O 'pó mágico' que
pode ajudar a combater as mudanças climáticas
Em
uma pedreira cercada pelo barulho de maquinário pesado, Jim Mann se agacha e
pega um punhado de minúsculas pedras pretas.
"Este
é o meu pó mágico", diz ele com um sorriso, esfregando-as suavemente entre
os dedos.
Ele
está segurando pedaços de basalto — uma rocha vulcânica dura que não é nem rara,
tampouco particularmente notável.
Mas,
por meio de um processo conhecido como "intemperismo acelerado",
poderia ajudar a resfriar nosso planeta superaquecido.
Os
cientistas da ONU agora já têm clareza de que apenas a redução das emissões de
gases de efeito estufa não será suficiente para interromper os níveis perigosos
de aquecimento. Eles dizem que será necessária alguma remoção de dióxido de
carbono — ou seja, retirá-lo ativamente da atmosfera.
Plantar
árvores é a forma mais natural de fazer isso, mas tem suas limitações: o CO2
capturado é liberado quando a madeira apodrece ou queima — e há limites para a
extensão do plantio de árvores.
A
tecnologia de Captura Direta de Ar (DAC, na sigla em inglês), enquanto isso,
suga mecanicamente o CO2 da atmosfera e o armazena no subsolo; é permanente —
mas será que faz sentido investir em um processo com uso tão intensivo de
energia quando estamos tentando nos livrar dos combustíveis fósseis?
O
intemperismo de rochas acelerado está em algum lugar entre o natural e o
artificial. Ele pega o processo de intemperismo natural, mas bastante gradual,
e o turbina para remover o carbono mais rápido.
Eu
fui até uma pedreira do outro lado do estuário Firth of Forth, de Edimburgo, na
Escócia, para conversar com Jim Mann, cuja empresa de intemperismo acelerado,
chamada UNDO, acaba de garantir £ 12 milhões (aproximadamente R$ 73 milhões) em
novos investimentos e pretende ampliar suas operações.
Ao
nosso redor, a encosta preta está sendo constantemente corroída, raspada por
enormes escavadeiras para fazer concreto e asfalto para as estradas. A vibe é
mais pós-apocalipse nuclear do que salvar o planeta.
Mas
os pequenos pedaços de basalto que sobram são valorizados pela empresa de Jim.
Eles têm uma propriedade útil — quando sujeitos à ação do intemperismo pela
chuva, removem o dióxido de carbono da atmosfera.
Por
milênios, rochas vulcânicas e falésias removeram lentamente o carbono enquanto
sofriam a ação do intemperismo pela chuva. O intemperismo acelerado usa pedaços
minúsculos para aumentar a quantidade de contato entre a chuva e a rocha — e,
assim, a quantidade de intemperismo e remoção de carbono.
Seja
em uma falésia, ou amontoado numa pedreira, o basalto sofre muito lentamente a
ação do intemperismo. Para maximizar a remoção de carbono, ele precisa ser
espalhado por uma área maior.
E
é aí que entram os agricultores locais, que ajudam o planeta enquanto recebem
fertilizantes gratuitos em troca. Além de reter o carbono, o basalto demonstrou
em testes melhorar o rendimento das colheitas e a qualidade do pasto.
A
meia hora de carro da pedreira, vejo o basalto sendo espalhado em um campo.
Isso
não requer equipamento especializado. Uma caçamba sobre rodas é carregada com
20 toneladas de basalto e, na sequência, é rebocada para cima e para baixo por
um trator — uma roda giratória na parte de trás dela vai espalhando as pequenas
pedras.
"É
gratuito, o que é muito importante para um agricultor", diz John Logan com
uma risada, enquanto o basalto é colocado em seu campo. Ele tinha visto os
testes da UNDO em uma fazenda vizinha.
"Parece
que vai melhorar a grama, então isso só pode ser bom para o gado, porque eles
vão comer uma grama melhor."
Alguns
especialistas receiam que técnicas de remoção de carbono como essa possam
distrair as pessoas da prioridade mais urgente de reduzir as emissões —e até
mesmo serem usadas como justificativa para continuar vivendo nossas vidas
intensivas em carbono.
"A
redução de CO2 precisa vir em primeiro lugar", afirma Jim, enquanto o
trator guiado por GPS sobe e desce pelo campo.
"Mas
também precisamos desenvolver essas tecnologias que podem fazer a remoção em
escala. E a coisa boa sobre o que estamos fazendo com o intemperismo de rochas
acelerado é que é permanente."
A
matemática, deve-se dizer, é assustadora. Os cientistas da UNDO calculam que
são necessárias quatro toneladas de rochas basálticas para capturar uma
tonelada de CO2.
Com
as emissões médias de CO2 de um britânico estimadas em cerca de 7 toneladas por
ano, isso significa que cada um de nós precisa de aproximadamente trinta
toneladas — ou uma caçamba e meia de basalto a ser espalhada anualmente apenas
para alcançar um ponto de equilíbrio.
A
UNDO tem planos de expandir rapidamente sua operação nos próximos anos e atraiu
apoiadores de peso. A Microsoft concordou em pagar por 25.000 toneladas de
basalto a serem espalhadas em campos do Reino Unido. Como parte do acordo, a
Microsoft também vai ajudar a auditar o projeto e verificar se está funcionando
conforme o esperado.
"A
química essencial disso faz sentido", afirma Steve Smith, especialista em
remoção de carbono da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"Medir
quanto CO2 seria retirado e para onde isso vai, é um dos principais desafios, e
não há nenhum sistema padronizado no momento."
Em
última análise, Smith acha que a ideia pode acabar sendo apenas uma etapa
padrão da maneira como a terra é cultivada.
"É
algo que pode ser incluído na forma como usamos a terra no momento e oferece um
benefício de remoção de carbono junto a outros benefícios em termos da forma
como usamos a terra para alimentos e colheitas", diz ele.
Ainda
há muitas perguntas sobre o quão escalonável é. Os projetos da UNDO usam
subprodutos da pedreira local — mas se isso for ampliado consideravelmente, a
energia e as emissões necessárias para triturar e depois transportar e espalhar
o basalto, vão precisar ser levadas em consideração.
"Neste
momento, não há desvantagem, é uma vitória para todos os envolvidos."
avalia Jim Mann.
Neste
ano, a UNDO planeja espalhar 185.000 toneladas de basalto — e espera até 2025
ter removido um milhão de toneladas de CO2. Ainda é uma gota no meio do oceano
em comparação com as emissões. Em 2022, acredita-se que o mundo liberou cerca
de 37 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
Fonte:
BBC News Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário