terça-feira, 27 de junho de 2023

Extrema-direita planeja descartar Bolsonaro rapidamente

O ex-presidente Jair Bolsonaro terá dificuldades em repetir o desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como protagonista das eleições, mesmo tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Corte examina atualmente uma ação apresentada pelo PDT que pode deixar Bolsonaro fora das urnas até 2030.

Em 2018, Lula estava preso e não concorreu, mas apresentou-se como candidato, esperou a candidatura ser indeferida e então impôs Fernando Haddad como o candidato do PT. A transferência de votos foi expressiva, ainda que não total: Lula liderava as pesquisas no momento em que sua candidatura foi negada, obtendo índices entre 30% e 39%, e Haddad conseguiu 29% dos votos válidos no primeiro turno.

Dos cinco especialistas ouvidos pelo Valor sobre o destino eleitoral do ex-presidente, nenhum aposta na repetição deste cenário. O entendimento é que o conservadorismo no Brasil segue muito forte, mas o herdeiro do bolsonarismo deve ser conhecido com mais antecedência e Bolsonaro terá menos margem para escolher a quem deve dar seu apoio do que Lula teve.

Duas razões são apontadas: a distância em relação à disputa presidencial, que só ocorrerá daqui a três anos, e a existência de herdeiros naturais no campo da direita, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).

Ninguém fica acendendo vela para santo que não faz mais milagre”

— Antonio Lavareda

São circunstâncias diferentes das de 2018. Lula foi tornado inelegível em janeiro daquele ano, quando a sua condenação em primeira instância por corrupção, posteriormente anulada, foi confirmada por órgão colegiado. Faltava também à esquerda o controle de governos estaduais e prefeituras de capitais fora do Nordeste.

As opções no campo da centro-esquerda fora do PT, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), estavam distanciadas de Lula e entre si. A prisão de Lula em abril, depois de uma tensa votação no Supremo Tribunal Federal e uma vigília de três dias no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, revestiu o quadro de dramaticidade.

“A esquerda dependia e depende muito mais de Lula do que a direita de Bolsonaro”, comentou o economista Mauricio Moura, do Instituto Ideia, que no fim de maio coordenou uma pesquisa sobre o destino da direita, em parceria com o Instituto Locomotivas e o Zeitgeist Public Affairs. O cientista político Carlos Melo, do Zeitgeist, destaca que 54% dos bolsonaristas entrevistados na última semana de maio se mostravam dispostos a votar em um candidato conservador independentemente de ter ou não apoio de Bolsonaro.

“O antipetismo não é necessariamente bolsonarista. Ele tende a se aglutinar em torno do polo que oferecer melhor alternativa”, acredita Melo. A pesquisa concluiu que a presidente do PL Mulher, Michele Bolsonaro, esposa do ex-presidente, é o nome que desponta com maior preferência entre os eleitores bolsonaristas, pelo “recall” de 2022, “mas a lógica de dois turnos torna Tarcísio de Freitas mais competitivo”, opinou.

Levantamento mais recente feito pela empresa Quaest em encomenda do Banco Genial, com entrevistas feitas entre 15 e 18 de junho, indicou que entre os eleitores bolsonaristas 64% mostram-se mais inclinados a escolher um candidato que tenha o apoio do ex-presidente, mas 33% opinam que Bolsonaro deveria apontar o governador de São Paulo como herdeiro, enquanto 24% sugerem Michelle.

Para Felipe Nunes, da Quaest, a inelegibilidade deve manter mobilizado o eleitor que já é bolsonarista, mas não aumentar sua força no eleitorado. Para ele, neste aspecto a situação de Bolsonaro é semelhante a de Lula em 2018. “O erro está em achar que Lula se fortaleceu depois de condenado e preso, ele já era muito forte”, comenta.

O pesquisador acredita que a inelegibilidade pode ter efeito na eleição dos maiores centros urbanos no próximo ano. “Em 2024 haverá dois tipos de eleição municipal: nas cidades pequenas e médias questões locais prevalecem. Nas grandes deve haver uma nacionalização do quadro e o apoio bolsonarista será relevante para qualquer conservador competitivo. O bolsonarista vai ficar mais motivado e engajado”, acredita.

Tanto a pesquisa da Quaest quanto a do Ideia indicam que o eleitorado pouco se moveu em relação ao ano passado, quando Lula obteve 51% dos votos no primeiro turno e Bolsonaro 49%. Na visão de Moura, a oscilação hoje seria da ordem de meio ponto percentual para cada lado. No levantamento da ideia, somente 5% dos bolsonaristas e 7% dos lulistas manifestaram arrependimento em relação ao voto dado no segundo turno. De acordo com a Quaest, 97% dos que votaram em Lula manteriam e voto e 93% dos que preferiram Bolsonaro. É um quadro “calcificado”, de acordo com Nunes.

A diferença está no que move a opção por um e por outro. Ao contrário do que acontece com o eleitor lulista, em que a identificação pessoal supera a questão ideológica, no caso do eleitor bolsonarista os marcadores conservadores estão claros.

“Bolsonaro como figura divide a própria base, pelo que representa de radicalismo e violência. Mas os valores que ele representa continuam muito ativos e dinâmicos”, comenta a cientista social Esther Solano, da Unifesp, que acompanhou pesquisas qualitativas com bolsonaristas. Ela enumera alguns destes valores:

“Temos a politização da religião, a lógica antissistema, a reação contra a pauta identitária, o antipetismo. Tudo isso vai subsistir e pode ser disputado por um representante do bolsonarismo 2.0, ou de um pós-bolsonarismo”, comentou. Para Solano, Tarcísio “surge como grande herdeiro”, mas correndo o risco de fraturar o campo, na hipótese de não conseguir o apoio dos mais radicalizados.

Para Antonio Lavareda, do Ipespe, Bolsonaro deve participar ativamente do processo da eleição municipal de 2024, se apresentando como uma vítima do sistema e retomando a retórica outsider. Mas deve esbarrar no pragmatismo do eleitor. “A perda de expectativa do poder deprecia o valor do apoio paulatinamente. Ninguém fica acendendo vela para santo que não faz mais milagre”, comentou.

Ele sustenta que este fenômeno aconteceu com o próprio Lula em 2018: a medida em que o eleitor tomou consciência de que o ex-presidente não poderia mais concorrer, paulatinamente desembarcou da adesão a ele. “O Lula perdeu adesão na pesquisa espontânea de forma abrupta naquele ano, referindo-se a um movimento registrado entre dezembro de 2017 e junho do ano seguinte.

 

       Armamentismo bolsonarista ocorreu no Sul e no Centro-Oeste, redutos da extrema-direita

 

As regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil concentram a maior quantidade de armas de fogo adquiridas nos últimos quatro anos, quando se considera a proporção por número de habitantes.

Dados do recadastramento revelam o perfil das pessoas que se armaram durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), com base nos equipamentos comprados a partir de maio de 2019. O Metrópoles teve acesso a esses índices via Lei de Acesso à Informação.

No Sul do país, foram 1.061,8 armas recadastradas a cada grupo de 100 mil habitantes. Na Região Centro-Oeste, a taxa foi de 1.034,5. Ambos os números estão bem acima dos índices registrados em outras regiões do país.

Gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani explica que a Região Sul e estados mais rurais têm tradição de caça e histórico de altas taxas de posse de armas.

“As taxas de Centro-Oeste e Norte me chamam muito a atenção. Já havia uma pista de que isso aconteceria, por causa da expansão acelerada de clubes de tiro, mesmo em cidades bem pequenas dessas regiões”, afirma Langeani.

Os cinco estados com as maiores taxas de armas de fogo por 100 mil habitantes são: Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

Bruno Langeani, autor do livro “Arma de Fogo no Brasil: gatilho da violência”, ressalta que a Região Norte teve crescimento de homicídios em 2021, na contramão do restante do país.

Além disso, o especialista apontou que vários estados do Norte e Centro-Oeste, como Mato Grosso, Rondônia, Acre e Mato Grosso do Sul, apresentam alta no número de assassinatos.

“Só a taxa de armas, sozinha, não é o único fator, mas dificulta o controle de homicídios”, destaca.

Langeani acredita que parte do aumento nas regiões Norte e Centro-Oeste foi influenciado pela infiltração de grupos criminosos que recorrem a laranjas ou registram armas em nome próprio, no Exército. Por meio desse esquema, o armamento é utilizado em atividades de milícias rurais ou em apoio a atividades ilegais, tais como o garimpo e a extração de madeira.

“É um afrouxamento do governo que contribui para crimes ambientais e faz crescer o risco para agentes públicos que atuam na fiscalização da região”, ressalta.

Homens, casados e escolarizados: veja o perfil de quem se armou no governo Bolsonaro

Membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o pesquisador Roberto Uchôa destaca que muitos garimpeiros tinham armas legalizadas.

“A gente não pode descartar que a conexão dos mercados de arma legal e ilegal se intensificou. Se antigamente o criminoso precisava de R$ 60 mil, R$ 70 mil para comprar um fuzil, ele passou a comprar esse fuzil por R$ 15 mil no mercado interno”, pontua.

Uchôa também alerta para as cerca de 6 mil armas de calibre restrito não recadastradas. Vale lembrar que, nos primeiros meses de mandato, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou o recadastramento das armas no sistema da Polícia Federal (PF), com o intuito de frear a facilitação para a compra de equipamento bélico por civis, durante a gestão de Bolsonaro.

“Há 6 mil armas de calibre restrito que ninguém sabe onde estão. E são justamente esses os equipamentos sobre os quais o país tinha de ter um maior controle, por serem de calibre restrito. Isso é muito preocupante. Muitas dessas armas podem estar na Região Norte”, pondera o pesquisador.

•        Rio de Janeiro homenageou Mussolini

O Ministério Público do Rio ajuizou ação civil pública para que o município e a Câmara de Itaperuna alterem a nomenclatura da Rua Benito Mussolini, localizada no bairro Matadouro. O objetivo, claro, é que não haja homenagens a ditador fascista, nazista ou violador de direitos fundamentais em logradouros públicos.

De acordo com a promotoria, antes de ajuizar a ação, foi recomendado à Câmara Municipal de Itaperuna que modificasse o nome da rua, já que é intolerável em um Estado Democrático de Direito a homenagem a líderes de ideologias que preguem discursos de ódio, aniquilação de minorias e genocídio.

 

       Marinha prende oficial que ia ajudar a explodir aeroporto

 

A Marinha informou que abriu um processo administrativo para investigar o sargento Paulo Leandro Galdo Rodrigues, encontrado no Paraná dirigindo um carro usado na tentativa de ataque a bomba ao aeroporto de Brasília.

Neste domingo (25/6), a coluna revelou que Paulo foi encontrado em 12 de janeiro, logo após os atos golpistas, dirigindo o Hyundai Creta que foi usado na tentativa de explodir uma bomba no aeroporto pelo blogueiro extremista Wellington Macedo de Souza.

Em nota, a Marinha disse que Paulo estava de férias de 28 de dezembro de 2022 a 26 de janeiro de 2023, “ocasião em que teria dirigido o carro mencionado na reportagem, em ato de caráter particular”, e disse que foi aberto um processo “para apuração dos fatos e apuração de eventuais medidas que se façam necessárias”.

Segundo a Marinha, em 2022, Rodrigues se licenciou para disputar a eleição e voltou à ativa logo depois, em 13 de outubro do ano passado. Rodrigues não foi eleito deputado distrital, mas é suplente, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele disputou o cargo filiado ao Republicanos.

“Cabe destacar que um inquérito policial foi instaurado pela Polícia Civil do Distrito Federal, tendo o militar em tela prestado depoimento, no dia 3 de fevereiro deste ano. A MB (Marinha do Brasil) permanece à disposição dos órgãos competentes para contribuir integralmente na elucidação do caso”, disse a Marinha na nota à coluna.

 

Fonte: Valor Econômico/O Globo/Metrópoles

 

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