quinta-feira, 12 de setembro de 2024

5 momentos-chave do debate entre Kamala e Trump

Donald Trump e Kamala Harris se enfrentaram ferozmente na noite de terça-feira (10/9) em seu primeiro debate antes da eleição presidencial de novembro.

O duelo de 90 minutos, organizado pela rede americana ABC News, na Filadélfia, foi marcado por uma saraivada de ataques pessoais, enquanto eles discutiam sobre abortoimigração e política externa.

A seguir, confira cinco momentos-chave do debate:

·        1. 'Prazer em vê-la'

Ao saírem dos bastidores, Kamala Harris atravessou o palco em direção a Trump, enquanto ele se aproximava do púlpito.

"Kamala Harris", ela disse, oferecendo um aperto de mão, já que os dois estavam se encontrando pela primeira vez. "Vamos ter um bom debate."

"Prazer em vê-la. Divirta-se", respondeu o ex-presidente republicano.

Foi o primeiro aperto de mão em um debate presidencial em oito anos

Harris, vice-presidente dos EUA, passou a maior parte do debate olhando diretamente para seu oponente, muitas vezes com um sorriso astuto, rindo alto ou balançando a cabeça incrédula, enquanto ele respondia às perguntas.

A tela dividida mostrou Trump olhando principalmente para a frente enquanto ela falava, balançando a cabeça de vez em quando.

·        2. 'Estou falando agora'

Harris, que é democrata, partiu para a ofensiva desde o início, provocando o adversário republicano e atacando-o por suas condenações criminais e a forma como lidou com a pandemia de covid-19.

Ele desviou o assunto repetidamente para inflação e imigração, vulnerabilidades políticas de Harris, argumentando que o governo Biden-Harris havia "destruído" o país — e a rotulou de "marxista".

Harris zombou do tamanho da plateia em seus comícios. "As pessoas começam a sair dos comícios dele mais cedo por exaustão e tédio", ela disse.

Trump rebateu: "As pessoas não vão aos comícios dela. Não há razão para ir."

Em dado momento, quando Harris interrompeu Trump, ele disse: "Estou falando agora. Isso soa familiar?" Ele estava se referindo a uma resposta que ela deu em um debate vice-presidencial, em 2020, contra Mike Pence.

Mais tarde, enquanto Harris falava por cima dele, Trump disse: "Silêncio, por favor."

Em determinado momento, Harris zombou do louvor dele por ditadores "que comeriam você vivo".

Trump, enquanto isso, alegou que o presidente dos EUA, Joe Biden, não gosta de Harris. "Ele a odeia", afirmou. "Não suporta ela."

O ex-presidente também culpou a retórica democrata acalorada pela tentativa de assassinato contra ele em julho, cujos motivos são desconhecidos.

"Provavelmente levei um tiro na cabeça por causa das coisas que disseram sobre mim", ele disse.

·        3. 'Eles estão comendo os cachorros'

Nas horas que antecederam o debate, as redes sociais estavam repletas de relatos de alegações infundadas — repetidas por JD Vance, companheiro de chapa de Trump, de que migrantes haitianos em Springfield, no Estado de Ohio, estavam roubando animais de estimação e comendo os bichos.

Apesar de autoridades da cidade terem dito à BBC que não há relatos confiáveis ​​para respaldar essas alegações, Trump levantou o assunto no debate.

"Eles estão comendo os cachorros, estão comendo os gatos, estão comendo os animais de estimação das pessoas que vivem lá. É uma vergonha", afirmou.

"Por falar em extremo...", disse Harris sobre o adversário.

·        4. Verificação de fatos sobre aborto feita por moderador

Alguns dos ataques mais agressivos de Harris contra Trump aconteceram quando eles entraram em um confronto sobre o aborto, uma das principais questões para os democratas desde que a Suprema Corte dos EUA anulou o direito constitucional ao procedimento em 2022.

"Não é preciso abandonar sua fé ou crenças profundas para concordar que o governo — e Donald Trump, certamente — não deveria dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo", disse Harris.

Ela afirmou que Trump "assinaria uma proibição do aborto" se fosse reeleito — e citou Estados conservadores que proíbem o procedimento, embora permitam algumas exceções.

Trump, para quem a questão representa um risco político, rebateu: "O que ela diz é uma mentira absoluta. Não sou a favor de uma proibição do aborto."

Ele reiterou que apoia exceções para casos de estupro, incesto ou quando a vida da mãe está em risco.

Em dado momento, o ex-presidente alegou que alguns bebês estavam sendo submetidos a "execuções" após o nascimento.

Um dos moderadores da rede ABC News, que produziu o debate, intercedeu para verificar os fatos, dizendo: "Não há nenhum Estado neste país onde seja legal matar um bebê depois que ele nasce".

·        5. Políticas?

Trump disse que Harris não tinha políticas, acusando-a de copiar algumas de suas próprias ideias na campanha — e afirmou que ele "iria enviar a ela um boné Maga (sigla em inglês para "Tornar a América Grande Novamente", lema da campanha de Trump)", ao mesmo tempo em que argumentava que ela não seria diferente do presidente Biden.

"Ela não tem política", afirmou.

"Lembre-se disso, ela é o Biden", acrescentou ele, em outro momento.

Harris respondeu: "Claramente, eu não sou Joe Biden".

Trump, que enquanto era presidente tentou derrubar o Obamacare, foi questionado sobre qual seria seu plano agora para substituir o chamado "Affordable Care Act", lei que tornou os planos de saúde mais acessíveis.

Ele disse que tinha "conceitos de um plano" que seria "algo melhor", se for eleito.

Em relação à economia, tema que as pesquisas de opinião mostram que favorece Trump, Harris afirmou repetidamente: "Eu tenho um plano".

Ao descrevê-la como uma liberal radical, Trump respondeu: "Ela tem um plano para tirar financiamento da polícia. Ela tem um plano para confiscar as armas de todo mundo. Ela tem um plano para proibir o fracking (técnica de extração de petróleo e gás) na Pensilvânia, e em todos os outros lugares."

Harris negou tudo isso, e mencionou que possui uma arma.

 

¨      Quem ganhou o debate?

Donald Trump e Kamala Harris realizaram na terça-feira à noite na Filadélfia o primeiro debate entre ambos na campanha eleitoral para a presidência dos EUA.

Logo no começo, eles apertaram as mãos — mas o clima amistoso acabou ali.

Em 90 minutos inflamados, Harris tirou o ex-presidente do sério com ataques pessoais que tiraram seu foco e aumentaram a temperatura deste embate, que era muito aguardado por todos.

Suas provocações sobre o tamanho das multidões nos seus comícios, seu comportamento durante a invasão ao Capitólio, em Washington, e críticas de ex-integrantes de seu governo à campanha deixaram Trump na defensiva.

O padrão que se viu no debate foi de Harris provocando seu rival republicano a fazer defesas demoradas sobre seu comportamento e comentários passados. Ele aceitou isso, subindo de tom e balançando a cabeça.

Os americanos deveriam ir a um comício de Trump, Harris disse em uma pergunta sobre imigração, porque os eventos são esclarecedores. "As pessoas começam a ir embora mais cedo por exaustão e tédio", ela disse.

Essa provocação deixou o ex-presidente claramente abalado, e ele passou a maior parte da sua resposta — para uma pergunta que deveria ter sido um dos seus pontes fortes junto ao eleitorado — defendendo o tamanho de seus comícios e diminuindo os eventos dela.

Trump depois se envolveu em uma longa resposta sobre uma notícia que foi desmentida de que imigrantes do Haiti na cidade de Springfield, no Ohio, estavam roubando e comendo animais de estimação dos seus vizinhos.

Se dizem que debates são vencidos ou perdidos pelo candidato que mais aproveita os temas no qual é forte — e se defende ou evita temas nos quais é fraco — então o debate da noite de terça-feira favoreceu a vice-presidente.

Uma pesquisa da CNN com pessoas que assistiram ao debate mostrou que Harris teve um desempenho melhor. Casas de aposta também mostraram isso.

Esse retrato pode ser temporário, mas a tática de Harris de colocar Trump na defensiva ficou clara logo cedo no debate, em perguntas sobre economia e aborto.

Pesquisas de opinião indicam que os americanos estão descontentes com a forma como o governo de Joe Biden — do qual Harris faz parte — lidou com inflação e a economia.

Mas Harris virou a mesa e discutiu propostas de Trump de aumento generalizado de tarifas, que ela apelidou de "imposto de vendas de Trump", e falou sobre o Projeto 2025, um polêmico plano conservador independente para um futuro governo republicano.

Trump voltou a se distanciar do projeto e defendeu seu plano de tarifas, observando que o governo Biden manteve muitas das tarifas que herdou de Trump. Os pontos levantados pelo ex-presidente eram válidos, mas impediram que Trump atacasse Harris em tópicos como inflação e preços dos consumidores.

Sobre aborto, Trump defendeu seu histórico sobre o assunto, dizendo que americanos em todos os espectros políticos queriam que a decisão histórica Roe v Wade que protegeu direitos a aborto fosse revertida — algo que pesquisas de opinião não confirmam. Ele teve dificuldades de esclarecer sua posição e sua resposta foi confusa em alguns momentos.

Já Harris aproveitou a oportunidade para fazer um apelo pessoal emocionado a famílias que enfrentam gravidezes com complicações e que não puderam receber aborto e cuidados em Estados onde isso foi proibido — os Estados com "proibições de Trump ao aborto", nas palavras dela.

"É um insulto às mulheres da América", disse.

Foi uma mensagem cuidadosamente feita em um tema em que Harris possui ampla vantagem em cima de Trump.

Em diversas ocasiões ao longo da noite, Harris colocou Trump na defensiva com alfinetadas e provocações que ele poderia ter ignorado, mas parece ter se sentido obrigado a rebater.

Em um determinado momento, Harris foi questionada sobre posições liberais que ela possui, como no caso da extração de petróleo por fracking, que ela adotara em sua campanha fracassada de 2019 nas primárias democratas e acabou abandonando posteriormente. Ela continuou sendo questionada e acabou respondendo que não recebia esmolas de seu pai rico.

Novamente, o ex-presidente mordeu a isca. Em vez de seguir atacando a vice-presidente por sua mudança de postura — um claro ponto de fraqueza — ele começou sua resposta falando sobre a "fração mínima" de dinheiro que recebeu de seu pai.

Sobre a retirada do Afeganistão, outro ponto de fraqueza para Harris, a vice-presidente mudou de assunto para as negociações de Trump com autoridades do Talebã e seu convite a eles para ir a Camp David. Esse padrão se repetiu ao longo da noite e deu certo.

Republicanos já estão reclamando do que chamaram de favorecimento dos moderadores do debate — os jornalistas David Muir e Linsey Davis, da rede ABC — à vice-presidente. Ambos retrataram Trump com checagem de dados durante o debate.

Mas no fim da noite, foram as respostas de Trump e seu ímpeto de morder todas as iscas jogadas por Harris que marcaram o debate.

E isso era visível no rosto dos dois candidatos. Sempre que seu rival estava falando, Harris exibia uma expressão de perplexidade ou incredulidade. Já Trump fazia cara feia.

Até agora, a campanha de Harris tem hesitado em aceitar um outro debate. Mas depois deste debate, eles pediram quase que imediatamente a realização de outro debate antes de novembro.

Isso por si só já mostra o quanto os democratas acharam que a noite foi de Harris.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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