Os mecanismos da guerra híbrida: como o Ocidente influencia movimentos
antigoverno pelo mundo?
O conflito na Ucrânia suscitou extensos debates
sobre guerras híbridas, presentes sobretudo na mídia e nas redes sociais, cujo
intuito visa influenciar opiniões ao redor do mundo. Longe de ser um fenômeno
novo, esse tipo de tática tem sido largamente usado pelo Ocidente ao longo dos
últimos anos para desestabilizar governos e países inteiros.
Quando entende ser conveniente, o Ocidente é capaz
de suscitar movimentos sociais antigoverno em países insubmissos aos seus ditames,
por meio de seu controle dos maiores veículos de comunicação e mídia, além do
financiamento de organizações não governamentais.
Como de praxe, as populações destes países, sem
entender o grau de manipulação no qual foram implicadas, começam a sair às ruas
de forma a demandar mudanças de regime, sem mesmo prever a instabilidade
política que se avizinha. Todo esse processo é guiado por uma forte campanha
midiática no sentido de incentivar uma determinada compreensão da realidade
doméstica, em favor dos interesses das principais potências ocidentais.
Por meio sobretudo de novas tecnologias digitais,
como as representadas pelas redes sociais, formam-se então redes integradas de
opositores políticos extremados, que passam a receber orientação de instrutores
externos, servindo assim de instrumentos úteis para o jogo geopolítico de seus
patrões. Fato é que tais tecnologias se mostraram verdadeiramente capazes de
instigar processos políticos revolucionários em várias regiões do globo, desde
o Norte da África até o Leste Europeu.
Inicialmente, crises econômicas e sociais são o
estopim para uma ação coordenada entre essas redes, a mídia ocidental e
organizações não governamentais que, por meio de sua operação sincronizada,
induzem a população a adotar slogans estranhos às suas realidades locais e, no
limite, contribuindo para a derrubada de governos legítimos.
Ao passo que tais manifestações amadurecem e ganham
corpo, elas se convertem em ataques disruptivos de grandes proporções às
autoridades estabelecidas, resultando em crises políticas duradouras, mesmo
após a "desejada" mudança de regime.
Antes e durante tais crises, a chamada "guerra
informacional" se instaura, demonizando os líderes do país e suas
políticas, sem que eles tenham a chance de alcançar um compromisso com as
forças de oposição. Foi esse, por exemplo, o cenário predominante no Norte da
África e Oriente Médio durante a Primavera Árabe de 2011 e, de modo ainda mais
evidente, nas crises políticas da Ucrânia de 2004 e, anos depois, em 2014, que
sedimentou a derrocada daquele país para o caos.
A deterioração das condições políticas nestas
regiões, por sua vez, serviu de alerta a autoridades, tanto na Rússia como na
China, sobre os perigos de uma possível ampliação dessa atuação insidiosa em
seus próprios territórios, dado que ambos os países são criticados pelo
Ocidente por não seguirem determinados parâmetros – pseudo-universais – de
democracia e de respeito aos direitos humanos.
Ora, constatada a impossibilidade de uma
intervenção militar direta para mudança de governo na Rússia ou mesmo na China,
uma vez que tal situação poderia levar à terceira guerra mundial, os Estados
Unidos e seus parceiros ocidentais optaram por uma alternativa menos arriscada.
Essa alternativa baseou-se justamente na crescente influência de seus meios de
comunicação e no sequestro das mentes de populações estrangeiras, sobretudo de
jovens, para suscitar sentimentos antigoverno em Estados insubmissos.
Afinal, foi justamente na esteira dos protestos
oriundos da Primeira Árabe que começaram a se observar movimentações de igual
natureza dentro da própria Rússia em dezembro de 2011, que visavam contestar os
processos eleitorais no país. Tal tentativa foi acompanhada de perto pelo
governo russo, que logo entendeu o que estava acontecendo, a saber, de que tais
movimentações nada mais eram do que uma manifestação da interferência externa
nos assuntos domésticos do Estado.
Deste modo, ao refletirem sobre os resultados
inglórios da Primavera Árabe (vide Síria, Egito e Líbia), assim como da instabilidade
econômica e social causada após as "revoluções coloridas" no espaço
pós-soviético, a Rússia empreendeu sérios esforços para proteger sua soberania
e evitar que semelhante caos se instalasse em seu próprio território. Diante de
tal percepção, as elites russas, e em certa medida também as elites chinesas,
solidificaram estratégicas para evitar que suas populações fossem alvo da
influência de atores externos, sobretudo dos países ocidentais.
Não à toa, russos e chineses começaram a demonstrar
uma maior coordenação para defesa de seus governos e de seus sistemas
políticos, além de impedirem a ação intervencionista do Ocidente em outras
partes do globo, como no caso da Síria. Não por acaso, quando discussões
iniciais a respeito da criação de uma zona de exclusão aérea na Síria foram
levantadas ainda em 2013, Moscou deixou bem claro que usaria seu poder de veto
para brecar tais iniciativas. O que dizer então das insinuações da mídia
ocidental de que o governo sírio teria usado armas químicas contra sua própria
população em meados de 2013?
Conforme demonstrado pela Rússia, muitas das
filmagens de crianças sendo atendidas após supostos ataques químicos nada mais
eram do que encenações teatrais no intuito de causar comoção em audiências
internacionais, justificando assim uma intervenção direta no país árabe. Em
2014, por sua vez, quando adveio o famigerado Euromaidan em Kiev, já estava bem
claro para qualquer observador mais atento que o papel de potências externas
através justamente da mídia e de ONGs locais foi preponderante para o
acirramento dos protestos, que, no final das contas, culminou num ilegítimo
golpe de Estado e na desestabilização da Ucrânia nos anos seguintes.
Em suma, organizações não governamentais
financiadas pelo exterior, promessas de apoio logístico a manifestações
públicas antigoverno, campanhas de mídia que visam demonizar autoridades locais
e processos de sedução – sobretudo da população jovem – em torno de slogans
vazios são as principais armas da guerra híbrida utilizada pelo Ocidente para
atingir seus objetivos geopolíticos. A lição que fica então é: aos Estados que
tomarem nota disso, maiores serão as chances de evitar cair no abismo.
Ø Deputado venezuelano: BRICS está se fortalecendo, enquanto EUA e Europa
enfrentam crise estrutural
A adesão da Argentina, Arábia Saudita, Egito,
Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã ao grupo BRICS demonstra o fortalecimento
deste bloco, em contraste com a crise estrutural enfrentada pelos EUA e a
Europa, disse à Sputnik o deputado venezuelano Jacobo Torres.
"Este fortalecimento do BRICS é um
momento-chave na construção de uma nova vida normal no mundo, no contexto da
crise estrutural que o capitalismo mundial, liderado pelos EUA e seus aliados
europeus, está vivendo hoje. [O BRICS] é uma alternativa viável para os povos
do mundo", disse Torres, membro do Partido Socialista Unido de Venezuela
(PSUV).
De acordo com o interlocutor da agência, a inclusão
da Argentina na associação reforçará a integração da América Latina e dos
países da região afetados pelas sanções.
"Isso nos ajudará, em particular, a países
como a Nicarágua, Cuba e Venezuela, que estão sujeitos a um bloqueio brutal há
vários anos, será um elemento importante inclusive para quebrar o bloqueio […]
Isso garantirá, como disse [o presidente do Brasil] Lula da Silva, que a
integração latino-americana possa ficar fortalecida", acrescentou Torres.
Outra importante consequência da expansão do BRICS,
segundo Torres, é a oportunidade de pôr fim à hegemonia do dólar: "Isso
nos permitirá sair da má influência que o dólar tem tido nos últimos anos e
substituí-lo por uma moeda mais estável, para que todos tenhamos estabilidade
econômica em nossos países".
A potencial criação de uma moeda comum do BRICS, de
acordo com o deputado venezuelano, garantirá a igualdade econômica e uma nova
etapa de relações econômicas internacionais harmoniosas.
Nesta quinta-feira (24), o presidente sul-africano,
Cyril Ramaphosa, anunciou o ingresso de mais seis países no BRICS: Argentina,
Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia. Os seis novos
Estados-membros foram convidados a fazer parte do bloco a partir de 1º de
janeiro de 2024.
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Brasil propõe à Argentina pagamento de exportações
em yuan: 'Aguardamos resposta', diz Haddad
A proposta feita pelo Ministério da Fazenda
brasileiro garantiria pagamentos em meio aos problemas econômicos argentinos,
segundo Fernando Haddad. Brasil espera resposta sobre plano de US$ 100 milhões
a US$ 140 milhões.
O governo propôs um plano à Argentina que usaria o
yuan para garantir pagamentos de exportação, a fim de contornar a grave
escassez de dinheiro do país vizinho e manter o fluxo comercial, de acordo com
o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo a Bloomberg.
"Será uma coisa boa para os exportadores
brasileiros e será uma ótima notícia se a Argentina concordar. Eles conseguem
ter um fluxo de vendas com 100% de garantia", disse Haddad a repórteres
ontem (24) na África do Sul, onde participa da Cúpula do BRICS.
A ideia é trabalhar inicialmente entre US$ 100
milhões (R$ 487 milhões) e US$ 140 milhões (R$ 682 milhões) em comércio por
meio de uma troca feita pelo Banco do Brasil, que converteria yuans em reais
para pagar os exportadores, acrescentou o ministro. Entretanto, o governo quer
testar o plano antes de decidir se vai expandi-lo.
"O Brasil ainda aguarda uma resposta do
governo do presidente Alberto Fernández", disse Haddad.
Enfrentando a escassez de reservas externas, Buenos
Aires tem estocado nos últimos meses linhas de swap chinesas para ajudar a
pagar empréstimos ao Fundo Monetário Internacional.
Ainda disse que o uso do yuan garantirá que
"não haja risco de inadimplência" em quaisquer pagamentos. A
utilização do yuan pelo governo de Fernández também atingiu níveis recordes, à
medida que as empresas lutam para encontrar dólares para financiar importações
e operações.
A inflação em espiral e uma seca recorde atingiram
em cheio a economia argentina este ano, levando-a à beira da recessão.
Ø Analista: avanço do BRICS fará dólar perder hegemonia gradualmente até
desaparecer completamente
O analista Artyom Deev afirmou à Sputnik que o
dólar americano será cada vez menos perceptível no mercado global.
Segundo o analista, os países do BRICS mudaram
parcialmente para liquidações mútuas em moedas nacionais em suas negociações,
além disso, o bloco pode criar seu próprio sistema de pagamento, o que poderá
colocar um fim na hegemonia do dólar em dez ou 15 anos, fazendo com que a moeda
desapareça completamente do mercado mundial.
Para Deev, com o comércio em rápido desenvolvimento
dentro do bloco, as economias dos países-membros do BRICS impulsionaram o
crescimento do bloco.
"Como resultado, a participação do BRICS no
PIB mundial ultrapassou os 30%, superando os países do G7 neste indicador. A
China já era a economia mais poderosa do BRICS e, nos últimos anos, o seu PIB
cresceu por duas vezes. Na Índia e no Brasil o desenvolvimento é ainda mais
perceptível e chega a 75%", observou.
Segundo ele, a exportação total dos países
participantes é de aproximadamente US$ 260 bilhões (R$ 1,2 trilhão), e a
inclusão de países da Ásia, África e América Latina abrirá caminho para
alcançar um novo potencial para o comércio interno.
O analista também destacou que a Rússia terá uma
vantagem indiscutível, e os novos mercados no norte da África necessitam de
fornecimentos estáveis de grãos, isso significará uma redistribuição dos
mercados na economia global.
Sendo assim, o analista acredita que o dólar se
tornará cada vez menos perceptível.
"Os países do BRICS já mudaram parcialmente
para as liquidações mútuas em moedas nacionais em suas negociações. Agora, as
opções para criar seu próprio sistema de pagamentos já estão sendo
discutidas", ressaltou.
Deev também ressaltou que a criação, formação e o
fortalecimento da nova moeda vão levar cerca de sete anos, e consequentemente,
dentro de dez ou 15 anos, a hegemonia do dólar como moeda mundial poderá
desaparecer completamente.
Ø Lula diz que tentará fazer campanha mundial contra desigualdade
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 6ª feira (25.ago.2023) que
quer assumir o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra as
desigualdades. O petista está na Angola para reunião bilateral com seu homólogo
João Lourenço. Depois do encontro dos presidentes, Lula foi condecorado com a
Ordem Dr. António Agostinho Neto e o angolano com a Ordem Nacional do Cruzeiro
do Sul.
“Essa
ordem aumenta a minha responsabilidade, agora que estou assumindo o compromisso
de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade. A desigualdade
existe em tantos lugares que muitas vezes olhamos só para nós, e não vemos que
está entre eu e a pessoa com quem estou conversando, porque nós temos a
desigualdade de raça, de gênero, de salário, de acesso à educação e à saúde”, afirmou Lula.
António Agostinho Neto foi um médico, escritor e
político angolano. Lutou pela independência de seu país, que foi colônia
portuguesa até 1975, e se tornou o 1º presidente da Angola.
Em discurso, Lula também endereçou a desigualdade
de gênero no Brasil e no mundo. Segundo ele, todos sonham com a participação da
mulher na política, mas elas não conseguiram se expressar como maioria nesses
espaços devido à desigualdade de tratamento que recebem.
“Às
vezes, a gente fica contente porque tem uma mulher presidente de um partido,
presidente da Câmara, presidente de sei lá o que. Mas se elas são maioria
e se elas nos colocaram no mundo, eu acho que é justo a gente compreender
que elas podem sim ser maioria e governar o mundo ao invés de nós”, disse.
Fonte: Sputnik Brasil/Poder 360
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