segunda-feira, 29 de maio de 2023

Insuportável declaração pública de racismo

O jogador do Real Madri Vinícius Jr (Vini Jr) foi alvo de racismo e de xenofobia, mais uma vez, na Espanha. Já tinha visto inúmeras torcidas com o mesmo comportamento desumano, inclusive quando teve um boneco simbolizando sua pessoa ser enforcado numa ponte. Muita gente se solidarizou ao jogador, à pessoa, ao trabalhador brasileiro em solo espanhol. As lembranças e comparações com os piores efeitos do franquismo não foram efêmeras; ao contrário, foram assertivas. Afinal, estaria de volta o pesadelo do bicho Fauno? Aquele que foge do seu labirinto de trevas para assombrar a Humanidade? Os componentes parecem estar aí: racismo, xenofobia, desumanidade, perda da capacidade de interagir socialmente – até o limite da sociopatia.

Ao mesmo tempo em que a Câmara Federal aprovou moção de desagrado (por unanimidade) aos atos de racismo e de desagravo às hostilidades que se abatem contra a dignidade humana – a ofensa de um racista atinge a toda a Humanidade –, no Senado Federal, em rota de colisão aos princípios humanistas, o senador Magno Malta se prestou a ofender ainda mais. Disse estar surpreso com a falta de ação dos defensores dos animais, por não se solidarizarem ao “macaco” jogador (sic).

Muito poderia ser dito, diante de tal afirmação, como já se disse, aliás; contudo, devemos centrar nossa atenção em alguns pontos iniciais e objetos desta peça de repúdio:

(i)           é muito cansativo ver parlamentares supremacistas, qualquer pessoa, invocarem o escárnio contra a Humanidade;

(ii)          também é cansativo defender continuamente a inteligência social que se povoa com o princípio da dignidade humana;

(iii)         o foco central desta repulsa tem embasamento na quebra de decoro parlamentar e, assim, a questão deve ser tratada pela presidência do Senado Federal;

(iv)         na esfera criminal, criou-se facticidade e autoria diante do cometimento de crime – trata-se do crime de incitação ao ódio racial, ao racismo.

A partir da Constituição Federal de 1988, lê-se que o tratamento penal deve ser exemplar, paradigmático, e, portanto, encontra-se para além dos preceitos pedagógicos da pena. Pois, insere-se na condição de afronta, desrespeito e pregação (supremacista/racista) de verdadeiro ódio racial.

Não bastassem os inúmeros entraves e problemas nacionais, como a desigualdade social e econômica, em que o conhecido racismo estrutural se apodera do pensamento escravista – certamente, a mais conhecida dissonância cognitiva entre nós –, um representante de Estado vem a público a fim de manifestar sua indisposição genética com a Humanidade.

Tornam-se, sempre, redundantes os dizeres e saberes contra o racismo e, talvez ainda mais urgente do que isso, torna-se inegável, indesculpável, irretratável, a apologia a mais e piores cometimentos de atos racistas. Concludente da incapacidade de convívio social – a par da incitação ao crime de racismo – o senador, enquanto representante de Estado, partícipe do pacto federativo, não pode confabular sobre assuntos de interesse nacional na casa do Senado.

Além da dignidade humana, foi atingido o córtex e cordis da moral pública. Lembremos que os senadores – a contar de sua presidência – encontram-se na linha sucessória do poder executivo central e isto, por óbvio, torna o referido senador (Magno Malta), a quem talvez também não alcance a identidade racial (uma vez que não é afeiçoado com o “branco caucasiano“), ainda mais impedido de continuar com suas funções públicas.

Se por acaso o Brasil, por exemplo, a partir do Senado Federal – que recentemente foi uma guarida contra o fascismo nacional –, viesse a promover um ajuste de contas histórico contra o racismo, propondo-se um “arcabouço social e racial”, com indenizações raciais e punições exemplares aos racistas, por onde caminharia o voto de excelência do senador Magno Malta?

Se o país tivesse que ratificar uma declaração internacional (outra) em defesa, reconhecimento e promoção dos direitos humanos, como votaria a insigne excelência, se, em ato lastimável, lança-se em direção à incitação de crimes raciais?

Conclamamos que vossa excelência, na condição da presidência do Senado Federal, faça ressurgir os princípios republicanos que se decantam desde a era romana do inigualável Cícero – senador que abrilhantou o Senado da Roma antiga.

Vejamos em brevíssima comparação o sarcasmo de origem racista/supremacista do senador Magno Malta – e que nos provocam as piores angústias de todas as dores da escravidão brasileira e do holocausto judeu, sob o nazismo de Hitler –, com o gênio do senador romano. No nosso recorte, assim nos ensina o passado de Cícero: “(1) A felicidade está na perfeita Constituição Política.

(2) Na República predomina a Justiça.

(3) Governar a República é converter a teoria em prática.

(4) O governo com justiça eleva a “herança da humanidade”.

(5) A virtude está em combater as injúrias e a iniquidade.

(6) O povo deve seguir o exemplo dos melhores.

(7) Para o republicano, a felicidade está em combater a ignorância.

(8) O homem digno da República reúne os atributos da humanidade.

(9) A maior utilidade da República está na dissolução da discórdia.

(10) Os fundamentos da República estão no consentimento jurídico e na utilidade comum.

(11) A República une os homens por “vínculos de simpatia”.

(12) A dissensão promove discórdia; a igualdade traz equilíbrio social.

(13) A igualdade de direitos é imperativa.

(14) O Estado deve ser uma sociedade para o direito.

(15) Deve-se proteger o Estado contra o furor.

(16) O cuidado e o zelo evitam os extremismos.

(17) Da excessiva liberdade surge o tirano.

(18) A República é como uma obra de arte, deve-se restaurar para manter.

(19) É preciso combater os vícios públicos para restaurar a paz.

(20) A astúcia de governar provém do horror da desonra.

(21) A República é uma sociedade de homens formada pelo império do direito.

(22) É obrigação do político tecer uma sólida trama social.

(23) O homem político deve tecer uma rede entre a Polis e a convivialidade.

(24) A política deve promover a unidade da cidade.” (Marco Túlio Cícero, Da República).

Conclamamos que a mais alta representação política do Estado Nacional e da sociedade brasileira, guardião do pacto federativo, possa reunir a verdadeira vaidade do legislador honrado em seu fazer público.

Conclamamos que o senador Magno Malta seja invocado por quebra de decoro, bem como responda judicialmente, sem as garantias da distorcida imunidade parlamentar – uma vez que o instituto republicano não se presta a acobertar crimes de natureza racial ou de qualquer outra natureza. Não é preciso recordar que não há liberdade de expressão parlamentar que se esconda na incitação ao crime de ódio racial – vossa excelência é mais do que conhecedor dos fatos e da natureza jurídica que nos alberga o princípio da dignidade humana, conforme a carta política de 1988.

Conclamamos a que o principal efeito aqui postado e desejado – a perda do mandato legislativo, com amparo na declaração senatorial (e letal) contra a dignidade humana – conheça efeitos imediatos e que quaisquer ações em contrário, igualmente, conheçam a perda imediata de suas postulações. Dito isso, esse parecer opina que ocorreu o crime de racismo, que enseja a perda de mandato por se enquadrar como quebra de decoro.

Assinam o texto um coletivo de pessoas indignadas com o racismo, a falta de respeito, a incivilidade – protocolado no Senado Federal e no Ministério Público Federal.

 

Ø  Racismo repetido contra Vini Jr. deve afetar a indústria do turismo espanhol. Por Antonio Carlos Rocha

 

A Espanha é um belo e hospitaleiro País. Os racistas que agrediram verbalmente o jogador brasileiro, na verdade, prejudicam a poderosa indústria do turismo espanhol. Já estive algumas vezes nesta bonita Nação. Em 1980 cruzei de trem, vindo de Paris, passando pelo País Basco e entrando pelo norte em Portugal.

Morávamos eu e minha esposa Heloisa, grávida, em Lisboa, esperando nossa filha e nesse mesmo ano fizemos um passeio de ônibus ao sul da Espanha.

Visitamos Valladolid, onde o brasileiro Ronaldo Fenômeno atualmente é “dono” de um dos times de futebol da cidade. É em Valladolid que está o túmulo de Cristóvão Colombo, o descobridor das Américas.

Em Sevilla estive duas vezes, um dos times locais é o Bétis, com as cores verde e branca do meu Palmeiras. Na última vez que fui à bela Sevilla percebi que os casais faziam suas juras de amor simbolicamene trancando um cadeado nas pontes que cobrem o rio navegável da cidade. Na ocasião, 2015, as autoridades locais pediam para a população não fazer mais isso, pois o peso de milhares de cadeados de ferro estava ameaçando as pontes da cidade e eles iriam cerrar e jogar fora os cadeados, para que não provocassem acidentes mais adiante.

Ainda em 1980 ficamos hospedados em Torremolinos, uma praia badalada. Continuando viajando pela Andaluzia (para resumir) chegamos até Ceuta, província espanhola que fica ao norte do continente africano, do outro lado do Mar Mediterrâneo.

Caminhando em Madrid, mais de uma vez passeamos pela Porta do Sol, praças e parques bem arborizados. Da última vez, 2015, visitei o Jardim Botânico da capital, belíssimo. Para completar, nossa netinha mais velha nasceu lá.

E olha que eu não falei tudo por onde passamos e vivemos dias maravilhosos. E tem também Santiago de Compostela que, segundo a tradição, Nossa Senhora, Maria Mãe de Jesus esteve lá, pessoalmente, após a crucificação de seu filho, quando os discípulos se dispersaram.

De lembrança deste fato guardo um cajado de madeira, confeccionado na Galicia.

Essa coisa de racismo é um crime, mas também é uma tolice, uma bobagem. Movidas por hediondos sentimentos ancestrais, pessoas sem nexo e sem alma ainda priorizam a cor da pele em detrimento do ser humano.

Se esses racistas espanhóis tivessem consciência de que estão manchando a ótima imagem da sua terra, jamais repetiriam tais atitudes, porque a Espanha necessita desesperadamente dos recursos que obtém com turistas de todas as raças.

Vini Jr., garoto bom de bola, receba daqui da TI – Tribuna da Internet o nosso caloroso abraço de solidariedade. Para nós, futebol é arte, alegria e não rima com qualqsuer agressão.

 

Fonte: Por *Vinício Carrilho Martinez, Vinícius Valentin Raduan Miguel e Roberto Kuppê, no A Terra é Redonda/Tribuna da Internet

 

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