As digitais de um criminoso mascarado em documento de militares
Está muito difícil blindar os militares contra a
acusação de golpismo. É uma tarefa à qual se propõem o ministro José Múcio
Monteiro Filho, da Defesa, e o general Tomás Paiva, comandante do Exército.
Tarefa ingrata, que a cada dia se torna mais ingrata.
O ministro bateu em muitas portas na última
quarta-feira à caça dos nomes dos militares que se reuniram no ano passado com
o hacker Walter Delgatti a mando de Jair Bolsonaro. Esteve na Polícia Federal,
Ministério da Justiça e CPMI do Golpe.
Não conseguiu o que queria. Na semana anterior, e
pela mesma razão, Monteiro Filho procurou o ministro Alexandre de Moraes,
presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Está nas mãos fechadas de Moraes o
inquérito que apura as agressões à democracia.
Moraes é amigo de Monteiro Filho, e mais ainda
amigo do general Tomás Paiva. Em São Paulo, por motivos de segurança, Moraes
faz ginástica numa academia militar. Ontem, Moraes participou em Brasília da
cerimônia que marcou o Dia do Soldado.
Monteiro Filho e Tomás Paiva saíram dos encontros
com Moraes de mãos vazias. De Moraes, do ministro Flávio Dino, da Justiça, e do
delegado Andrei Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, ouviram que
o processo corre em segredo de Justiça.
Daí porque os nomes dos militares suspeitos de
ações golpistas não podem ser fornecidos a ninguém. Por ora, estão sendo apenas
investigados. Alguns, mais tarde, poderão passar à condição de denunciados. E
os inocentes, por óbvio, não serão mencionados.
Compreensível. Mas isso não deveria impedir que
militares que se julgam inocentes, mas que foram citados publicamente em alguma
ocasião, sintam-se impelidos a proclamar sua inocência. Por que ouvirem calados
falsas acusações que mancham suas carreiras?
O general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa
no governo Bolsonaro, poderia responder a uma das perguntas que não quer calar:
é verdade que o hacker reuniu-se no ministério com técnicos militares para
discutir a vulnerabilidade das urnas eletrônicas?
Não foi uma nem duas vezes que Delgatti disse ter
ido ao ministério – foram cinco vezes. E que todas as vezes entrou no
ministério pela porta dos fundos, e de máscara. A novidade, agora, é que entrou
mascarado a pedido de militares. Será possível?
Bolsonaro já reconheceu que se reuniu com Delgatti
no Palácio da Alvorada, e que a seu pedido, o hacker reuniu-se com militares no
Ministério da Defesa. Delgatti era processado por vários crimes, e na semana
passada foi condenado a 20 anos de prisão.
O que o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro
da Defesa, tem a dizer a respeito? Delgatti diz que se encontrou com ele e com
servidores da área de tecnologia do ministério:
“Eles
[os servidores] iam ao Tribunal Superior Eleitoral e me repassavam o que viam,
porque não tinham acesso à internet, não podiam levar uma parte do código. Eles
acabavam decorando um pedaço do código e me repassando.”
O hacker orientava os servidores com acesso ao
tribunal, e suas orientações foram incluídas no relatório
do Ministério da Defesa que questionou a
confiabilidade das urnas. As digitais de um criminoso em documento oficial do
Ministério da Defesa!
Quem cala diante de uma coisa dessas, consente. Com
a palavra, portanto, o general Paulo Sérgio Nogueira. Não ocorre ao ministro da
Defesa e ao Comandante do Exército procurarem Nogueira para saber se Delgatti
diz a verdade ou mente?
Ø Delgatti usou máscara a
mando de militares para entrar em ministério
O hacker Walter Delgatti Neto entrou de máscara no
Ministério da Defesa, para que não fosse reconhecido. A ação se deu, segundo o
advogado do hacker Ariovaldo Moreira, a pedido de militares. As informações
foram publicadas pelo G1 e confirmadas pelo Metrópoles.
Segundo o hacker, nos encontros, discutia-se a
possibilidade de que Delgatti inspecionasse o código-fonte da urna eletrônica,
para verificar se era possível invadir o sistema.
À CPI do 8 de Janeiro, no Congresso Nacional, Delgatti afirmou que esteve no ministério cinco vezes em 2022. Nessas
oportunidades, ele se encontrou com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira e com
servidores da área da tecnologia.
“Eles [servidores do Ministério da Defesa] iam até
o TSE e me repassavam o que eles viam, porque eles não tinham acesso à
internet, eles não podiam levar uma parte do código. Eles acabavam decorando um
pedaço do código e me repassando. E, nisso, eu dei orientações”, afirmou à
comissão na última semana.
Essas orientações, segundo o hacker, foram
incluídas no relatório
do Ministério da Defesa que questiona a
confiabilidade das urnas. Esse documento foi entregue ao Tribunal Superior
Eleitoral.
“Eu apenas não digitei, mas fui eu quem o fez,
porque tudo que consta nele foi orientado por mim”, disse Delgatti na CPI.
·
Bolsonaro e Zambelli
Delgatti disse à comissão que teve conversas no
ministério em 2022. O depoente também afirmou que a orientação para que ele
fosse à Defesa partiu do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lá, diz,
tratou de um relatório elaborado pela pasta para lançar dúvidas sobre as urnas
eletrônicas.
O hacker teve contato com o ex-presidente por
intermédio da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
·
Hacker Delgatti diz que
Cid viu reunião entre ele e Bolsonaro
Na semana passada, Walter Delgatti, conhecido como
hacker do "Vaza Jato", prestou depoimento à Polícia Federal, trazendo à tona informações sobre um encontro entre ele e Jair Bolsonaro (PL-RJ).
Delgatti alegou que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, testemunhou um
encontro entre ele e o ex-presidente no Palácio do Alvorada em agosto de 2022.
De acordo com o depoimento de Delgatti, o encontro
entre ele e Bolsonaro teria sido realizado para discutir a possibilidade de
invasão das urnas eletrônicas. O hacker afirmou que foi Carla Zambelli (PL-SP),
deputada federal, quem o levou ao Palácio do Alvorada para se reunir com o
capitão da reserva.
Delgatti relatou que Mauro Cid já estava presente
ao lado de Bolsonaro quando ele chegou acompanhado por Zambelli. O
ex-presidente estava no momento do encontro durante o café da manhã.
Durante a conversa, Cid teria ouvido detalhes sobre
a suposta invasão das urnas eletrônicas e o hacker mencionou que, após o
encontro, seguiu para o Ministério da Defesa.
O depoimento também revelou que Delgatti realizou
cinco visitas ao Ministério da Defesa com o objetivo de desacreditar as urnas
eletrônicas e o sistema eleitoral.
Ø PF interroga Cid sobre elo do militar com plano de hacker Delgatti
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, depõe na Polícia Federal (PF), em
Brasília, nesta sexta-feira (25/8), em inquérito que apura as ações do hacker
Walter Delgatti Neto contra o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A PF quer saber se Mauro Cid participou ou tem informações
do encontro e conversas entre a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos contatos, teria sido discutido um plano
para invadir o sistema do CNJ e também para contestar a efetividade do sistema
eleitoral brasileiro.
O militar está preso, suspeito de envolvimento em
um esquema de fraude nos cartões de vacinação de familiares e do ex-presidente
Jair Bolsonaro.
Walter Delgatti, conhecido como “hacker da Vaza
Jato”, está preso desde o dia 2 de agosto por invasão a sistemas do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
Cid também é investigado pela PF no caso das joias
recebidas por Bolsonaro e, supostamente, vendidas de forma ilegal para
enriquecimento do próprio ex-presidente.
Até hoje, no entanto, não se sabia do elo entre o
ex-ajudante de ordens e o suposto plano de golpe ligado a Delgatti.
Ø O que começou a contar o celular do tenente-coronel Mauro Cid
Sabe por que demorou mais de 6 horas, ontem, o novo
depoimento prestado à Polícia Federal pelo tenente-coronel Mauro Cid,
ex-ajudante de ordem do ex-presidente Bolsonaro?
Porque no celular apreendido de Cid foram achados
indícios de que militares da ativa financiaram atos antidemocráticos e uma
tentativa de um golpe após as eleições do ano passado.
Foi também por isso que o ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu Cid de se comunicar com
Bolsonaro e a ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro.
Na análise parcial dos dados armazenados no celular
de Cid, descobriu-se mensagens em que militares da ativa incentivaram a
continuidade das manifestações antidemocráticas.
Segundo relatório da Polícia Federal entregue a
Moraes, Cid “compilou estudos que tratam da atuação das Forças Armadas para
Garantia dos Poderes Constitucionais e GLO”.
Há fortes indícios de que houve desvio de bens de
alto valor patrimonial ofertados por autoridades estrangeiras a Bolsonaro ou a
agentes públicos a serviço dele.
Ø Aliados pedem Pix para
Michelle por medo de bloqueio a Bolsonaro
Aliados e apoiadores da ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro iniciaram
nesta sexta-feira (25) uma campanha de arrecadação de recursos através do
sistema Pix, plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central. A
iniciativa foi lançada nas redes sociais, com o objetivo de reunir fundos para
a esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).
A campanha ganhou destaque após especulações de que
os R$ 17 milhões recebidos via Pix por Bolsonaro poderiam ser bloqueados.
Deputados federais próximos a Michelle, como Amalia Barros e Mário Frias,
demonstraram preocupação quanto ao possível bloqueio desses recursos e pediram
doações para a ex-primeira-dama.
Além dos deputados, assessores diretos de Michelle
também estão engajados na divulgação da campanha, compartilhando os detalhes do
Pix da presidente do PL Mulher em redes sociais e através de mensagens no
aplicativo de mensagens WhatsApp.
É importante ressaltar que as investigações em
andamento não têm como foco bloquear os recursos doados a Jair Bolsonaro. O
presidente está atualmente fazendo um tratamento de saúde.
A família Bolsonaro está mobilizando esforços para
arrecadar mais dinheiro, contando com o apoio de seus aliados e simpatizantes.
Opositores de esquerda criticam a mobilização e
acusam o ex-presidente de “explorar” seus apoiadores, alegando que Bolsonaro e
sua família possuem altos salários e conseguem se manter sem as doações.
Ø Mesmo com investigações sobre a ladroagem, Bolsonaro mantém
popularidade
O ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) está conseguindo manter seu capital
político mesmo com as investigações do caso das
joias, de que é alvo. Pesquisa AtlasIntel feita para
a CNN Brasil e divulgada neste sábado (26.ago.2023) indica que 40% dos
eleitores votariam no ex-chefe do executivo se a eleição fosse agora. Ainda
assim, Bolsonaro está atrás do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
O levantamento foi feito de 23 a 24 de agosto com
1.232 respondentes. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou
para menos. O nível de confiança é de 95%.
O instituto perguntou em quem o entrevistado
votaria se a eleição presidencial fosse no domingo (27.ago) e tivesse Lula e
Bolsonaro entre os candidatos. Eis as respostas:
- Lula – 48,1%;
- Bolsonaro – 40%;
- Simone Tebet (MDB)
– 2,1%;
- Ciro Gomes (PDT)
– 1,7%.
Em um eventual 2º turno entre Lula e Bolsonaro, o
cenário é o seguinte:
- Votariam em Lula 51,2% dos entrevistados;
- Votariam em Bolsonaro 41,5% dos entrevistados.
Segundo a pesquisa, 46,2% dos entrevistados
disseram que o apoio de Lula e de Bolsonaro é relevante para definir em quem
votaria. O percentual é maior entre os eleitores do ex-presidente: 50,2%
declararam ser muito importante. Entre os que votaram no atual chefe do
Executivo em 2022, 44,3% responderam ser muito importante o apoio de Lula.
O instituto avaliou a imagem dos políticos entre os
eleitores nacionalmente. Lula tem uma imagem positiva para 52% dos
entrevistados. É seguido de: Tarcísio
de Freitas (46%), Simone Tebet (44%), Bolsonaro
(43%), Fernando
Haddad (43%), Marina
Silva (39%) e Flávio
Dino (37%).
CASO DAS JOIAS
A Justiça investiga a suposta venda ilegal de
presentes de delegações estrangeiras ao governo Bolsonaro.
A PF (Polícia Federal) deflagrou em 11 de agosto a operação Lucas 12:2. Foram
alvos de buscas autorizadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Alexandre de Moraes:
- Mauro Cid – ex-ajudante de
ordens de Bolsonaro;
- Mauro Cesar Lourena Cid –
general da reserva e pai de Cid;
- Osmar Crivelatti –
braço direito de Cid;
- Frederick Wassef –
ex-advogado da família Bolsonaro.
Os agentes investigam se houve tentativa de vender
presentes entregues a Bolsonaro por delegações estrangeiras. Segundo a PF,
relógios, joias e esculturas foram negociados nos Estados Unidos –veja aqui as fotos dos itens e leia neste link a íntegra do relatório da PF. O suposto
esquema seria comandado por Cid e Crivelatti.
Na 5ª feira (24.ago), a defesa de Bolsonaro
entregou os extratos bancários do ex-presidente ao STF (Supremo Tribunal Federal),
atendendo a pedido do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a quebra de sigilo bancário do
ex-chefe do Executivo e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O objetivo da quebra, segundo a PF, é identificar
se Bolsonaro foi beneficiado com o dinheiro da venda, por integrantes de seu
governo, dos presentes.
Segundo os advogados, a apresentação dos dados
bancários foi feita de forma espontânea, “afastando a necessidade de se
movimentar a máquina pública para apurar os dados bancários em questão”.
Fonte: Metrópoles/iG/Poder 360
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