quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Como restrições da China às exportações de gálio e germânio prejudicarão o mercado mundial?

Após a introdução de restrições ao fornecimento de gálio e germânio, a China poderia privar o mundo de até 56 toneladas desses metais, sendo esta quantidade o equivalente ao que os chineses forneceram ao mercado global em agosto-dezembro do ano passado, de acordo com cálculos da Sputnik baseados em dados alfandegários chineses.

A China, em 1º de agosto, introduziu controles de exportação sobre o gálio e o germânio para proteger a segurança nacional.

Ao mesmo tempo, o porta-voz do Ministério do Comércio da República Popular da China, Shu Jueting, observou que o controle de exportação não é uma proibição de exportação de mercadorias relevantes, permitido sob as regras das autoridades chinesas.

De acordo com dados alfandegários, a China exportou 21,7 toneladas de germânio não tratado e processado no valor de US$ 25,4 milhões (R$ 120,01 milhões) em agosto-dezembro do ano passado, e gálio - 34,1 toneladas por US$ 15,3 milhões (R$ 72,29 milhões).

No total, a China vendeu 138,1 toneladas desses metais para o mercado mundial no ano passado por US$ 8,8 milhões de dólares (R$ 41,58 milhões).

Ao mesmo tempo, no primeiro semestre deste ano, o volume de entregas da China para o mercado mundial desses metais raros como um todo aumentaram ligeiramente: 67 toneladas equivalentes a US$ 34,8 milhões de dólares (R$ 164,43 milhões) em comparação com 65 toneladas correspondentes a US$ 35,2 milhões de dólares (R$ 166,32 milhões).

No entanto, enquanto as remessas de germânio aumentaram 75% para quase 28 toneladas, as de gálio diminuíram 20%, para 39 toneladas.

Gálio e germânio são amplamente utilizados na produção de produtos de alta tecnologia. Assim, o gálio é um material fundamental em semicondutores. Ao mesmo tempo, o germânio é usado em painéis solares, dispositivos sem fio e sistemas ópticos, como óculos de visão noturna.

<><><> China restringe exportação de terras raras e pode frustrar as ambições dos EUA, diz analista

Os controles chineses de exportação de germânio e gálio entraram em vigor em meio a temores de que isso significasse microchips, painéis solares, carros e até armas mais caras. No entanto, as restrições ameaçam afundar as ambições domésticas de fabricação de microchips do governo Biden, diz o especialista em comércio China-EUA, Thomas Pauken II.

As restrições de terras raras da China entraram oficialmente em vigor nesta terça-feira (1º), com as medidas, anunciadas no mês passado depois que Pequim disse que precisava proteger sua "segurança e interesses nacionais", devendo causar um salto acentuado no custo de uma série de bens manufaturados avançados, especialmente eletrônicos.

Os controles de exportação, que vão exigir que as empresas que desejam exportar o par de metais de terras raras solicitem licenças, vêm em retaliação a uma longa lista de medidas hostis dos Estados Unidos, incluindo restrições à importação de produtos chineses de alta tecnologia.

"Este é apenas o começo", disse o ex-vice-ministro do Comércio chinês, Wei Jianguo, no mês de julho, alertando que "a caixa de ferramentas da China tem muito mais tipos de medidas disponíveis" caso Washington tente retaliar a semiproibição de terras raras.

A China produz mais de 80% do gálio mundial e 60% do germânio, com especialistas prevendo que a medida pode levar "gerações" para os EUA substituírem a capacidade chinesa perdida.

As restrições às terras raras mostram que a viagem da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, a Pequim no mês passado para tentar aliviar as tensões claramente não conseguiu fazer com que a China alterasse sua posição, com a nação asiática adotando uma linha mais dura em retaliação à guerra tecnológica e comercial de Washington e suas tentativas de isolar Pequim no Leste Asiático, no início deste ano, começando por sancionar a gigante norte-americana de semicondutores Micron Technology em maio.

Gálio e germânio são usados na fabricação de semicondutores complexos, incluindo chips com aplicações militares, mas também transistores comuns, diodos e outros componentes eletrônicos, para uso geral, desde smartphones e laptops até painéis solares, veículos e equipamentos médicos.

·         Movimento pode afundar o esquema de semicondutores de Biden

"Obviamente, essas consequências serão devastadoras para os esforços dos Estados Unidos em promover sua indústria manufatureira, para criar essas fábricas quando [elas] estão voltando para casa", disse Thomas Pauken II, um consultor veterano e comentarista sobre assuntos da Ásia-Pacífico, à Sputnik, referindo-se ao impulso de mais de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 239 bilhões) anunciado pelo governo Biden no ano passado para restaurar as capacidades domésticas de fabricação de componentes eletrônicos dos EUA. "O problema é que você precisa desses ingredientes necessários para os chips e os semicondutores", disse ele.

"Então, agora estou ouvindo que a TSMC", a gigante de semicondutores com sede em Taiwan, "agora está repensando sobre fazer sua fábrica de semicondutores ou fundição que eles estavam pensando em abrir no Arizona. Além disso, há outra história sobre a Intel. Eles iriam abrir esta grande fábrica de chips em Ohio, e agora de repente eles estão dizendo, 'bem, talvez não abramos esta fábrica em Ohio porque perdemos todos os nossos clientes chineses. E por causa desses controles de exportação, nós não temos a capacidade de criar todos esses chips'", disse Pauken.

·         EUA foram pegos desprevenidos

Pauken acredita que os Estados Unidos e seus aliados podem não esperar que Pequim cumpra com suas ameaças de restrição à exportação de terras raras, a julgar por relatórios limitados sobre o assunto, além de think tanks especializados com sede em Washington alertando sobre o "impacto devastador" que tais controles de exportação poderiam ter sobre os EUA, Europa, Japão "e grande parte do mundo".

"Acho que a verdadeira história é que o Ocidente talvez tenha pensado é que a China estava blefando. Talvez eles pensassem que a China não estava levando a sério esses controles de exportação. E agora que estão começando a entrar em vigor, estão percebendo o quão destrutivos podem ser. O fato é que os EUA não fizeram os preparativos adequados para lidar com as contrassanções ou contra-ataques liderados pela China [...]. Eles apenas pensaram que se fizessem todos esses anúncios de que iriam atrás da China e de todos esses outros países que estavam seguindo-os, então, de alguma forma, a China desistiria, pareceria assustada e depois mudaria de ideia sob pressão. Mas, na realidade, o que a China aprendeu é que você não pode recuar sob a pressão de Washington", disse o observador.

Pauken espera que as restrições à exportação causem um "grande dano" à economia global, mas não tanto a Pequim, que pode até receber um impulso em sua indústria manufatureira doméstica, já que as terras raras que antes iam para outros países vão ficar na China.

O especialista enfatizou que, se Washington fosse inteligente, "repensaria" sua política para a China e reconheceria que uma abordagem dura para Pequim não funcionou e não funcionará e, em vez disso, "foi um desastre para a economia norte-americana". Infelizmente, ele acrescentou, "não parece que os EUA aprenderam nenhuma lição [...] então parece que eles simplesmente continuarão com sua legislação anti-China".

"Então, basicamente, é um caso de se você for duro com a China, a China reagirá com a mesma força. Se você for legal com a China, então a China será legal. Neste momento, a Europa decidiu que quer apoiar os Estados Unidos e quer recuar contra a China. Então, é claro, a China não está apenas atrás dos EUA, mas também está atacando a Europa", disse o observador.

·         Opções limitadas

A escalada das tensões China-EUA sobre terras raras levou as autoridades norte-americanas a iniciar uma busca global por alternativas, incluindo a Mongólia, nação do nordeste da Ásia que contém cerca de 17% dos depósitos globais de terras raras.

"A Mongólia está enfrentando uma oportunidade geracional. E essa oportunidade geracional é uma necessidade para encontrarmos minerais críticos e terras raras para atingir nossas metas de energia limpa", disse recentemente à mídia americana o subsecretário de Estado, Jose Fernandez, que viajou para a Mongólia no final de junho.

Mas não é tão simples quanto investir na produção de terras raras da Mongólia e extrair recursos, disse Pauken, apontando para o status do país sem litoral e os esforços dos EUA para irritar os vizinhos da Mongólia, Rússia e China.

"Obviamente, você não pode passar pela Rússia", disse ele, "porque a Rússia está sendo sancionada".

"Então eles teriam que passar pela China. E, obviamente, se a Europa e os EUA decidirem continuar pressionando a China, eles vão tornar mais difícil para os mineiros da Mongólia transportar seus produtos para os portos de embarque", concluiu Pauken.

 

Ø  China pede a bancos que reduzam ou adiem compra de dólares para aliviar pressão sobre yuan

 

A segunda maior economia do mundo teve uma recuperação melhor do que o esperado no primeiro trimestre depois de sua reabertura pós-COVID, mas perdeu força desde o trimestre de abril a junho.

Os reguladores cambiais da China pediram nas últimas semanas a alguns bancos comerciais para reduzir ou adiar suas compras de dólares, disseram duas pessoas familiarizadas com assunto ouvidas pela Reuters.

A instrução informal, ou a chamada janela de orientação, visa diminuir o ritmo da depreciação do yuan, disseram as fontes. Uma delas ainda afirmou que os reguladores foram enfáticos sobre o fato de que os bancos devem adiar as compras de dólares em suas contas de negociação proprietárias.

O Banco Popular da China (PBOC) não respondeu imediatamente ao pedido de comentários da Reuters, enquanto a Administração Estatal de Câmbio (SAFE) disse à agência britânica que as expectativas da taxa de câmbio estavam estáveis ​​e que pressionará por uma mentalidade de "neutro risco" em empresas e instituições financeiras.

O yuan chinês perdeu 3,6% em relação ao dólar americano até agora este ano, atingindo 7,16 por dólar nesta terça-feira (1º), sendo uma das moedas de pior desempenho da Ásia.

·         Medidas de enfretamento

Além de solicitar para a compra de dólares ser adiada, Pequim também tomará outras medidas para manter sua economia estabilizada.

De acordo o Banco Popular da China, o país reduzirá os custos de financiamento para as empresas, estabilizará as expectativas do mercado e apoiará o setor imobiliário nos próximos meses, disse o banco central nesta terça-feira (1º) em meio a uma recuperação econômica fraca.

As metas do banco ocorreram após uma reunião na qual funcionários do banco e da SAFE analisaram o segundo semestre do ano, segundo o Yahoo.

Apesar da perda de força, a moeda chinesa vem ganhando cada vez mais espaço nas trocas comerciais entre países pelo mundo. Na América do Sul, especialmente na Bolíva, Argentina e Brasil, o yuan vem obtendo grande protagonismo no câmbio comercial.

 

Ø  Paraguai diz que comércio com China 'não é conveniente' e pede investimentos a Taiwan

 

O país continua sendo a única nação sul-americana com relações diplomáticas formais com Taiwan, e de acordo com os planos do recém-empossado ministro da Economia, a tendência é intensificar a parceria econômica.

Em entrevista publicada pela Reuters nesta terça-feira (1º), o ministro da Economia paraguaio, Carlos Fernández Valdovinos, disse que Assunção "está buscando mais investimentos taiwaneses para diversificar sua economia agrícola focada na exportação de matérias-primas para a China".

"Somos muito bons na produção de soja e carne, mas devemos diversificar. Pedimos a Taiwan que nos ajude com isso, por meio de investimentos de seu setor privado", afirmou o ministro à agência britânica.

Ao mesmo tempo, Valdovinos apontou que agricultores paraguaios que apoiam a troca de laços com Pequim "não estão vendo os riscos" que a China representa.

Em sua visão, o gigante asiático como comprador de matérias-primas do Paraguai sem valor agregado, "provavelmente é conveniente para alguns setores, mas como estratégia para o desenvolvimento econômico e social do Paraguai, não nos convém continuar apostando única e exclusivamente nos principais setores exportadores", declarou.

Uma parte do setor de grandes frigoríficos também apoiam as metas do governo e dizem que podem conseguir preços melhores em outros lugares, à medida que cresce a demanda por cortes mais especializados e alimentos processados.

"A China baixou os preços dos cortes de carne bovina e vemos o efeito imediato disso além da fronteira, no Brasil e no Uruguai. […] Taiwan ainda é um mercado importante para nós, os preços lá são melhores do que na China", disse Jair Antonio de Lima, fundador e presidente do frigorífico paraguaio Concepción ouvido pela mídia.

O volume de vendas de carne bovina uruguaia no primeiro semestre deste ano para a China caiu 39,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O país sul-americano também espera concluir este ano um longo processo de certificação para exportar carne bovina aos Estados Unidos, o que também pode abrir caminho para outros mercados atraentes, como Japão e Coreia do Sul, disse o chefe da Economia paraguaia.

Em sua visita ao Brasil no último dia 29, o presidente Santiago Peña disse que Pequim é o maior comprador de soja do Paraguai e "o maior provedor de bens" para o país, porém, seus planos são priorizar as trocas com Taipé, as quais seriam melhores para agregar valor à sua economia, conforme noticiado.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: