Insuportável
declaração pública de racismo
O jogador do Real Madri Vinícius Jr (Vini Jr) foi
alvo de racismo e de xenofobia, mais uma vez, na Espanha. Já tinha visto
inúmeras torcidas com o mesmo comportamento desumano, inclusive quando teve um
boneco simbolizando sua pessoa ser enforcado numa ponte. Muita gente se
solidarizou ao jogador, à pessoa, ao trabalhador brasileiro em solo espanhol.
As lembranças e comparações com os piores efeitos do franquismo não foram
efêmeras; ao contrário, foram assertivas. Afinal, estaria de volta o pesadelo
do bicho Fauno? Aquele que foge do seu labirinto de trevas para assombrar a
Humanidade? Os componentes parecem estar aí: racismo, xenofobia, desumanidade,
perda da capacidade de interagir socialmente – até o limite da sociopatia.
Ao mesmo tempo em que a Câmara Federal aprovou moção
de desagrado (por unanimidade) aos atos de racismo e de desagravo às
hostilidades que se abatem contra a dignidade humana – a ofensa de um racista
atinge a toda a Humanidade –, no Senado Federal, em rota de colisão aos
princípios humanistas, o senador Magno Malta se prestou a ofender ainda
mais. Disse estar surpreso com a falta de ação dos defensores dos animais,
por não se solidarizarem ao “macaco” jogador (sic).
Muito poderia ser dito, diante de tal afirmação,
como já se disse, aliás; contudo, devemos centrar nossa atenção em alguns
pontos iniciais e objetos desta peça de repúdio:
(i)
é muito cansativo ver parlamentares supremacistas,
qualquer pessoa, invocarem o escárnio contra a Humanidade;
(ii)
também é cansativo defender continuamente a
inteligência social que se povoa com o princípio da dignidade humana;
(iii)
o foco central desta repulsa tem embasamento na
quebra de decoro parlamentar e, assim, a questão deve ser tratada pela
presidência do Senado Federal;
(iv)
na esfera criminal, criou-se facticidade e autoria
diante do cometimento de crime – trata-se do crime de incitação ao ódio racial,
ao racismo.
A partir da Constituição Federal de 1988, lê-se que
o tratamento penal deve ser exemplar, paradigmático, e, portanto, encontra-se para
além dos preceitos pedagógicos da pena. Pois, insere-se na condição de afronta,
desrespeito e pregação (supremacista/racista) de verdadeiro ódio racial.
Não bastassem os inúmeros entraves e problemas
nacionais, como a desigualdade social e econômica, em que o conhecido racismo
estrutural se apodera do pensamento escravista – certamente, a mais conhecida
dissonância cognitiva entre nós –, um representante de Estado vem a público a
fim de manifestar sua indisposição genética com a Humanidade.
Tornam-se, sempre, redundantes os dizeres e saberes
contra o racismo e, talvez ainda mais urgente do que isso, torna-se inegável,
indesculpável, irretratável, a apologia a mais e piores cometimentos de atos
racistas. Concludente da incapacidade de convívio social – a par da incitação
ao crime de racismo – o senador, enquanto representante de Estado, partícipe do
pacto federativo, não pode confabular sobre assuntos de interesse nacional na
casa do Senado.
Além da dignidade humana, foi atingido o córtex
e cordis da moral pública. Lembremos que os senadores – a
contar de sua presidência – encontram-se na linha sucessória do poder executivo
central e isto, por óbvio, torna o referido senador (Magno Malta), a quem
talvez também não alcance a identidade racial (uma vez que não é afeiçoado com
o “branco caucasiano“), ainda mais impedido de continuar com suas funções
públicas.
Se por acaso o Brasil, por exemplo, a partir do
Senado Federal – que recentemente foi uma guarida contra o fascismo nacional –,
viesse a promover um ajuste de contas histórico contra o racismo, propondo-se
um “arcabouço social e racial”, com indenizações raciais e punições exemplares
aos racistas, por onde caminharia o voto de excelência do senador Magno Malta?
Se o país tivesse que ratificar uma declaração
internacional (outra) em defesa, reconhecimento e promoção dos direitos
humanos, como votaria a insigne excelência, se, em ato lastimável, lança-se em
direção à incitação de crimes raciais?
Conclamamos que vossa excelência, na condição da
presidência do Senado Federal, faça ressurgir os princípios republicanos que se
decantam desde a era romana do inigualável Cícero – senador que abrilhantou o
Senado da Roma antiga.
Vejamos em brevíssima comparação o sarcasmo de
origem racista/supremacista do senador Magno Malta – e que nos provocam as
piores angústias de todas as dores da escravidão brasileira e do holocausto
judeu, sob o nazismo de Hitler –, com o gênio do senador romano. No nosso
recorte, assim nos ensina o passado de Cícero: “(1) A felicidade está na
perfeita Constituição Política.
(2) Na República predomina a Justiça.
(3) Governar a República é converter a teoria em
prática.
(4) O governo com justiça eleva a “herança da
humanidade”.
(5) A virtude está em combater as injúrias e a
iniquidade.
(6) O povo deve seguir o exemplo dos melhores.
(7) Para o republicano, a felicidade está em
combater a ignorância.
(8) O homem digno da República reúne os atributos da
humanidade.
(9) A maior utilidade da República está na
dissolução da discórdia.
(10) Os fundamentos da República estão no
consentimento jurídico e na utilidade comum.
(11) A República une os homens por “vínculos de
simpatia”.
(12) A dissensão promove discórdia; a igualdade traz
equilíbrio social.
(13) A igualdade de direitos é imperativa.
(14) O Estado deve ser uma sociedade para o direito.
(15) Deve-se proteger o Estado contra o furor.
(16) O cuidado e o zelo evitam os extremismos.
(17) Da excessiva liberdade surge o tirano.
(18) A República é como uma obra de arte, deve-se
restaurar para manter.
(19) É preciso combater os vícios públicos para
restaurar a paz.
(20) A astúcia de governar provém do horror da
desonra.
(21) A República é uma sociedade de homens formada
pelo império do direito.
(22) É obrigação do político tecer uma sólida trama
social.
(23) O homem político deve tecer uma rede entre a
Polis e a convivialidade.
(24) A política deve promover a unidade da cidade.”
(Marco Túlio Cícero, Da República).
Conclamamos que a mais alta representação política
do Estado Nacional e da sociedade brasileira, guardião do pacto federativo,
possa reunir a verdadeira vaidade do legislador honrado em seu fazer público.
Conclamamos que o senador Magno Malta seja invocado
por quebra de decoro, bem como responda judicialmente, sem as garantias da
distorcida imunidade parlamentar – uma vez que o instituto republicano não se
presta a acobertar crimes de natureza racial ou de qualquer outra natureza. Não
é preciso recordar que não há liberdade de expressão parlamentar que se esconda
na incitação ao crime de ódio racial – vossa excelência é mais do que
conhecedor dos fatos e da natureza jurídica que nos alberga o princípio da dignidade
humana, conforme a carta política de 1988.
Conclamamos a que o principal efeito aqui postado e
desejado – a perda do mandato legislativo, com amparo na declaração senatorial
(e letal) contra a dignidade humana – conheça efeitos imediatos e que quaisquer
ações em contrário, igualmente, conheçam a perda imediata de suas postulações.
Dito isso, esse parecer opina que ocorreu o crime de racismo, que enseja a
perda de mandato por se enquadrar como quebra de decoro.
Assinam o texto um coletivo de pessoas indignadas
com o racismo, a falta de respeito, a incivilidade – protocolado no Senado
Federal e no Ministério Público Federal.
Ø Racismo repetido contra Vini Jr. deve afetar a indústria do turismo
espanhol. Por Antonio Carlos Rocha
A Espanha é um belo e hospitaleiro País. Os racistas
que agrediram verbalmente o jogador brasileiro, na verdade, prejudicam a
poderosa indústria do turismo espanhol. Já estive algumas vezes nesta bonita
Nação. Em 1980 cruzei de trem, vindo de Paris, passando pelo País Basco e entrando
pelo norte em Portugal.
Morávamos eu e minha esposa Heloisa, grávida, em
Lisboa, esperando nossa filha e nesse mesmo ano fizemos um passeio de ônibus ao
sul da Espanha.
Visitamos Valladolid, onde o brasileiro Ronaldo
Fenômeno atualmente é “dono” de um dos times de futebol da cidade. É em
Valladolid que está o túmulo de Cristóvão Colombo, o descobridor das Américas.
Em Sevilla estive duas vezes, um dos times locais é
o Bétis, com as cores verde e branca do meu Palmeiras. Na última vez que fui à
bela Sevilla percebi que os casais faziam suas juras de amor simbolicamene
trancando um cadeado nas pontes que cobrem o rio navegável da cidade. Na
ocasião, 2015, as autoridades locais pediam para a população não fazer mais
isso, pois o peso de milhares de cadeados de ferro estava ameaçando as pontes
da cidade e eles iriam cerrar e jogar fora os cadeados, para que não
provocassem acidentes mais adiante.
Ainda em 1980 ficamos hospedados em Torremolinos,
uma praia badalada. Continuando viajando pela Andaluzia (para resumir) chegamos
até Ceuta, província espanhola que fica ao norte do continente africano, do
outro lado do Mar Mediterrâneo.
Caminhando em Madrid, mais de uma vez passeamos pela
Porta do Sol, praças e parques bem arborizados. Da última vez, 2015, visitei o
Jardim Botânico da capital, belíssimo. Para completar, nossa netinha mais velha
nasceu lá.
E olha que eu não falei tudo por onde passamos e
vivemos dias maravilhosos. E tem também Santiago de Compostela que, segundo a
tradição, Nossa Senhora, Maria Mãe de Jesus esteve lá, pessoalmente, após a
crucificação de seu filho, quando os discípulos se dispersaram.
De lembrança deste fato guardo um cajado de madeira,
confeccionado na Galicia.
Essa coisa de racismo é um crime, mas também é uma
tolice, uma bobagem. Movidas por hediondos sentimentos ancestrais, pessoas sem
nexo e sem alma ainda priorizam a cor da pele em detrimento do ser humano.
Se esses racistas espanhóis tivessem consciência de
que estão manchando a ótima imagem da sua terra, jamais repetiriam tais
atitudes, porque a Espanha necessita desesperadamente dos recursos que obtém
com turistas de todas as raças.
Vini Jr., garoto bom de bola, receba daqui da TI –
Tribuna da Internet o nosso caloroso abraço de solidariedade. Para nós, futebol
é arte, alegria e não rima com qualqsuer agressão.
Fonte: Por *Vinício Carrilho Martinez, Vinícius
Valentin Raduan Miguel e Roberto Kuppê, no A Terra é Redonda/Tribuna da
Internet
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