca o secretário, que enfatiza a relevância de dados estatísticos sobre os crimes para implementação de ações como reforço de policiamento, implantação de delegacias especializadas e programas de educação e inclusão, entre outras.

 

       Estupros e letalidade policial aumentam de janeiro a julho no estado de SP

 

O estado de São Paulo voltou a ter aumento no número de estupros de janeiro a julho deste ano. Foram 8.150 registros em 2023, 13% a mais do que os 7.221 que foram contabilizados no mesmo período de 2022. Na capital paulista o crescimento foi ainda maior, de 21%, passando de 1.415 ocorrências para 1.713.

Os comparativos das estatísticas estado, no entanto, podem sofrer alterações, já que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) decidiu fazer uma auditoria para revisar os dados criminais de 2022 (leia mais abaixo).

O número divulgado de vítimas de homicídio teve queda de cerca de 10% no estado, passando de 1.728 nos primeiros sete meses de 2022 para 1.558 no mesmo período de 2023. Os dados oficiais foram divulgados nesta sexta-feira (25) pela Secretaria de Segurança Pública.

A redução dos homicídios segue a tendência observada nacionalmente nos últimos anos, segundo acompanhamento do Monitor da Violência do g1. O estado de São Paulo já havia apresentado resultado positivo no semestre, com destaque de queda na região Sudeste, que teve aumento geral puxado pelo Rio de Janeiro.

Os furtos (sem considerar veículos) registraram aumento no estado: foram de 320.931 para 333.052 no acumulado dos sete meses, alta de 3,8%. Já os furtos de veículo subiram 3%, encerrando o período com 55.078 boletins de ocorrência. Na comparação apenas de julho, no entanto, houve queda de 3,5% nos furtos de veículos no estado, de 8.170 para 7.882.

De acordo com a SSP, o crime de estupro é o que tem o mais alto índice de subnotificação. "Por isso, de acordo com a dra. Jamila Ferrari, coordenadora estadual Delegacias de Defesa da Mulher, o aumento de registros indica que agora as vítimas possuem mais confiança para procurar a polícia", diz a pasta.

•        Letalidade policial

O Instituto Sou da Paz também aponta uma disparada na letalidade policial. No mês de julho, as mortes cometidas por policiais, em serviço e de folga, tiveram um aumento total de 60,6% no estado na comparação com o mesmo mês de 2022.

A letalidade policial em serviço no estado de São Paulo teve crescimento de 54,2% em comparação com julho do ano anterior, e as mortes cometidas por policiais de folga tiveram um aumento de 111,1%. Somando as mortes cometidas por policiais em serviço e de folga no mês de julho, foram 23 mortes a mais que em julho de 2022.

O instituto ressalta que o aumento significativo das mortes por policiais em serviço reflete o contexto da Operação Escudo na baixada santista, iniciada em 28 de julho, e que em quatro dias deixou 12 mortos no município do Guarujá.

Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, destaca o aumento da letalidade causada por policias em serviço.

“As mortes cometidas em serviço têm aumentado continuamente desde o início deste ano, e apontam para um enfraquecimento das bem sucedidas medidas de controle do uso da força adotadas pela PMESP", afirma.

"A Operação Escudo, deflagrada em resposta à morte de um policial em serviço, deixou uma dúzia de mortos no Guarujá em um final de semana, e concretiza este abandono de uma prioridade a uma atuação mais profissional e menos violenta das polícias paulistas. Foram 12 vítimas letais em 4 dias, um terço de todas as mortes em serviço cometidas no estado em todo o mês de julho.”

•        Revisão dos dados na gestão Tarcísio

Os dados criminais de 2022 devem ser analisados com cautela no comparativo com a série histórica. A gestão do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), decidiu revisar as estatísticas criminais do período de seus antecessores Rodrigo Garcia e João Doria (PSDB), após afirmar ter encontrado "inconsistências" nos dados.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, até a gestão anterior, as próprias delegacias informavam o número de ocorrências de cada crime, sem dar informações a mais sobre os boletins de ocorrência. Agora, a própria secretaria acessa os boletins de ocorrência, contabiliza os dados por crimes e passa para as delegacias revisarem e validarem antes da divulgação. A revisão promete aumentar a transparência e precisão das informações.

O governo criou um grupo de trabalho para revisar os indicadores. O grupo é composto por representantes da própria SSP e das polícias Civil, Militar e Técnico-Cientifica, e deve entregar a análise completa dos dados até dezembro deste ano. No entanto, não há participação de membros da sociedade civil ou de órgãos de controle como o Ministério Público.

Em abril deste ano, a mudança resultou, na prática, em dados positivos para a gestão Tarcísio: os furtos de veículo haviam aumentado 10% em abril de 2023. Depois da revisão dos dados de 2022, passaram a cair 1% no comparativo.

Outro resultado parcial da revisão, divulgado em julho, apontou 3.750 furtos de veículos (4%) a mais do que havia sido informado anteriormente, e 1.048 roubos de veículos (2,5%) a mais. A Secretaria de Segurança Pública reforça, no entanto, que as conclusões são preliminares e ainda podem ser alteradas até o fim da análise.

Conforme o g1 informou, a revisão dos dados criminais pode afetar diretamente indicadores que estão vinculados a um bônus pago aos polícias.

Enquanto o processo não é finalizado, a secretaria continua publicando comparativos estatísticos em seu site oficial sem mencionar que os dados estão passando por auditoria e que a análise pode ser comprometida após a revisão.

 

       Desesperada, mãe gravou áudio pedindo socorro para localizar filho entregue a desconhecido em creche no interior de SP

 

A mãe do menino de três anos que foi entregue a um desconhecido na saída de uma creche enviou áudios em que pede socorro aos familiares e amigos para localizar o filho. O caso ocorreu em Araçatuba, no interior de São Paulo, na última segunda-feira (21), mas o g1 teve acesso ao áudio nesta sexta-feira (25).

No áudio, Gabriela Guilherme da Costa chora enquanto relata o que ocorreu com seu filho.

“Pedir pelo amor de Deus, se alguém puder postar ai, em tudo, Facebook, tudo, uma foto do [nome], ele sumiu da escola. Um cara ‘catou’ ele aqui de dentro e ele foi com o cara. Posta no Facebook, posta em tudo, foto dele, pelo amor de Deus, fala que ele sumiu."

Na ocasião, o pai do menino foi até a EMEB "Camila Tomashinsky", por volta das 18h, para buscá-lo. No portão, foi informado por funcionários que a criança já havia sido retirada por um suposto tio.

Contudo, ao telefonar para a esposa, ela informou que o tio do menino não o buscou, por estar trabalhando naquele horário.

À reportagem, Gabriela contou que viveu as duas horas mais angustiantes de sua vida, até encontrar o filho. Sem saber do paradeiro do menino, ela tentou contato com os parentes, até acionar a polícia.

“Liguei para o meu pai e ele disse que também não tinha retirado meu filho. Nisso meu coração já ficou apertado. Eu fui para a escola correndo, perguntei como eles tinham liberado uma criança daquele jeito, porque a gente assina um documento com o nome das pessoas que podem pegar o filho".

Diante da situação, os pais optaram por retirar o menino da escola nesta sexta-feira. Ele foi matriculado em outra unidade escolar e deve iniciar as aulas na próxima segunda-feira (28).

•        Suspeito

Segundo a Prefeitura de Araçatuba, o suspeito, já conhecido pelos funcionários da creche, se identificou como o tio do menino. Então, a criança, que tem o mesmo nome que o sobrinho dele, foi entregue a ele.

Acionada pela mãe, que garantiu não conhecer o homem, a Guarda Civil Municipal (GCM) verificou as câmeras de segurança da creche e de estabelecimentos vizinhos para identificar o suspeito. Duas horas depois de desaparecer, o menino foi encontrado na casa do homem, em bom estado de saúde.

O homem, que possui transtorno mental, prestou depoimento e foi liberado pela polícia.

“Nessa hora a gente pensa o pior. Só que eu vou atrás até o fim, vou processar a escola, porque nada justifica entregar uma criança assim para qualquer um. Amanhã, pode ser o filho de qualquer pessoa. Nunca aconteceu isso”, lamenta a mãe.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação disse que uma equipe de supervisores vai verificar a rotina escolar para identificar fragilidades, reorganizar a rotina, além de apurar responsabilidades do caso.

“Todas as medidas necessárias para dar mais segurança aos alunos serão tomadas a partir da avaliação”, finaliza a nota.

 

Fonte: g1

 

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