quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Aliança militar Argentina-Brasil precisa de novo rumo em tempos de crise geopolítica

As dificuldades de Argentina e Brasil para fechar a venda de 156 blindados brasileiros colocam pedras no caminho de uma associação estratégica que, para especialistas ouvidos pela Sputnik, pode ser crucial para a região e um "projeto geopolítico continentalista".

Apesar da incerteza que parece envolver a venda do Brasil de 156 blindados Guarani para o Exército argentino, fortalecer a cooperação militar com o gigante sul-americano pode ser muito benéfico para a Argentina, segundo dois analistas de defesa ouvidos pela Sputnik.

A compra dos blindados de combate de seis rodas Guarani, fabricados pela empresa Iveco no Brasil, havia sido acertada em janeiro de 2023, quando os presidentes Alberto Fernández e Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram em Buenos Aires. O acordo previa a compra de 156 unidades divididas em 120 viaturas de transporte de pessoal com torre de metralhadora, 27 viaturas de combate de infantaria com torre de canhão e nove viaturas de posto de comando.

No entanto, a operação pareceu se complicar no final de julho, quando a mídia brasileira indicou que o Ministério da Fazenda brasileiro teria intercedido para, pelo menos, atrasar a venda. Uma matéria do jornal Estadão afirma que foi o próprio ministro Fernando Haddad quem convenceu Lula dos riscos de a Argentina não conseguir pagar a operação milionária, que custaria R$ 10 milhões por cada veículo.

Apesar de o cancelamento da operação não ter sido confirmado nem desmentido pela mídia oficial, a reportagem despertou na Argentina a preocupação com a possibilidade de as dificuldades financeiras que o país atravessa prejudicarem uma parceria com o Brasil em questões de defesa que poderia ser favorável.

"A Argentina e o Brasil devem se aprofundar e ter maiores iniciativas para serem parceiros estratégicos em matéria de defesa, algo que tem variado ao longo do tempo e de acordo com as sintonias dos diferentes governos", disse o político e analista de defesa, Daniel Blinder, à Sputnik.

O especialista lembrou que Lula já havia promovido uma aproximação em matéria de defesa durante seus primeiros governos (2003-2010), quando coincidiu com o homólogo argentino Néstor Kirchner (2003-2007).

Blinder também destacou que, embora o Brasil não tenha o mesmo peso no mercado de armas que tem em outras áreas, o país teve "uma evolução interessante nas últimas décadas" que o levou, por exemplo, a se tornar um fabricante mundial de armas de classe como os caças F-39 Gripen.

O analista geopolítico e diretor do Dossier Geopolítico, Carlos Pereyra Mele, disse à Sputnik que a colaboração militar entre Argentina e Brasil "é muito importante do ponto de vista de um projeto geopolítico continental" que permite à América do Sul "tornar-se um novo esquema continental" em um mundo em que são os conglomerados continentais que fazem valer o seu peso.

Pereyra Mele observou que para a Argentina "seria muito mais útil" ter "países vizinhos com interesses geopolíticos bastante semelhantes" como fornecedores de suprimentos militares, como o Brasil.

O analista contextualizou o interesse argentino em adquirir os blindados Guarani em um processo de "reequipamento e reestruturação de sua indústria militar" após um desmonte durante a década de 1990 marcado por privatizações e uma menor importância da questão militar na sociedade argentina por conta da Guerra das Malvinas de 1982. Para Pereyra Mele, é preciso que a Argentina recupere o potencial de suas Forças Armadas porque "é o oitavo maior país do mundo e não pode ter o privilégio de ser desmantelado na área de defesa e segurança".

Esse conflito pelas Malvinas é o que continua gerando problemas para o abastecimento militar argentino, já que o Reino Unido reivindica o direito de vetar a venda à Argentina de qualquer equipamento militar que inclua componentes britânicos. Essa particularidade complicou, por exemplo, as chances da Argentina de colocar novos aviões de combate no mercado.

"Sempre temos a espada de Dâmocles sobre nós para impedir que reequipemos nossas Forças Armadas", lamentou Pereyra Mele, lembrando que os blindados Guarani não só não tinham componentes britânicos como também incluíam peças fabricadas na Argentina.

Mas às restrições que a Argentina já tem começam a se somar os problemas financeiros do país. Para Blinder, fica claro que a situação financeira argentina "afeta profundamente as possibilidades de aquisição de meios ou de modernização".

Pereyra Mele destacou que a crise argentina "é financeira e não econômica" e está relacionada com a dívida milionária que a Argentina contraiu com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Por isso, qualificou de "terrorismo midiático" a ideia de que vender material militar para a Argentina é arriscado por suas dificuldades de pagamento, já que o país é capaz de "reestabelecer fortemente sua produção em dez anos".

Embora a transação para os Guarani pareça atrasada, os blindados participaram da Operação Arandu, uma operação militar conjunta entre os Exércitos argentino e brasileiro que ocorre anualmente desde 2020.

Em 2023, o exercício — que ocorre entre os dias 30 de julho e 4 de agosto — incluiu 300 soldados brasileiros e 322 argentinos que foram destacados para o Campo de Instrução General Ávalos na cidade de Monte Caseros, na província argentina de Corrientes, no nordeste do país.

O exercício inclui atividades no terreno que serão executadas de forma conjunta entre ambas as forças, como lançamentos e ataques de tropa paraquedista, deslocamento de blindados, ataque aeromóvel e outras mobilizações de tropa. A operação vai contar ainda com o emprego de aeronaves e veículos blindados de ambos os países.

<><><> Maduro anuncia envio oficial de proposta para ingresso da Venezuela no BRICS

Ao comunicar sobre envio, líder venezuelano falou sobre o papel do BRICS na construção de "um mundo novo" e chamou o grupo de "força dinamizadora do surgimento de um mundo multipolar".

Nicolás Maduro anunciou nesta terça-feira (1º) durante o programa Con Maduro+, transmitido pela TV estatal e compartilhado nas redes sociais, que encaminhou uma proposta oficial para o ingresso do país sul-americano no bloco.

De acordo com o jornal Valor Econômico, o presidente disse esperar uma resposta positiva e se referiu ao BRICS como "o motor da emergência do mundo multipolar".

"Esperamos que seja valorizado positivamente por China, Brasil, Índia, África do Sul e Rússia. Esperamos uma resposta positiva para que a Venezuela entre, mais cedo ou mais tarde, na dinâmica do BRICS para aprender, apoiar e ajudar", afirmou.

Em maio, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ser favorável à participação da Venezuela no grupo, mas ressaltou que a decisão precisa ser tomada por todos os países.

O BRICS tem recebido grande quantidade de pedidos de adesão e já conta com mais de 25 países "na fila" para entrar no bloco. China e Rússia são os membros mais ativos na verbalização da expansão, tendo Moscou já declarado que o ingresso de Caracas no bloco seria próspero e demonstra "o crescente prestígio da organização".

Na retaguarda, Índia e Brasil são mais cautelosos quanto a ampliação do organismo e querem usar a cúpula na África do Sul para discutir possíveis países observadores adicionais, e não necessariamente a admissão de novos países-membros, como propõem principalmente a China.

A próxima cúpula do BRICS está marcada para acontecer entre 22 e 24 de agosto, na África do Sul. O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que participará por videochamada, uma vez que sua estada na Rússia se torna mais importante neste momento, conforme noticiado.

 

Ø  Assistência militar dos EUA a Taiwan é interferência nos assuntos internos da China, adverte Pequim

 

O porta-voz do Ministério da Defesa da China Tan Kefei qualificou durante um informe à imprensa nesta terça-feira (1º) a ajuda militar de Washington a Taiwan como uma interferência grosseira nos assuntos internos da China.

Anteriormente, o presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou o fornecimento de ajuda militar a Taiwan no valor de US$ 345 milhões (R$ 1,6 bilhão).

"Ao prestar assistência militar a Taiwan, os EUA estão a interferir grosseiramente nos assuntos internos da China, minando seriamente a sua soberania e os seus interesses de segurança, pondo em perigo a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan. Nos opomos firmemente a isso e já apresentamos aos EUA uma manifestação séria", disse Tan Kefei.

Ele observou que a questão de Taiwan afeta os interesses fundamentais da China e representa uma linha vermelha nas relações sino-americanas que não pode ser cruzada.

"Apelamos aos EUA para que cessem todas as formas de interação militar com Taiwan, bem como de avançarem cada vez mais por um caminho perigoso e errado", ressaltou o porta-voz, acrescentando que o Exército da China monitora de perto a situação em Taiwan e mantém um elevado grau de prontidão de combate.

Anteriormente informou-se que, apesar do Japão estar reforçando suas capacidades militares sob o novo Programa de Desenvolvimento de Defesa, o país parece não ter vontade de se envolver em um confronto direto com a China por Taiwan, indicam vários think tanks e mídias ocidentais.

 

Ø  Ministério para Situações de Emergência da Rússia planeja monitorar o todo o Ártico russo do espaço

 

O Ministério para Situações de Emergência da Rússia disse nesta terça-feira (1º) que planeja começar a monitorar toda a costa ártica russa a partir do espaço assim que o data center na cidade de Anadyr, no distrito autônomo de Chukotka, começar a operar em 2024.

"No próximo ano, o novo centro será inaugurado em Anadyr. Assim, todo o Ártico russo será monitorado do espaço. O Ministério para Situações de Emergência da Rússia poderá monitorar todos os riscos potenciais em seu território em tempo real", disse o ministério em sua conta no Telegram.

Dois centros de dados espaciais já estão em operação no Ártico russo, na cidade de Murmansk, desde 2015, e na cidade de Dudinka, desde 2018, segundo o comunicado.

Usinas nucleares, bases de quebra-gelos nucleares e navios da Marinha, elementos importantes de comunicações estão localizados na zona ártica da Rússia, qualquer um deles pode se tornar uma fonte de emergências provocadas pelo homem. Em média, mais de 100 emergências naturais e causadas pelo homem ocorrem anualmente lá.

Agora, de acordo com as estatísticas, o Ártico produz 11% da renda nacional da Rússia e 22% das exportações russas, enquanto apenas 1% da população do país vive lá. Sua importância pode aumentar, pois a Rota do Mar do Norte pode se tornar uma das mais importantes rotas de transporte internacional no futuro.

<><><> Os sistemas de guerra eletrônica russos poderiam silenciar o Starlink ucraniano?

Os militares ucranianos teriam enfrentado problemas com o muito elogiado sistema de comunicação Starlink. O que pode estar por trás do problema?

Surgiram relatos sugerindo que o Starlink parou de operar em algumas partes da zona de conflito da Ucrânia. De acordo com a imprensa ocidental, o proprietário da SpaceX, Elon Musk, restringiu repetidamente seu acesso à Internet Starlink em alguns casos para os militares ucranianos, eventualmente saindo pela culatra a estratégia do campo de batalha de Kiev. No entanto, o bilionário não comentou as reportagens até o momento.

Há ainda outra explicação possível para as dificuldades que assombram os militares ucranianos.

"Com base na análise da conversa [interceptada] por militantes ucranianos na linha de contato, eles tiveram dificuldades em usar a Internet via satélites Starlink [na direção tática de Lugansk]", disse o tenente-coronel reformado das Forças Armadas da República Popular de Lugansk (RPL) Andrei Marochko à Sputnik no dia 31 de julho. "Muitos atribuem isso à Rússia usando equipamentos de guerra eletrônica para bloquear as comunicações fornecidas pela SpaceX."

O Ministério da Defesa da Rússia ainda não fez comentários sobre o assunto.

·         O que é o sistema Starlink?

A Starlink é operada pela empresa aeroespacial norte-americana SpaceX, de propriedade de Elon Musk. Enquanto a maioria dos serviços de Internet via satélite é fornecida por satélites únicos que orbitam o planeta a uma altitude de 35.786 quilômetros, o Starlink é na verdade uma constelação de milhares de espaçonaves que orbitam o planeta muito mais perto de sua superfície — a cerca de 550 quilômetros, visando "cobrir o globo inteiro", de acordo com o fabricante.

A SpaceX fornece serviços de Internet via satélite para a Ucrânia desde o início da operação militar especial da Rússia. Em 11 de maio de 2022, Elon Musk afirmou no Twitter que "o Starlink resistiu às tentativas russas de interferência e invasão da guerra cibernética até agora, mas eles estão intensificando seus esforços".

No dia 18 de abril de 2023, o The Washington Post informou que havia obtido um documento de inteligência secreto — parte dos chamados vazamentos do Pentágono — dizendo que Moscou havia tentado por meses seus "sistemas de guerra eletrônica Tobol" para interromper as transmissões do Starlink na Ucrânia. O documento em questão, datado de março, não trazia maiores detalhes sobre os supostos exames.

No início do mês de julho, uma fonte familiarizada com a situação disse à Sputnik que a Rússia havia desenvolvido um novo sistema de guerra eletrônica capaz de interromper as comunicações de espaçonaves em órbita geoestacionária. A fonte especificou que "esta [órbita geoestacionária] está a aproximadamente 36.000 quilômetros acima do nível do mar". Eles não forneceram detalhes sobre o novo sistema de guerra eletrônica russo, apenas dizendo que "o poder de seus emissores a curto alcance permite não apenas suprimir, mas também desativar permanentemente a eletrônica inimiga".

·         A Rússia é capaz de interferir no Starlink?

O Exército russo está equipado com uma variedade de sistemas de guerra eletrônica sofisticados, além do Tobol. Entre eles estão Krasukha, Moskva, Infauna, Leer e Triada. Alguns deles são usados na operação militar especial da Rússia na Ucrânia.

"Deve-se ter em mente que qualquer comunicação por satélite só pode ser bloqueada em uma pequena área local", disse o analista militar e fundador do portal russo Military, Dmitry Kornev, à Sputnik. "Um complexo suficientemente poderoso pode cobrir uma área de talvez centenas de quilômetros quadrados."

Ao mesmo tempo, não se pode bloquear completamente as comunicações na área escolhida. Os sistemas só poderiam ser usados para interferir nas comunicações de um adversário, explicou o especialista militar. Existem vários tipos de complexos de guerra eletrônica da Rússia capazes de realizar essas tarefas, mas não há informações oficiais a esse respeito até agora, observou Kornev.

"Ninguém lhe dirá especificamente [sobre o bloqueio do Starlink], porque este equipamento de guerra eletrônica é ultrassecreto", disse o analista do departamento de análise militar e política e tenente-coronel da reserva Pavel Kalmykov, à Sputnik. "Em geral, tudo relacionado a eles é sigiloso. Ninguém conhece as características exatas desses sistemas."

Ainda assim, Kalmykov deu a entender que, a julgar por algumas informações que obteve anteriormente, a suposição de que Starlink foi suprimido em Donbass pode ser real.

O analista militar e coronel reformado do Exército russo, Viktor Litovkin, assumiu que a Rússia poderia "desligar" apenas uma parte do sistema de rede de satélites da Starlink.

"Não acho que tenhamos sistemas de guerra eletrônica tão poderosos que possam desativar todos os 4.000 satélites de Elon Musk", disse Litovkin à Sputnik. "Nós realmente precisamos fazer isso? Portanto, tudo depende da situação específica e a decisão é tomada pelo comando [russo]."

·         E se a Rússia desligar o Starlink?

A possível interrupção do trabalho da Starlink levaria a sérios problemas para as Forças Armadas ucranianas, de acordo com Kornev.

"De acordo com analistas ocidentais, as operações militares modernas dependem fortemente de comunicações. Ou seja, se uma pessoa, sentada em algum lugar em um tanque, ou em uma trincheira, tem informações sobre o que está acontecendo ao seu redor [no campo de batalha] [...] já completou 50% de sua missão de combate", explicou o analista.

"Ele não precisa mais olhar se há um tanque atrás desta colina ou se alguém o ameaça e a quem ele pode atacar. Então, todo o conceito ocidental é baseado na presunção de que todos têm terminais de satélite, terminais de informações em todos os veículos de combate, todos os tanques e todas as trincheiras. E a Starlink oferece essa oportunidade", continuou Kornev.

Além disso, os módulos Starlink dão aos militares ucranianos a oportunidade de transformar os veículos não tripulados mais primitivos em "drones inteligentes", de acordo com o especialista. Assim, foi assegurado o controle de drones marítimos e aéreos que poderiam atacar objetos russos — inclusive civis. No entanto, há um ano, Elon Musk se opôs à decisão de Kiev de usar o Starlink para ataques ao território russo, exigindo que o equipamento fosse usado apenas para fins "defensivos", acrescentou Kornev.

Se a Rússia obtiver uma oportunidade de interferir especificamente no Starlink, isso significaria nada menos que uma "catástrofe de informações" para as Forças Armadas ucranianas, de acordo com o especialista. As unidades do Exército ucraniano não seriam capazes de se comunicar umas com as outras, enquanto a capacidade de ataque de drones também seria substancialmente prejudicada, observou ele. Como resultado, a Ucrânia teria que mudar fundamentalmente de tática e equipamento e perderia tempo e agilidade preciosos, de acordo com Kornev.

Atualmente, o pessoal militar ucraniano depende fortemente do Starlink, e a Rússia deve aproveitar todas as oportunidades para jogar areia nas engrenagens de seu sistema de comunicação, observou o especialista, enfatizando que isso aumentaria significativamente as capacidades da Rússia e reduziria as capacidades das Forças Armadas da Ucrânia.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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