quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Homem-bomba teve financiamento bolsonarista

O empresário bolsonarista George Washington de Oliveira, condenado por armar um atentado a bomba em um caminhão-tanque perto do aeroporto de Brasília, movimentou R$ 747 mil no ano passado, valor incompatível com seu patrimônio. As informações foram enviadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à CPMI do 8 de Janeiro no mês passado.

O relatório do Coaf identificou movimentações financeiras de Oliveira em três bancos. No primeiro, movimentou R$ 167 mil de março a dezembro; no segundo, R$ 365 mil de junho a dezembro; no último, R$ 215 mil de junho a dezembro.

Para um dos bancos, a renda mensal estimada do bolsonarista era R$ 1,1 mil. Outra instituição financeira declarou que presumiu que Oliveira tinha uma renda de R$ 4 mil por mês. Por isso, a intensa movimentação em suas contas chamou a atenção do órgão que combate lavagem de dinheiro.

“Não podemos desconsiderar que os valores de gastos em cartão de crédito não condizem com a capacidade financeira declarada”, afirmou o relatório, que também registrou “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e capacidade financeira” e “gastos atípicos”.

O empresário tentou explodir um caminhão de combustível em Brasília em 24 de dezembro do ano passado, a uma semana da posse de Lula. Em maio deste ano, Oliveira foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão pelo atentado. Até agora, ele prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, no Congresso Nacional, e na CPI do mesmo tema na Câmara Legislativa do DF.

Como a coluna mostrou, um relatório da Polícia Civil encaminhado aos parlamentares afirmou que George Washington acessou, pelo menos, 14 vídeos no YouTube que ensinavam a fazer explosivos. Os vídeos tinham títulos didáticos, a exemplo de “Como explodir uma bomba de dinamite” e “Como fazer um detonador”.

<><> Relator da CPI do MST defendeu golpe militar

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) decidiu acionar a Corregedoria da Câmara após o deputado Ricardo Salles (PL-SP) defender o golpe de 1964, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investiga a ação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

“O golpe de 1964 impôs uma ditadura que perseguiu, torturou e assassinou opositores. Ela, inclusive, fechou o Parlamento do qual Salles hoje é membro. A Câmara não é palco para apologia aos horrores da ditadura e o deputado deve responder por isso”, disse Sâmia à Coluna.

O PT também estuda uma reação a Salles, mas ainda não decidiu se vai representá-lo na Corregedoria ou no Conselho de Ética.

Ex-ministro do Meio Ambiente no governo Jair Bolsonaro, Salles, que é relator da CPI, afirmou ontem que o golpe militar foi uma “boa medida” e “parou o avanço do movimento comunista”. As falas geraram revolta em parlamentares da base do governo Lula, presentes à sessão do colegiado.

Salles defendeu o golpe de 1964 durante o depoimento do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O deputado perguntou se o militar considerava o golpe de 1964 uma revolução, como parte das Forças Armadas. G.Dias evitou responder e disse que o tema não era pertinente à CPI do MST.

Após os elogios de Salles ao golpe de 1964, Sâmia chamou o deputado de “covarde” e “golpista”. Os dois colecionam bate-bocas na CPI do MST. O bolsonarista já chegou a dizer que a deputada “explora a pobreza” para se eleger.

Como mostrou a Coluna, durante o recesso, Sâmia protocolou representações no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pedindo a cassação de e do deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS).

<><> Bolsonaristas querem derrubar Dino por não entregar imagens

Senadores e deputados da oposição vão apresentar notícia-crime contra Flávio Dino à Procuradoria-Geral da República nesta quarta-feira (2/8). No documento, os parlamentares argumentarão que o ministro da Justiça incorreu nos crimes de prevaricação, desobediência e abuso de autoridade ao negar, à CPMI do 8 de Janeiro, imagens internas da sede do ministério.

A oposição acredita que vídeos das câmeras de segurança do Ministério da Justiça e Segurança Pública teriam potencial de revelar suposta omissão de Dino no 8 de Janeiro. Após a recusa do ministro, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia, deu 48 horas para Dino conceder as imagens. Caso contrário, a comissão acionará o STF para obrigá-lo a fornecer o material.

Flávio Dino usou uma rede social para se manifestar sobre o assunto. Segundo ele, a oposição busca inventar fatos.

“Tentaram fraudar a eleição de 2022 para ficar no poder. Ainda assim, perderam. Tentaram dar um golpe de Estado. Perderam novamente. (…) Não adianta ficar inventando ‘fatos’ para encobrir tais verdades.”

A notícia-crime chegará às mãos do PGR Augusto Aras. Ele deverá distribuí-la a Lindôra Araújo, que concentra os processos criminais de políticos com foro privilegiado, ou a Carlos Frederico, que está à frente das investigações sobre o 8 de Janeiro.

 

       Bolsonaristas sabotaram 22 torres de energia

 

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou à CPI dos Atos Golpistas que registrou 54 casos de desligamento automático de linhas de transmissão decorrentes de ataques desde o início de 2020. Deste total, 22 foram reportados após a eleição de Lula – o equivalente a 40% dos eventos.

Segundo o ONS, os dados referem-se apenas às situações em que ocorreram “desligamentos de linhas de transmissão na Rede Básica de Operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), cuja motivação apresentada pelas empresas concessionárias de transmissão foi de ataques às instalações de transmissão”.

O principal alvo nesse período foi a Eletronorte, que contabilizou cinco casos entre 24 de dezembro e 8 de maio. Chesf e Norte Brasil tiveram três cada.

No documento encaminhado à CPI, o ONS expõe como modos de ataque a retirada de parafusos e peças, ações de vandalismo, atos de sabotagem e até choque intencional de máquina agrícola.

A entidade destacou ainda que eventual processo administrativo é instaurado junto à Aneel. Afirmou também que não é responsável pela apuração das informações alegadas pelos agentes proprietários dos ativos de transmissão.

 

       Invasores do Planalto produziram provas contra si

 

Quatro pessoas que invadiram o Congresso Nacional no dia 8 de janeiro acessaram a rede wi-fi da Câmara dos Deputados. Para conseguir a conexão da internet gratuita, eles precisam cadastrar o nome e o CPF no sistema. Com isso, acabaram produzindo prova contra eles mesmos.

As informações constam de um ofício sigiloso enviado pela Câmara dos Deputados à CPI do 8 de Janeiro, que retomou as atividades nesta terça-feira. A Polícia Legislativa abriu o procedimento n. 237581 para levantar “os logs de tentativa de conexão e conexões efetuadas à rede sem fio” no dia dos ataques e, assim, identificar os invasores.

Dois deles, uma mulher de Contagem (MG) e um homem de Teresina (PI), já foram detidos e estão hoje sob monitoramento de tornozeleira eletrônica. Os nomes das outras duas pessoas não constam na lista de presos suspeitos dos atos de 8 de janeiro divulgada pela Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal.

“É necessário que se faça um pré-cadastro informando sobretudo dados como CPF, nome e telefone. Analisando estes logs, verificou-se que efetivamente foram realizadas quatro conexões de pessoas não autorizadas a acessar a Casa no dia 8 de janeiro de 2023 com a rede sem fio”, diz o ofício da Câmara, ao qual O GLOBO teve acesso. As provas também foram compartilhadas com a Polícia Federal.

Além desses indícios, a PF está identificando os invasores por meio das imagens das câmeras de segurança e da análise de material genético deixado por eles. A perícia é feita em garrafas, bitucas de cigarro, pedaços de roupa que foram encontrados no Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal — e agora se transformaram em provas na mão dos investigadores.

 

       Ex-chefe da Abin será indiciado pela CPMI

 

O depoimento do ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha produziu um raro consenso entre parlamentares da oposição e da base aliada do governo Lula.

Os dois lados concordam que o fato de ele ter confirmado na CPI que adulterou um relatório de inteligência enviado ao Congresso, a mando do general Gonçalves Dias, tornou inevitável o indiciamento do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no relatório final da comissão.

Entre integrantes da CPI do 8 de Janeiro ouvidos pela equipe da coluna impera a leitura de que Gonçalves Dias foi abandonado pelo próprio governo Lula e “jogado às feras”, sem que ninguém se mostre disposto a fazer esforço para salvá-lo.

Ainda não há um veredicto sobre qual será a imputação ao ex-ministro de Lula, mas uma das possibilidades em avaliação nos bastidores é a de enquadrar Gonçalves Dias em um dos crimes previstos contra o Estado democrático de direito.

No depoimento à CPI nesta terça-feira (1), Cunha confirmou que, a mando de GDias, retirou de um relatório da Abin sobre o 8 de Janeiro os registros de que o general foi informado por mensagens enviadas para seu celular dos crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.

Tanto o campo governista quanto a oposição avaliam que o depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin tornou ainda mais “grave” a situação de Gonçalves Dias – que acabou demitido do governo Lula assim que vieram à tona imagens do circuito interno do Palácio do Planalto mostrando o general perambulando e interagindo normalmente com os extremistas na hora da invasão.

“As acusações do Saulo Cunha são gravíssimas e mostram que o general agiu de má-fé, dando uma ordem ilegal de remover informações do relatório. Houve sabotagens por todos os lados”, disse um integrante da comissão ouvido sob reserva.

Na reportagem publicada em maio, mostramos que a Abin enviou dois documentos diferentes sobre os mesmos alertas de risco para o 8 de janeiro à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).

O primeiro, entregue no dia 20 de janeiro e assinado por Moura da Cunha, não trazia os onze alertas que o ministro recebeu no próprio telefone celular entre 6 e 8 de janeiro sobre a movimentação dos golpistas.

Os alertas só apareceram na segunda versão do mesmo documento, enviada pela Abin à mesma comissão em 8 de maio passado – quando Gonçalves Dias já havia deixado a agência, que estava então sob o controle da Casa Civil e com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro dos Santos.

A primeira versão do documento foi enviada ao Congresso por requisição da própria CCAI,. Já a segunda foi entregue por ordem do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Durante o depoimento, Saulo Cunha deixou claro aos parlamentares que “obedeceu à ordem” de Gonçalves Dias ao manipular as informações do relatório, ainda que tenha refutado o termo “adulteração” para definir sua atuação no episódio:

– Fiz o primeiro (relatório) em uma planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os alertas encaminhados por mim pessoalmente, pelo meu telefone, para o ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens. Que ali fossem mantidas apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, e eu obedeci a ordem, afirmou.

Coube à senadora governista Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI, chamar as coisas pelo devido nome e demonstrando que não haverá boia de salvação para o ex-ministro de Lula:

– O senhor está dizendo que adulterou a pedido de GDias. Atendeu a uma ordem absurda dele, atendeu ao pedido de uma ilegalidade. Retirou um dado e não apresentou no relatório apresentado à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, a CCAI). Há uma responsabilidade compartilhada por ter atendido a uma ordem absurda. Que fique isso claro.

 

       Sargento do Exército cantou hino com golpistas

 

O inquérito policial militar aberto sobre a atuação das tropas do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro apontou “indícios de transgressão disciplinar” na conduta de um sargento que cantou o hino nacional com os invasores.

O terceiro sargento Júlio Cesar Fidelis Gomes foi gravado ao lado de vândalos no Salão Nobre do palácio quando parte do grupo já estava detido. Em determinado momento da gravação, o militar faz um sinal com as mãos sugerindo que os invasores entoassem o hino mais alto.

O sargento afirmou em depoimento que cantou o hino por ordem do comandante do pelotão, o segundo tenente Bill Clinton Barros Alves da Silva, junto “com todos os militares da fileira de escudos”.

O militar argumentou que os golpistas começaram a se “desesperar” quando a Polícia Militar do Distrito Federal lançou gás lacrimogêneo na rampa do palácio. Disse ainda que a ideia era ganhar a confiança do grupo para controlar a situação.

Ele afirmou que, com o hino, “os invasores começaram a se emocionar e a se acalmar”, e que “foi quando a PM-DF [Polícia Militar do Distrito Federal] iniciou as prisões”.

O inquérito concluiu que “não se acercam de indícios de crime, sobretudo em razão de tratar-se de conduta adotada com o intuito de controlar os invasores e ganhar a confiança dos mesmos”.

“Todavia, há indícios de possível cometimento de transgressão disciplinar, quanto ao militar se portar de maneira inconveniente ou sem compostura”, diz trecho do documento.

A conclusão consta no inquérito, aberto em 11 de janeiro para averiguar a atuação da tropa do Comando Militar do Planalto no dia 8 de janeiro. O Exército também abriu, em 31 de janeiro, um procedimento disciplinar específico sobre o caso.

O documento é resultado de uma investigação conduzida pelos próprios militares para avaliar se há indícios de crime militar e quais os possíveis responsáveis. A apuração foi feita pelo coronel Roberto Jullian da Silva Graça, hoje chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.

O relatório sigiloso, obtido pela Folha, apontou “indícios de responsabilidade” da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e livrou as tropas de culpa. O documento foi finalizado em 2 de março e recebeu uma complementação no dia 14 daquele mês.

A conclusão é colocada de forma genérica, sem mencionar o nome dos responsáveis. O chefe da secretaria em 8 de janeiro, general Carlos Feitosa Rodrigues, nem sequer foi ouvido durante a apuração.

O inquérito também poupou o Exército sobre o acampamento montado após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente ao quartel-general em Brasília —onde os vândalos que depredaram as sedes dos três Poderes ficaram por mais de dois meses.

O governo do Distrito Federal afirma ter tentado desmontar o acampamento no ano passado, mas foi barrado pelo Exército. Como mostrou a Folha, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) alertou inclusive sobre a presença de militares radicais no local em 27 de dezembro.

O depoimento do sargento que cantou o hino foi reforçado pelo relato do comandante do batalhão. O segundo-tenente Bill Clinton Silva disse que a ordem veio do major Paim, do Batalhão da Guarda Presidencial, “dentro da ‘ideia inicial’ de negociar com os manifestantes”.

“Perguntado se concordou com a ordem recebida pelo major Paim, respondeu que no calor da emoção não pensou se era certo ou errado, por não se tratar de ordem absurda, mas apenas cumpriu a ordem. A ordem estava dentro da ideia inicial de negociar com os manifestantes.”

Imagens do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto durante a invasão mostraram a passividade dos militares, além do baixo número de homens no local, além da falta de comando.

Procurado, o Exército afirmou que o inquérito foi enviado ao Ministério Público Militar “para que fossem tomadas as providências julgadas cabíveis”.

“Cabe salientar que o Exército Brasileiro não se pronuncia acerca de procedimentos investigativos ou judiciais conduzidos por outros órgãos. Esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”, disse em nota.

O documento também foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em fevereiro, ele decidiu que os militares envolvidos no dia 8 de janeiro serão processados e julgados pela própria Corte.

O ministro determinou ainda que a Polícia Federal abrisse um inquérito para investigar os militares das Forças Armadas e da Polícia Militar do Distrito Federal. A PF, portanto, pode chegar a conclusão diferente da apontada no inquérito militar.

Após a reportagem da Folha, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que “o negacionismo vestiu farda para encobrir suas próprias responsabilidades”.

 

Fonte: O Globo/Agencia Estado/Metrópoles/FolhaPress

 

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